domingo, 17 de janeiro de 2016

Adoração a Chico Xavier expressa conservadorismo de seus seguidores


Você gosta de Francisco Cândido Xavier? Sim, o Chico Xavier das mensagens publicadas no Facebook ou no WhatsApp, dos vídeos "adoráveis" curtidos em massa no YouTube? Pois você é uma pessoa bastante conservadora e não leva em conta essa condição.

Muitos seguidores de Chico Xavier parecem pessoas modernas, vanguardistas e progressistas, mas no âmago de suas almas, são na verdade indivíduos conservadores, moralistas, mistificadores, que talvez tenham embarcado em causas modernas e vanguardistas apenas por algum modismo ou relativa solidariedade.

O Brasil tem esse cacoete de apreciar parcialmente o novo e manter sempre velhas raízes. Constrói-se coisas novas a partir de bases velhas, como se não bastasse o país ter o hábito de sempre perceber novas tendências de maneira tardia. Ou seja, quando percebe, o potencial original já foi apagado e a causa já chega com algum nível ou potencial de deturpação.

Daí que muitos perguntam se determinadas pessoas são vanguardistas ou progressistas por um momentâneo arroubo de juventude. Ou porque convivem com pessoas mais arrojadas e ousadas e se tornam provisórios parceiros de suas atividades? Ou porque alguém considerado retrógrado demais é desqualificado, como um anel valioso que passou a apertar os dedos dos privilegiados de uma ocasião.

A verdade é que a adoração a Chico Xavier por uma considerável parcela da sociedade revela, nela, um sutil ou acentuado grau de conservadorismo ideológico e resíduos do velho fanatismo religioso e do deslumbramento fácil a estereótipos da fé e da bondade, emoções originárias de raízes católicas portuguesas, introduzidas no Brasil com suas concepções ainda medievais.

CHICO XAVIER FOI CONSERVADOR E RETRÓGRADO

A figura de Chico Xavier é a que há de mais conservadora e retrógrada existente no país. Até sua aparência remete a um ídolo cafona, e nada existe nele que possa ser considerado progressista, vanguardista ou avançado.

Até a crença do "médium" em extraterrestres é algo mais antiquado do que já se via nos países europeus e nos EUA no século XIX, e, no tempo do anti-médium, ficções científicas dos anos 1920 e 1930, com personagens como Flash Gordon e Buck Rogers, trabalhavam com muito mais competência e consistência.

Católico ortodoxo, que rezava terços e novenas, tão "espiritualizado" que colecionava imagens de santos (matéria física, objetos de idolatria fútil) e falava com elas - até que descobriu que podia manter contato com o reacionário jesuíta padre Manuel da Nóbrega, que se rebatizou como Emmanuel - , Chico sempre foi conservador em sua fé religiosa.

Ele era tão conservador que acabou defendendo uma ideologia obscurantista e medieval que os sacerdotes da Igreja Católica defendiam na chamada "Idade das Trevas": a Teologia do Sofrimento, que se baseava na ideia de que as pessoas que sofrem deveriam aceitar suas desgraças visando obter as "bênçãos do Céu".

Isso não é acusação indevida. Chico Xavier deixou claro em suas frases: o sofredor deveria "amar" seu sofrimento e não se queixar dele, não agir para superá-lo mas servir de maneira submissa a seus algozes para que, aguentando as piores coisas da vida, fosse designado a receber os "prêmios" da "vida futura" (como os "espíritas" definem a "vida eterna" dos católicos).

CHICO XAVIER DEFENDIA O SOFRIMENTO "SEM QUEIXUMES"

Chico Xavier disse com as próprias palavras: "sofrer amando", "sofrer em silêncio", "sofrer sem demonstrar sofrimento". Isso está claro. Nem gemer de dor era recomendável, mas a oração em silêncio para não perturbar o sossego dos algozes. Tudo feito sem queixumes, sem reclamações, sem constestações de qualquer espécie, mas apenas "com fé em Deus".

Chico Xavier defendeu a ditadura militar, também com suas próprias palavras, inclusive falando mal de operários e dos camponeses. E isso numa entrevista ao Pinga-Fogo da TV Tupi, em julho de 1971, para milhares de espectadores. Chico Xavier mostrando um golpismo das vésperas de 1964, de maneira ainda piorada.

Afinal, ele pedia para que orássemos para os generais e oficiais da ditadura, porque estavam construindo um "reino de amor" para o Brasil do futuro. Sim, isso mesmo. Um "reino de amor" feito sob o banho de sangue dos presos políticos. Isso é "amor", "paz" e "solidariedade"?

O próprio "patrulhamento" dos seguidores de Chico Xavier revela esse conservadorismo. Conservando o mito de Chico Xavier, às custas do apelo que se resume na ideia cínica de "tá certo, ele errou, mas deixe pra lá", tentativa desesperada de empurrar o anti-médium para o espiritismo mais genuíno, praticamente permanecendo "ocioso", por puro "enfeite", nos ambientes de trabalho de Allan Kardec.

Esquecemos como são os seguidores de Chico Xavier. Se são esquerdistas, não possuem muita convicção e só aderem a causas pouco desafiadoras. Se são vanguardistas, chegam a um ponto em que não podem ser muito audaciosos. Se são modernos, sempre têm um momento em que se mostram, na verdade, retrógrados.

SEGUIDORES DE CHICO XAVIER ACABAM DEMONSTRANDO CONSERVADORISMO

É isso que se vê. E a maioria dos seguidores de Chico Xavier é ainda de um conservadorismo mais acentuado: se submetem à influência da Rede Globo, leem a revista Veja, são moralistas e deslumbrados religiosos, são reacionários e impõem limites para os debates sobre os problemas existentes no Brasil.

Chico Xavier era uma figura conservadora pelas raízes sociais em que se formou a sua personalidade. Interiorano nascido no tempo da República Velha, onde prevalecia resíduos de escravidão e as eleições eram decididas pelo "voto de cabresto" (o povo já recebia as cédulas prontas com o nome do candidato do "coronel" da região), Chico sempre foi um fanático católico e moralista severo.

Ele personificou aspectos de submissão pessoal, pregação moralista, e uma falta de coragem de desafiar o poder dominante e vigente. Não era a melhor pessoa para se contar no combate às desigualdades sociais. Tido como "pacifista", ele era mais passivo que pacificador, preferia manter as injustiças sociais do que derrubar os tiranos e corruptos que delas construíam seus privilégios.

Até a ideia de que Chico Xavier "rompeu" com o Catolicismo é mentirosa. Ele continuou católico fervoroso, fanático e ortodoxo, até o fim da vida, e a verdade é que apenas alguns setores da Igreja Católica se tornaram hostis a ele.

E se os "espíritas" acham natural a influência católica em Chico Xavier, a realidade mostra que ela se tornou nociva, tanto quanto o roustanguismo abertamente defendido nos primórdios da Federação "Espírita" Brasileira, porque ambos contrariavam frontalmente o pensamento e as recomendações de Allan Kardec dadas em seu tempo.

O obscurantismo científico do "espiritismo" de Chico Xavier pode não ser tão explícito no tempo das cruzadas, mas sua pregação para "não questionar as coisas" intimida o avanço do pensamento científico e, em que pese a relativa aceitação das atividades científicas pelo "movimento espírita", a mistificação mesmo assim impõe limites e lança suas mentiras, como os supostos pioneirismos científicos do "médium" e seus "amigos do além".

Pois enquanto os brasileiros acreditam que Chico Xavier antecipou em 13 ou 60 anos as descobertas científicas sobre a glândula pineal, a verdade mostra o contrário, pois nos anos 1940 assuntos que só eram atribuídos ao livro "espírita" Missionários da Luz já eram estudados décadas antes e as teses alegadas estavam presentes nas obras de autores como o alemão Wolfgang Bargmann, já naquela década.

E se enquanto os brasileiros acreditam que Chico Xavier antecipou em até 80 anos descobertas de vida em Marte, presença de água e civilizações adiantadas e construção de canais fluviais artificiais, tudo isso era fartamente discutido antes do "médium" nascer, a ponto de Percival Lowell ter estudado o assunto no século XIX e lançado uma trilogia cujo livro mais recente foi de 1908, dois anos antes do nascimento do anti-médium de Pedro Leopoldo.

No entanto, temos que ser medievais e aceitar tudo isso, em nome da fé, da paz, da bondade e da solidariedade. Somos reféns do deslumbramento religioso e é isso que prejudica o Brasil. Se Chico Xavier comprovou ter sido uma pessoa conservadora e até reacionária, seus seguidores vão adiante em tais posturas, revelando um conservadorismo que pode ser acentuado ou sutil conforme o caso, mas é de certa forma um conservadorismo. Em nome da fé, o relógio para.

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