quarta-feira, 22 de julho de 2015

"Espiritismo" é materialista, mas despreza a vida material. Como explicar isso?

PARA CHICO XAVIER, ESSE INFELIZ DEVERIA APENAS FICAR ORANDO EM SILÊNCIO, COM GARANTIA DE RECOMPENSAS FUTURAS SÓ NO ALÉM-TÚMULO.

O "espiritismo" não consegue explicar por que faz a apologia ao sofrimento humano. Alega que se deva sofrer da pior forma possível, recorrer a uma overdose de orações e religiosidade para ter um pouco menos de prejuízos e um pouco mais de benefícios, sempre longe de obter qualidade de vida ou mesmo chances plenas até de ajudar alguém.

Perdido num receituário moralista conservador, o "espiritismo" despreza a necessidade de ter uma vida material melhor. Temos um prazo de cerca de 80 anos de vida que acaba sendo marcado por infortúnios pesados, mas desnecessários, impostos além do limite de alguém para suportá-los e, como se isso não bastasse, às vezes o azar faz alguém abreviar sua vida quando mais precisa levá-la adiante.

Obtendo tratamentos espirituais com a intenção de atrair sorte para emprego, o paciente acaba atraindo o azar que não tinha. Perde oportunidades de obter excelentes empregos, através de situações confusas que permitem esse infortúnio, por mais que o sujeito se esforce de maneira exemplar para realizar tais oportunidades.

Se for a vida amorosa, o homem que suplica para pedir que venha em seu caminho uma moça atraente e com afinidades de personalidade, ou seja, afinidades espirituais, ele acaba atraindo mulheres que não são atraentes, não possuem afinidade espiritual com ele e, além disso, às vezes só correspondem a padrões grotescos de sensualidade que o homem não aprecia.

Que "sorte" é essa que os tratamentos espirituais atraem? O homem pede uma mulher com personalidade e caráter, que se afine com ele e ajude a tornar sua vida melhor, e ganha de presente uma "periguete" que, quando muito, só serve para atos sexuais mais primitivos? Que espiritualismo é esse que só permite benefícios tão materialistas?

E, no emprego? Tem gente que perde no concurso público para trabalhar numa autarquia que lhe traria grandes aprendizados e, todavia, lhe é permitido trabalhar como celetista numa empresa corrupta cujo patrão "raposa velha" teve a "sorte" de fazer aniversário do mesmo dia do pobre coitado.

Pode ser contraditório afirmar que o "espiritismo" despreza a vida material e é materialista. Mas a verdade é que essa aparente contradição tem sentido e, no fundo, é bem menos contraditória do que se imagina, se observarmos alguns dados.

Primeiro, porque a valorização da vida material é, na verdade, uma necessidade de estabelecer uma relação positiva entre a ação do espírito encarnado e as condições sociais materiais diversas. Dar valor positivo à vida material é ser mais espiritualista, porque defende-se o melhor aproveitamento da matéria para o aperfeiçoamento do espírito.

Quando se desvaloriza a vida material e atribui à "vida futura" a recompensa do sofrimento na carne, o "espiritismo" está sendo muito materialista, porque, tornando a vida material uma trajetória de sofrimentos pesados ou de inúteis tentativas de superação de limitações, está, na verdade, tratando a vida material como algo sem importância.

A "rivalidade" que os "espíritas" pregam entre matéria e espírito, defendendo a vida material como uma penitência individual, como se a Terra fosse uma grande penitenciária, é que revela mais materialismo que espiritualismo, não bastassem os "espíritas" terem uma visão materialista sobre a misteriosa vida espiritual. Nosso Lar demonstra esse materialismo.

Não sabemos agora com precisão o que é vida espiritual, e as incipientes pesquisas de contatos com espíritos morreu com a bagunça que muitos supostos médiuns fizeram, sem excluir Chico Xavier e Divaldo Franco, cujas fraudes e pastiches contradizem a alta reputação que alcançaram.

O materialismo se dá pelo desprezo ao uso da vida material de forma qualitativa e diferenciada. Por exemplo, se um homem não quer qualquer mulher e exige que sua pretendente tenha afinidades espirituais com ele, ele não pode pegar qualquer solitária feita apenas para fins reprodutivos.

Da mesma forma, a mulher que deseja um homem diferenciado não pode pegar como cônjuge um homem que apenas "estava ali" o tempo todo, um grosseiro durão que apenas se porta como tendenciosamente gentil e falsamente descontraído e amoroso, um homem sem caráter mas com uma única capacidade de manipular as conveniências sociais.

No emprego, então, a pessoa que faz tratamento espiritual para atrair sorte para um bom emprego, visando aproveitar melhor sua inteligência e seu potencial criativo, não quer atrair para si um emprego "qualquer nota" que só serve para atrair um salário qualquer, enquanto o emprego dos sonhos se torna uma realidade distante e impossível.

O "espiritismo" não pensa em qualidade de vida. Faz apologia ao sofrimento. Só pensa em recompensas póstumas para o "corajoso" sofredor. E acha que a vida material é a mesma em qualquer encarnação, pouco ligando para a transformação dos tempos e das pessoas, o que nos faz compreender por que o "espiritismo" tornou-se uma religião retrógrada e parada no tempo.

Para os "espíritas", vive-se a vida material "como se pode", de preferência encarando qualquer cilada, tendo qualquer prejuízo, desperdiçando os melhores talentos que encontram obstáculos intransponíveis para a expressão livre e adequada de suas habilidades. Até o sentido de caridade, neste caso, é deturpada pela doutrina, ao defender a complacência ou submissão aos algozes.

Na medida em que o "espiritismo" despreza a necessidade de melhor aproveitar a ação espiritual na vida material, ele está sendo materialista. Porque, assim, o "espiritismo" pensa a matéria como qualquer coisa. O espírito encarnado é que tem que se embrutecer e emburrecer e viver apenas para atender necessidades materiais.

A ideia é sobreviver e não viver. Vida melhor acaba se reduzindo a uma utopia a ser atingida depois da morte, através da perspectiva do desconhecido, a "certeza" do incerto que o sadismo das religiões mais moralistas impõe e que não difere muito do Taylorismo econômico que sacrificava as classes operárias.

Achar que tanto faz sofrer numa encarnação e acreditar que vida melhor só existe no além-túmulo é desprezar a oportunidade do espírito aproveitar melhor a sua rara oportunidade em cada encarnação. O mundo muda, existem reencarnações, mas cada encarnação é única em seus contextos e caraterísticas humanas.

Desprezar a necessidade de evitar sofrimentos na vida presente, buscando qualidade de vida para um encarnado, é desprezar o potencial do espírito em aproveitar melhor a vida material, e achar que encarnação é aguentar qualquer limitação sem intervir contra a mesma é, isso sim, uma visão escancarada e cruelmente materialista.

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