quarta-feira, 9 de março de 2016

Menos, menos, Divaldo Franco!

BAIRRO PAU DA LIMA, ONDE FICA A MANSÃO DO CAMINHO, EM SALVADOR, É A QUINTA REGIÃO MAIS VIOLENTA DA CAPITAL BAIANA.

No livro Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Juliano Pozati e Rebeca Casagrande, baseados no documentário sobre supostas profecias de um sonho banal de Francisco Cândido Xavier, há um trecho que divaga sobre o trabalho negativo das emissoras de TV, que veiculam a violência como forma de atrair mais audiência. A respeito disso, escreveu Juliano, um dos autores:

"A questão é que desfechos simples não trazem audiência, e se não atraem audiência não viram notícia. A televisão não vive de jornalismo ou da produção de novelas. A produção de conteúdo não é um fim para a TV, mas um meio. A verdadeira finalidade da televisão é o comércio da audiência. (...) A TV vende a atenção de pessoas como eu e você. Logo é preciso, infelizmente, dar ao povo o que o povo quer: espetáculos, segundo a boa e velha política do 'pão e circo'".

Juliano havia conversado isso a respeito com Divaldo Franco, o anti-médium baiano que foi um dos entrevistados no documentário, e constataram que atrações relacionadas a história e obra social só aparecem em no máximo 5% da programação televisiva.

Certo, questiona-se a mídia e seu voraz desempenho de lucrar com a curiosidade alheia, embora sabemos que "aquilo que o povo quer" é condicionado pela baixa escolaridade causada pelo descaso político e pelo complexo de superioridade que a própria grande mídia tem como formadora de opiniões e gostos populares.

E aí vem a declaração de Divaldo Franco, que mais do que Chico Xavier tenta se passar por "espírita autêntico", confundindo regras de etiqueta, bom vestuário e postura professoral com "respeito rigoroso ao pensamento kardeciano", tenta trazer otimismo com seu igrejismo verborrágico:

"Numa passagem imediata, temos a impressão de que tudo está ruim (...) porque infelizmente ainda damos preferência para este noticiário. Mas ao mesmo tempo está em nossas mãos escrever o nosso destino. (...) Nunca houve tanto amor na Terra como hoje! Jamais houve tanta dedicação do bem, tanto interesse pela ordem e pelo progresso. Em que época da humanidade nós, criaturas, nos interessamos pelo ecossistema? Pelo respeito à Terra, à vida? Pela preservação das espécies vegetais, animais e principalmente do ser humano?".

Menos, menos, Divaldo Franco! Além do mais, o tão festejado "sábio" desconhece que, nas tribos indígenas da América e nas tribos negras da África, há povos marcados pelo respeito à vida animal, vegetal e humana. Havia desejos de progresso na Antiguidade clássica, pessoas cujo questionamento, que não chegava aos papiros da época, se perdeu nas conversas cotidianas.

Além do mais, o que dizer da sofisticadíssima arquitetura das grandes construções, de belas pirâmides e outros edifícios, com uma complexidade misteriosa até para os padrões de hoje? Os livros que explicariam tudo isso se perderam em incêndios na biblioteca de Alexandria, no Egito.

Quanto ao "amor na Terra", devemos lembrar que Divaldo Franco festejou demais sua "bondade" que não foi tão expressiva assim. Ao lado das elites políticas e dos aristocratas - Divaldo tem o mesmo apetite de circular ao lado de poderosos quanto Madre Teresa de Calcutá -  Divaldo festejava há um ano os 63 anos da Mansão do Caminho, tida como "transformadora".

A alegação é que a Mansão do Caminho, localizado no bairro de Pau da Lima, em Salvador, havia atendido desde a sua fundação em 1952, um total de 160 mil pessoas. O número parece grande e o dado, heroico, atribuindo a Divaldo Franco o status de um dos "maiores filantropos do mundo".

Mas nós fizemos um cálculo, relacionando o número de beneficiados pela Mansão do Caminho, os anos de existência até 2015 e a população de Salvador. O cálculo foi feito por critérios matemáticos e lógicos, para ver a dimensão da "caridade".

Primeiro, usamos o número de beneficiados da Mansão do Caminho para dividir com o número de anos da entidade. Ou seja dividimos 160.000 por 63. Como 160.000 não é múltiplo de 63, o resultado deu num número de algarismos infinitos, que por aproximação correspondem a 2.540.

Em seguida, usamos o número 2.540 e o confrontamos com o da população de Salvador. Segundo o censo de 2010, dá em torno de 2,9 milhões. Como o êxodo rural escapa muitas vezes dos dados censitários, arrendondamos o dado populacional para 3 milhões e aí usamos este número para fazer o cálculo.

Usamos, então, a prova dos nove. 3.000.000 vira 100% e calculamos para descobrir a porcentagem de 2.540, a média anual de beneficiados da Mansão do Caminho. Criamos então um paralelo: 3.000.000 para 100 e 2.540 para x. Calculando em diagonais, multiplicamos 3.000.000 por x e 2.540 por 100.

A fórmula dá 3.000.000x = 254.000. Com isso, dividimos 254.000 por 3.000.000. Deu 0,08%, a porcentagem de beneficiados por ano da Mansão do Caminho em relação à população de Salvador. Bem abaixo de 1%.

Em dimensões mundiais, o dado, que já é medíocre no contexto da capital baiana, torna-se deploravelmente inexpressivo em dimensões nacionais e mundiais, fazendo com que o índice de beneficiados da "revolucionária filantropia" de Divaldo Franco esteja em torno de 0%.

Outro dado a ressaltar é que Pau da Lima é uma região de Salvador que, segundo a Secretaria de Segurança Pública de Salvador, com base em dados colhidos entre janeiro e novembro de 2010, ocupa o quinto lugar no ranking da violência municipal, tendo sido registrados 134 homicídios no período pesquisado (e isso baseado apenas no que a polícia registra ou divulga).

Se a "caridade transformadora" que faz Divaldo Franco ser "um dos maiores líderes humanitários do planeta" realmente tivesse resultado - e nem falamos no insosso projeto educacional e profissional que apenas ensina a ler, escrever, trabalhar, fazer contas mas tem o preço do moralismo igrejista do "espiritismo" - , Pau da Lima não teria sido um dos bairros mais violentos de Salvador.

Portanto, de que "amor" que Divaldo Franco está falando, num mundo explosivo como o nosso, não dá para perceber. Mas ele mesmo havia garantido que a Terra passaria por "transformações" em 2010 e 2012, e fica marcando datas fixas, como se o "espiritismo" fosse o quadro RJ Móvel do RJ TV, sempre adiando quando o resultado no prazo final não for o esperado.

E aí temos 2019, 2052, 2057, tantos prazos para a entrada numa "era de regeneração" que nunca vem. Tudo para criar um deslumbramento igrejista, e criar um desfile de "palavras de amor" para religiosos que no fundo vivem sempre sem amor.

A falta de amor próprio e de amor ao próximo é a doença dos "espíritas", que precisam de exemplos externos e materializados de "bondade", mesmo que sejam apenas estereótipos. E aí vão felizes postar frases de Chico Xavier e Divaldo Franco nas mídias sociais, mas depois vão para a rua e boicotam, com desprezo mordaz, pessoas que não fazem parte de sua "panelinha" social.

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