terça-feira, 24 de novembro de 2015

Emmanuel não aprovava a prática de raciocínio e estudo

EMMANUEL COMPAROU A "MEDIUNIDADE" DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER A UMA LARANJEIRA.

"O laboratório afasta-se definitivamente da sacristia, intensificando as comodidades da civilização", escreveu Emmanuel, por intermédio de Chico Xavier, dando a crer o falso apreço do jesuíta aos avanços da Ciência em detrimento da opressão religiosa.

Pura balela. Emmanuel, que havia sido o Padre Manuel da Nóbrega, católico português de formação medieval e tomado de preconceitos sociais muito cruéis, sempre desejou que a Ciência atuasse nos limites que não contrariassem a religião.

Apenas como uma relativa concessão dos "espíritas", que admitem à Ciência certa autonomia, deixando de vê-la como uma atividade condenável por si só, eles diferem dos católicos medievais devido a essa postura, mas nem de longe tornaram-se generosos quanto à valorização do pensamento questionador, tarefa fundamental para o trabalho científico.

Há uma passagem da vida de Chico Xavier, descrita por Marcel Souto Maior no livro As Vidas de Chico Xavier, em que o anti-médium, que no fundo nunca entendeu a prática da forma como sistematizava Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, havia expresso uma vontade de estudar a mediunidade. Foi depois do fim dos trabalhos de produção da obra Nosso Lar, em 1943.

Emmanuel foi contra. Comparou a tarefa de seu subordinado a uma laranjeira. "Se a laranjeira quisesse estudar o que se passa com ela na produção das laranjas, com certeza não produziria fruto algum. Para nós o que interessa é trabalhar".

O espírito do jesuíta era autoritário. Desde quando iniciou sua atuação com Chico Xavier, ele lhe aconselhou "três" princípios: "disciplina, disciplina e disciplina". E, além disso, Emmanuel era contrário às atividades de raciocínio crítico, sempre reprovando qualquer contestação, dos queixumes diante do sofrimento e dos questionamentos diante de alguma ideia ilógica.

Emmanuel não aprovava o raciocínio e o estudo, mas apenas a "crença". Tentava impor como "estudo" e "raciocínio" a aceitação de suas ideias rebuscadas e prolixas. Embelezava seu discurso com palavras da mais habilidosa elaboração, para esconder ideias sem nexo e valores morais retrógrados.

É lamentável que muitos "espíritas" brasileiros hoje, que se gabam da "fidelidade absoluta" que julgam ter por Allan Kardec, sejam tentados a exaltar Emmanuel e colocar suas frases como epígrafes em muitos de seus textos.

Emmanuel é, claramente, o anti-Kardec. Kardec defendia a dúvida como processo de obter respostas, e perguntava e procurava responder o tempo todo, porque sabia que o Espiritismo era um assunto complexo e muito delicado, diante da sociedade preconceituosa do seu tempo.

O pensamento de Allan Kardec investia na busca da maior coerência possível de ideias, e não era uma tarefa fácil. Kardec foi questionado, combatido, ridicularizado. Atribuíram a ele até um suposto racismo. Não era fácil o pedagogo francês lidar com a sociedade do seu tempo, sua trajetória foi extremamente difícil, mas sempre fiel à busca da lógica e da coerência.

Já Emmanuel investia na desonestidade intelectual. O que ele queria era o moralismo religioso, a submissão à fé, ao embelezamento das palavras para que se compense com pompa discursiva o "grande deserto" das ideias.

Daí que, em nome de seu conservadorismo moralista, Emmanuel reprovava o raciocínio e o estudo, que oferecessem risco à credibilidade de suas pregações. Dessa forma, ele manteve os preconceitos medievais, mesmo quando admitia as "mudanças dos tempos".

Observando bem, todavia, nota-se que ele só aceitava a Ciência quando ela, ainda que se fixasse em trabalhos laicos, não confrontasse com as crenças rigorosas da fé religiosa. A Ciência que se preocupasse em estudar doenças ou utensílios tecnológicos, sem que no entanto ousasse desafiar os dogmas religiosos.

Por isso é que vemos as restrições do "espiritismo" brasileiro e até mesmo as delirantes atribuições a Chico Xavier de supostas façanhas científicas que, na verdade, partiram de cientistas que lançaram trabalhos bem antes do anti-médium mineiro, mas que não são conhecidos do grande público.

Neste sentido, até a autonomia científica é reprovada pelos "espíritas" brasileiros. Cientistas menos badalados acabam, no Brasil, "dando a patente" para Chico Xavier e seus livros mistificadores. Os "espíritas" acabam criando dificuldades para a compreensão honesta e verdadeira dos feitos científicos.

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