terça-feira, 7 de julho de 2015

Rio de Janeiro naufragado em retrocessos e provincianismo

COMPLEXO DO ALEMÃO TEM ATÉ TELEFÉRICO. URBANIZAÇÃO, QUE É BOM, NADA.

Banditismo atingindo UPPs, exterminando policiais a bala ou matando cidadãos a bala e, agora, a faca. Sociopatas agredindo quem não concordasse com seus pontos de vista conservadores e falsamente arrojados. Figuras retrógradas se projetando como Silas Malafaia, Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

O que deu no Rio de Janeiro? É certo que, desde 1990, o Estado sofreu muitos retrocessos, já que os anos 90 viraram a "década perdida" de todo o Brasil. Mas assusta que, nos últimos dez anos, a série de retrocessos diversos ocorridos no Estado do Rio de Janeiro, inclusive sua capital, o faz equiparar-se a um Estado do Norte / Nordeste no auge do coronelismo.

O surto provincianista atinge tudo. Na mídia, onde rádios comprometidas com a cultura são dizimadas e substituídas por rádios "pragmáticas" voltadas a interesses comerciais mais rasteiros (mesmo a "roqueira" Rádio Cidade não foge e até se aprofunda nesse esquema), e a televisão se vende para a vulgaridade mais abjeta e ao noticiário entre policialesco e tribunalesco.

Na Economia, o desabastecimento de produtos é aberrante, se lembrarmos que Rio de Janeiro é sede ou está na proximidade das demais sedes de fornecedores e fabricantes de produtos e se trata de um dos grandes centros do país. É grave saber que um grande centro possui supermercados que, quando o assunto é reposição de estoques, se comportam como mercadinhos do interior do Pará.

A insegurança, a má logística, a mentalidade "pragmática" (atendimento superficial de necessidades e demandas), o reacionarismo extremo e as arbitrariedades políticas dão o alarme diante do retrocesso de uma das capitais que serve de referência na propagação de valores e conceitos para todo o país.

Há até mesmo um atraso mental, uma falta de compreensão que vai da cultura á mobilidade urbana. O hit-parade apreciado pelo jovem carioca médio é tão rasteiro e mofado que nomes medíocres como Johnny Rivers, Boys Town Gang e Double You - e, no âmbito do rock, Guns N'Roses, Linkin Park e System of a Down - são considerados "coisas do outro mundo" e idolatrados como se fossem os maiores gênios da música de qualidade.

Pior: nas mídias sociais, houve quem tivesse elogiado o projeto de DJs Jive Bunny, como se fosse uma banda musical de grande conceito, ignorando que o sucesso "That's What I Like" não passa de uma colagem de sucessos do rock do período 1957-1968 que deveriam ser ouvidos em separado.

Na música brasileira, a preferência pelo "pagode romântico", risível caricatura do samba que condena o ritmo afro-brasileiro ao quase ostracismo, e pelo "funk carioca", além da tardia apreciação do "sertanejo", fazem com que o provincianismo no âmbito musical se torne alarmante, para um Estado que, há 55 anos atrás, tinha a Bossa Nova no seu auge.

O neo-coronelismo de políticos como Eduardo Paes, Sérgio Cabral Filho, a família Picciani, Carlos Roberto Osório, Luiz Fernando Pezão, José Mariano Beltrame e outros, de ônibus com pintura padronizada, inúteis guaritas intituladas UPPs e toda uma verborragia a favor da Saúde e da Educação que, na prática, deixa estes setores à deriva, também é preocupante.

Afinal, foi esse neo-coronelismo que viola as leis mas finge que as está cumprindo com rigor que abriu caminho para a ascensão do colega dos políticos acima citados, o deputado Eduardo Cunha, que ao presidir a Câmara dos Deputados, em Brasília, passou a adotar ou apoiar medidas e propostas antidemocráticas.

Um Estado de sociopatas digitais - jovens que até podem parecer skatistas ou surfistas e morar na Barra da Tijuca, mas se comportam como jagunços de algum latifúndio perdido no Acre - , que defendem o "estabelecido" na mídia, na política e na tecnocracia, para não dizer os que defendem valores racistas, machistas e homofóbicos, também vê gente como Jair Bolsonaro subirem em cena.

É claro que o Sul e o Sudeste, antes regiões de grande desenvolvimento social, cultural e econômico, sucumbem a um retrocesso vertiginoso nos últimos 25 anos. Mas o Rio de Janeiro leva isso às últimas consequências, com um retrocesso pior do que a Bahia de Antônio Carlos Magalhães.

Com todos os retrocessos que a Bahia de ACM, como o coronelismo midiático, de Mário Kertèsz, Marcos Medrado e companhia, e a "monocultura" da axé-music e seus subprodutos ("pagodão" e arrocha), além do clima de "cidades-fantasmas" no interior, ainda assim não atingiu os níveis catastróficos que o Rio de Janeiro está mergulhando.

O naufrágio do Rio de Janeiro num surto provinciano extremo, um provincianismo que não é só puro bairrismo, mas uma onda de retrocessos que não condiz com a fama do Estado como símbolo de modernidade do país (um símbolo que se dissolve na realidade vivida por cariocas e fluminenses), é algo que deveria ser visto como um fator gravíssimo para o pais.

Até na vida social, cada vez marcada pelas conveniências, pela insensibilidade de boa parte das pessoas, existe o fanatismo do futebol carioca que é visto como medida para as relações sociais. Existe até assédio moral no mercado de trabalho, em que as pessoas, para não sofrerem bullying, são obrigadas a gostar de futebol, sendo autorizadas apenas a torcer para um dos quatro maiores times.

Só esse comportamento revela o caráter provinciano doentio, num Estado que, no plano cultural, se prepara para jogar o samba apenas para o consumo das elites mais elitistas, enquanto o "funk carioca" constrói sua "monocultura" local, com um mercado totalitário e predatório que se viu na hoje decadente axé-music de Salvador.

O maior perigo, com esses retrocessos, é que o Rio de Janeiro, que continua sendo referencial de projeção de valores e conceitos a valer para todo o país, poderá fazer o Brasil cair em uma nova série de retrocessos. E isso a um ano das Olimpíadas a serem realizadas no Estado.

Os casos dos ataques racistas contra a jornalista Maria Júlia Coutinho, as manobras autoritárias de Eduardo Cunha, as bravatas de Jair Bolsonaro e o cafajestismo político de Eduardo Paes, Luiz Fernando Pezão e companhia, são apenas aperitivos do pior que poderá vir.

A não ser que os cariocas e fluminenses se recusem a assumir uma postura "bovina" imposta pelo "estabelecido" e reajam contra tudo isso.

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