terça-feira, 30 de junho de 2015

A incompetência dos "grandes" no Brasil


O Brasil, como país emergente, tem como um dos graves problemas a prevalência da incompetência. Na política, nos meios acadêmicos e intelectuais, na tecnocracia e até no show business, para não dizer o mercado de trabalho, predominam líderes que demonstram serem desprovidos de talento e adotam sérias distorções de conduta nos seus trabalhos.

São pessoas que agem contra o interesse público e a favor de interesses pessoais. Prejudicam a sociedade com decisões que se mostram arbitrárias. Fazem malabarismo discursivo para dizer que seus atos egoístas são um primor de altruísmo. Não assumem um compromisso real de melhorias sociais.

Para piorar, o mercado de trabalho está tomado de desempregados que possuem um grande talento para desenvolver alguma profissão, mas que não conseguem emprego simplesmente porque os "de cima" têm medo de contratar alguém que pode ser mais inteligente e ousado do que eles.

Todos os mecanismos de seleção para emprego ou cursos, pela incompetência de seus líderes e seu julgamento de valor que envolve algum moralismo e muita burocracia, acabam permitindo o acesso às profissões por parte daqueles que não têm sequer vocação para este ou aquele trabalho.

Daí a predominância da incompetência. As funções são dadas a quem não sabe exercê-las. Aos incompetentes cabe apenas criar um arremedo de profissionalismo, uma retórica para justificar "com categoria" qualquer besteira, e caprichar na publicidade para criar vínculo permanente da função àquele que nada tem a ver com ela.

E isso cria uma elite de incompetentes, gente que tem até diploma, visibilidade, prestígio político e outros tipos de status elevados, mas não sabem desenvolver o trabalho que dizem assumir e não raro agem em prejuízo à sociedade, mas sempre apresentam alguma desculpa para este ou aquele ato arbitrário, ou para alguma omissão ou atitude ilícita.

Eles apenas usam a habilidade discursiva para darem a impressão de que suas ilegalidades são sempre autorizadas por lei. Desviam vírgulas, acentos e travessões para seus próprios interesses, e acham que os privilégios que acumulam para si são "justos" e "merecidos".

Eles formam uma "panela" (grupo fechado movido por ambições comuns), que acabam criando barreiras para outras pessoas, sobretudo de talento verdadeiro para o respectivo trabalho, entrarem no mercado de trabalho ou em postos de comando e liderança estratégicos.

PADRÃO ESQUIZOFRÊNICO

O que se observa é que o mercado de trabalho ou o mundo da fama e do prestígio de qualquer natureza acabam criando um padrão muito esquisito, bastante esquizofrênico, de um profissional, intelectual ou celebridade emergente.

Esse padrão de pessoa consiste num verdadeiro malabarista ideológico, alguém que é relativamente jovem mas é veterano em alguma coisa, um indivíduo que é ao mesmo tempo submisso e criativo, que quer ser levado a sério pela sociedade mas é um piadista (e um fanático torcedor de futebol, em muitos casos), um ignorante que precisa bancar o especialista no cargo que assumiu.

Esse quadro se deu a partir de um esquema que vem desde a ditadura militar e os governos marcados pelo "fisiologismo político" (Sarney, Collor, FHC). Envolve troca de favores, expressão de prestígio social, poderio tecnocrático justificado pelo diploma (que deixa de ser atestado do saber para ser uma moeda corrente para autorizar decisões arbitrárias), jogo de cintura e outras manobras.

Isso causa um grave prejuízo para o país, porque, da cultura à mobilidade urbana, da economia à ecologia, predominam as decisões e os interesses de pessoas sem qualquer visão autêntica sobre a causa abraçada, gente sem visão de mundo e que só pensa com seus umbigos.

Com a supremacia da incompetência, a falta de visão de mundo, o medo das responsabilidades pesadas e a ambição de um status social maior fazem com que não raro focos de corrupção surjam e cresçam, delitos quase sempre abafados quando existe um acordo para compartilhar todos os privilégios e vantagens obtidos pela "quadrilha".

SEM-TETO INTELIGENTÍSSIMOS

Enquanto os privilegiados exercem incompetência e corrupção nos altos postos de comando ou no espetáculo da visibilidade e do prestígio acadêmico, há casos de moradores de rua que são pessoas inteligentíssimas e até com formação universitária. No entanto, eles são sem-teto porque não possuem dinheiro sequer para pagar uma diária num hotel mais fuleiro.

Há um medo de empregadores contratarem pessoas muito inteligentes, que passariam os privilegiados que estão no poder para trás. Por isso existe hesitações, manobras mil, que envolvem até concursos públicos que exigem de tudo do candidato a um cargo público, menos a especialidade real desse cargo.

Aí usam artifícios e alegações moralistas, sobrecarregando programas de estudos pela ilusão de que é estudando demais que se aprende melhor as coisas, e aí os organizadores de concursos "esquecem" - ou descartaram de propósito? - os assuntos referentes ao próprio cargo específico, ou então os colocam em segundo ou terceiro plano.

Essas distorções sociais prejudicam o país, seja na corrupção política, seja no provincianismo cultural, já que prevalecem jornalistas culturais, cientistas sociais e até DJs que são desprovidos de uma visão amplamente cultural, preferindo ficarem restritos à mentalidade dos "grandes sucessos" comerciais ou de tolices veiculadas no YouTube e outras mídias sociais.

O Brasil não irá para a frente com a prevalência de incompetentes de todo tipo, protegidos seja pelo status político, pela visibilidade, pelo diploma, e por aí vai. São pessoas sem qualquer vocação natural e sem qualquer compromisso com a causa pública - como os políticos que governam o Rio de Janeiro - , que acabam criando malefícios para o país.

Em diversos aspectos, o Brasil torna-se mais atrasado, retrógrado, injusto. e muito longe do verdadeiro desenvolvimento social, cultural, econômico e político. Daí ser cada vez mais difícil o Brasil se tornar o tão sonhado líder da comunidade das nações.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

A falta de controle dos "centros espíritas"


O "espiritismo" brasileiro não estabeleceu seu controle de ensinamentos, porque se distanciou de Allan Kardec e preferiu se expressar como uma fusão entre moralismo católico-medieval e improvisação místico-paranormal.

Com isso, a doutrina brasileira que de "kardecista" só tem o nome consiste não apenas numa prática de "espiritismo à moda da casa" como, usando o pretexto do livre-arbítrio, deixar que os "centros espíritas" se percam em disputas de egos e tantos outros dissabores.

Não bastassem a corrupção feita pelos anti-médiuns Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, que venderam muitos pastiches literários como se fossem "psicografia honesta" e ainda usurparam, em causa própria, o prestígio do professor Kardec, os "centros espíritas" tornam-se ambientes pouco confiáveis de conseguir assistência espiritual e equilíbrio moral.

Pelo contrário, o que se observa é que nos "centros espíritas" as pessoas acabam fazendo suas vidas travarem depois que assistem às doutrinárias e, para piorar, os tratamentos espirituais acabam causando mais malefícios do que benefícios às pessoas.

Muitas palestras "espíritas" tornam-se maçantes, ocas, vazias, eventualmente trazendo preconceitos moralistas, fora os raciais, e outras coisas. Boa parte delas é desanimadora, tediosa e pedante, mas mesmo os "melhores" palestrantes apenas têm a habilidade de pregar a mística espiritólica como se fosse um misto de guru de autoajuda e astro da neurolinguística espetacularizada.

Nos bastidores, notam-se disputas de egos, divergências, formações de grupos dissidentes, rupturas diversas. Não há um norte que conduzisse a Doutrina Espírita para o bom caminho, até porque a desordem dos centros tem como raiz a própria linha da Federação "Espírita" Brasileira.

A FEB briga com as entidades regionais. As federações regionais fluminense e paulista disputam sua supremacia na FEB. Dissidências se formam sem que aqueles que deixam a FEB se tornassem fiéis a Kardec, até porque tornam-se espiritólicos do mesmo jeito, só que de forma "independente".

De Carlos Baccelli a Jardel Gonçalves, de Zíbia Gasparetto a Alamar Régis Carvalho, de Robson Pinheiro a Waldo Vieira, dissidências diversas tornam o "espiritismo" brasileiro ainda mais confuso e caótico, porque os dissidentes nem de longe querem recuperar as bases de Allan Kardec. Nem uma vírgula sequer eles querem assimilar do professor francês.

Pelo contrário, muitas dessas dissidências se devem ao conflito de interesses, a disputas pessoais ou a traições de algum outro motivo. Mas a base de Jean-Baptiste Roustaing se mantém, e o religiosismo de herança católico-medieval do "movimento espírita", de grupos "espiritualistas independentes" ou de outros que de um modo ou de outro seguem seus métodos, continua valendo.

E os "centros espíritas" são apenas reflexos microcósmicos dessa realidade. E tudo isso mostra que a religião que "só prega a união" só causa divisões por conta de sua inclinação retrógrada ao Catolicismo medieval, apenas descontando os aspectos mais coercitivos. Divisões que apenas continuam unidas pelo desprezo que se tem ao pensamento científico do professor Kardec.

domingo, 28 de junho de 2015

"Espiritismo" brasileiro e a demora do filme 'Chatô'

GUILHERME FONTES ATUOU EM NOVELA "ESPÍRITA" ANTES DE SE ENVOLVER COM O COMPLICADO CASO DO FILME CHATÔ - O REI DO BRASIL.

O "espiritismo" brasileiro é uma doutrina muito estranha, que combina o moralismo do Catolicismo medieval com o ocultismo das práticas hereges. Com esses aspectos sombrios e uma falta de controle que reflete o desprezo ao rigor científico de Allan Kardec, o "espiritismo" torna-se a doutrina do mau agouro, que acaba expressando energias negativas contra pessoas de perfil mais diferenciado.

Há o exemplo do ator Guilherme Fontes, que estava em ascensão desde o fim dos anos 1980. Sua primeira experiência como cineasta, mesmo ambiciosa e instigante, tornou-se um estranho fenômeno de demoras na conclusão da produção.

A situação foi esta. Guilherme decidiu ser diretor e um dos principais produtores de uma adaptação cinematográfica do livro Chatô - O Rei do Brasil, do conceituado jornalista biográfico Fernando Morais. Ele realizou as filmagens, um grande elenco participou do filme, e tudo o mais. Mas na hora de montar e concluir a edição do filme, houve uma estranha demora de 20 anos.

Só recentemente o filme está sendo finalizado, com o trailer sendo adiantado. E, para quem desconfia disso, o trailer foi divulgado justamente pelo primeiro que, em tese, poderia ter se indignado com a realização do filme, o próprio Fernando Morais.

Pois Fernando elogiou o filme, ficou solidário a Guilherme Fontes e afirmou que a produção é bem feita e o elenco conseguiu dar conta do recado. Ele mesmo que decidiu dizer para a opinião pública que o filme de Guilherme está pronto e se preparando para ser lançado no mercado.

Guilherme, aparentemente, foi acusado de improbidade administrativa, por suposto desvio de dinheiro. Foi esnobado por um mercado cinematográfico corporativista de diretores comprometidos com filmes inócuos e que se autopromovem sendo maridos ou namorados de atrizes belíssimas.

Mas um aspecto chama a atenção diante de um contexto de tantos obstáculos e demoras: Guilherme havia participado da novela "espírita" A Viagem, de Ivani Ribeiro, no papel de um jovem drogado e violento, que, depois de morrer, tornou-se um espírito obsessor, ou seja, aquilo que os "espíritas", por um cínico eufemismo, chamam de "irmãozinhos sofredores" e "amiguinhos pouco esclarecidos".

"ESPIRITISMO" E DIÁRIOS ASSOCIADOS

Há aliás algumas curiosidades envolvendo o focalizado do filme de Guilherme Fontes (e do livro de Fernando Morais), o empresário Assis Chateaubriand, o Chatô, e o "espiritismo" brasileiro, em especial a figura do anti-médium Francisco Cândido Xavier.

Uma das primeiras reportagens dos Diários Associados relacionadas a Chico Xavier foi na revista O Cruzeiro, em 12 de agosto de 1944, com uma reportagem de David Nasser com fotos de seu parceiro Jean Manzon. Os dois adotaram uma postura cética em relação ao conhecido mito de Chico Xavier.

O mito de Chico Xavier, às vezes, era aceito de forma "positiva" e o "espiritismo" brasileiro eventualmente recebia boa divulgação na TV Tupi, como se mostra em algumas coberturas do movimento. A própria TV Tupi exibiu a novela A Viagem, em 1975.

A novela é uma adaptação livre da dramaturga Ivani Ribeiro para as obras Nosso Lar e ...E a Vida Continua, livros de Chico Xavier da série do (não assumidamente) fictício André Luiz. Ivani criou um drama pessoal próprio, mas aproveitou dos livros os detalhes sobre a suposta vida espiritual.

A revista O Cruzeiro talvez fosse a que menos gentileza prestou com Chico Xavier. Os próprios Jean Manzon e David Nasser não estavam autorizados a entrevistar o anti-médium, e furaram o cerco se passando por repórteres norte-americanos (apesar de Jean Manzon ter falado com o idioma de seu país natal, a França) e, quando fizeram a reportagem, o fizeram com seu habitual ceticismo.

O mais incrível é que David Nasser havia produzido falsas reportagens tempos depois, como um relato sensual de uma suposta espiã russa que seduzia os inimigos. Essa espiã russa nunca existiu. Da safra supostamente atribuída a Humberto de Campos / Irmão X, Chico Xavier também chegou a escrever um relato sensual da suposta vida espiritual de Marilyn Monroe.

O caso da farsante Otília Diogo, que quase comprometeu Chico Xavier, que apoiou as fraudes da suposta "Irmã Josefa", foi denunciado em 27 de outubro de 1970 por outros jornalistas da revista O Cruzeiro. Eles chegaram a receber ameaças de gente ligada a Chico Xavier e ao "movimento espirita", por conta de tal denúncia.

Chico Xavier foi entrevistado em 28 de julho de 1971 pelo programa Pinga-Fogo, um dos mais antigos da TV Tupi de São Paulo, e revelou muitos aspectos que contradizem seu mito, como seu fervoroso catolicismo e seu ultraconservadorismo ideológico, defendendo a ditadura militar quando parte da direita brasileira, mesmo a católica, já havia se desiludido anos antes com o regime.

Além disso, é irônico que, depois que A Viagem foi transmitida pela TV Tupi, em 1975, a pioneira rede televisiva fosse naufragar num inferno astral que acelerou sua falência, em 1980, obrigando os Diários Associados a se desfazer de boa parte de seu patrimônio.

Também em 1975, O Cruzeiro com 47 anos de existência, abandonava seu estilo original e mudava sua linha editorial e se tornaria uma inexpressiva revista de informação e variedades, que depois seria definitivamente extinta em 1983.

É coisa de reflexão a estranha demora do filme Chatô, lembrando o caso das relações nem sempre favoráveis entre os Diários Associados e o "espiritismo" brasileiro. Mesmo que Guilherme teria cometido erros, eles não teriam sido fruto da influência espiritual do duvidoso "espiritismo"? A doutrina cuja trajetória foi marcada por tantas fraudes é capaz de gerar azar, sim.

sábado, 27 de junho de 2015

O Controle Universal do Ensino dos Espíritos (C. U. E. E.), método desvalorizado no Brasil


O "espiritismo" brasileiro finge que exerce um controle rigoroso das práticas ditas mediúnicas e faz de conta que aprecia a Ciência Espírita como outras esferas do conhecimento, em especial o científico.

Muitos "espíritas" estufam o peito e chegam mesmo a teorizar sobre o Controle Universal do Ensino dos Espíritos, lançado por Allan Kardec no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, e que constitui no método de estabelecer a comunicação com os espíritos já falecidos.

O C. U. E. E., como é conhecida a sigla, é um complemento ao que Allan Kardec já descreveu em O Livro dos Médiuns, que estabelece um roteiro para a atividade mediúnica, incluindo recomendações e restrições e alertando sobre os riscos de uma prática malfeita ou mesmo fingida.

Esse Controle, que é o legado que Kardec deixou, sabendo que ele não viveria muito para ver os novos avanços tecnológicos - a fotografia era incipiente em seu tempo e o fonógrafo veio pouco depois de sua morte - , foi feito de forma com que a linha de raciocínio do pedagogo francês fosse rigorosamente mantida e adaptada às transformações do tempo.

O Controle Universal consiste em procedimentos e cautelas que devem ser tomados diante da manifestação de uma mensagem espiritual. Entre outras coisas, Kardec recomenda que se verifique uma manifestação espiritual atribuída a um indivíduo através da ação de diferentes médiuns, sem qualquer relação entre si, e estudar a similaridade das mensagens para verificar autenticidade.

Não é um processo fácil. Afinal, é preciso ter um rigor na comparação das mensagens e na análise dos recados espirituais para ver se o espírito corresponde à identidade presumida ou não. É preciso conhecer a fundo a pessoa e ter um rigorosíssimo grau de discernimento, sem especulações nem suposições, e uma frieza emocional para não sucumbir às seduções de espíritos traiçoeiros.

Infelizmente, o que se viu, mesmo na França, foi a traição ao pensamento kardeciano, mesmo da parte de seus discípulos. A política francesa era dominada por correntes católicas, e os seguidores de Kardec acabaram aos poucos amenizando seu teor científico e diluindo seu pensamento aos níveis aceitáveis pela religião dominante.

É claro que essa deturpação era fichinha em relação ao que ocorreu no Brasil, mas se aparentes discípulos como Leon Denis já faziam concessões para o religiosismo e misticismo, a pior deturpação também veio em solo francês, através dos delírios de Jean-Baptiste Roustaing com seus três volumes de Os Quatro Evangelhos.

E aí Roustaing passou a ser defendido com entusiasmo pela Federação "Espírita" Brasileira, e Allan Kardec era desprezado, apesar das habituais bajulações a seu nome. E aí sabemos o que resultou, da bagunça doutrinária popularizada por Francisco Cândido Xavier.

Foi no Brasil que o C. U. E. E. não foi devidamente seguido. E, podemos dizer com segurança, quase nunca seguido. 99% do que se entende como "espiritismo" no Brasil nunca seguiu o controle sistematizado por Kardec. Dizem piadas maldosas que os "espíritas" brasileiros só entenderam a primeira metade.

Infelizmente, aqui a mistificação, a fraude e o improviso corrompem a mediunidade e fazem com que tudo seja descontrolado. E o que é pior, o artifício dos apelos religiosos acaba sendo a norma para atenuar as fraudes mediúnicas que se observam, pois as mensagens "fraternais" eximiriam os supostos médiuns da culpa pelas mensagens apócrifas.

E aí observa-se o faz-de-conta, todo o fingimento de lealdade a Kardec, a Erasto, ao C. U. E. E. e tudo o mais, quando nada se faz em prol de seus ensinamentos, muito pelo contrário, traindo-os e desobedecendo-os de forma aberta e aberrante, como que uma negação explícita a tais lições.

Para piorar, um farsante como Chico Xavier foi promovido, de graça, sem qualquer mérito nem qualquer motivo consistente, a "discípulo de Kardec" (para não dizer bobagens como atribuir a Xavier a reencarnação do próprio Kardec ou a personificação de Deus) e a "rigoroso cumpridor da Doutrina Espírita e todos os seus ensinamentos".

Sabemos que isso tudo é uma grande e absurda mentira e que Chico Xavier foi um dos que mais traíram os ensinamentos de Allan Kardec, se é que se interessou a seguir algum deles. É mentira mistificadora, que vincula o anti-médium mineiro àquilo que ele nunca esteve interessado em seguir, tão confortável Chico estava na sua posição de católico fervoroso e ideologicamente conservador e retrógrado.

O anti-médium foi o primeiro a desviar da rota do C. U. E. E., tendo sido Chico Xavier muito mais leviano do que a senhora Emilie Collignon, que ao menos parecia apenas cumprir o trabalho encomendado por Roustaing para trazer as mensagens atribuídas aos evangelistas e outras figuras bíblicas.

Divaldo Franco foi outro mentiroso. O anti-médium, famoso por sua habilidosa retórica, nunca cumpriu a sua autoproclamada fidelidade a Kardec e, certa vez, ainda usou o C. U. E. E. para justificar seus plágios literários, da maneira mais maliciosa possível.

Também observamos que supostos médiuns que divulgaram mensagens atribuídas às vítimas do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), também deturparam as lições do Controle Universal, porque os supostos médiuns podem trabalhar em regiões diferentes, mas têm um vínculo ideológico entre si e compartilham da mesma prática fraudulenta reprovada pelo método kardeciano.

Infelizmente, o Controle Universal do Ensino dos Espíritos não é cumprido no Brasil. Aqui existe a farra do propagandismo religioso mais fútil, se aproveitando da emotividade das pessoas para seduzi-las de maneira bem fácil.

Daí que a mediunidade, no Brasil, é uma prática feita sem qualquer tipo de controle, desvio feito até por aqueles que dizem cumprir o C. U. E. E.. Pois dizer não é o mesmo que fazer e, pior do que muitas seitas neopentecostais, o "espiritismo" brasileiro se vale pela mentira e pela fraude, mascarada pela suposta caridade e pelo mais escancarado proselitismo religioso.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Por que a mediunidade é uma prática desmoralizada no Brasil?


A maioria dos brasileiros não sabe, mas a prática da mediunidade, no nosso país, está completamente desmoralizada. Fora a histeria religiosista que vê na prática um primor de transparência e isenção, justificando a falsa constatação pela emoção e pelo status dos supostos médiuns, o que se observa é uma falta de controle e disciplina até entre os que dizem exercer controle e disciplina.

A mediunidade foi corrompida porque nunca houve uma compreensão correta da Ciência Espírita. Que todos podem ser médiuns, em tese isso é verdade. E que a mediunidade não depende de ser espírita para ser feita, também é outra verdade.

Mas o problema nem é tanto que a mediunidade seja feita alheia à Doutrina Espírita em si, mas o fato da mediunidade que se afirma "espírita" ser feita de forma irregular e não raro fraudulenta, mesmo por aqueles que julgam rigor e honestidade em relação aos ensinamentos contidos em O Livro dos Médiuns.

Em primeiro lugar, não tivemos uma prática mediúnica vinculada verdadeiramente aos ensinamentos e recomendações de Allan Kardec, mas vindos de práticas não-espíritas trazidas por movimentos hereges ligados ao esoterismo, à feitiçaria ou ao curandeirismo.

Exportamos práticas que, em muitos casos, beiram ao mais rasteiro charlatanismo, algo mascarado de maneira bem sucedida pelo status e pela reputação de "bondade" atribuídos aos supostos médiuns, que, espertos, não hesitam em bancar dublês de filósofos num Brasil de pouca leitura, baixa instrução e mais baixa capacidade de discernimento, e carente de verdadeiros filósofos.

Mascara-se a incompetência mediúnica com todo um repertório maciço de falsas verdades, aliado a uma suposta filantropia que não passa de um paternalismo barato, desses que qualquer pessoa com um nível moral mais mediano é capaz de fazer, como dar cestas básicas para os pobres, algo que só traz benefícios provisórios e frágeis.

VIROU BAGUNÇA

Como fenômeno espírita, é de se esperar que a mediunidade se desenvolva aos poucos, com muita cautela, com pessoas realmente especializadas e sem muito alarde. Isso, se forem levados em conta os ensinamentos que O Livro dos Médiuns, obra fundamental de Allan Kardec, estão claramente escritos em suas páginas.

Mas nada disso aconteceu. Tudo virou um circo, um espetáculo sensacionalista que envolve práticas improvisadas ou falsificadas, feitas por pessoas cujo talento mediúnico é bem menos expressivo do que se supõe e com uma propagação e uma ostentação que põe a credibilidade em xeque, mas é visto como "altamente confiável" pela triste tradição de haver tanta gente crédula.

O verniz de filantropia, bondade e humildade servem para mascarar a bagunça que virou a prática "mediúnica", das mensagens produzidas das mentes dos supostos médiuns, com informações inclusive "complexas" e "inacessíveis" colhidas pela leitura fria, mensagens estas que não passam de puro propagandismo religioso.

Para quem não sabe, leitura fria é um recurso comunicativo em que o interrogador faz uma conversa sutil para estimular a emotividade de outra pessoa que, envolvida com esse discurso "intimista", passa a dar informações das mais detalhadas sobre sua vida e a de seus entes próximos e até com algum nível de distância.

São produzidas mensagens com um padrão muito parecido entre si, apenas diferindo de estilo conforme o respectivo "médium", que conta com um estilo pessoal para cada repertório de mensagens correspondente. O "médium" A terá um estilo, o "médium" B terá outro, e assim por diante.

Nas curas mediúnicas, o que se observa são práticas improvisadas, que não buscam diálogo real com a medicina feita na Terra. Chegam mesmo a ser práticas marginais, com procedimentos clandestinos, como se fosse uma anti-medicina, que não raro traz energias negativas para os próprios "médiuns", já que boa parte deles acaba sendo vítima de algum infortúnio trágico.

A vida espiritual é feita na base da especulação, na maioria das vezes combinando valores moralistas com abordagens materialistas. dentro de um sistema de valores que tanto pode negar os prazeres materiais quanto pode afirmar, por exemplo, que existem animais domésticos num "mundo do além-túmulo" que consiste numa colônia espiritual em construções pomposas e megalomaníacas.

Os passes são feitos mais por um conjunto de sensações de transe e excitação pessoais que, dentro de ambientes com relativa escuridão, iluminado apenas por uma pequena lâmpada, geralmente azul, fazem os chamados "passistas" (deveriam ser "passeiros" para não confundir com a função carnavalesca que leva este nome) sacudirem as mãos sobre as pessoas atendidas.

A "mediunidade", no Brasil, é feita no improviso ou então mascarada pela incompetência. Em ambos os casos, o "fazer mal" e o "não fazer" dos supostos médiuns são sempre feitos em total dissonância e acima de tudo dessintonia com a Ciência Espírita.

Houve até mesmo um livro que tentou dar um verniz "científico" a toda sorte de deturpações, mistificações e fraudes, o livro Nos Domínios da Mediunidade, de 1955, uma desordem teórica que, atribuída ao fictício espírito André Luiz, foi escrita a quatro mãos por Waldo Vieira (não creditado) e Francisco Cândido Xavier.

Era uma forma de justificar a ignorância em relação a O Livro dos Médiuns e um meio de permitir práticas que o livro de Kardec não aconselharia de jeito algum. Um arranjo "teórico" para autorizar toda a bagunça que é feita sob o rótulo de "mediunidade".

Daí que a prática "mediúnica" tornou-se desmoralizada no Brasil, no sentido de impossibilitar que alternativas fossem feitas em prol da verdadeira mediunidade. Porque mesmo as tentativas mais honestas acabam sendo vinculadas aos desonestos, porque eles querem se autopromover às custas daqueles.

Isso cria um aspecto terrível sob vários aspectos. Entre eles, o de não permitir que aqueles que praticam uma mediunidade honesta, distantes do oba-oba e do estrelato "espírita" da quase totalidade dos seus "centros", se expressem de maneira independente do "circo" puxado por Chico Xavier, Divaldo Franco e outros mistificadores e fraudadores.

Há o outro aspecto de que os desonestos sempre se preparam para se apropriarem de práticas honestas, ou mesmo das reivindicações de honestidade. Chico, Divaldo e outros usurpam até mesmo Erasto para se autopromoverem, enquanto o discípulo de Paulo de Tarso, em mensagens divulgadas no tempo de Kardec, estava na verdade dando um violento puxão de orelha nesses oportunistas.

O "espiritismo" age através da corrupção dos conceitos de mediunidade e mascara tudo isso tentando bancar o "bonzinho". Mas a "doutrina dos bonzinhos", com seus pastiches e com a usurpação dos nomes dos mortos para fazer propagandismo religioso, apenas agrava a situação que hoje faz os líderes "espíritas", desesperados, pedir "equilíbrio de conduta".

E logo esses líderes, a apoiar fraudes, pastiches e tantas outras aberrações, desde que conduzidas com aparente serenidade e sob o pretexto da "pura bondade", é que cobram a "ética espírita" que não cumprem. Ficam assustados com as críticas, mas nada podem fazer, até porque os erros, gravíssimos, partem deles mesmos ou então são apoiados abertamente por eles.

Daí que a mediunidade no Brasil, se ela tiver que ser feita de forma honesta, terá que ser começada do zero, descartando com a mais absoluta firmeza todo o "circo" que se observa entre os astros do "espiritismo" brasileiro. Para ser honesto, deve-se romper com os desonestos, por mais badalados que eles sejam, e não compactuar com eles sob o pretexto da "relativização dos erros".

O apelo católico de Chico Xavier durante a crise do caso Amauri Pena


No auge do escândalo de Amauri Pena, o sobrinho de Francisco Cândido Xavier que ameaçava denunciar os bastidores das fraudes "espíritas" de Minas Gerais e, talvez, da Federação "Espírita" Brasileira, por volta de julho de 1958, o anti-médium escreveu uma mensagem para o público.

Embora ele afirmasse sua suposta opção pelo Espiritismo, ele usa expressões e apelos tipicamente católicos, como católica é a mensagem em seu tom emocional caraterístico. Ela foi divulgada em Pedro Leopoldo, no dia 29 de julho daquele ano. Segue seu texto:

"O Espiritismo pertence a Nosso Senhor Jesus Cristo e a Ele nosso Divino Mestre, suplicamos nos proteja e nos abençoe.

Quanto a mim, se algo posso falar ou pedir, nesta hora, rogo a todos os corações caridosos uma oração à Nossa Mãe Santíssima, em meu favor, a fim de que eu possa - se essa for a vontade da Divina Provicência - continuar cumprindo honestamente o meu dever de médium espírita, na religião que Deus me deu, sem julgar ou ferir a quem quer que seja.

Francisco Cândido Xavier
Pedro Leopoldo, 29 de Julho de 1958".

Há que relembrar o episódio de Amauri Xavier Pena, que foi erroneamente identificado como Amauri Pena Xavier, uma vez que, sendo filho da irmã de Chico Xavier, o sobrenome em questão teria vindo antes de Pena, que é o sobrenome do pai.

Ele fazia atividades supostamente mediúnicas e, de repente, sentiu-se angustiado e recorreu a um órgão de imprensa, o Diário de Minas, para revelar as fraudes da atividade "mediúnica" de Chico Xavier, causando um grande escândalo na época e um profundo mal estar.

Chico Xavier havia saído, pouco mais de uma década antes, de um sério problema judicial devido a um processo movido por herdeiros de Humberto de Campos contra a obra supostamente psicografada que levava o nome do autor maranhense. Chico contou com a sorte, uma vez que os juízes simplesmente não entenderam a questão e julgaram a ação dos herdeiros improcedente.

Temendo um outro processo judicial, provavelmente ainda mais doloroso, Chico Xavier teve que contar com o apoio de "espíritas" mineiros, da FEB e até mesmo de um delegado provavelmente truculento que prendeu Amauri, acusado de cometer roubos, provavelmente agredindo o rapaz, que era acusado até de crimes que não teria cometido, como falsificação de dinheiro e tudo.

Chico Xavier também havia participado de fraudes de materialização, assinando atestados de pretensa autenticidade, e era severamente questionado por renomados críticos literários por conta de obras supostamente atribuídas a espíritos de poetas e escritores (de Humberto aos poetas citados em Parnaso de Além-Túmulo) que apresentavam falhas estilísticas graves.

Diante de tanta pressão, o mito de Chico Xavier foi ameaçado mais uma vez e seus adeptos resolveram fazer uma campanha difamatória contra Amauri, que teria recebido maus tratos em um sanatório "espírita" e possivelmente envenenado e morrido por hepatite tóxica, aos 28 anos incompletos, idade considerada precoce para alguém que era alcoolista inveterado (que tende a morrer entre os 35 e 50 anos).

Daí que, diante dessa aguda crise, foi redigida a mensagem acima, e Chico Xavier, mesmo tendo saído apenas com "arranhões" da situação, teve que abandonar Pedro Leopoldo, depois do falecimento de Amauri, em 1961, e viver o resto de sua vida em Uberaba, onde foi enterrado após falecer, em 2002.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

A histeria servil dos seguidores de Chico Xavier


O Brasil é conservador e provinciano. Nem de longe está preparado para ser a vanguarda da humanidade na Terra, do contrário que dizem as "profecias" de Francisco Cândido Xavier atribuídas a um sonho do anti-médium em 1969.

Também, que esperar de "vanguarda" em Chico Xavier, que sempre foi uma figura conservadora, o típico caipira de direita
e um católico fervoroso dos mais tradicionalistas, embora fosse também um excêntrico conversador com espíritos mortos, como sua mãe e o padre Emmanuel?

Chico Xavier sempre defendeu ideias como a apologia ao sofrimento humano, em prol de supostas recompensas futuras - quer dizer, póstumas e desconhecidas, para não dizer fictícias - , e a oração em silêncio ao invés do protesto ativista e do pensamento contestatório. Tudo bastante conservador e até retrógrado.

No entanto, a emotividade exagerada e, admitamos, irracional de seus seguidores insiste em ver Chico Xavier como uma figura "progressista", "ativista" e "intelectual", sendo um dublê de filósofo num país que nunca teve grandes filósofos, pelo menos aqueles cujo pensamento ultrapassa o correr dos séculos, como se vê nos grandes pensadores da Filosofia europeus.

Para piorar, o direitista Chico Xavier, que defendeu o golpe de 1964 e, no programa Pinga Fogo (TV Tupi / SP) em 1971, defendia os generais e ainda disparava contra João Goulart - a título de comparação, católicos como Dom Hélder Câmara e Alceu Amoroso Lima já se manifestaram abertamente contra a ditadura - , ainda é protegido pelas esquerdas brasileiras.

Chico Xavier parece um personagem de literatura surreal, um caipira de personalidade relativamente ingênua do qual o Brasil se tornou refém. A dependência psicológica dos seguidores do anti-médium mineiro é preocupante, como se CX fosse a personificação do Rivotril, um conhecido remédio contra os nervos.

Mas talvez Chico Xavier tenha muito mais a ver com ópio, mesmo, pela forma adocicada com que glamouriza o sofrimento humano, com aquele discurso de "sofrer, amando", e com piadinhas sem graça travestidas de "boa mensagem", como uma em que atribui a caridade a uma "desidratação", em alusão ao "suor humano".

Isso é um círculo vicioso que se agrava quando um incidente envolve a "admirável" figura do "velhinho humilde", já que Chico Xavier envolve estereótipos ligados a velhice, bondade e humildade de um Brasil que raramente exerce essas qualidades de maneira espontânea.

O ataque de um grupo de vândalos contra o mausoléu de Chico Xavier, pouco importando a provável ignorância dos desordeiros - o mausoléu poderia ser de Tancredo Neves, Leonel Brizola, Hebe Camargo ou Chacrinha que a cambada teria feito a mesma coisa - , foi visto como "ato de intolerância religiosa" e impulsionou os "feicibuqueiros" a despejar mais frases do "bondoso médium".

Há quem faça isso no automático, ainda mais se o "meme" (arquivo de imagem que expressa algum recado nas mídias sociais) mostra a imagem de Chico Xavier montada diante de uma paisagem de flores ou de um céu azulado.

A histeria servil atinge muita gente e até alguns que nem se imagina que pudessem aderir ao dócil conservadorismo de Xavier. Tudo se torna viciado, Chico Xavier é a personificação da zona de conforto, o Brasil não muda porque é subserviente à ideologia do "médium", e as pessoas acreditam que para mudar têm que publicar as frases adocicadas dele e, aí, nada muda.

Há quem acredite que o Brasil não melhorou porque "não ouviu" a "voz da sabedoria" do "bondoso médium". Grande engano. O Brasil não melhorou porque o ouviu demais, trocando o ativismo pela oração em silêncio, pela aceitação servil do reacionarismo e da arbitrariedade alheia.

Chico Xavier personifica aspectos ideológicos bastante conservadores, sendo o porta-voz maior do moralismo religioso do "espiritismo" que rompeu com Allan Kardec e finge ser rigorosamente fiel a ele.

O grande problema é que o Brasil sempre foi conservador, provinciano, matuto, moralista e ainda sente saudosismo doentio por valores ainda mais conservadores. É certo que existe a tal intolerância religiosa, manifesta por Silas Malafaia e similares, na carona de uma intolerância maior simbolizada por políticos como Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro.

Daí que todo mundo quer ser moderno, progressista, ativista e revolucionário sendo o oposto, às vezes até o extremo oposto, de tudo isso. E é por isso que o Brasil não vai para a frente, porque temos sempre o maniqueísmo que envolve retrocessos diversos, para a libertinagem grotesca ou para o moralismo castrador.

O Brasil não vai mudar se continuar se mantendo refém de Chico Xavier e manifestando sua crônica dependência psicológica aos seus estereótipos e suas frases, mesmo sendo Chico Xavier uma figura supérflua que nada contribuiu para o progresso real do nosso país.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

A falta de autocrítica dos "espíritas"


O "movimento espírita" está com medo, e seus líderes reagem sem assumir autocrítica, quando muito se limitando a dizer que "erraram", como se tivessem que confessar apenas algum erro menor. E tentam usar em causa própria toda a campanha pela coerência e fidelidade à Doutrina Espírita.

Tomados de orgulho ferido, os líderes "espíritas" investem em pregações teóricas sobre honestidade espírita, fidelidade doutrinária, transparência mediúnica, tentando dar a impressão de que, através dessa teoria, tais lideranças nos façam crer que estão cumprindo rigorosamente as lições de Allan Kardec.

Só que não é bem assim que acontece. Afinal, essa turma está relacionada a todo um padrão de mistificações e deturpações, isso se não incluirmos as fraudes supostamente mediúnicas e as mensagens padronizadas de panfletarismo religioso que só expressam o estilo de cada suposto médium, fosse qualquer autoria espiritual atribuída tendenciosamente.

Enquanto somos obrigados a acreditar que todos os espíritos do além viraram igrejistas - até os ateus teriam "se arrependido" e "redescoberto" as "lições do Cristo" - e escrevem de um jeito parecido (há a desculpa da "linguagem universal do Amor"), toda a deturpação do "espiritismo" brasileiro segue sem qualquer controle.

Há os roustanguistas ferrenhos, mas quase todo o "movimento espírita", inclusive de dissidências anti-FEB, seguem de uma forma ou de outra o pensamento de Jean-Baptiste Roustaing. Se há algum teor católico na manifestação espírita, pode-se dizer que é herança de Roustaing.

Os "espíritas" que adotam um misticismo carregado e um moralismo religioso são herdeiros ideológicos do pensamento de Roustaing. Só que a maioria deles, vendo o escândalo que se causou com os pontos mais polêmicos lançados pelo advogado francês, decidiram fugir de seu nome como, na anedota popular, o diabo (não seria "irmãozinho sofredor"?) foge da cruz e dos dentes de alho.

E aí o que se observa é que muitos desses traidores da doutrina de Allan Kardec estufam o peito e bajulam sua figura, juram fidelidade e prometem seguir rigorosamente suas ideias. Chegam mesmo a evocar de teóricos espíritas autênticos a cientistas laicos para dizer que aderiram ao cientificismo de Kardec, mas usam tudo isso só para dissimular as traições de sempre.

Afinal, o que se nota é que as fraudes mediúnicas continuam. Pastiches literários, mesmo de gente "prestigiada" como Chico Xavier e Divaldo Franco, ocorrem ou se mantém sem uma investigação que os denunciasse oficialmente. Denúncias e investigações existem, mas elas "morrem" na falta de visibilidade de quem adota estes procedimentos.

Por mais que apontemos, por exemplo, que o baiano José Medrado é um falsificador de quadros e apontar irregularidades graves entre as pinturas "psicografadas" por ele e o que os autores atribuídos fizeram em vida, usando argumentações de amplo rigor científico e observador, continua valendo a visão oficial, embora falsa e tendenciosa, de que as obras são "autenticamente espirituais".

O mesmo com Chico Xavier e seus pastiches literários. Teríamos que ter a visibilidade de um Luciano Huck, pelo menos, para que pudéssemos desqualificar a obra de Francisco Cândido Xavier por definitivo, e apontar oficialmente que obras como Parnaso de Além-Túmulo e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho nada tem das autorias espirituais atribuídas.

Para se ter uma ideia, Luciano Huck, com toda a sua altíssima visibilidade na mídia, se envolveu num incidente em que a grife de camisetas da qual é sócio divulgava mensagens preconceituosas e campanhas que sugerem apologias ao machismo, ao racismo e à pedofilia. Apesar do escândalo, ele conseguiu contornar a situação e mantém seu carisma intocável e irretocável.

É como Chico Xavier que, com seus escândalos diversos, passou por cima de qualquer encrenca, mesmo diante de sua usurpação, claramente tendenciosa, do nome e do carisma de Humberto de Campos, para atribuir a este supostas obras mediúnicas que nada tiveram do estilo que o autor maranhense produziu em vida.

Pior: Chico Xavier, ao longo dos anos, acabou sendo visto como "dono" do legado de Humberto de Campos. Enquanto a obra que Humberto produziu em vida perdeu em popularidade e seu nome se limitou aos círculos literários, a única fama popular que o escritor consegue ter é através das obras de Chico Xavier atribuídas a seu nome.

"Espíritas" acabam, entre tantas outras coisas, fazendo uma atrocidade destas, publicando impunemente, sob o nome de Humberto de Campos, obras de Chico Xavier que nada tinham do estilo original do falecido intelectual. Tudo fica nisso mesmo e os chiquistas são os primeiros a se dissimularem, como lobos vestindo peles de cordeiros.

Afinal, muitos dos que proclamam "fidelidade absoluta a Allan Kardec" são oportunistas, já que seguem mais Chico Xavier e Divaldo Franco, que comprovadamente se tornaram os traidores do kardecismo, se é que eles tiveram algum interesse em apreciar a obra kardeciana.

Dessa maneira, o círculo vicioso se repete e o que vemos são os traidores pedindo fidelidade e condenando as traições dos outros. Enquanto traem Kardec o tempo todo, através de visões mistificadoras e moralistas popularizadas por Chico e Divaldo, contraditoriamente usam, em causa própria, os nomes do próprio Kardec, de Erasto, Deolindo Amorim, Herculano Pires e outros.

Dessa forma, o Espiritismo será sempre deturpado no Brasil. E os traidores sempre se disfarçarão sob as vestes da falsa humildade, pregando "coerência de conduta", se apoiando numa boa teoria que mascara a pior prática.

Assim, não há como a doutrina de Kardec conseguir ser rigorosamente seguida e praticada no Brasil. Em compensação, Jean-Baptiste Roustaing se orgulharia em ver que, embora seu nome seja odiado por uma parcela de "espíritas" místicos, a essência de suas más lições foi inteiramente mantida.

terça-feira, 23 de junho de 2015

A falsa humildade que o "movimento espírita" não vê em si mesmo


Pai do jornalista Paulo Henrique Amorim, o também jornalista Deolindo Amorim, estudioso autêntico da doutrina de Allan Kardec, foi também um dos militantes contra a deturpação da Doutrina Espírita, feita no Brasil, compartilhando com figuras como Carlos Imbassahy (pai) e José Herculano Pires toda a campanha contra a subordinação da FEB ao roustanguismo.

Infelizmente, depois do auge da polêmica roustanguista, o "movimento espírita" sucumbiu a uma forma "moderada" em que alterna a herança ideológica de Jean-Baptiste Roustaing, sem fazer qualquer referência a ele, com a apreciação parcial das ideias de Allan Kardec.

Isso resultou no "espiritismo" que hoje temos. Um engodo que mistura o religiosismo entusiasmado e o moralismo enérgico com a parcial adesão ao cientificismo de Kardec, a fórmula "meio ciência, meio religião" que tem mais de religiosa que científica, e que é temperada pela pompa com que se cultuam ídolos como Chico Xavier e Divaldo Franco.

Esse verniz de humildade, coerência e bom senso, que os líderes "espíritas" se gabam em possuir, desconhece que os recados de Erasto, Kardec, Herculano Pires e o de Deolindo, que reproduziremos a seguir, são para essas lideranças, que se orgulham em usar as mensagens contra as deturpações do Espiritismo como se não fossem para eles.

E, no entanto, esses recados são. As lideranças "espíritas", ligadas a ídolos como Chico e Divaldo, tentam se livrar da culpa das deturpações do Espiritismo, enquanto elas mesmas é que apoiam as fraudes e mistificações das quais os dois anti-médiuns foram em boa parte responsáveis, e lançam para outrem recados que na verdade lhes soam como grandes puxões de orelhas.

Vamos ler então o texto que foi parcialmente reproduzido de um artigo de Deolindo Amorim, que se publica na Internet sob o título de "A falsa noção de humildade". Tiramos as introduções que internautas colocaram na Internet e reproduzimos apenas o trecho correspondente ao texto de Deolindo.

Curiosamente, Deolindo combatia as deturpações da cúpula da FEB, e hoje seu filho Paulo Henrique Amorim combate os desmandos das Organizações Globo. Atualmente, Globo e FEB andam de mãos dadas na produção de filmes "espíritas". Vejamos o texto de Deolindo:

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A FALSA NOÇÃO DE HUMILDADE

Deolindo Amorim - 1964

"(...) Muita gente pensa que ser humilde é não ter personalidade. O próprio Cristo, que foi o Cristo, o bom, o justo por excelência, não abriu mão de Suas ideias, não recuou diante das dificuldades... Se Ele não tivesse personalidade, naturalmente ficaria acomodado à situação e não teria suportado o que suportou em defesa do ideal que O iluminava. No entender de muitas pessoas, o que, aliás, está muito errado, ser humilde é dizer amém a tudo, é ficar bem com todos, ainda que tenha de sacrificar as mais fortes razões da consciência. Não foi isto o que o Cristo ensinou. Nem foi isto o que Ele praticou.


Veja-se bem que o Evangelho reprova o procedimento dos que, calculadamente, ocultam os seus pensamentos, isto é, não dizem o que pensam nem o que sentem, porque preferem agir na sombra! Tanto é certo que o Cristo valorizava a personalidade, que ele mesmo disse, e de modo direto, que a criatura deve ser quente ou fria; ninguém deve ser morno. Que significa isto? Significa ter personalidade, no mais alto sentido humano e espiritual. Ficar morno é ficar indeciso, de caso pensado, é não se definir de propósito, para tirar algum partido próximo ou remoto. Isto, porém, não é procedimento compatível com a ética cristã. Não tenho receio das pessoas que tomam atitudes francas, para um lado ou para outro; mas tenho muito cuidado com os que ficam mornos, pois foi para estes que o Cristo chamou a atenção de Seus seguidores.

Se o Cristo disse que o nosso falar deve ser sim-sim-não-não, é claro que, com isto, reconheceu que o homem deve ter personalidade. Vejo e ouço, constantemente, citar-se o Evangelho, mas também noto que muita gente ainda não compreendeu o sentido de certas máximas fundamentais do Evangelho. Vou dar um exemplo disto: quando alguém toma atitude, porque tem personalidade, e não está conformado com isto ou aquilo, logo se diz que é um antifraternista, que é um demolidor, etc. Pouco falta para se chamar o companheiro de um herético ou pecador público, simplesmente porque é sincero, é idealista, e diz o que pensa.

É preciso que se compreenda a situação de cada um de nós, em face da responsabilidade própria. Tomar uma atitude contra qualquer coisa venha de onde vier, não quer dizer que se pretenda destruir seja o que for. É agir sinceramente, de acordo com a consciência. Já é tempo de se acabar com a suposição ou com o sofisma de que, para praticar a humildade, é necessário curvar-se a tudo ou abdicar do direito de pensar e falar abertamente. Há, entre nós, uma noção muito falsa de humildade, para encobrir muita coisa ruim".

segunda-feira, 22 de junho de 2015

A inconsistente questão de dizer que Chico Xavier foi reencarnação de Allan Kardec

O LIVRO DE WILSON GARCIA SÓ PECA PELO TÍTULO SER GRAFADO SEM O PONTO DE INTERROGAÇÃO.

Há o mito, defendido com surpreendente entusiasmo, de que o anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier teria sido reencarnação de Allan Kardec. Não bastasse o vínculo forçado que o mineiro teve com o pedagogo francês, vínculo que nunca se viu realmente na prática, a absurda tese revela o quanto Chico Xavier tornou-se uma obsessão de uma boa parcela de brasileiros.

Wilson Garcia é um dos nomes que tentam explicar a inconsistência dessa hipótese, e o livro Chico, Você é Kardec? tenta esclarecer sobre o caráter exageradamente emocional que leva muitas pessoas a associar Chico à ideia de que ele foi reencarnação do educador francês. Até pela histeria de colocar Chico acima do Brasil e dos brasileiros, no mais alto pedestal possível.

Segundo Garcia, faltam provas consistentes e racionais que apontem que Chico Xavier e Allan Kardec foram o mesmo espírito. Mesmo deixando seu questionamento em aberto, permitindo que os defensores analisem melhor e tentem buscar provas a respeito, podemos aqui inferir que a questão está completamente fechada, no sentido de que Chico Xavier nunca teria sido Kardec.

Consta-se até de uma narrativa de um defensor de Chico Xavier que teve o atrevimento de dizer que o anti-médium, ao viajar para Paris, "se sentiu em casa", como uma alegação de que o mineiro teria sido o professor lionês em outra vida e "havia regressado ao seu lugar de origem".

É nossa arrogância pensarmos assim, que Chico nunca foi Kardec? Não. É sinal de uma observação cautelosa, porém não muito difícil. Mesmo se considerarmos Chico Xavier como uma "criatura superior", ele nunca teria sido Kardec porque seus comportamentos e seus modos de ser eram profundamente diferentes.

A tese de que Chico foi Kardec é tão absurda quanto dizer que Rafinha Bastos é reencarnação de Oscarito, só pelo fato de lidarem com humorismo. É só compararmos as aparências e o que poderia ser provavelmente o comportamento de Kardec com o modo de ser, falar e gesticular de Xavier que perceberemos que, mesmo na melhor das hipóteses, dizer que ambos eram um só é impossível.

Kardec teria sido um senhor bonachão, de jeito firme, enérgico sem ser agressivo, seguro e racional. Teria sido mais descontraído e alegre do que sugerem as imagens, já que para posar em retratos, em princípio pintados e, mais tarde, fotografados, havia o padrão da postura sisuda ou tristonha, naqueles tempos em que a imagem fotográfica era um fenômeno recente.

Chico Xavier tinha um jeito interiorano, com o ar molenga tipicamente caipira. Não era uma pessoa de firmeza de caráter, em muitos casos era hesitante, em outros se irritava às costas dos outros, e nunca passou uma segurança de caráter e nem mesmo qualquer racionalidade, apesar de todo marketing que diz mil maravilhas em torno dele.

Mesmo se considerarmos a "reputação superior" de Chico Xavier, só o seu jeito caipira, sua devoção religiosa e seu modo frágil de falar não condizem com os gestos, o modo de falar e de agir e expor ideias que Allan Kardec teria provavelmente tido em vida. Só a índole por demais emotiva de Xavier contraria, e muito, a índole racional e objetiva de Kardec.

Todo tipo de análise dotada de alguma lógica, fosse considerar Chico Xavier como figura benéfica ou nociva para a Doutrina Espírita, nunca iria comprovar que ele teria sido Kardec reencarnado. Se ao considerarmos a validade "espírita" de Xavier, essa hipótese é impossível, imagine então se considerarmos os aspectos sombrios da trajetória do anti-médium.

Afinal, a obra de Chico Xavier, com os desvios doutrinários conhecidos, e as fraudes identificáveis sem dificuldade, bastando apenas uma compreensão maior sobre Literatura Brasileira, contraria frontalmente a obra kardeciana, até pelas imprecisões e hesitações diversas, e pelo conteúdo chiquista ser dotado de muita mistificação e muito religiosismo.

O exagero quantitativo da obra chiquista também contraria o legado de Kardec, já que a obra de Xavier indica uma hipotética e irregular produtividade, já que é muito pouco provável que Chico, com seus compromissos de verdadeiro "popstar", tenha realmente feito todos os mais de 400 livros atribuídos à sua tarefa "mediúnica".

Kardec teve uma produtividade intensa, até quando estava gravemente enfermo, mas não pensava na produção quantitativa, não se atreveria a lançar 15 livros num só ano. A sua produtividade, ainda que tivesse sido incessante, tinha como objetivo a qualidade de suas análises e ao esforço do pedagogo de explicar detalhadamente um tema delicado que era o Espiritismo, naqueles meados do século XIX.

A produtividade de Kardec não tinha como fim a "caridade pela escrita", mas tão somente o esclarecimento de um assunto novo, do qual ele mesmo ainda era um aprendiz, buscando resolver dúvidas através da razão, sem respostas prontas e procurando supor o que poderia acontecer com as ideias da Ciência Espírita no futuro.

Kardec olhava longe, e lançou suas ideias antes das grandes descobertas tecnológicas, já que ele faleceu antes do advento do fonógrafo, do rádio e da televisão. Ele lançou o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos para orientação, na posteridade, de adaptar as ideias de Kardec conforme as mudanças do tempo.

Infelizmente, o que se viu foi um desnorteamento, uma deturpação das ideias de Kardec, sob a desculpa de "adaptação às mudanças". No Brasil, o cientificismo kardeciano deu lugar a um religiosismo chiquista, e há quem acredite, levianamente, que se pode recuperar as bases de Kardec mantendo Chico Xavier e Divaldo Franco no pedestal.

Impossível. Chico, e, por conseguinte, Divaldo, beberam nas fontes roustanguistas introduzidas pela Federação "Espírita" Brasileira e fizeram seus trabalhos a partir disso. Não seriam eles as pessoas certas para se recorrer quando se quer recuperar as bases de Kardec (cita-se Chico, no sentido póstumo e simbólico), tamanho o seu religiosismo que contraria a racionalidade do francês.

Podemos concluir, portanto, que Chico Xavier, em nenhuma hipótese, poderia ter sido Allan Kardec. Suas personalidades eram bastante diferentes entre si, fosse a imagem e a reputação do anti-médium mineiro. Suas ideias, suas obras, seus comportamentos, suas índoles, tudo era radicalmente diferente. Portanto, é seguramente impossível que eles tenham sido a mesma pessoa.

domingo, 21 de junho de 2015

Túmulo de Chico Xavier é alvo de vandalismo

MAUSOLÉU DE CHICO XAVIER, EM UBERABA, NO TRIÂNGULO MINEIRO.

Um ato de vandalismo teria sido feito na madrugada da última quinta-feira no mausoléu dedicado ao anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier. Um vidro ficou danificado com pancadas, o trinco foi mexido e uma placa de um túmulo vizinho foi jogada no lugar.

Segundo Eurípedes Higino, filho adotivo de Chico Xavier e responsável pelo mausoléu, ele havia chegado pela manhã e encontrou os danos cometidos. Ele acredita que os vândalos usaram peças de mármore de um túmulo vizinho para cometer os estragos.

"Nessa altura, tanto pode ser atitude de drogados, como de intolerância religiosa. Eu pensava que o Chico era respeitado desde as periferias e por pessoas de todas as religiões", afirmou Eurípedes, sobre o ocorrido. Ele já entrou em contato com um serralheiro para fazer a grade de segurança. O mausoléu já teve objetos roubados em outras ocasiões.

A onda de intolerância religiosa é a causa atribuída por muitas fontes. No entanto, os questionamentos que fazemos em torno de Chico Xavier não podem ser considerados expressão dessa intolerância. Pelo contrário, condenamos o ato de vandalismo e reconhecemos a gravidade da estupidez que seus praticantes cometem.

Quando enumeramos os erros diversos de Chico Xavier e afirmamos que ele não tem serventia para a doutrina de Allan Kardec, não estamos pregando ignorância religiosa nem incitando qualquer manifestação de ódio.

O que fazemos, com isso, é um questionamento no âmbito de ideias, no âmbito do conhecimento. Em nenhum momento aprovamos o ato de vandalismo e sempre respeitaremos a manutenção do mausoléu.

O que preferimos é que Chico Xavier seja reconhecido como um católico que abraçou a espiritualidade através do pensamento de Jean-Baptiste Roustaing. Xavier nada tem a ver com o pensamento científico de Kardec e o que pregamos é que se separem o chiquismo do kardecismo, como o joio do trigo.

Isso não quer dizer que aprovemos o vandalismo e a violência. Reprovamos totalmente. Queremos, sim, o "combate" pelo conhecimento, pelas ideias, dentro do respeito da integridade física e do convívio social, dentro da ordem e do equilíbrio humano.

Aliás, o vandalismo acaba fortalecendo o mito de Chico Xavier que tão trabalhosamente questionamos, sem ter apoio de mídia nem de outras instituições e pessoas influentes. Com os ataques ao mausoléu, Chico saiu novamente fortalecido, continuando a ser exaltado por qualidades que ele nunca teve.

Continuaremos questionando Chico Xavier como sempre fazemos, apontando suas fraudes, suas mistificações e outros aspectos duvidosos de sua trajetória. Continuaremos pedindo seu desvínculo da doutrina de Allan Kardec.

No entanto, reprovamos a intolerância, a violência e o vandalismo de onde quer que seja, porque são manifestações estúpidas, cegas, irracionais, que também contrariam a nossa racionalidade, e em nada contribuem para a transmissão de conhecimentos e para o debate em torno do Espiritismo no Brasil. Vandalismo é só desordem.

sábado, 20 de junho de 2015

Críticas aos erros "espíritas" e a intolerância religiosa


Na manhã de ontem, foi encontrado morto o "médium" Gilberto Arruda, de 73 anos, principal figura do "centro espírita" Lar de Frei Luiz, localizado na Taquara, Zona Oeste do Rio de Janeiro, Ele foi encontrado amarrado na cama e apresentando sinais de espancamento e um corte num dos braços.

Arruda era considerado um dos mais destacados membros da instituição e suas atividades eram relacionadas a aparentes práticas de curas mediúnicas, atribuídas a doenças consideradas graves e incuráveis. Supõe-se que ele recebia o espírito do médico alemão Frederich Von Stein. O caso está sob investigação criminal.

A ação teria ocorrido numa época em que, no Rio de Janeiro, há manifestos de intolerância religiosa, que na última semana foram expressos com o apedrejamento de um templo religioso no Humaitá, na Zona Sul, e na agressão a uma menina na saída de um culto de candomblé, no bairro Vila da Penha.

O fanatismo religioso tornou-se um preocupante fenômeno mundial e motivação para conflitos sangrentos em várias partes do mundo. Recentemente, jihadistas haviam feito um atentado que matou vários jornalistas franceses que estavam na redação do periódico Charlie Hebdo, famoso por suas críticas religiosas.

A intolerância religiosa é motivada pela intenção expansionista de grupos religiosos, geralmente comprometidos em retroceder a humanidade para padrões sócio-culturais correspondentes aos tempos considerados "áureos" de suas respectivas escrituras.

Essa hipótese é comprovada quando cidades consideradas patrimônios culturais situadas no Egito, Síria e outros países do Oriente Médio, definidas por historiadores como berço da civilização, sofrem os ataques do grupo jihadista Estado Islâmico.

Na mesma semana, numa igreja da Carolina do Sul, nos EUA, um jovem de 21 anos entrou em uma missa e, depois de assisti-la até o fim, abriu fogo contra os fiéis, matando nove pessoas. Alegando profundo ódio contra os negros que "estupravam moças brancas", o jovem, depois de capturado, assumiu a autoria da chacina. Ele teria usado um revólver que recebeu do pai como presente de aniversário.

O SUPOSTO MÉDIUM GILBERTO ARRUDA.

Condenamos todo tipo de intolerância religiosa, e sabemos o quanto ela é nociva, como toda intolerância social. Vivemos numa época de disputas de espaços e, em diversos aspectos, se nota a obsessão de uns pelos espaços dos outros, o que gera uma grande crise social, o que envolve questões de diversidade, de competência, de mérito e também da ganância.

No caso do "espiritismo" brasileiro, a morte de Gilberto Arruda é a segunda ocorrida nos últimos dois anos. Em um "centro espírita" do Barreto, em Niterói, um outro líder de um "centro espírita" foi morto supostamente por assalto, embora o caso, ainda sob investigação criminal, trabalhe com várias hipóteses, incluindo execução.

TOLERAMOS O "ESPIRITISMO", SÓ NÃO TOLERAMOS A MENTIRA

O "espiritismo" vive uma crise sem precedentes no país, embora não tenha sido a primeira. Sabe-se que, desde os primórdios da Federação "Espírita" Brasileira, conflitos pesados acontecem, principalmente diante das divergências entre o grupo majoritário, de tendência mística-religiosa, e o grupo dos que se voltam às bases científicas de Allan Kardec.

A grande mídia desconhece essas questões. Ela segue a orientação oficial dos últimos 40 anos, em que o "movimento espírita", depois da crise da gestão Francisco Thiesen (que levava a opção de Jean-Baptiste Roustaing às últimas consequências), adotou uma postura "mista" que mesclasse o religiosismo febiano com a parcial apreciação ao cientificismo kardeciano.

Atualmente, é a mais grave crise envolvendo o "movimeno espírita", Além dos questionamentos mais recentes a respeito de suas práticas e atividades, acumula-se, na Internet, o registro de antigas crises, como os conflitos entre Afonso Angeli Torteroli, defensor das bases kardecianas, e o roustanguista Adolfo Bezerra de Menezes, há cem anos, e os escândalos envolvendo Chico Xavier.

As críticas a esses erros não podem ser consideradas intolerância religiosa. Aceitamos a existência do "movimento espírita", desde que assumisse as bases roustanguistas que sempre trabalhou. Nossa intolerância é contra a mentira, a mistificação, a contradição entre o dizer e o fazer que tanto faz parte da rotina dos "espíritas".

Se líderes "espíritas" são mortos, isso não se deve à campanha que se faz contra o "movimento espírita", mas muito provavelmente aos conflitos pessoais de gente que já percorria o local de cada "centro espírita". São motivações que parecem ser de ordem pessoal ou então criminal, como num latrocínio por exemplo, coisas cuja conclusão se deixa para os criminalistas constatarem.

Nós fazemos o combate de ideias e procedimentos. Se o "espiritismo" tenta, na teoria, exaltar Allan Kardec, mas, na prática, se aproximar a Roustaing, isso deve ser criticado severamente. Se a plataforma ideológica de Chico Xavier é fazer apologia do sofrimento em prol da recompensa póstuma das "bênçãos futuras", isso deve ser criticado, porque não é esse nosso propósito na Terra.

E A SUPREMACIA "ESPÍRITA"?

O outro lado da questão corresponde à supremacia do "espiritismo" brasileiro diante das supostas profecias de Chico Xavier. O sonho de 1969 fala da destruição do Hemisfério Norte e da ascensão do "movimento espírita" brasileiro, com aspectos que coincidem, e muito, com o contexto do fim da Antiguidade Clássica e do surgimento do Catolicismo medieval.

É como se o "espiritismo" brasileiro se configurasse numa atualização do Catolicismo romano da Idade Média, já que a Igreja Católica propriamente dita passou por reformas de pensamento que, mesmo mantendo suas crenças, dogmas e ritos em toda sua essência, permite posturas relativamente mais modernas.

O "espiritismo" brasileiro, em compensação, virou uma expressão repaginada do Catolicismo medieval, eliminando os aspectos mais coercitivos e admitindo parcialmente algumas práticas hereges, ligadas ao curandeirismo e, em tese, à mediunidade.

A gente fica questionando se a "profecia" de Chico Xavier não seria também uma forma de intolerância religiosa, embora, teoricamente, o "espiritismo" se diga "receptivo" ao convívio e a integração da mais ampla diversidade de credos e movimentos religiosos.

Só que lembremos do que pensava Roustaing, fonte ideológica das obras de Chico Xavier, sobre a diversidade religiosa. O autor de Os Quatro Evangelhos alegava que, com o tempo, as diversas religiões seriam unidas pela integração que culminaria numa nova Igreja, uma Igreja Católica que absorvesse todas as demais religiões.

O próprio projeto do "movimento espírita" corresponde a uma adaptação do Catolicismo medieval para a temática da espiritualidade e do misticismo trazido pelos movimentos hereges, como se fosse um produto de um acordo entre católicos medievais e hereges, com quase nenhum vínculo real com o pensamento científico de Allan Kardec, apesar da pretensa associação a seu nome.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

A farsa mística das "Crianças das Estrelas"


Depois do "fenômeno" editorial das "crianças-índigo", uma farsa sem qualquer relação com a Doutrina Espírita que foi abraçada pelo anti-médium baiano Divaldo Franco, outro caso similar tende a mistificar os espíritos diferenciados que existem na humanidade da Terra.

Desta vez, no lugar das "crianças-índigo" e das "crianças-cristais", aparecem as "crianças das estrelas", o que pode também agradar o "professor Divaldo" por causa do verniz científico que cerca a tese e o background profissional da autora, Nikki Pattillo.

A autora norte-americana é formada em Biologia Molecular na Universidade do Texas e é engajada em projetos ambientais. No entanto, ela tanta misturar sua formação científica com misticismo energético, realizando experiências com golfinhos.

Tendo feito sucesso com os livros A Spiritual Evolution e Children of the Stars, Nikki teria entrado em contato com anjos que descreveram um tipo de pessoas "especiais", que supostamente teriam habilidades psíquicas, espirituais e sensoriais. São as "crianças das estrelas", descritas de uma forma similar à das "crianças-índigo".

Juntando as mensagens dos dois livros, que Nikki alega ter recebido "dos anjos", que descreveram, da mesma maneira do outro caso, que a Terra estaria passando por "melhorias" nas "frequências vibratórias".

Primeiro, em A Spiritual Evolution a autora busca afirmar a chegada de um período "melhor" para a humanidade, como percebemos nas pregações "espíritas" que afirmam que a era de "regeneração" já chegou, e que 2010 ou 2012 seriam o começo dessa era.

Na prática, porém, sabemos que entramos no mundo de provas e expiação, já que só agora podemos superar alguns aspectos de selvageria que triunfavam na humanidade, e que se tornaram judicialmente condenáveis, como os genocídios políticos pelos tribunais internacionais e, no caso do Brasil, o feminicídio que havia ceifado as vidas de muitas brasileiras e hoje é considerado crime hediondo, décadas depois de ser socialmente tolerado como "defesa da honra masculina".

Mas isso é muito pouco diante de ameaças de retrocessos ou do fato de que mesmo capitais como o Rio de Janeiro sofre o fenômeno da "religiosização" das coisas, em que qualquer arbitrariedade é encarada como se fosse uma decisão divina, com direito ao exército de fundamentalistas nas mídias sociais.

É a cidade do deputado Eduardo Cunha, o da terceirização do trabalho, da "cristofobia", do anti-laicismo. É capital de um Estado cuja sociedade aceita, com submissão medieval, ônibus com pintura padronizada, "rádios rock" ruins, a "folclorização" do "funk carioca" e o fanatismo do futebol como se fossem "fenômenos divinos".

Se uma capital como o Rio de Janeiro torna-se o palco de tamanhos retrocessos, só porque uma meia-dúzia de tecnocratas do transporte, executivos de rádio e antropólogos, dirigentes esportivos e produtores culturais amigos de funqueiros, só pelo status que alcançaram, são vistos como "semi-deuses". Eles podem decidir até o pior, que são aceitos como se seguissem "princípios superiores".

Daí que se observa a banalização da mediocridade, em que o que era antes aberrante é tido como "normal" e "aceitável". Se no Brasil houve o avanço de considerar o feminicídio como crime hediondo, há o retrocesso da cultura popular, patrocinado pelos grandes senhores da mídia e no entanto visto como a "modernização" do folclore brasileiro.

E aí, quando há pessoas consideradas diferenciadas, que em muitos casos apenas aperfeiçoaram um padrão de inteligência e moral que já existia em outros tempos e que seria normal acontecesse hoje, se não houvesse a nivelação por baixo das coisas, os místicos se aproveitam e dão um rótulo a tais pessoas.

Daí as crianças "cristal", "índigo", "das estrelas", daí os supostos profetas angelicais e extra-terrestres, daí as promessas de um mundo melhor que só ficam na esperança vã. Daí junta-se tudo isso com os delírios oníricos de Chico Xavier, ou os delírios esotéricos de Divaldo Franco, e cria-se um engodo que não passa de uma discriminação de quem não faz parte da mediocridade reinante de hoje.

Isso porque os rótulos maravilhosos que supõem pessoas "especiais" não passa de um "bom preconceito", que é feito para autores desocupados venderem muitos livros e espalharem feito epidemia seus conceitos místicos, que não condizem com a realidade.

E isso acaba criando um problema, porque os rótulos "cristal", "índigo" e similares servem para "separar", do resto da sociedade (e sua "normalidade" medíocre), aqueles que possuem uma personalidade mais diferenciada e evoluída. A "boa segregação" que serve ao sensacionalismo místico e religioso, mas que cria problemas sérios para os diferenciados.

Afinal, essa classificação os define como os "bons" antissociais, e, dependendo de interpretações mais rasteiras, como no caso das "crianças-índigo" através de correntes que consideram seu nível moral impreciso, o rótulo tanto pode servir para nerds quanto para lutadores de UFC, para alunos exemplares de grande saber e nazi-punks que espancam gays, negros e nordestinos.

A rotulação, portanto, é tendenciosa e mostra o quanto ter inteligência é visto como antissocial. Compreender melhor as coisas - sobretudo quando, em muitos aspectos, o nível de compreensão se equipara ao que era considerado convencional há 50 anos - torna-se uma "boa" aberração, cuja discriminação "positiva" isola severamente as pessoas que não participam da festa da mediocridade.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Joaquim Nabuco desfaz mito de "herói abolicionista" de Dom Pedro II


Um pouco de memória e pesquisa sobre História do Brasil não faz mal algum. Nada que um esforço de consultar os livros não consiga resolver as dúvidas sobre o nosso passado. A pesquisa faria com que muitos dos mitos e visões equivocadas sobre nosso passado histórico se evaporassem.

Pois o notável intelectual Joaquim Nabuco, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, havia escrito um livro que derruba completamente o mito "espírita" de Dom Pedro II de "corajoso líder abolicionista", ao lado da Princesa Isabel e do deputado e médico Adolfo Bezerra de Menezes.

Em primeiro lugar, porque a abolição do trabalho escravo já era uma causa defendida ainda sob o reinado de Dom Pedro I e o estadista José Bonifácio de Andrada e Silva defendeu a causa, embora nada pudesse fazer para combatê-la, diante da grande pressão dos senhores de engenho e outras elites influentes.

Hoje pode ser deplorável, mas naquela época, o decorrer de todo o século XIX, a quase totalidade das elites instruídas e influentes do país defendia a escravidão. Negros, da mesma forma que índios, não eram considerados cidadãos, e a escravidão era considerada uma atividade econômica que impulsionava o desenvolvimento nacional.

Uma visão absurda, pois, mas durante muito tempo era dominante e defendida energicamente com os mais diversos argumentos. Havia até mesmo a conversa de que, se ocorresse a Abolição, os negros causariam uma rebelião incendiando casas e assassinando brancos, uma histeria paranoica de muito mau gosto, que exagerava exemplos como a Revolta dos Malês, em Salvador.

Dom Pedro II era simpático à abolição do trabalho escravo, mas o culto monarca, além de tímido e reservado, era hesitante diante das pressões políticas. E Joaquim Nabuco, lançando em 1886 o livro O Erro do Imperador, descreveu a condescendência do monarca ao dissolver um gabinete ministerial Liberal e ter atraído para si um gabinete ligado ao Partido Conservador.

Não é preciso detalhar que o livro foi publicado dois anos depois do surgimento da Federação "Espírita" Brasileira, no mesmo sobrado da Av. Passos, no Rio de Janeiro, onde se situa a atual unidade fluminense. A FEB surgiu em 1884 exaltando a "figura libertadora" de Dom Pedro II, principalmente em prol da libertação dos escravos, e da construção de um Brasil mais "solidário e cristão".

Havia a polarização de dois partidos principais, o Liberal e o Conservador, mais ou menos como vemos hoje entre o PT e o PSDB. O Partido Liberal, do qual era ligado Joaquim Nabuco, era relativamente progressista. O Partido Conservador faz juz ao nome e era ligado à defesa convicta da exploração do trabalho escravo.

Pois houve diversas manifestações populares pela Abolição, pois até agora apenas algumas leis atenuaram a situação dos escravos, como a Lei do Ventre-Livre e a Lei do Sexagenário, que respectivamente tornaram crianças e idosos negros livres da condição de escravos.

Nessa época, alguns negros emancipados, como os irmãos Rebouças e José do Patrocínio, defendiam na imprensa a causa abolicionista. O Partido Liberal não era unânime nesta causa, mas tornara-se o reduto político principal de seus ativistas e dos simpatizantes.

O Segundo Império vivia sob o sistema de governo parlamentarista. Havia o presidente do Conselho de Ministros que montava sua equipe de governo. Em 1885, o gabinete do liberal Manuel Pinto de Sousa Dantas foi dissolvido pelo Imperador e, com nova eleição, saiu vitorioso o gabinete liberal, mas de inclinação próxima ao Partido Conservador, de José Antônio Saraiva.

Nabuco então descreveu o episódio como um grande retrocesso, e nota-se que se tratava de uma época ligeiramente anterior à Lei Áurea. O intelectual acusava Dom Pedro II de atrair para si o apoio do Partido Conservador, que já atraiu para si setores do Partido Liberal para apoiar a ainda dominante causa escravagista.

Saraiva preparou o caminho para ser sucedido, poucos meses depois, por João Maurício Wanderley, o Barão de Cotegipe, do Partido Conservador. A causa abolicionista, segundo Nabuco, havia sido praticamente perdida, com o retrocesso político que favoreceu os escravocratas. Para Joaquim Nabuco, Dom Pedro II é culpado por permitir que esse retrocesso fosse feito.

No final do livro O Erro do Imperador, já depois do texto de Nabuco e na seção de breves notícias, é narrado, entre tantos casos, o de um escravo fugitivo de São Paulo, chamado Honório, que, se deslocando para a então capital do país, o Rio de Janeiro, foi trabalhar como condutor de um bonde. Capturado em Sepetiba, chegou a ser agredido e torturado na prisão.

A situação mostra o quanto a historiografia do Brasil narrada pelos "espíritas" é constrangedora e risível de tão cheia de fantasias. É muito melhor que pudéssemos todos ler os documentos históricos e apostar numa visão bem mais realista da coisa.

Lamentavelmente, é um ponto a menos para a doutrina do "espíritismo" brasileiro, que se gaba em apreciar a Ciência e promover o esclarecimento, e no entanto preferir divulgar visões e mitos absurdos. Daí as críticas que se recebem, que pouco tem a ver com a "ira de irmãozinhos sofredores" e muito mais a ver com as cobranças de coerência verdadeira que a doutrina não tem.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Organizações Globo e sua mudança de atitude em relação a Chico Xavier


Muitos tentam perguntar a si mesmos e a outras pessoas de seu interesse sobre o que pode ter feito as Organizações Globo a mudar sua atitude em relação ao anti-médium Francisco Cândido Xavier, que antes era de uma oposição bastante violenta.

Quem acompanha a trajetória do "movimento espírita" e não se deixa levar pela memória curta - a pior e "tradicional" doença de boa parte dos brasileiros - sabe que as Organizações Globo, que outrora se limitaram ao jornal O Globo e à Rádio Globo, começaram a ver Chico Xavier com estranheza.

Uma edição de O Globo, datada de 1935, chega mesmo a exibir uma foto assustadora (sim, isso mesmo), de Chico Xavier com um semblante bastante pesado e negativo de olhos arregalados, foto já reproduzida na Internet. Consta-se que ele estava num aparente transe mediúnico.

O Globo manifestava seu ceticismo na época, mas nada que significasse ainda a oposição que se tornou conhecida em 1958, quando a reportagem da sucursal de Belo Horizonte do periódico carioca investigava o até hoje misterioso caso Amauri Pena, o sobrinho de Chico Xavier que quase fez revelações sobre os bastidores do "espiritismo" brasileiro.

Uma reportagem chegou a declarar que Chico Xavier havia sido desmascarado. Mas o "movimento espírita" reagiu com a fúria rancorosa que poucos imaginam haver entre seus membros e Amauri foi levado a um "centro espírita" distante e "misteriosamente" morreu cedo demais para um jovem que só bebia, com 28 anos incompletos, podendo ter sido envenenado por "queima de arquivo".

O tempo passou e, aparentemente, O Globo não trouxe grandes manifestos de oposição a Chico Xavier, até que, de alguns tempos para cá, a postura em relação ao anti-médium mineiro passou a ser mais simpática.


Essa atitude simpatizante aconteceu quando Roberto Marinho ainda estava vivo, já pelos anos 1980. Em 2002, com a empresa já nas mãos dos seus filhos José Roberto, Roberto Irineu e João Roberto, já que o pai estava doente e no ano seguinte acabava morrendo, a morte de Chico Xavier recebeu uma cobertura das mais positivas, dentro da exaltação costumeira de seu mito.

Cerca de cinco anos depois do falecimento do "dr. Roberto", a Rede Globo passou a fazer parcerias com a Federação "Espírita" Brasileira que produziu vários filmes sobre Chico Xavier ou baseados em obras por ele publicadas.

Só os filmes como Chico Xavier - O Filme, As Mães de Chico Xavier, O Filme dos Espíritos, Nosso Lar e ...E a Vida Continua, a linguagem novelesca chega a ser explícita, tendo sido o primeiro dirigido por Daniel Filho, diretor de atrações da Rede Globo e de vários longas da Globo Filmes, e contado com um elenco com forte presença nas novelas da emissora.

CATÓLICOS ORTODOXOS

A razão provável para a mudança de atitude das Organizações Globo é que o jornal O Globo tinha a influência de colunistas católicos ortodoxos, como Gustavo Corção e Alceu Amoroso Lima (conhecido também pelo pseudônimo Tristão de Athayde).

Antes de mais nada, convém esclarecer uma coisa. A Igreja Católica se mantinha essencialmente ortodoxa, mas havia superado a fase medieval e mantido seu sistema de crenças sem adotar uma postura radical ou obscurantista. Poderia ter se mantido conservador, mas longe da postura ameaçadora de antes.

Já o "movimento espírita" soa como um Catolicismo heterodoxo, sem batina nem certos dogmas e ritos mais escancarados, mas em contrapartida aproveitou a essência do ultraconservadorismo medieval do Catolicismo que entrava no século XX "ficando na sua" no Vaticano.

Em outras palavras, é como se o Catolicismo tivesse apenas feito uma faxina em sua casa, mantido quase tudo como está mas tirando apenas a antiga mobília, que não mais lhe servia, tendo doado tais objetos para o "movimento espírita", que, sabemos, nem de longe simboliza a vanguarda que se autoproclama em relação aos movimentos espiritualistas.

Daí uma coisa estranha, dessas que só acontecem no Brasil. O conservador Catolicismo parecia mais brandamente católico, mesmo fechados nos seus valores tradicionais, do que o "moderno espiritismo" que, sem batina e acreditando na vida espiritual (sem conhecê-la, no sentido científico do termo), adota valores mais conservadores.

É como se o "espiritismo" sentisse uma nostalgia pelo Catolicismo medieval através da forte influência jesuíta que até hoje toma conta dos "centros espíritas", enquanto a Igreja Católica propriamente dita não sente saudades dessa época, apenas adaptando seu sistema de valores para os tempos de hoje.

Quanto às relações com as Organizações Globo, é curioso que a empresa, tradicionalmente católica, agora faça frente à Rede Record, da Igreja Universal do Reino de Deus, usando não as batinas dos católicos (e olha que ela tem em mãos um Padre Marcelo Rossi com forte apelo midiático), mas o misticismo pseudo-científico e "filantrópico" dos "espíritas".

Talvez esse apelo se dê porque o "espiritismo" não é visado por muitas pessoas como um "movimento religioso". Seu simulacro de humanismo, de filantropia e de ciência dá a impressão de uma doutrina "limpa" e "modesta", sem as ostensivas batinas católicas e seus rituais extremamente pomposos.

Com o "espiritismo", as Organizações Globo procuram competir com a máquina eletrônica de Edir Macedo sem que o rival perceba que a concorrente lida com outra religião. E Chico Xavier e Divaldo Franco tornam-se os "ases" desse jogo de cartas midiático em torno da fé religiosa, movido pelos filhos do "dr. Roberto" contra a IURD.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Conto "Jesus", de Humberto de Campos, é uma decepção para os chiquistas


Sabe-se que Chico Xavier tornou-se o único indivíduo, no Brasil, que não só foi autorizado a se apropriar do legado de um autor morto como a estabelecer vínculo ideológico sobre ele, o que significa que o anti-médium mineiro tornou-se praticamente "dono" do legado de Humberto de Campos.

Humberto tinha uma prosa de temáticas laicas, de linguagem fluente e simples, culta sem deixar de ser informal, com suas metáforas e ironias linguísticas, diferente do "espírito Humberto" que narra como se fosse um sacerdote religioso.

Mas eis que aparece um conto intitulado "Jesus" que faz bater os corações dos chiquistas. Que, todavia, representa uma grande pegadinha que a ironia póstuma da passagem dos tempos trouxe para aqueles que foram apresentados a Humberto de Campos sob a sombra de Chico Xavier.

Histéricos, os chiquistas, na primeira leitura do referido conto abaixo reproduzido, devem achar que o religiosismo atribuído ao espírito do autor maranhense condiz com o que Humberto havia escrito em vida, o que pode levá-los a erroneamente julgar que identificaram "semelhanças incontestáveis".

Só que a pegadinha literária chama a atenção por dois aspectos. Um, porque Humberto colocou o conto "Jesus" num livro intitulado O Monstro e Outros Contos, de 1932, o que soa, para os padrões da devoção religiosa, extremamente desrespeitoso.

Outro aspecto é porque o desfecho do referido conto "Jesus" é frustrante, para aqueles que pensam em ver Jesus como o cavaleiro alado a conduzir uma simples nação como o Brasil à condição de supremacia planetária e, talvez, universal.

O conto também soa como uma crítica de que o mundo adulto também possui as suas fantasias místicas, o que poderia muito bem soar como um puxão de orelha adiantado para aqueles que, décadas depois, não conseguem ver Humberto de Campos sem o tendencioso vínculo com o anti-médium de Pedro Leopoldo.

Por uma irônica curiosidade, O Monstro e Outros Contos foi o livro que Humberto lançou quando resenhou, em julho de 1932, o Parnaso de Além-Túmulo organizado pelo seu futuro obsessor Chico Xavier, conforme o próprio autor e membro da Academia Brasileira de Letras havia escrito na época.

Ver que a tristeza de Jesus narrada por Humberto de Campos se expressa simplesmente pela proibição familiar de que ele brincasse com outras crianças é decepcionante para os chiquistas. Eis o conto, reproduzido abaixo:

JESUS

Por Humberto de Campos - Livro O Monstro e Outros Contos, 1932.

A casa de José, o carpinteiro, em Nazaré, ficava à margem do caminho que leva a Tiberíades. Pequena e humilde, mais humilde parecia, ainda, pela ancianidade, e por não ser possível ao dono reconstruí-la. Edificada por Jacó, primogênito de Matran, tornara-se, por morte deste, propriedade do esposo de Maria, filha de Ana, da casa de Davi. E como o carpinteiro já se encontrasse velho e alquebrado de forças, ia deixando que o casebre se desmoronasse, açoitado pelos grandes ventos que sopravam no verão, das bandas do golfo de Caifa, e no inverno, da alta cordilheira que orna o país de Sichen. Sem cercas que a defendessem, era a casa rodeada de limoeiros, que embalsamavam o ar, e que a afogavam, com a suas frondes de um verde escuro, como punhados de mangericão em torno de uma rosa fanada.

Era à sombra de um desses limoeiros José trabalhava, quando fazia bom tempo, manejando, trêmulo, o seu serrote e a plaina primitiva. E era sob a copa de todos os outros que brincavam, a manhã toda, e a tarde inteira, as crianças das casas vizinhas. Atraídas para ali pela frescura do local, vinham elas, isoladamente, ou duas a duas, ou três a três, com o seu perfil judaico, os olhos muito vivos e chegados um ao outro, para as correrias habituais. Trazia-as, muitas vezes, João, filho de Zacarias, antigo sacerdote do Templo, em Jerusalém. O senhor, entre elas, da casa e dos limoeiros, era, porém, Jesus, filho do carpinteiro, mais moço do que João quase um ano, e que era ainda seu parente, pois que Maria, esposa de José, e Isabel, esposa do velho sacerdote, eram primas e, apesar da diferença de idade, amigas e confidentes.

As duas famílias, a de Zacarias como a do carpinteiro, traziam no espírito, constantemente, duas preocupações. Segundo a palavra dos Profetas, o povo de Israel teria de cair sob o jugo do estrangeiro, do qual o livraria, no entanto, um grande Rei, que viria disfarçadamente à terra, com o sangue de Davi. A primeira parte das profecias estava cumprida. Os sucessores dos Macabeus haviam ateado a guerra civil na Judeia, e invocado, em certo momento, o auxílio dos romanos, que tinham escolhido entre eles um rei, de nome Herodes, o qual reinava em Jerusalém. E a outra, a mais grave e difícil, parecia, agora, em via de realização.

Efetivamente, nove anos antes, achando-se Zacarias sozinho no Templo, em Jerusalém, incensando o altar, Ouvira um ruído, que lhe parecera o de um grande pássaro em voo. Volvera, lento, o rosto, e estacara, surpreso. Diante dele, vestido de uma túnica diáfana, e que parecia feita com o fumo do turíbulo, estava um mancebo de fisionomia resplandecente, de cujas espáduas saíam grandes asas, e que lhe dissera, em palavras sem mistérios, que sua esposa, Isabel, lhe daria, dentro de alguns meses, um filho varão. Dissera isto, e desaparecera.

Suspeitando dos próprios olhos e dos próprios ouvidos, duvidava o sacerdote do próprio entendimento. Se a esposa, na mocidade, não lhe dera um filho, como lho daria, agora, quando os dois, ele e ela, já se sentiam velhos? Que fazer, pois, naquela emergência? Narrar o sucedido? Contar à mulher, e aos íntimos, a ocorrência do Templo? Melhor seria, talvez, não pecar pela palavra, quem já pecava, incrédulo, pelo pensamento. E desse dia em diante, aguardando os acontecimentos de cada hora, os seus lábios se selaram para o mundo, enquanto a sua alma se descerrava, inteira, para os olhos de Deus.

Semanas depois, o mesmo Enviado aparecia, belo e fulgurante, na casa do carpinteiro, em Nazaré. Levava àquele outro lar uma notícia idêntica. Maria, esposa de José, seria mãe. e o seu filho, neto de Reis, seria o Rei da Judeia.

De acordo com o anunciado, Isabel tivera, em verdade, um filho, que tomou o nome de João. E Maria concebera outro, que era, agora, essa triste criança, de seis anos, sob cujos olhos, de uma estranha doçura, as outras vinham, de longe, brincar à sombra cheirosa dos limoeiros.

Desde o nascimento do menino, em Belém, quando iam àquela cidade para serem recenseados por ordem de Augusto, o carpinteiro e a esposa se haviam convencido dos altos
destinos do filho. Daquele infante dependia, desde aquela hora, a sorte do Povo de Deus. Daí os cuidados de que o rodeavam, a cautela com que o vigiavam dia e noite, o susto com que acompanhavam as suas menores enfermidades. Naquele pequenito moreno, de olhos claros e fisionomia meiga, estava, não apenas o filho único, mas o Rei; não unicamente o rebento miraculoso de um casal que ia desaparecendo sem prole, mas o Salvador de uma raça, prometido pelas profecias do fundo remoto dos séculos.

Jesus havia nascido, entretanto, tão alegre como os outros meninos de Nazaré. Ao se lhe enrijar o pequeno corpo, de linhas modelares e puras, procurara correr, como os outros, e, como os outros, subir às árvores, roubar o ninho aos pássaros, ou banhar-se no lago, quando a família ia a Genezaré ou a Tiberíades. Mal, porém, tentava ia dessas distrações infantis, a mãe acorria aflita, ou acorria o pai, preocupado, detendo-lhe o gesto ou o desejo. E essa diferença de tratamento acordava-lhe dúvidas no espírito e no coração. Por que, sendo o mundo tão vasto, e a vida tão boa, só lhe não cabia, a ele, a alegria de ser livre como as crianças? Aquelas ondas cariciosas do lago, e aqueles ninhos de rouxinol dos olivais, teriam sido feitos unicamente para Mateus, filho de Marta, para Barnabé, filho de Manassés, para Eleazer, filho de Josué, ou, mesmo, para João, seu primo, tão violento que só procurava brinquedos de guerra, em que sempre saía vencedor? Por que, ainda, a curiosidade de toda a gente, em torno da sua pessoa: o sorriso de zombaria de uns, ao apontá-lo de passagem, e o respeito comovido de outros, - alguns dos quais chegavam, até, a ajoelhar na poeira dos caminhos para beijar-lhe, chorando, a fímbria grosseira da túnica?

Sob os limoeiros copados, cujas ramas, aqui e ali, roçavam o chão, as crianças brincavam, correndo em algazarra, simulando combates de judeus e romanos. Por cima das ramagens, o céu era todo azul e ouro, e uma brisa fresca soprava, como uma carícia, das bandas do lago. Balouçado por ela, o limoal escrevia em hebraico, aqui e ali, no solo pedregoso, com letras de luz abertas na sombra, pequenos poemas misteriosos. Tudo era, em torno, festivo e jovial. As próprias aves, tontas de luz, cantavam mais alto.

Sentado junto ao muro limoso de um poço, Jesus, ele só, estava triste.

- Pai, - havia pedido, momentos antes, ao carpinteiro, - deixa-me brincar com os outros!

- Não, meu filho; não podes, - respondera, paternal, o ancião, passando a mão trêmula e rude pelos seus cabelos castanhos. - E se caísses, em uma dessas correrias, que seria de nós, e do teu Povo?

Aquelas palavras eram, para ele, um mistério. Que significavam elas? Que Povo era esse, que era seu, e que ele não conhecia?

Os seus olhos, doces, e mansos, encheram-se de sombra. Uma lágrima correu, lenta e límpida, parando aqui e ali, pela sua face morena, vindo deter-se ao canto da boca miúda, pondo, nela, um desagradável gosto de sal.

Jesus de Nazaré começava a sofrer, nesse dia, a tristeza de ter nascido Deus...