quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Por que o "espiritismo" despreza tanto a Ciência?


O "espiritismo" valoriza a Ciência? Não. Sua aparente apreciação aos assuntos científicos e à atividade de busca do Conhecimento é apenas tendenciosa e pedante, e não são os desfiles de fatos e personalidades científicas mais manjados que resolverá os problemas que o "espiritismo" comete em relação às ideias científicas.

O fato aberrante que é o desprezo a personalidades científicas sérias, como Franz Anton Mesmer - cuja obra foi crucial para o professor Rivail, depois conhecido como Allan Kardec, estudar a temática espírita - , Percival Lowell e Wolgang Bargmann, só porque não são tão conhecidas quanto Galileu Galilei, Isaac Newton e Charles Darwin, faz os "espíritas" inventarem falsas façanhas científicas.

É digno de uma gafe o que o presidente da Rádio Rio de Janeiro, o "espírita" Gerson Simões Monteiro, fez ao atribuir a Francisco Cândido Xavier um falso pioneirismo na suposta previsão de haver vida em Marte, atribuído a cerca de 80 anos.

Antes que os "espíritas" julguem "triste" e "lamentável" essa constatação, "ferindo" um radialista que "apenas promove o trabalho do bem", é bom deixar claro que a ideia que ele lançou sobre Chico Xavier é uma gafe por razões puramente lógicas, e não por raivinhas e condenações.

Bem antes de Chico Xavier nascer, o assunto da possibilidade de haver vida em Marte era fartamente discutido, no século XIX, por muitos cientistas. Até o amigo de Allan Kardec, Camille Flamarion, era um dos estudiosos.

Destaca-se o trabalho de Percival Lowell, astrônomo que fundou um observatório no Arizona, em analisar todos os elementos que, no Brasil, foram atribuídos tão tolamente a Chico Xavier: construção de canais fluviais artificiais, civilizações adiantadas, seres humanos bastante inteligentes.

Chico Xavier nasceu dois anos depois de Lowell lançar o último livro de sua trilogia de Marte. Os livros da trilogia foram Mars (1895), Mars and its Canals (1906) e Mars as the Abode of Life (1908), todos sem tradução em português, infelizmente.

Como é que ficam os "espíritas" diante de revelação tão verídica? Que moral eles têm para sustentar um suposto pioneirismo de Chico Xavier, diante de uma realidade que os envermelha de vergonha? Triste ver que o Brasil que brilhantemente foi pioneiro, na aviação, como Alberto Santos Dumont, ter que sucumbir a esse "mico".

Daí que os estadunidenses, que erram ao atribuir o pioneirismo da aviação para os irmãos Wilbur e Orville Wright, deram o troco quando o Brasil "pisou na bola" e inventou que Chico Xavier "descobriu vida em Marte". Pois neste caso os EUA quase ganharam a partida, pois em parte Percival Lowell é que fica com os louros, por sistematizar o trabalho do cientista italiano Giovanni Schiaparelli iniciou sobre a vida em Marte.

O que dirão os "espíritas", diante disso? Dirão que a visão foi "mal interpretada". Talvez se contradizessem quando falaram que Chico Xavier "não descobriu vida em Marte" mas a revelou "com brilhantismo, ainda que tardiamente", sem saber direito dizer se Chico foi ou não pioneiro ou porque deu uma abordagem "fraternal" da suposta descoberta.

O ridículo pioneirismo do suposto espírito de André Luiz em relação à glândula pineal pode não ser uma gafe aberrante como no caso da vida em Marte, mas também chama a atenção pelos equívocos de um trabalho acadêmico e da reação patética de um grupo de "espíritas" que "comemorou" o suposto "pioneirismo científico".

Sabe-se aqui, mas não custa repetir, que o livro Missionários da Luz, de 1945, é tido pelos "espíritas" como "pioneiro" nas pesquisas de glândula pineal, o que é totalmente ridículo. A razão, adotada pelos acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora comandados por Alexander Moreira-Almeida, foi que a bibliografia da época (anos 1940) sobre o assunto era "muito escassa".

O grande problema é que a equipe chegou a essa conclusão através de fontes de terceiros, sem adotar o rigoroso método de pesquisa nas próprias fontes da década. Eles se serviram de fontes secundárias, publicadas a partir de 1977, o que não é correto para acadêmicos que se comprometem em buscar embasamento científico para suas teses.

O caso patético foi por conta de um grupo de "espíritas", entre eles Marlene Nobre, já falecida, que comemoraram o "reconhecimento científico" de Chico Xavier como se fosse um "milagre", com um deslumbramento e uma euforia típicos de fanáticos religiosos. Extremamente constrangedor.

Esses são apenas dois casos, que deveriam ser amplamente divulgados. Afinal, no caso da glândula pineal, um assunto também discutido fartamente antes de Chico Xavier nascer, tinha uma bibliografia, nos anos 1940, significativa, se não na aparente quantidade, mas na qualidade, e um destacado autor do período foi o injustiçado cientista alemão Wolfgang Bargmann.

O "espiritismo", através desses dois exemplos, cometeu o ridículo de desprezar a Ciência quando ela foge dos clichês mais manjados. Os "espíritas" só apreciam assuntos e personagens manjados da História da Ciência, fazem abordagens superficiais e pedantes e não se aprofundam em estudos, sobretudo em artigos feitos às pressas e com pesquisas feitas de forma ligeira e sem conhecimento de causa.

Falar em Sol, em astros, em fenômenos biológicos e psicológicos é fácil, da maneira com que os "espíritas" tratam esses assuntos. Mas é tudo sem profundidade, e de maneira que apenas dê a impressão de uma compreensão no assunto que, para os leigos, soa aprofundada, mas na verdade é cientificamente superficial e sem embasamento teórico confiável.

Essa abordagem "espírita" só tem como objetivo dar o aparato "científico" de uma doutrina igrejista, que é o "espiritismo" brasileiro que se distanciou do pensamento de Allan Kardec e faz tudo errado ao confundir mistificação com conhecimento.

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