quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Erasto nunca em momento algum iria aprovar Chico Xavier


Correm na Internet textos de páginas "espíritas" nas quais a mensagem que Erasto divulgou através do discreto médium "Monsieur d'Ambel" e usada para legitimar o mito de Francisco Cândido Xavier. Convém desconfiar dessa associação, porque ela se revela bastante mentirosa, oportunista e hipócrita.

Observando com atenção e nos livrando das correntes escravizadoras da fé religiosa, reduto do deslumbramento, da credulidade e fantasia, percebemos que a trajetória de Chico Xavier foi marcada de intensos escândalos e confusões, muitas delas causadas por ele mesmo, de propósito. Livros inteiros poderiam mostrar as irregularidades de Chico Xavier, com farta apresentação de provas.

Com isso, é inadmissível que os "espíritas" usem Erasto para defender Chico Xavier. Antes eles evitassem de usar Erasto, uma figura que Allan Kardec considerava de muita profundidade e bom senso. Se querem defender o anti-médium mineiro, sejam pelo menos sinceros nas posturas igrejistas e não apelem para pessoas e teses contrárias.

Para quem acha que estamos jogando Allan Kardec contra o "bom velhinho" brasileiro, é bom deixar claro que Chico Xavier cometeu sérios, graves e preocupantes deslizes doutrinários, e personificou muito bem o que o professor lionês e o espírito do discípulo de Paulo de Tarso alertaram, quando disseram para rejeitar fenômenos "espíritas" que apresentassem um único erro sério em relação à Doutrina Espírita. Chico Xavier apresentou uma infinidade preocupante desses erros.

Mostramos como prova o próprio texto de Erasto, que em muitas passagens reprova pontos identificados nas atividades de Xavier, e eles foram publicados como resposta para o item 230 de O Livro dos Médiuns, preciso e criterioso roteiro organizado por Kardec sobre a atividade mediúnica que, em sua quase totalidade, é simplesmente malfeita ou mesmo fingida no Brasil.

O texto é longo, mas sucinto e enérgico. O tom da mensagem assustará os brasileiros deslumbrados, sobretudo nessa época em que raciocinar virou um ato abominável para boa parte das pessoas que se "alojam" nas mídias sociais. Mas o próprio Erasto reconheceu que teve que ser enérgico, ante o perigo que a Doutrina Espírita francesa tinha na sua frente.

Esse perigo, da deturpação doutrinária, foi simbolizado inicialmente por Jean-Baptiste Roustaing. Mas este teve maior receptividade no Brasil e foi adaptado para o contexto brasileiro por Chico Xavier. Portanto, se a mensagem de Erasto foi um recado sobre Roustaing, a mesma atribuição pode ser feita, com a máxima segurança, ao anti-médium mineiro.

Reproduzimos o texto, juntamente com a pergunta correspondente. A tradução é de José Herculano Pires, que respeitou as expressões originais do original francês:

230. A instrução, sobre este assunto (moral dos médiuns), nos foi dada por um Espírito de que já reproduzimos muitas comunicações:

Já o dissemos: os médiuns, como médiuns, exercem influência secundária nas comunicações dos Espíritos. Sua tarefa é a de uma máquina elétrica de transmissão telegráfica entre dois lugares distantes da Terra. Assim, quando queremos ditar uma comunicação, agimos sobre o médium como o telegrafista sobre o aparelho. Quer dizer, da mesma maneira que o tique do telégrafo vai traçando, a milhares de léguas, numa tira de papel, os sinais reprodutores do despacho, nós também nos comunicamos através das distâncias imensuráveis que separam o mundo visível do mundo invisível, o mundo imaterial do mundo encarnado, aquilo que desejamos vos ensinar por meio do aparelho mediúnico.

Mas, assim também como as influências atmosféricas freqüentemente atuam sobe as transmissões telegráficas e as perturbam, a influência moral do médium age algumas vezes sobre a transmissão dos nossos despachos de além túmulo e os perturbam, por que somos obrigados a fazê-los atravessar um meio contrário. Entretanto, na maioria das vezes essa influência é anulada pela nossa energia e a nossa vontade, e nenhuma perturbação se verifica. Com efeito, os ditados de elevado alcance filosófico, as comunicações de moralidade perfeita são transmitidas às vezes por médiuns pouco apropriados a essa função superior, enquanto de outro lado, comunicações pouco edificantes chegam às vezes por médiuns que se envergonham de lhes servir de condutores.      

De maneira geral, pode-se afirmar que os Espíritos similares se atraem, e que raramente os Espíritos das plêiades elevadas se comunicam por mal condutores, quando podem dispor de bons aparelhos mediúnicos, de bons médiuns, numa palavra.

Os médiuns levianos, pouco sérios, chamam, pois, os Espíritos da mesma natureza. É por isso que as suas comunicações se caracterizam pela banalidade,a frivolidade, as idéias truncadas e quase sempre muito heterodoxas, falando-se espiritualmente.  Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé.

Deve-se então eliminar sem piedade toda palavra e toda frase equívocas, conservando no ditado somente o que a lógica aprova ou o que a Doutrina já ensinou.

As comunicações dessa natureza só são perigosas para os espíritas que agem isolados, os grupos recentes ou pouco esclarecidos, porque, nas reuniões de adeptos mais adiantadas e experientes, é inútil a gralha  de se adornar com penas de pavão, pois será sempre impiedosamente descoberta.

Não falarei dos médiuns que se comprazem em solicitar e receber comunicações obscenas. Deixá-los que se comprazam na sociedade dos Espíritos cínicos. Aliás, as comunicações dessa espécie exigem por si mesmas a solidão e o isolamento. Não poderiam, em qualquer circunstância, senão provocar o desdém e a repugnância entre os membros de grupos filosóficos e sérios.

Mas onde a influência moral do médium se faz realmente sentir é quando este substitui pelas suas pessoas aquelas que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir. É ainda quando ele tira, da sua própria imaginação, as teorias fantásticas que ele mesmo julga, de boa fé, resultar de uma comunicação intuitiva. Nesse caso, há mil possibilidades contra uma de que isso não passe de reflexo do Espírito pessoal do médium.

Acontece mesmo este fato: a mão do médium se movimenta às vezes quase mecanicamente, impulsionada por um Espírito secundário e zombeteiro.

É essa a pedra de toque das imaginações ardentes. Porque, levados pelo ardor das suas próprias idéias, pelos artifícios dos seus conhecimentos literários, os médiuns desprezam o ditado modesto de um Espírito prudente e, deixando a presa pela sombra, os substituem por uma paráfrase empolada. Contra esse temível escolho se chocam também as personalidades  ambiciosas que, na falta das comunicações que os Espíritos bons lhe recusam, apresentam as suas próprias obras como sendo deles. Eis porque é necessário que os dirigentes de grupos sejam dotados de tato apurado e de rara sagacidade, para discernir as comunicações autênticas e ao mesmo tempo não ferir os que se deixam iludir.

Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos antigos provérbios. Não admitais, pois, o que não for para vós de evidência inegável. Ao aparecer uma nova opinião, por menos que vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica. O que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai corajosamente. Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa.

 Com efeito, sobre essa teoria podereis edificar todo um sistema que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento construído sobre a areia movediça. Entretanto, se rejeitais hoje certas verdades, porque não estão para vós clara e logicamente demonstradas, logo um fato chocante ou uma demonstração irrefutável virá vos afirmar a sua autenticidade.

Lembrai-vos, entretanto, ó espíritas! De que nada é impossível para Deus e para os Espíritos bons, senão a injustiça e a iniqüidade.

O Espiritismo já está hoje bastante divulgado entre os homens, e já moralizou suficientemente os adeptos sinceros da sua doutrina, para que os Espíritos não se vejam mais obrigados a utilizar maus instrumentos, médiuns imperfeitos. Se agora, portanto, um médium, seja qual for, por sua conduta ou seus costumes, por seu orgulho, por sua falta de amor e de caridade, der um motivo legítimo de suspeição, rejeitai, rejeitai as suas comunicações, porque há uma serpente oculta na relva. Eis a minha conclusão sobre a influência moral dos médiuns. – ERASTO.

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