quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O problema não é o discurso "positivo", mas o "outro lado"

CRUZADAS MEDIEVAIS - Forças bélicas e sanguinárias agindo "por amor ao Cristo".

Conhecendo a dócil narrativa da "data-limite" através de um sonho de Chico Xavier em 1969, as pessoas se transbordam de exagerado otimismo, achando que o Brasil, ao se tornar a "nação mais poderosa do planeta" diante de um "velho mundo" em ruínas, será o ingresso certo para o paraíso na Terra.

Conforme descrevemos, essas pessoas se sentiram ofendidas quando um vídeo anunciou que a mensagem oculta de Data-Limite Segundo Chico Xavier prevê uma futura teocracia nos moldes do que o Império Romano exerceu na Idade Média, uma supremacia ao mesmo tempo política e religiosa na chamada "comunidade das nações".

Elas se ofendem porque preferem acreditar que o "espiritismo" brasileiro simbolizado por Chico Xavier rompeu totalmente com o Catolicismo medieval e que está dotado de um "perfeito equilíbrio" entre ciência e religião de uma maneira sem precedentes na História da humanidade. Visão atraente, mas completamente fora da realidade.

Por debaixo dos panos, o "espiritismo" brasileiro manteve a essência do Catolicismo medieval, apenas eliminando o que havia de coercitivo. Apenas os "anéis" foram trocados, mas os dedos "espíritas" no Brasil são exatamente os mesmos dedos esboçados pelo Catolicismo fundado pelo imperador romano Constantino, há muitos séculos atrás.

Daí a preocupação grave do que existe por trás da "carinhosa profecia" do "sempre sábio" Francisco Cândido Xavier e suas "meigas palavras de amor". O grande problema não é o discurso positivo da "nação feliz" que se esboçará no futuro do planeta. O problema está no "outro lado", no que deve ser eliminado para abrir caminho para o "país dos sonhos".

EXEMPLOS TRÁGICOS

Já ouvimos essa conversa de nações que prometiam ser "modelo" para a humanidade e que viraram tiranias sanguinárias. E tudo isso partiu da ideia de que, para se construir um "novo reino", obstáculos teriam que ser eliminados.

Observamos as reportagens e parte do documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, e constatamos que o que seus partidários mal conseguem disfarçar é que ações terroristas e catástrofes tendem, na avaliação deles, destruir o chamado "velho mundo" (Europa, EUA, Oriente Médio e restante da Ásia, além de parte da Oceania).

Isso é uma espécie de "holocausto" botado na conta da "Mãe Natureza" ou dos "reajustes espirituais" trazidos pelos "irmãozinhos sofredores" (eufemismo para espíritos de moral bastante grosseira ainda em ação na Terra), que derrubariam áreas que, mesmo bastante problemáticas, atingiram um certo grau de experiência evolutiva social, ainda que vivessem sérios prejuízos.

São áreas que variam da desilusão em relação aos descaminhos da sociedade capitalista ao desenvolvimento de propostas de sustentabilidade e qualidade de vida. Áreas com experiência social mais antiga seriam exterminadas, embora supostamente deixassem seu "legado" na nação brasileira através dos "refugiados".

A quatro anos da "data-limite", o que o Brasil recebeu de refugiados foram de cidadãos vindos do Haiti ou de países africanos em guerra que se amontoam em filas de emprego, já concorrendo com os próprios brasileiros que não conseguem arrumar trabalho.

O que derruba qualquer otimismo em relação ao sonho de Chico Xavier é a observação cautelosa de que exemplos de "nações predestinadas" representaram projetos totalitários que tantas dores e infortúnios causaram àqueles que não correspondiam ao projeto político e, por vezes, social e religioso, dos países em processo de dominação.

O próprio Império Romano, na Idade Média, fundou o Catolicismo que, em nome do "amor em Cristo", promoveu muitos genocídios e condenações injustas, usando as piores medidas punitivas, como as queimadas humanas, o enforcamento e o fuzilamento, como maneira de expulsar pessoas "incômodas" à "causa maior" simbolizada pela nação mais poderosa.

Depois, veio o imperialismo dos Estados Unidos da América, que exterminou povos "primitivos" e, em seguida, estabeleceu uma ascensão política, econômica e militar que causa até hoje sérios estragos, e que na década de 1980 chegou mesmo a financiar o banditismo e as ações terroristas que dizimaram ativistas de diversos movimentos e organizações sociais em países como a Guatemala, fora as ditaduras financiadas pela CIA e empresas estadunidenses.

Mas, pouco antes da consagração dos EUA, a Alemanha nazista se autoproclamava um projeto de "nação poderosa" que tinha seus valores "positivos", como a "superioridade" da "raça ariana" e do "povo alemão", com suas alegações de "desenvolvimento máximo de ordem intelectual e econômica".

E no que isso resultou? No efeito histórico de lembrança extremamente triste e chocante, com os campos de concentração acumulando cadáveres de gente inocente, por causa da origem judia que se tornou o "outro lado" que o nazismo considerava como "obstáculo a ser eliminado".

É esse o perigo do Brasil como "nação mais poderosa do planeta". O "espiritismo" brasileiro, capaz de "sumir" com Amauri Xavier, o próprio sobrinho do "renomado profeta" Chico Xavier, só porque denunciou irregularidades do tio e ameaçava denunciar a corrupção de lideranças "espíritas", poderá mostrar surpresas desagradáveis no futuro.

Daí que o problema não está na afirmação do país como "coração do mundo e pátria do Evangelho", mas no que irá definir como os "obstáculos" para serem derrubados. A desculpa de unificação de toda a diversidade cultural, intelectual e religiosa não é desculpa, porque todo movimento centralizador tem essa promessa.

O problema é quando as demais correntes de crenças, pensamentos e atividades culturais que se manifestam fora da "missão do Evangelho" do "espiritismo" brasileiro se constituírem num "obstáculo" à sua "hegemonia do amor". A partir dessa situação, se verá que, se de um lado há um "povo escolhido" para comandar o mundo, de outro haverá um "povo" a ser exterminado.

Daí o perigo que muitos não conseguem perceber, e que a História confirmou com exemplos dos mais cruéis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.