terça-feira, 5 de abril de 2016

A cruel visão da "superação" pelo "espiritismo"


Para o "movimento espírita", o que é uma "linda história de superação"? É aquela em que a pessoa supera dificuldades e obtém algum benefício, certo? Errado. O que se observa, em verdade, é que a "superação" consiste nas pessoas aguentarem qualquer cilada e sobreviverem quase ilesas às piores desgraças.

Tudo parece admirável, quando narrado. É a pobre trabalhadora que é tratada de maneira tirânica por sua patroa. É o pobre coitado que vê portas demais fechadas no seu caminho e só existe um ralo de banheiro como possível saída.

Mas o que parece ser um confortável regojizo em ver pessoas superando dificuldades, na verdade, esconde um sentimento perverso em ver que as pessoas comuns só podem obter algum benefício se passarem por algum sofrimento.

Cria-se uma novela da vida real feita para o entretenimento dos religiosos deslumbrados. Algo parecido com o conto da Cinderela. Sempre tem que haver um vilão que manda demais no mocinho ou mocinha e ela, pacientemente aguentando coisas piores, encontra a bonança depois, tardiamente, quase tendo tudo a perder com tanto sofrimento.

O que parece uma demonstração de belos sentimentos de solidariedade e esperança é um sentimento ao mesmo tempo egoísta e desumano. E a vaidade religiosa, travestida de humildade e otimismo, se revela muito perniciosa e traiçoeira, diante desse marketing da superação.

As palestras "espíritas" sempre precisam ter em mãos dramalhões como esses para impressionar plateias. A emotividade "sadia", os aparentes sentimentos de "amor", "bondade" e "compaixão", são espetáculos de entretenimento e recreio, em que o sofrimento do outro serve para a diversão emotiva dos que ouvem esta história de "esperança e superação".

É certo que pessoas encontram "pedras" no caminho. De vez em quando temos patrões prepotentes, pessoas estúpidas, desgraças pesadas, mas transformar isso em propaganda para a superação humana torna-se uma das coisas mais cruéis que se pode haver contra um indivíduo.

Tudo fica sendo um recreio e o sofrimento do outro serve ao prazer de religiosos sádicos. Todos parecem "aliviados" quando alguém supera as desgraças e obtém um benefício, e isso parece inocentar suas neuroses secretas. Mas foi preciso o sofredor não sucumbir para evitar que a plateia seja desmascarada com seu sadismo.

É preciso um espetáculo, no qual sofredor e algoz desempenhem seus papéis no drama real. O sofredor enfrenta desgraças pesadas, encontra um algoz no caminho, mas em dado momento surge alguma ajuda e o sofredor obtém uma graça, uma bênção. E tudo fica fácil quando narrado, as pessoas se "comovem" e "aplaudem" o belo exemplo da pessoa que superou os infortúnios.

Isso é o que se vê no "espiritismo", embora haja em outras religiões. E mostra bem esse caráter cruel, perverso. A pessoa não sofre pelos imprevistos do caminho, mas porque "precisa sofrer", e com isso ela precisa superar todas as desgraças e sair ilesa ara obter o aplauso da plateia.

A perversidade é extrema, porque a vida real se reduz a um teatrinho para causar êxtase nas plateias religiosas. E mais cruel ainda é que o sofredor precisa vencer as desgraças, para assim ser visto como herói, pois, se sucumbir, será um fracote a cair pela "falta de fé". A maldade está na obrigatoridade do sofredor superar uma desgraça, mesmo sem ter condições para isso.

Depois os "espíritas" ficam acusando os desafortunados de terem sido algozes romanos. E logo eles, os "espíritas", que buscam "exemplos de superação" com o mesmo apetite com que plateias romanas torciam para gladiadores vencerem suas batalhas e matarem seus leões famintos nas antigas arenas do Império Romano.

Daí não ser muito confiável que pessoas falem com "muito fascínio" de "exemplos de superação". Isso não obstante pode esconder a terrível perversidade de querer ao mesmo tempo que uma pessoa sofra as piores desgraças e depois tenha que sair ilesa para garantir o sucesso do drama. O sofredor que se vire para superar uma desgraça e ser considerado "admirável". Senão, é mais um fracote que queda sob o esquecimento de todos.

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