terça-feira, 19 de maio de 2015

A risível aventura de norte-americanos no Norte brasileiro

TARZAN E FAMÍLIA PODERIAM VIVER NA FLORESTA AMAZÔNICA?

Segundo garantiu o anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier, sobre a catástrofe que atingiria o Hemisfério Norte e o tornaria "inabitável" - não se sabe como, mas há o caso do lendário continente Atlântida - , os norte-americanos migrariam em massa para ocupar a região Norte do Brasil.

Segundo o famoso sonho de 1969 relatado por Chico Xavier, os canadenses, estadunidenses e mexicanos, depois de verem destruídas suas áreas - não é preciso dizer que até Hollywood desaparecerá do mapa, tragado pelas águas do Pacífico e afundado por terremotos - migrarão para o Norte do país, conhecido por seus rios e florestas, em especial a Amazônica.

Isso vai contra aspectos sociológicos ou até mesmo climáticos. É verdade que os estadunidenses destruíram suas florestas, mas é pouco provável que sua mentalidade eminentemente urbana os faça preferir viver na Amazônia ou em cidades como Manaus, Belém ou a praticamente isolada do mundo, a acreana Rio Branco. Nem Palmas, no Tocantins, seria uma opção provável.

Sociologicamente, pelo que se observa em celebridades, executivos, esportistas e autoridades dos EUA, a tendência de migração de norte-americanos - canadenses e mexicanos iriam "de carona" - se voltaria naturalmente para o Sudeste, a partir das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Galeão e Congonhas seriam os portos naturais de recepção dos imigrantes das áreas destruídas.

O que faria um norte-americano no Norte do Brasil? Nem mesmo os donos de empresas madeireiras sentem interesse em colonizar tais áreas. Suas estadias na região são de caráter meramente econômico e administrativo. Além disso, o grosso do comércio madeireiro na região é feito não por estadunidenses, mas pelos chamados "tigres asiáticos" (como Tailândia e China).

O Norte brasileiro só tem em comum com os EUA - mais precisamente o Sul, sobretudo os Estados da Florida e do Texas - a apreciação da cultura caribenha, sobretudo os ritmos "sensuais" como a salsa, o merengue e outros, que nos EUA são ouvidos pela população de origem hispânica, enquanto no Norte brasileiro ela configura o cardápio da música comercial como lambada e "forró eletrônico".

Mas as semelhanças param por aí. Que interesse tem alguém que sai de Los Angeles ou Nova York e se contentar em viver em Macapá ou Rio Branco? E o Norte, justamente a região mais provinciana do Brasil, que atrativo traz para os norte-americanos?

E por que Chico Xavier fez essa predição, se em 1969 era óbvio que estadunidenses preferissem o Rio de Janeiro como ponto de desembarque para entrarem no Brasil? Já houve um cem-número de celebridades, até aquele ano, que quando visitaram ao Brasil nem de longe pensaram em ir primeiro para Manaus ou Belém, que segundo o anti-médium seriam seus "pontos de chegada".

Seria porque Chico Xavier estava triste com a supremacia estadunidense na política e economia mundiais? Ele sonhava em ver o Brasil como "centro do mundo" e Tio Sam não deixava? Será que ele creditou a migração dos norte-americanos ao Norte do país por pura sacanagem ou por algum outro motivo de possível protesto?

Será que seria para ver os ianques mordidos por cobras ou devorados por jacarés na Amazônia, como castigo por terem impedido o dócil Brasil, país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, se tornar a maior nação do planeta, ideia sonhada pelo caipira de Pedro Leopoldo desde menino?

O que se sabe é que, quando Chico Xavier calculou as possíveis migrações dos povos do Hemisfério Norte após a presumida catástrofe, ele usou critérios cartográficos. Ele pensou num mapa mundi desses em folha de papel posta numa mesa, e teria antes calculado com um lápis levando em conta apenas a simetria de posições dos países.

Ele desconheceu vários aspectos, já que, se ele presumia uma catástrofe de incalculáveis dimensões, ele não poderia considerar o Chile como nação sobrevivente do planeta, porque, com mais de 90 vulcões ativos e uma área predominantemente sísmica, o país seria totalmente destruído se levássemos em conta o nível da catástrofe que Chico Xavier supôs poder haver na Terra.

O Chile desapareceria da mesma forma que a Califórnia, com Hollywood e tudo. Há quem aposte no obituário de 90% das celebridades hoje em evidência, se as catástrofes "previstas" por Chico Xavier realmente ocorrerem depois de 2019. Talvez sobre a turma dos reality shows e as musas do UFC para contar história.

Quanto à migração norte-americana no Norte, seria risível seus povos investirem nessa aventura. Seria inconcebível, tamanha a natureza urbana e moderna de seus indivíduos. Mesmo os ultraconservadores cidadãos do Alabama estariam mais à vontade na cidade de São Paulo ou mesmo no Rio de Janeiro de um preocupante movimento neo-reacionário entre os jovens.

Se uma "profecia" se faz através desses erros grotescos de abordagem, que confiabilidade ela pode garantir, mesmo que seja para ser prevenida? Independente dela poder ou não acontecer, a suposta "profecia" de Chico Xavier é tranquilamente invalidada por conta desses erros, na medida em que eles vão contra a realidade, o que diz muito pela anulação de seu sentido verídico.

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