quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Artigo de O Semanário tenta defender Chico Xavier - I


Esse texto, dividido em três partes conforme originalmente publicado, é um artigo do dirigente "espírita" Olívio Novaes, que define seu texto como "reportagem", embora mais pareça um artigo com alguns tons panfletários.

O texto foi publicado em reação à nota, aqui reproduzida em postagem anterior, do jornal O Globo, com a natural indignação dos líderes "espíritas", mas de maneira comedida e claramente bajulatória ao "movimento espírita" e à pessoa de Chico Xavier, ao qual são reservados elogios tanto entusiasmados quanto exagerados.

A série foi publicada na coluna Movimento Espiritualista Brasileiro, uma página "espírita" publicada no jornal mineiro O Semanário, um periódico de centro-esquerda, embora o "espiritismo" brasileiro esteja mais alinhado com o pensamento conservador e com valores moralistas. A foto de Chico Xavier acima foi publicada na série de artigos.

CAMPANHA INJUSTA E PRIMÁRIA CONTRA CHICO XAVIER

Por Olívio Novaes - O Semanário, Belo Horizonte 

Edição 132 - Semana de 16 a 23 de outubro de 1958

COLUNA MOVIMENTO ESPIRITUALISTA BRASILEIRO - Dirigida por José Alvares Pessoa

Em 16 de julho do ano em curso, o órgão de imprensa carioca que se diz "o maior jornal do país", publicou, no alto de sua primeira página, com destaque próprio ao sensacionalismo, uma notícia de Belo Horizonte, segundo a qual o jovem Amauri Pena, sobrinho de Chico Xavier, ao procurar a redação de um jornal daquela cidade, declarara o seguinte: "Estou aqui para proclamar alto e bom som que tudo aquilo que tenho escrito, apesar das diferenças de estilo, foi criado pela minha própria imaginação, sem que para isso houvesse qualquer interferência de almas-do-outro-mundo ou qualquer outro fenômeno miraculoso". Isso, e tão somente isso, é que está entre aspas na notícia transcrita pelo jornal desta capital. E se mais não disse Amauri, segue-se que o resto do que ali está é de responsabilidade de quem redigiu a nota no Rio de Janeiro. E não é difícil descobrir-se o autor, sabendo-se que sacerdotes católicos fazem parte da redação de "O Globo".

O sr. Roberto Marinho declarou, certa vez, que nada saía pelas colunas do jornal que dirige, sem o seu conhecimento. Assim sendo, não lhe assiste o direito de ignorar tal publicação, elaborada, sem dúvida, com o único objetivo gratuito de enxovalhar, não a pessoa do famoso médium de Pedro Leopoldo, cuja ilibada conduta e elevada envergadura moral estão a coberto de baba peçonhenta de qualquer batráquio, mas as convicções religiosas de quem não pertence à religião católica. Pergunta-se então: Qual o interesse do sr. Marinho em estimular, com as colunas do seu jornal, o combate às demais religiões? Nenhum, evidentemente. Será crime, porventura, não ser católico? Segue-se, pois, que, se a Constituição Brasileira (de 1946) assegura o direito de crença a todos quantos residam no País, qualquer campanha visando a difamar as convicções alheias é fato punível. Estamos, assim, diante de grave infração aos direitos e garantias constitucionais outorgados por nossa Carta Magna.

CAMPANHA ORGANIZADA

Não são apenas os espíritas as vítimas dessa torpe campanha. Os evangélicos, os umbandistas etc. também. Ainda há pouco tempo, das colunas de O SEMANÁRIO, divulgamos ocorrências vandálicas registradas em vário pontos do País em que eram protagonistas ativos representantes do clero católico. Nós que sempre mantivemos e continuaremos a manter a maior atitude de respeito para com o catolicismo bem assim as demais religiões, lamentamos ter de relacionar sacerdotes romanos como principais responsáveis por essas inomináveis bravatas. Admiramos a obra cultural da Igreja. Identificamos, jubilosamente, vários de seus ilustres membros nos movimentos nacionalistas pela nossa independência. Registramos os gestos nobilíssimos de filantropia de alguns dos seus chefes nos momentos de calamidade pública. Proclamamos, mesmo, quando necessário se faz praticar justiça, o relevante papel da Igreja na formação de nossa Nacionalidade. Mas não podemos concordar que se prevaleça dessas glórias para organizar e desencadear campanhas contra os que não pensam pela sua cartilha.

CONDUTA ESPÍRITA

Jamais os espíritas vieram a tempo, spont sua, para profligar a conduta dos sacerdotes católicos ou dos que praticam essa ou qualquer outra religião. Outro é o comportamento espírita. Vivem eles preocupados com o bem público, com as dificuldades dos desprovidos de riqueza, com os sofrimentos dos que jazem nos leitos dos hospitais, nos manicômios, nas penitenciárias. Não têm tempo, por isso, para provocar ataques religiosos ou políticos que, além de ilegais, são contraproducentes.

Ainda há dias, assistimos em um conceituado colégio católico desta capital, por um Irmão Marista, a um espetáculo de letargia aplicada à medicina operatória e que ele próprio chamou de científico. E, quando tudo parecia terminar como começara, eis que vem à baila o nome do Espiritismo, sem nenhuma razão ou oportunidade. Outros espetáculos desse gênero realizou ele, sempre com o mesmo pretexto: atrair plateias que queiram divertir-se para, no final, focalizar o nome do Espiritismo, atribuindo-lhe a defesa do sobrenatural. É preciso ser profundamente primário para não saber que o Espiritismo prega exatamente a não existência do sobrenatural. o caso é que os adversários da Doutrina dos Espíritos não a leem, não a conhecem, e querem combatê-la ignorando-a. Ainda nas colunas do próprio "O Globo" encontramos um anúncio convidando a quem quiser combater o Espiritismo, apresentar-se a um tal Sr. MIL, numa Liga por ele fundada e que funciona à Rua D. Francisca, 213, casa 11, na Boca do Mato. Dizia o anúncio que ao candidato não era exigido conhecimento do assunto. Portanto, qualquer ignorante da matéria estará em condições de combatê-la. Estamos assim diante de uma campanha organizada, gratuitamente, já se vê. Enquanto isso, a Infância e a Mocidade se acham, em grande parte, abandonadas. Pelo menos religiosamente falando. Se indagarem da religião desses rapazes da chamada "juventude transviada", é quase certo que se declararão católicos. Para nós, porém, eles nada mais são do que uns desassistidos por qualquer religião. Todavia, isso desacredita qualquer crença que se diga da maioria do povo brasileiro. Vejamos, agora, onde se manifesta a conduta espírita: temos um movimento organizado de dezenas de milhares de Mocidades Espíritas, onde os rapazes, em suas horas de lazer, estudam e aprendem amar o próximo, respeitar as leis, as instituições e a liberdade de seus semelhantes. Estudam e aprendem a praticar a caridade e fazer aos outros tão somente aquilo que gostariam lhes fizessem. Mercê desse trabalho diuturno na preparação dos caráteres nobres para uma convivência limpa e decente na sociedade a que pertencem, não se encontrou jamais e dificilmente se encontrará, entre esses pobres moços desamparados, algum que se diga professar o Espiritismo. O combate que se verifica é, pois, injusto, deselegante e sobretudo inoportuno, por dividir os cristãos precisamente numa hora em que necessitamos estar unidos contra as ideias dissolventes do materialismo.

"DECLARAÇÃO DE BRASÍLIA"

Agora mesmo, a nota conjunta, assinada pelo presidente da República do Brasil (Juscelino Kubitschek) e pelo sr. John Foster Dulles, e que ficou conhecida como "Declaração de Brasília", em seu item 5, após reafirmar "que se tornou necessário lutar decididamente pelos princípios religiosos e democráticos, pelo direito à liberdade das nações e pelo respeito à dignidade individual do homem, valores esses que integram o patrimônio da civilização e da cultura ocidental", diz que, "nesse sentido, seriam tomadas, com urgência, providências que garantissem, de forma efetiva, a defesa desses objetivos". (Os grifos são nossos). Os dois eventuais representantes das duas maiores nações do Continente reconhecem, pois, em documento assinado e que servirá com o paradigma às futuras atitudes dos países da América Latina perante o mundo, a necessidade, urgente, da manutenção dos princípios religiosos e dos demais direitos e garantias individuais, pelo menos nesta parte abençoada do planeta. Como pôr em prática tão salutar recomendação, assistindo-se atitudes vandálicas de depredações de tempos evangélicos, de perseguições de tendas umbandistas, de ataques aos maçons e de enxovalhamento à dignidade de homens de comprovada virtude e de honestidade inconspurcável, como é o caso de Chico Xavier? É de justiça proclamar que tais procedimentos não emanarão, evidentemente, do supremo responsável pelo catolicismo - um dos maiores papas que já teve a Igreja, em todos os tempos - senão de quem pensa servir bem a Sua Santidade, mediante a prática de atos incompatíveis com o próprio espírito do Cristianismo e com as consciências bem formadas.

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