segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

"Teologia do Sofrimento" defende gradual "limpeza social"

PARA A "TEOLOGIA DO SOFRIMENTO", VIVER ASSIM É "FELICIDADE".

Um "holocausto do bem". A definição irônica da Teologia do Sofrimento pode parecer extremamente cruel com essa ideologia religiosa, mas ela é bastante realista, na medida em que se observam suas "dóceis palavras" sobre o quanto o sofrimento é considerado "lindo" e o sofredor tenha que sofrer o que há de pior para obter as "graças do céu".

A Teologia do Sofrimento, num contexto religioso em que se fala em "união", é controversa até entre os católicos. A ideologia é própria de correntes medievais e ortodoxas, mas renegada por correntes mais progressistas. A Teologia da Libertação, que consiste num Catolicismo de esquerda, renega a ideia do "sofrimento lindo" ou do "bem sofrer" e busca meios para tirar os sofredores de seus infortúnios, até de maneira que incomode as alas mais conservadoras que dominam o Vaticano.

Fora do contexto católico, a Teologia do Sofrimento é defendida pelo "movimento espírita", de uma maneira não-assumida, e pela Cientologia, de uma forma mais complexa e engenhosa. Em ambos os casos, o verniz "científico" tenta camuflar a defesa dessa ideologia medieval e ultraconservadora.

No "espiritismo", a Teologia do Sofrimento é personificada pelo próprio Francisco Cândido Xavier, pela influência do Catolicismo ortodoxo que era a profissão de fé do "bondoso médium". Embora isso pareça uma "acusação indevida" contra o "pobre homem", ela se constata pelas frases deixadas pelo próprio anti-médium mineiro, uma lembrança para quem imagina, incauto, que os erros de Chico Xavier nunca foram de sua responsabilidade.

Chico Xavier sempre disse para as pessoas "sofrerem amando e em silêncio". Ele recomendava que os sofredores não fizessem questionamentos, queixas, contestações. Todos tinham que aguentar as piores coisas da vida, não se sabe até quando, mas visando o prêmio das "graças do Céu" e das "bênçãos da vida futura".

Tínhamos que acreditar na incerteza da vida futura como a "certeza" de benefícios que não temos certeza se realmente virão. A humanidade é golpeada por retrocessos sociais aqui e ali, e, se somos impedidos de aproveitar nossos potenciais de vida por causa de barreiras intransponíveis, não é em outra encarnação que haverá a garantia de que esses potenciais possam ser aproveitados.

Se hoje nossos ideais são bloqueados por tantos obstáculos difíceis de serem superados, amanhã poderá não haver oportunidades para esses ideais, mesmo que eles sejam liberados e banalizados. Se hoje temos pessoas que impedem nosso caminho, amanhã teremos oportunistas que usarão nosso caminho para passar a perna e tomar nossos ideais como sendo de criação deles.

A ideia do "bem sofrer" é descrita pelos católicos com um discurso pretensamente benevolente, mas muito prolixo e sem pé nem cabeça. Os defensores da Teologia do Sofrimento tentam argumentar que o sofrimento "não é defendido por Deus", e tentam convencer a opinião pública que a fé, ou seja, cruzar os braços e se apegar à devoção religiosa, poderiam "tirar" o sofredor de sua situação infeliz.

No "espiritismo", a retórica é bem mais sutil. Oficialmente, o "espiritismo" não segue a Teologia do Sofrimento e os palestrantes, feitos bobos alegres, tentam convencer as pessoas que "ninguém nasceu para sofrer". Tantos livros "espíritas" falam em "felicidade" e "propostas para a qualidade de vida", e até Divaldo Franco, sob o ditado de Joana de Angelis, lançou um livro chamado Vida Feliz.

É o habitual malabarismo discursivo dos "espíritas", e que mostram o caráter desumano que seus integrantes acabam tendo. Em uma entrevista no "auxílio fraterno", um paciente reclamava a dificuldade de atrair mulheres de sua afinidade pessoal, só atraindo aquelas com as quais ele não se identificava nem se sentia atraído. Hipócrita, o "bondoso" entrevistador pensou que o paciente era homossexual e insistiu nesse julgamento de valor, mesmo quando desmentido pelo entrevistado.

A Teologia do Sofrimento acaba, tanto através do Catolicismo, do "movimento espírita" e da Cientologia, criando um "holocausto" politicamente correto e a defesa do sofrimento como "algo lindo" não se refere aos privilegiados, porque a ideologia esconde um dado cruel de sua pregação.

Esse dado cruel consiste na ideia de que os privilegiados devem permanecer privilegiados e os sofredores devem permanecer sofredores. Quem é desgraçado, que fique nesta situação. O que as religiões fazem é apenas minimizar os efeitos nefastos e evitar as consequências fatais - ou, se não evitar, dar uma "justificação divina", como os "espíritas" fazem, atribuindo os sofrimentos pesados ao pretexto de "resgates espirituais" - com a chamada caridade paliativa.

Não se trata de lutar para superar o sistema de classes, mas cruzar os braços e apenas adotar soluções "moderadas" para resolver as coisas "sem choques". Donativos são fornecidos sem que possam transformar pobres em pessoas capazes de gerar suas próprias rendas. Sistemas educacionais são adotados sem que estimulasse nos estudantes uma postura crítica e criativa em relação ao mundo, mas apenas uma capacidade de ler, escrever e fazer algo sem ameaçar padrões do "estabelecido".

Fora essas atitudes inócuas que só resolvem parcialmente, e, podemos dizer, precariamente, os problemas humanos, a Teologia do Sofrimento católica, "espírita" e cientologista, ou de alguma crença similar, não se compromete em resolver as desigualdades humanas.

Na sua essência, a Teologia do Sofrimento defende a manutenção das desigualdades humanas, apenas evitando seus efeitos mais extremos. Se baseando na noção hierárquica do moralismo religioso, ela legitima privilégios de minorias se baseando na meritocracia e na intervenção divina. Com isso, a ideologia consiste em defender que os privilegiados e sofredores permaneçam em suas respectivas condições.

Isso pode gerar uma chamada "limpeza social", porque, ao defender a manutenção das desgraças dos sofredores, eles de uma forma ou de outra sucumbem, ainda que seja aos poucos. A caridade paliativa não resolve os problemas e, em dado momento, se torna escassa.

As pressões dos infortúnios levam pessoas a cometerem crimes ou suicídios e os obstáculos extremos levam as pessoas a serem vítimas das próprias privações, morrendo por causa da fome, do desemprego e até de conflitos diversos com outros desgraçados mais agressivos.

A força do sofrimento não contestado estimula o consumo de drogas, a prática de latrocínios, o rancor humano, daí a inutilidade dos apelos da "paz" e da "caridade", que berram por "aceitação" e "mais fé" para pessoas que, de tanto sofrer, acabam se tornando ríspidas, agressivas, apáticas, descrentes e violentas.

Não adianta, portanto, a "boa verborragia" das religiões, que com seus coraçõezinhos enfeitando textos bonitinhos, apelam para a "paz" a "solidariedade" e a fé, se deixam as pessoas morrerem ao defender que o sofrimento é "lindo" e um "caminho seguro para Deus".

A fé, na Teologia do Sofrimento, afirma que sofrer é "rota segura para bênçãos futuras". Só que, de tanto defender o sofrimento, acaba influindo, mesmo de forma indireta, nas tragédias que são mais frequentes "no lado de baixo". E mostra uma crueldade por parte de seus "bondosos" pregadores.

Desta forma, não são os pregadores da fé, que defendem a Teologia do Sofrimento, que sofrem. Eles são privilegiados, detém um status quo às avessas, através do estrelato religioso baseado no aparato de pretensa humildade. E a "bondade" deles de definir o sofrimento humano como "presente de Deus" e "caminho para a bênção", os aproxima mais dos condenadores de Jesus de Nazaré do que deste próprio.

E aí, vemos um processo sutil de "limpeza social", pois os sofredores, permanecendo na desgraça, morrerão em consequência da mesma, geralmente bem cedo e em grandes quantidades. A histeria religiosa que faz os sofredores correrem para igrejas, templos e até "centros espíritas" em busca de socorro não resolve, porque as desgraças continuam, ou talvez mudam, com a substituição de uma desgraça por outra, dando a falsa impressão de que o motivo anterior de sofrimento acabou.

Além disso, na medida em que os desgraçados morrem vítimas de seus infortúnios, os religiosos mostram mais uma crueldade. Alegres, eles apenas "lamentam" os óbitos "repentinos" e tentam "consolar" as pessoas dizendo que os desventurados da vida alcançaram o "seio de Deus", estando agora "protegidos" pela "força de Jesus". Hipocrisia e cinismo maiores que isto não há.

Afinal, isso significa um prazer oculto pelo sofrimento humano. Achar que fulano só será "feliz" se morrer, depois de aguentar tantas desgraças na vida, é uma perversidade que a doce retórica religiosa tenta em vão ocultar ou desmentir, mas deixa a nu se observarmos as coisas por trás das aparências.

E mais uma vez as pessoas têm que tomar muito cuidado com as aparências. Pois existem inúmeras formas de cometer perversidades, uma delas é se apoiar das mais belas, doces e admiráveis palavras e dos mais positivos pretextos. Convém tomarmos muito cuidado.

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