domingo, 21 de fevereiro de 2016

Data-Limite das discórdias sem limite


A religião do "movimento espírita", que fala tanto em "união e solidariedade", apresenta um episódio terrível de discórdias e mal-entendidos. Pois se o "espiritismo" brasileiro alega ter "fidelidade absoluta" a Allan Kardec e comete, contra este, traições doutrinárias das mais graves, dá para perceber o quanto o arrivismo "espírita" pode mostrar atropelos diversos.

Foi lançado, recentemente, o livro Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Juliano Pozati e Rebeca Casagrande, co-produtores do documentário homônimo dirigido por Fábio Medeiros. Em 350 páginas - mas com um conteúdo correspondente a 150 e que poderia ser reduzido para menos da metade - , o livro descreve os bastidores do documentário e divaga em pregações "espíritas" diversas.

Sabemos do conteúdo do documentário e, lamentavelmente, o livro é um sucesso de vendas. Tudo por conta do prestígio de Francisco Cândido Xavier obtido por anos e anos de marketing da Federação "Espírita" Brasileira e uma ajudinha tardia da Rede Globo de Televisão, famosa pela manipulação sórdida do inconsciente coletivo.

A Globo viu em Chico Xavier um bom instrumento para hipnotizar as pessoas em prol de uma personalidade tendenciosamente associada a paradigmas conservadores de "caridade". A Globo que fez jogo sujo para eleger Fernando Collor é a mesma que transformou Chico Xavier num semi-deus.

Com Data-Limite Segundo Chico Xavier, tanto o documentário quanto o livro, Chico Xavier é promovido a um misto de pretenso cientista e o falso profeta que, certamente, seria reprovado por Jesus de Nazaré (o verdadeiro, diferente de muitos estereótipos religiosos que estão por aí e muito longe do bobalhão da Judeia descrito em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho).

Há uma construção de um Chico Xavier "cientista", com pretensões de falar sobre descobertas da Física e Química, de fatores biológicos e geológicos, de ciência política, de assuntos sociológicos, de fenômenos culturais, em muitos casos sem conhecimento de causa e apresentando erros profundos e constrangedores.

Muita gente adere, mas o surpreendente é que muita gente igualmente fanática por Chico Xavier simplesmente reprova essa abordagem. Os que não aceitam a tese da "data-limite" alegam que Chico Xavier nunca disse o que Geraldo Lemos Neto (que foi comunicado sobre as "profecias") afirmou ter recebido do "médium" e este seria "completamente incapaz" de fazer a "profecia" anunciada a partir do livro Não Será em 2012, de Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre.

Do "time" contrário ao mito do "Chico Xavier cientista" está o "médium" Ariston Teles, baiano radicado em Brasília, e aparentemente tão dedicado ao seu ídolo quanto Geraldo Lemos Neto, cada um comandando uma instituição ligada ao "médium" mineiro.

Registramos uma mensagem "psicofônica" atribuída a Chico Xavier, por Ariston Teles, que desmente toda a "profecia", e que certamente funde a cuca dos chiquistas, já que Chico Xavier havia descrito várias vezes a "reunião" que "desmentiu" na "psicofonia", e a "lógica" de Ariston é de enfatizar tão somente o "Chico Xavier religioso" ou o "Chico Xavier filantropo".

Para completar a confusão, não bastassem os dois times terem aliados "importantes" de Chico Xavier - o time de Geraldinho tem Divaldo Franco e o de Ariston, o "filho" Eurípedes Higino - é o fato de que o "filho adotivo" de Chico Xavier chegou a ser parceiro do "médium" baiano-brasiliense em um livro, mas desmente que considere suas "psicofonias" autênticas, por elas não apresentarem o tal "código secreto" (Eurípedes foi um dos três que receberam a "senha" do anti-médium).

Enfim, é tudo muito confuso. Muita contradição, muita discordância. E sendo isso partido de uma religião que tanto fala em "união", o que é muitíssimo grave. O que se vê nos "espíritas" é todo esse malabarismo de palavras fáceis e bonitas, que na prática se contradizem, se atropelam, desmentem umas às outras. E ainda se fala em "coerência espírita". Vejamos o texto da suposta psicofonia:

SUPOSTA PSICOFONIA DIFUNDIDA POR ARISTON TELES, NO "CENTRO ESPÍRITA" MONTE ALVERNE, EM BRASÍLIA, 01 DE JANEIRO DE 2015.

Ano 2015. Primeiro de janeiro. Estou em Brasília, capital do Terceiro Milênio, uma paragem de renovação política, moral e espiritual, está chegando, superadas grandes dificuldades que a população enfrentou ao longo de décadas. Entretanto, o Ano Novo 2015 continuará se arrastando pelo chão de dificuldades consideráveis. Há um passado a ser corrigido, há um compromisso a ser resgatado. 2015 ainda será um período de turbulência política, social e espiritual, no Brasil e no mundo. 

Meu nome tem sido ventilado pelos canais de comunicação moderna, principalmente onde determinadas pessoas que tiveram acesso ao meu ambiente doméstico, decidiram fazer publicamente afirmações que, a rigor, não saíram dos meus lábios. Jamais Chico Xavier teria dito que o ano 2019 é limite para o planeta. Jamais eu me prestei a este tipo de revelações. Vejamos, quando os espíritos superiores cunham aos meus ouvidos determinadas revelações, eu tinha todo o cuidado de filtrar as suas mensagens, de modo que meu trabalho como médium não trouxesse perturbação a ninguém, muito menos à comunidade.

Chegou ao meu conhecimento o que determinadas pessoas vêm publicando, dizendo que Jesus se comporta à semelhança de governantes políticos, governantes do mundo, a ponto de reunir anjos protetores da Terra e do Universo para debater - uso essa expressão, "para debater" - questões relacionadas à evolução do planeta, da Terra.

Meus filhos, espíritos da luz não debatem, não discutem, não articulam palavras à semelhança do ser humano. O que existe é um diálogo telepático, fraterno, espiritual, sutil, o que é considerado consenso entre os homens, nos planos da luz recebe outro nome: a harmonia. Ah... Então Cristo, Nosso Senhor, protetor espiritual deste planeta, não delibera assunto nenhum à semelhança do ser humano, à semelhança das convicções político-administrativas. A realidade dos planos superiores é diferente. O estatuto, a Constituição que o Cristo, ou os Cristos, respeitam, é simplesmente a Lei que comanda todos os fenômenos da vida e todos os níveis de evolução no Universo.

Nunca, sinceramente, eu disse o que está nesses textos circulando na Internet e em determinado livro. Jamais. Essas pessoas, que se dão a esse trabalho, deviam minimamente respeitar a minha ausência humana, considerar que na minha condição de desencarnado raramente eu poderia vir a público para confirmar ou negar essa ou aquela publicação. Eu sei, claramente, que o que estou afirmando por vias mediúnicas neste momento também vai sofrer a crítica mordaz de muita gente, mesmo ou principalmente no movimento espírita que ainda não se cristianizou.

O ano 2019 será a sequência natural do ano anterior, e assim sucessivamente. Fica essa consideração, demonstrando mais uma vez meu respeito à Doutrina Espírita e aos seus verdadeiros seguidores lembro mais uma vez. O ano que começa hoje, 2015, também será a sequência, o seguimento de 2014. As turbulências vão ter continuidade, em todos os setores da experiência humana. Entretanto, onde houver mais trevas, a luz da misericórdia divina estará mais presente. Onde houver muito ódio, o amor infinito de Deus vai se manifestar, em socorro especialmente aos corações que merecem uma vida melhor. Nada acontece, absolutamente, à revelia das leis divinas. 

Continuemos no plano físico e no plano espiritual. Continuemos com a luz do otimismo acesa em nossos corações, e com a atmosfera refrescante da tranquilidade em nossas consciências. A todos que me ouvem, nesta singela mensagem, ofereço meu abraço de muita paz, constante e permanente paz, sob a bênção luminosa do Nosso Senhor Jesus.

Chico Xavier (sic)

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