terça-feira, 13 de outubro de 2015

A mulher brasileira e a mediocrização sócio-cultural

MULHER MELÃO, SÍMBOLO DO MACHISMO ENRUSTIDO DO "FUNK", NO RECENTE CLIPE DA MÚSICA "OITO HORAS".

Dias atrás, uma jornalista de televisão do Mato Grosso faleceu aos 32 anos vítima de pneumonia. Mais tarde, uma professora de Geografia do Rio de Janeiro foi assassinada enquanto se maquiava dentro de seu carro, no bairro de Maria da Graça. Quando mulheres que fazem alguma coisa pelo país falecem, é coisa para se preocupar.

Afinal, o Brasil ainda tem um machismo agonizante, mas resistente. E uma parcela desse machismo é travestida de "feminismo", com mulheres-objetos bancando as narcisistas e investindo num celibato profissional necessário para que pudessem vender a "sensualidade" como mercadoria e evitar a rejeição dos movimentos sociais usando a desculpa do "combate ao machismo".

É bastante surreal, mas muita gente defende esse machismo travestido de "feminismo" como se fosse um feminismo "autêntico" e, pasmem, até mesmo "moderno", quando sabemos que a única coisa que essas mulheres têm de "anti-machistas" é uma simbólica ojeriza aos homens.

Só que, por trás de "musas" como Solange Gomes, Renata Frisson (Mulher Melão), Yami Filé, ou mesmo a politicamente correta Valesca Popozuda, existem homens comandando suas carreiras. São empresários do sexo masculino, que através delas misturam conceitos machistas com um simulacro de feminismo através da construção de uma imagem "independente" e "emancipada".

Pesquisando a mídia, nota-se que Solange e Renata são tidas como as mais "ambiciosas". Solange, de 41 anos e com a aparência envelhecida para a idade, tenta passar uma imagem de "desejada" e "sexy" e chegou mesmo a vestir pouca roupa quando foi a uma cidade com apenas 10° C de temperatura. Por sorte, não contraiu a mesma pneumonia que matou a jornalista mato-grossense.

É terrível ver que uma boa parcela de mulheres que aparece na mídia só mostra o corpo. É uma grande contradição. Afinal, se as mulheres em geral estão reclamando do assédio masculino, movido pelo impulso sexual, o que fazem algumas delas "mostrarem demais", como diz o jargão da mídia, e chegarem a dizer na imprensa que "gostariam de andar peladas nas ruas"?

A quem interessa que essas pretensas musas "mostrem demais"? Para um público de baixo poder aquisitivo, mas de um instinto sexual descontrolado. Elas acabam agindo contra o próprio feminismo, porque é através dessa "sensualização" que os homens se tornam afoitos e passam a assediar qualquer mulher, na ilusão de que qualquer mulher é "liberada" para satisfazer o apetite sexual deles.

A "liberdade do corpo" que as mulheres siliconadas que "sensualizam demais" tentam atribuir a tanta ostentação é um conceito hipócrita que nada tem de libertário. Afinal, o que elas fazem é simplesmente algo que vai contra qualquer liberdade, porque a "liberdade do corpo" torna-se eufemismo para a escravização da pessoa à ideia do corpo feminino como uma mercadoria.

E isso é terrível, porque é uma multidão de mulheres que aparece na mídia "sensualizando", sem dar conta do recado, sem mostrar algo interessante como pessoas e sem dar qualquer contribuição para a sociedade. Daí que, se morre, por exemplo, uma Daniella Perez ou uma Dora Bria, é de se arrancar os cabelos.

Até quando vão a eventos diferentes, como lançamento de livro ou feira de automóveis, as musas siliconadas - conhecidas como "boazudas" ou "popozudas" - apenas vinculam tais contextos à sua sensualidade forçada e compulsiva. E atrapalham mais do que ajudam, como a Mulher Melão fez quando seu empresário a colocou num evento de topless.

Nesse evento, as manifestantes até mostravam seus corpos, mas o contexto não era necessariamente sexual, pois elas queriam afirmar suas condições, mostrando os corpos para pedir respeito e proteção, e, por incrível que pareça, era um protesto contra o assédio machista e o moralismo religioso, aparentemente opostos, mas ideologicamente paralelos.

O protesto feminista acabou perdendo o sentido, com a imagem da Mulher Melão, grotesca e sensacionalista se destacando demais. O evento, que poderia ser uma manifestação pelos direitos das mulheres, perdeu o sentido original e se corrompeu com a imagem pitoresca da funqueira, que se autoproclamava "feminista", mas impôs sua imagem machista, como um "Black Bloc" do ativismo feminino.

No Brasil existe até mesmo um "concurso de beleza", o Miss Bum Bum (ou Miss Bumbum), que explora a imagem da mulher como um objeto sexual, uma imagem que insiste em ser "feminista", mas trabalha uma concepção da mulher como um brinquedo sexual, típico da ideologia machista.

Como no exterior as coisas são diferentes da complacência generalizada que existe no Brasil, a jornalista britânica Daisy Donovan fez uma reportagem entrevistando candidatas do Miss Bumbum e "musas" do Pânico na TV (atual Pânico na Band), estas intituladas "panicats", e constatou um processo de degradação da imagem intelectual e sexual da mulher brasileira.

Isso lá fora, quando as pessoas sabem muito bem que isso é machismo. Aqui, até mesmo uma parcela de antropólogas, cineastas e ativistas, que se pretendem feministas "sérias", corroboram a exploração degradada da mulher brasileira pelas "boazudas", definindo-a como "um novo tipo de feminismo popular".

Sim, e são feministas "sérias", em parte idosas, que deveriam, como intelectuais e ativistas, contestar esse processo de humilhação, mas como existe um forte lobby na intelectualidade brasileira que quer transformar as periferias numa espécie de "Disneylândia" ou "McDonald's" da cultura suburbana e rural, elas são as primeiras a assinar embaixo diante desse machismo enrustido que enche os cofres dos homens que estão por trás das "emancipadas" de bumbum empinadinho.

São esses homens que controlam suas carreiras, as jogam em eventos diversos, as infiltram em movimentos feministas e dizem até mesmo o que elas têm que dizer a respeito de sensualidade, sexo e emancipação feminina.

Só mesmo no Brasil da mediocrização sócio-cultural para aceitar como "feminismo" essa exploração da mulher como meras mercadorias simbólicas de desejo sexual. E, no país em que Leila Diniz, Daniella Perez e Dora Bria morrem cedo tentando dar suas contribuições para o país, temos que aguentar "boazudas" como Mulher Melão e Solange Gomes "sensualizando" até a velhice. Até quando aguentar isso?

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