segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

"Velho mundo" e o catastrofismo de Chico Xavier

TEMPESTADE XAVER (!) INUNDOU REGIÕES DO REINO UNIDO, ESCANDINÁVIA E ALEMANHA, EM 2013.

Analisando o que Data-Limite Segundo Chico Xavier interpreta do famoso sonho descrito por Francisco Cândido Xavier, uma das supostas previsões corresponde à decadência e mesmo a dsstruição do "velho mundo", que corresponde aos EUA, Europa, Oriente Médio e resto da Ásia.

Regiões consideradas socialmente mais avançadas - e isso inclui aspectos políticos, econômicos, culturais, sociológicos etc - desapareceriam da Terra, destruídas por catástrofes naturais ou pela ação descontrolada de grupos terroristas.

Isso inclui desde a Escandinávia (Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Islândia), inundada pelas águas derretidas do Pólo Norte, até os grandes surtos terroristas a atingir zonas urbanas como as que ocorreram em Nova York, Londres, Madri e, recentemente, Paris, passando pelo isolamento e possível destruição do Estado da Califórnia, dos EUA, desprendido do continente americano.

Superestimando casos pontuais que ocorrem por conta do desequilíbrio ambiental - como se, por outro lado, os terremotos e tornados que já acontecem no Brasil fossem história da Carochinha - , a "profecia" de Chico Xavier parece querer se promover com a decadência do "velho mundo".

Montar o quebra-cabeças ideológico por trás dessa "profecia", que alega que o Brasil irá se ascender às custas dos escombros do "velho mundo", é uma tarefa delicada cujas constatações tornam-se desagradáveis aos sonhadores adeptos de Chico Xavier.

Afinal, o que se espera de um sonho que descreve uma nação materialmente constituída, delimitada por critérios puramente terrestres, como "predestinada" a ser "a mais poderosa do planeta", dentro de argumentos religiosos partidos de um anti-médium que preferia o silêncio da prece do que a luta por melhores condições de vida?

Levando em conta o religiosismo extremo e calcado no Catolicismo medieval adaptado aos novos tempos, por parte de Chico Xavier, o que se observa é que o Brasil será promovido a uma nova teocracia, exercendo sua supremacia política, mais uma vez, através da destruição de um mundo intelectualmente mais avançado.

Descontados alguns aspectos negativos como a discriminação social dada às mulheres e a escravidão, a Antiguidade clássica apresentava avanços de cunho científico, intelectual, cultural e filosófico, em que boa parte de seu acervo se perdeu, por guerras, incêndios e outros descuidos, deixando muitas lacunas para a humanidade de hoje.

E isso foi agravado quando o Império Romano, que até certo ponto permitia a herança cultural da Grécia Antiga, chegando a haver equivalentes culturais aos ícones gregos - como se nota nos "deuses" da Mitologia e também nos padrões da Arquitetura e da Filosofia, entre outros - , se converteu em teocracia a partir do exemplo do imperador Constantino.

O Império Romano, poucos séculos depois, sucumbiu, mas restou o Catolicismo medieval fundado por Constantino e que representou grave retrocesso à humanidade, em pontos inferiores ao que havia de atrasado na Antiguidade clássica.

Isto que dizer que o que havia de retrógrado na Grécia Antiga permaneceu, e o que havia de avançado pereceu e com o que restou dela só foi devidamente valorizado tardiamente, numa trabalhosa e incompleta recuperação do caminho percorrido pela humanidade da Terra.

O catastrofismo festivo de Chico Xavier, que anuncia que o Brasil liderará o mundo com seu "lindo exemplo de solidariedade" enquanto o "velho mundo" se arruína, sugere, num otimismo messiânico, que a nata dos artistas, celebridades, intelectuais, cientistas e ativistas passará a morar no Brasil que verá pessoas do mesmo nível florescerem no país tropical bonito por natureza.

Como isso irá acontecer, não se sabe. Talvez nossos maiores cientistas possam obter a visibilidade e o dinheiro que precisam para ter, pelo menos, 1/4 do prestígio e do cartaz das nulidades do Big Brother Brasil e das candidatas do Miss Bumbum, fazendo malabarismos circenses em semáforos de ruas, sempre vigilantes para não serem assaltados por viciados em crack.

E os nossos maiores artistas, com sua melhor música e suas expressões mais elevadas? Talvez eles pudessem baixar a cabeça e aguentarem um dueto com Ivete Sangalo, Alexandre Pires e Chitãozinho & Xororó, todos berrando de tanta canastrice, para assim os grandes músicos que se submetem a tais fardos serem ao menos citados em jornais semi-popularescos do porte do jornal O Dia.

Do jeito que o Brasil está pouco se lixando com a atividade genuinamente intelectual, como é que vamos valorizar nossos melhores cientistas, nossos melhores pensadores? E, com a cultura em queda vertiginosa, como é que vamos perceber um cenário de brilhantes expressões? E como iremos mudar o mundo se o "nosso profeta maior" quer que fiquemos orando em silêncio?

São questões que os partidários de Chico Xavier não querem saber. Eles não estão com a razão, porque raciocinar, para eles, é criar incômodos, preferindo eles ficarem com a cegueira da fé e apenas eventualmente brincando de ciência com teses confusas, absurdas, vagas e contraditórias.

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