domingo, 24 de maio de 2015

"Espiritismo" brasileiro é muito menos espírita do que parece

PADRE MANUEL DA NÓBREGA, O JESUÍTA QUE, EM ESPÍRITO, TORNOU-SE "MENTOR" DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.

Ainda descrevendo o caso dos degredados, observa-se que a religião que se autoproclama a vanguarda das crenças espiritualistas, o "espiritismo" brasileiro, na verdade é uma combinação da essência do Catolicismo medieval português com algumas concessões trazidas pela origem herege dos cristãos-novos.

Graças à influência dos degredados no povoamento do Brasil, o país até hoje tem como tradição desenvolver ideias novas em bases ideológicas velhas, que praticamente eliminam a essência original das novidades, sejam elas criadas no Brasil ou trazidas do exterior, e só são consolidadas quando se convertem nas formas deturpadas, onde as bases originais são quase todas descartadas.

Se hoje temos internautas reacionários, que nas mídias sociais eventualmente combinam juntos uma campanha difamatória contra alguém que discorda do que os reaças pensam - geralmente defendendo decisões transmitidas "de cima" pela política, pelo mercado ou pelo poder midiático - , é porque faz parte da "filosofia degradada" combinar formas novas com conteúdos retrógrados.

Mesmo na cultura rock, expressão vinculada, em tese, à modernidade juvenil, nota-se que o árduo trabalho da Rádio Fluminense FM, de Niterói (RJ), com todo o prestígio que alcançou, foi deixado para trás e hoje o segmento é muito mal representado pelas deturpações grotescas da Rádio Cidade, que com sua mentalidade pop nunca teve tradição nem vocação para explorar o rock.

É a "filosofia" dos degredados que influi neste caso, herança do hábito de um degredado seguir tardiamente uma causa, depois que viu nela alguma conveniência. Por um lado, a Rádio Cidade se consagrou como rádio pop comum, e só embarcou no rock quando passou a ver nele "uma graninha extra". E a causa do rock no rádio só se firmou na forma deturpada feita pela Cidade.

A "filosofia degredada" cria um ambiente energético que protege corruptos, assassinos, ladrões, canastrões e canalhas. Porque eles são as representações modernas dos antigos degredados, que sempre adotam a metodologia de primeiro se ascender através das piores qualidades e depois "ir lapidando" com o tempo.

O Brasil não consegue progredir por causa disso. Trabalha o progresso através de um pacto com o retrocesso, e a história sempre registrou movimentos que dificilmente se tornam inteiramente vanguardistas, porque sempre têm que negociar com alguma força retrógrada para se expressar e ter alguma projeção.

"ESPIRITISMO" NADA ESPÍRITA

O "espiritismo" brasileiro não seria exceção, uma vez que ele, em tese, surgiu de uma novidade trazida pela França, a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec. Embora o pedagogo francês seja permanentemente evocado pelos "espíritas" brasileiros, quase nada se aproveitou de fato do seu repertório de conhecimentos. De kardeciano, o "espiritismo" brasileiro só tem a fachada.

O que vemos no "espiritismo" brasileiro, na verdade, é uma combinação do Catolicismo medieval português, que ainda exercia influência na sociedade do Segundo Império brasileiro, com as concessões trazidas pela origem herética dos "cristãos-novos", o que faz com que mesmo as ideias aparentemente espíritas do "espiritismo" brasileiro nada tenham a ver com Kardec.

Kardec só "foi aproveitado" em duas ideias: a consciência da vida após a morte e a reencarnação. Mas essas duas ideias são muito anteriores a Kardec e há registros dessa crença até mesmo nas expressões rudimentares na pré-história.

Os ritos e dogmas que se aproximam da natureza espírita e que foram adotados pela doutrina liderada pela FEB, portanto, correspondem aos procedimentos associados à feitiçaria e ao curandeirismo que os movimentos heréticos haviam praticado na Idade Média. Essencialmente, nenhum vestígio de Allan Kardec.

Pode parecer ridículo para muitos de seus seguidores, mas o "espiritismo" brasileiro praticamente nada tem de realmente espírita, já que sua combinação de moralismo religioso, herdado do Catolicismo medieval, com as práticas de aparente mediunidade, terapias e curandeirismo, herdadas dos movimentos heréticos, criaram uma seita que nenhuma relação real tem com Kardec.

É só prestar atenção, rigorosamente. A doutrina de Allan Kardec é uma, a que foi popularizada por Chico Xavier é outra completamente diferente. A de Xavier é a que combina Catolicismo medieval com curandeirismo e misticismo herético dos "cristãos-novos", criando uma diferença tão aberrante com a doutrina kardeciana que alguns reparos tiveram que serem feitos.

DEGREDADOS E A POLÍTICA

Afinal, é da praxe dos degredados mentir ou dizer meias-verdades, e uma das "artes" conhecidas no Brasil é justificar as piores decisões pelo melhor dos argumentos. Quantos egoístas se passam por "altruístas" pelo amplo e engenhoso repertório de desculpas que fazem, geralmente definindo como "sacrifícios necessários" os prejuízos sérios que fazem contra outrem?

O sistema de ônibus do Rio de Janeiro, da dupla função dos motoristas-cobradores que sobrecarregam seu trabalho, dos ônibus com pintura padronizada que acobertam a corrupção e confundem os passageiros e das linhas com itinerário mutilado que, sob o rótulo de "alimentadoras", tiram ônibus de circulação e obrigam passageiros a esperarem mais tempo pela chegada de um veículo sempre superlotado, é um claro exemplo disso.

Tanto o prefeito Eduardo Paes como os que passaram pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), Alexandre Sansão e Carlos Roberto Osório, tentaram justificar suas convicções egoístas e autoritárias com argumentos "técnicos" falsamente "em prol do interesse público". As "generosas" desculpas os fazem diferir ligeiramente das autoridades do Império Romano, mas ao que tudo indica a sede de prejudicar o povo é praticamente a mesma.

Mais uma vez é a "filosofia" dos degredados que influi na sociedade. E sabe-se que, no caso do sistema de ônibus, a figura de Jaime Lerner também segue a metodologia dos degredados, de se afirmar no pior e só tardiamente "se lapidar" para se manter no poder.

Lerner foi político da ditadura, ligado à ARENA (Aliança Renovadora Nacional), e seu projeto de mobilidade urbana era um dos derivados do "milagre brasileiro" e um equivalente exato dos setores Urbanismo e Transportes ao que o projeto econômico de Roberto Campos, que foi ministro do general Castelo Branco, representou para a Economia.

Só que Lerner tentou sair incólume com a redemocratização, tentou se filiar a partidos de centro-esquerda (PDT e PSB) e limpar sua imagem de "filhote da ditadura" forjando a de um tecnocrata "independente", a impor seu decadente projeto de transporte coletivo, herança do "milagre brasileiro", como uma falsa novidade para o Rio de Janeiro de 2010 e daí para o resto do país.

É o velho que tenta se passar pelo novo. E, ainda na política, nota-se o atenuante do ex-presidente Fernando Collor, o "abençoado" político das Alagoas, livrar-se de um processo por falsidade ideológica na campanha eleitoral de 2002 porque, com a lentidão do processo judicial, este se tornou obsoleto, já que prescreveu após 12 anos do fato que o motivou.

Collor recebeu as bênçãos que Juscelino Kubitschek não recebeu. Kubitschek era um político moderado, altruísta, e fez todas as generosidades possíveis com Chico Xavier e a FEB e transformou a federação em "instituição de utilidade pública", e com toda a bondade o mineiro pagou caro com as más energias que contraiu.

Juscelino viu perder para sempre sua chance de ser eleito em 1965 e começar mandato em Brasília. Mesmo se opondo ao seu ex-vice, João Goulart, por causa de atitudes como a anistia a um grupo de marinheiros rebeldes (incluindo o traiçoeiro Cabo Anselmo), o mineiro foi um dos primeiros políticos a ter seu mandato cassado.

Além disso, Juscelino tentou um movimento de redemocratização, que foi abortado. Tentou entrar na Academia Brasileira de Letras (hoje capaz de receber um medíocre Merval Pereira), mas não conseguiu. E ainda foi morto no final de 1976 em um estranho acidente de carro, que soa como um atentado, mas legistas recentemente constataram que foi apenas um "acidente de trânsito comum".

E Collor, que nem foi assim tão amigo de Chico Xavier? Ele roubou o país e perdeu até o mandato e os direitos políticos, mas se reabilitou de tal forma que aqueles que poderiam barrar seu caminho de volta ao poder faleceram, como seus irmãos Pedro e Leopoldo e o tesoureiro Paulo César Farias, assassinado com sua namorada num crime em que se permitiu apagar vestígios, deixando um mistério para sempre irresolúvel.

Collor cresceu tanto que passou a ser cortejado até por antigos opositores. E ele ainda cria discurso para dizer que não está envolvido com a corrupção da Petrobras, nem com outro tipo de esquema. Senador medíocre, tenta posar de estadista e ainda é aplaudido por gente influente e até progressista.

Fernando Collor também é um outro dos tantos exemplos que o Brasil degredado tanto gosta. Daí ele ter sido, até hoje, um sujeito de sorte. Ele encaixa do perfil defendido pelos espíritos degredados. Um homem que se afirma pelas piores qualidades e vai "lapidando" aparentemente com o tempo.

Dessa forma, reabilitamos canalhas, algozes, canastrões, corruptos. E eles passam a ter em mãos as rédeas para o progresso de amanhã. Só que eles têm uma origem retrógrada e mesmo suas reabilitações se dão sem a compreensão real das novas causas que dizem terem aderido tardiamente.

Assim, o Brasil não poderá de forma alguma se tornar a vanguarda da humanidade planetária. Sempre dependendo de trabalhar o novo em bases retrógradas, o país sul-americano ficará sempre com o seu caminho comprometido e muito mal asfaltado. Os degredados degradaram o Brasil.

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