domingo, 15 de março de 2015

Indignação nacional dá o tom da crise do Brasil

PASSEATA DE PROTESTO CONTRA A PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF, EM SÃO PAULO.

Que "coração do mundo" infartado. Enquanto os "espíritas" sonham com o Brasil sendo o país mais poderoso do mundo, numa clara inclinação geocentrista, herdada do Catolicismo medieval, e claramente materialista, delimitando o Novo Eldorado por algumas extensões territoriais feitas pelos homens da Terra, a realidade mostra-se crua e imprevisível.

Enquanto líderes "espíritas", com suas lágrimas de crocodilos, ficam "tristinhos" porque a tensão existente no país não confere com seus princípios de "solidariedade e fraternidade" e da "construção de uma nação comandada pela paz e pelo amor", a revolta popular, em vários planos ideológicos, eclode nas manifestações diversas dos últimos dias e a de hoje.

Por um lado, pessoas progressistas que começam a lançar ideias e projetos, que no plano da política esquerdista nem sempre são devidamente apreciados. O projeto político-econômico do PT, em que pese alguns avanços, está longe de promover o verdadeiro desenvolvimento nacional. O debate cultural foi empastelado pelos adeptos da "cultura" brega, que queriam um povo idiotizado.

Por outro lado, a onda de "cidadãos zangados" trazida pelos reacionários jornalistas ligados às grandes redes de jornais, rádios e TVs, que levam ao exagero surreal a oposição ao PT, transformada num ódio psicótico que faz alguns pedirem a volta da ditadura militar que arrasou com o país.

Os conflitos ocorrem, as confusões e a raiva estão imensas. A oposição à presidenta Dilma Rousseff, pelo menos no eixo Rio-São Paulo, é muito grande e sepultou de vez a onda pseudo-esquerdista da Era Lula, em que uma parcela da sociedade reacionária, principalmente os adeptos da bregalização cultural, fingia ser "de esquerda".

Depois de muitos anos vencendo em quase todos os âmbitos das atividades humanas, o reacionarismo ideológico, que na Era Lula apenas moderou seu poderio político-ideológico, Daí, por exemplo, que alguns reacionários extremos, que defendiam a idiotização da cultura popular, se passavam por "progressistas" apenas pelo pretexto de "defenderem o popular".

Mas é claro que a máscara deles caiu tempos depois, e eles, que se associavam a páginas favoráveis a Che Guevara e Hugo Chavez no extinto Orkut, que seguiam Emir Sader no Twitter e até 2010 declaravam voto apaixonado para Dilma, hoje chamam Karl Marx de "nazi-fascista" e defendem a intervenção militar por uma nova ditadura.

A crise de princípios, de um país que não consegue conter a inflação e a insegurança, que só tardiamente passou a classificar o assassinato de mulheres por motivos machistas, o chamado feminicídio, como crime hediondo, e já começa a estudar a hipótese de transformar trotes universitários violentos como crime de tortura, ainda é muito grande.

E o Brasil adiou por muito tempo esse clima de tensão, já que as feridas sociais são muito imensas, elas vêm desde o 01 de abril de 1964, quando um projeto progressista de país, sonhado desde o governo de Juscelino Kubitschek, foi por água abaixo, e que, só observando o lado cultural, ainda continua fraturado como se não tivéssemos recuperado a democracia rompida naquele ano.

Essas feridas profundas de mais de 50 anos fazem reviver antigas neuroses, com Dilma Rousseff, em que pese as debilidades de seu governo, vivendo na carne a mesma angústia de João Goulart, do fanatismo oposicionista, que nada tem a ver com a oposição democrática, até pela recusa em admitir que a própria direita permitiu que Dilma fosse reeleita pelo voto popular.

E agora essa tensão tende a explodir de várias maneiras, e os manifestos dos últimos dias, um no último dia 13, em favor de Dilma Rousseff, e a manifestação para hoje, contra a presidenta, só são o começo de um longo e sério período de tensões.

Curiosamente, a polarização lembra o comício de João Goulart na Central do Brasil, no Rio de Janeiro - que, como o recente ato pró-Dilma, ocorreu numa sexta-feira 13 - e a Marcha da Família Unida Com Deus pela Liberdade, em São Paulo, no dia 19 de março daquele 1964 que gerou o golpe militar.

Não sabemos como vão ocorrer as coisas, mas o período gravíssimo de crises mais uma vez volta à tona, depois de uma relativa calmaria política entre o fim da ditadura e os tempos atuais, mais confusa e caótica que a calmaria entre o fim do Estado Novo, em 1945, e o golpe militar de 1964.

Isso contraria, e muito, as "profecias" de Chico Xavier em 1969, até porque ele defendeu a queda de João Goulart e em 1971 disparava contra camponeses, operários e estudantes (sim, ele mesmo, Francisco Cândido Xavier, "todo amor, bondade e misericórdia"). Até porque não há tempo para o Brasil virar o "coração do mundo" em 2019, e provavelmente não o será em 2052 ou 2057.

O Brasil não viveu ainda os dilemas que os experientes países desenvolvidos já viveram. Na Europa, países como França, Alemanha e Inglaterra já tiveram áreas destruídas e se tornaram cenários de fome e miséria. Viveram vários períodos de profundo ceticismo político e tamanhas injustiças.

O nosso país, ainda que tivesse vivido suas rebeliões populares, suas tensões políticas e coisa e tal, parece ainda virgem em certos impasses. já que na maioria dos casos temos estruturas de supremacia de poder comparáveis aos da Idade Média ou, pelo menos, da Idade Moderna.

Não estamos dizendo que o Brasil tenha que encarar os infortúnios que países mais experientes sofreram há vários séculos, mas ao menos que possamos aproveitar essas lições e prevenir tamanhos flagelos, o que, no contexto atual, torna-se muitíssimo difícil.

O máximo que podemos esperar é que essa crise se torne intensa a ponto do Brasil se revelar como um país altamente caótico e terrivelmente problemático. Infelizmente, temos que esperar o pior. Porque é assim que surgirão as primeiras lições e darão margem ao diagnóstico mais preciso dos problemas que permitam criar soluções mais definitivas.

É lamentável, mas é por situações assim que um país inexperiente terá que aprender a encarar para poder extrair dela o aprendizado que formulará novas soluções.

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