domingo, 14 de fevereiro de 2016

"Catolicização" da Doutrina Espírita não é um benefício, mas um mal

SANTUÁRIO DE FÁTIMA, EM PORTUGAL - Catolicismo português forneceu as bases ideológicas do "espiritismo" brasileiro.

A "catolicização" da Doutrina Espírita feita no Brasil é vista por determinadas correntes como um aspecto "positivo". A desculpa é que o "espiritismo" brasileiro surgiu respeitando as tradições religiosas do país e, uma vez influenciado pelo catolicismo, estaria assim mantendo harmonia com os ensinamentos cristãos.

É verdade que, numa doutrina confusa como esta, nem todos admitem essa qualidade. Mesmo alguns igrejistas entusiasmados, mas dissimuladores habilidosos, incluindo certos "cavaleiros da esperança" do "movimento espírita", ou seja, palestrantes que juram "fidelidade absoluta" a Allan Kardec, tentam disfarçar o igrejismo de toda forma.

Eles chegam mesmo a fazer comentários contra a "vaticanização do espiritismo", e juram de pés juntos que não compartilham da ideia de que "existem vários espiritismos" e só acreditam num único, o de Allan Kardec.

Representantes da postura dúbia que hoje norteia (ou desnorteia?) o "movimento espírita", os festejados oradores e escrevinhadores "espíritas" tentam dar a impressão de que professam a mais absoluta fidelidade, o mais rigoroso respeito e a mais exemplar aplicação das lições e dos ensinamentos trazidos pelo pedagogo de Lyon.

No entanto, é conhecido todo o desvirtuamento doutrinário que eles mesmos cometem, e o "respeito rigoroso" vai por água abaixo até mesmo por meio dos "conceituados" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.

Afinal, os dois, católicos apaixonados, são os que mais cometeram aberrantes deturpações em relação ao pensamento de Allan Kardec. Analisando o conteúdo dos "pensamentos" de Chico Xavier e Divaldo Franco, eles são os que mais se perdem na rota de fuga que os afasta da Doutrina Espírita.

São eles que disseminaram todo o igrejismo, agravando o que gerações anteriores do "movimento espírita" haviam feito antes da ascensão desses dois anti-médiuns. E só fizeram reafirmar a herança que o "espiritismo" brasileiro assimilou, com gosto, do Catolicismo medieval português.

Pelo menos as primeiras gerações da Federação "Espírita" Brasileira optaram pela "catolicização" por uma questão de sobrevivência, já que o contexto social da época fazia com que a polícia perseguisse os "espíritas" por ver neles uma instituição clandestina, relacionada ao curandeirismo.

A opção católica fez o "espiritismo" brasileiro adaptar muitos procedimentos da religião do Vaticano, e há muitos e muitos exemplos: a "água benta" virou "água fluidificada", o "confessionário" virou "auxílio fraterno", a ideia do "céu e inferno" virou "plano superior e umbral", e a "evangelização" foi adaptada mantendo o mesmo nome. E por aí vai.

Com o passar dos anos, porém, veio a tendência dúbia, em que o igrejismo era dissimulado pelo pedantismo "científico", e aí vemos uma série de contradições e equívocos que o "espiritismo" faz, dizendo uma coisa e fazendo outra, ou às vezes dizendo uma coisa e dizendo outra, dependendo do contexto.

Daí que há alguns que reclamam da "vaticanização espírita", mas exaltam Chico Xavier, beijam a mão até de um José de Paiva Netto - da Legião da Boa Vontade, seita "ecumênica" de base católica e simpatizante do "espiritismo" igrejista - e louvam Madre Teresa de Calcutá. A gente pergunta de que "vaticanização" eles reclamam, já que eles aderem a ela com muito gosto.

PREJUÍZO

Cheios de contradições, o "movimento espírita" que ora condena a "vaticanização", ora acha "saudável" assimilar a influência católica, alega que a "união em Cristo" motiva as atuais posturas adotadas pelos "espíritas", sendo-lhes portanto um benefício, independente de exaltar ou acobertar as sintonias com a Santa Sé.

Mas o problema é que essa postura nada tem de benéfica, pelos diversos aspectos que se nota no "movimento espírita", uma série de contradições, omissões e mesmo farsas que influem nas energias pesadas e atrapalhadas que atingem o cotidiano do "espiritismo" brasileiro e lesam as pessoas, até mesmo de maneira trágica.

A "catolicização" da Doutrina Espírita consiste num mal porque cria-se um outro Catolicismo, mais retrógrado que o original, embora feito sob a promessa de se desenvolver uma "doutrina espiritualista de vanguarda".

Isso cria um engodo que bagunça todo o pensamento sistematizado com muito sacrifício por Allan Kardec. Ele enfrentou opositores, pagou viagens do próprio bolso para realizar estudos, analisou as coisas com muito ceticismo, até obter argumentos lógicos precisos, para tudo se reduzir a um igrejismo festivo feito a partir de deturpadores brasileiros.

A desonestidade doutrinária é a erva daninha que atinge os "espíritas", que se apoiam num malabarismo discursivo e na mania de "bom mocismo" para acobertar os vários tipos de irregularidades que cometem o tempo todo, do "alto clero" da Federação "Espírita" Brasileira aos "centros espíritas" menos conceituados, mas passando também pelos astros palestrantes, por Chico Xavier, Divaldo Franco, praticamente tudo desse "movimento".

O mal de ser uma "alternativa" ao Catolicismo, prometendo ser avançada mas aproveitando o que há de retrógrado no Catolicismo, como um moralismo que o Vaticano não adota mais, absorvendo, via Chico Xavier, a Teologia do Sofrimento que não é consenso em toda a Igreja Católica de hoje e é só defendida por uma minoria de católicos.

Em resumo, a "catolicização" da Doutrina Espírita causou vários prejuízos. Um foi desvalorizar o trabalho de Allan Kardec e desprezar suas ideias científicas. Outro é a confusão doutrinária que o "espiritismo" desenvolveu, cheio de contradições e erros grosseiros. Junto a este, há outro prejuízo, dos mais graves: a desonestidade doutrinária que finge fidelidade a Kardec mas se apoia no igrejismo mais convicto.

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