segunda-feira, 30 de maio de 2016

A complacência com o escândalo


O Brasil está sendo bombardeado por denúncias de escândalos envolvendo o governo interino do presidente Michel Temer e as diversas forças políticas, sociais e midiáticas que o apoiam. Gravações divulgadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, divulgaram vários desses incidentes.

Em resumo, os incidentes mostram que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff nunca passou de um ato negociado por políticos suspeitos de participação do esquema de corrupção e que viam na medida do impedimento político da chefe do Executivo federal e sua substituição pelo vice, já convertido no traidor da antiga titular, uma forma de barrar o avanço da Operação Lava-Jato.

Os escândalos mostram que houve uma articulação entre a grande imprensa, os movimentos juvenis e políticos da oposição conservadora ao PT que investiram dinheiro para a campanha do impeachment. Consta-se que o dinheiro que acusam faltar no Brasil por causa da crise é a grana que eles roubaram para si, sobretudo nos últimos três anos.

Rede Globo, Folha de São Paulo, PSDB, PMDB e Movimento Brasil Livre foram algumas das pessoas jurídicas citadas nas gravações entre os negociadores da expulsão de Dilma Rousseff visando proteger os corruptos mais perigosos. Aécio Neves, Eduardo Cunha, Otávio Frias Filho, Gabriel Chalita, José Serra e o próprio Michel Temer foram as pessoas físicas citadas.

Tudo escândalo atrás de escândalo. O PMDB de Michel Temer e Eduardo Cunha e o PSDB de José Serra e Aécio Neves financiando panfletos e pagando caravanas e passeatas anti-Dilma. Temer negociando cobertura jornalística na Rede Globo. Políticos indiciados pela Lava-Jato negociando formas de forçar a queda de Dilma Rousseff.

Vários envolvidos em corrupção foram designados ministros do governo Michel Temer para obterem foro privilegiado e serem poupados de investigações. Dilma Rousseff foi expulsa em função de votações de deputados e senadores envolvidos em crimes que vão de extração irregular de madeira das árvores até assassinato.

E O "ESPIRITISMO" BRASILEIRO?

A porção de escândalos é uma consequência da complacência das pessoas que, em nome do status quo, aceita que seus ídolos cometam escândalos gravíssimos e vergonhosos. sem perceber a gravidade desses atos.

A aceitação de um governo que, em menos de duas semanas, revela uma sucessão de grandes gafes e escândalos e cuja trajetória causa espanto nos jornalistas estrangeiros, que não praticam o panfletarismo irresponsável que se observa em veículos como a Rede Globo e a revista Veja, mostra o clima viciado que reina na sociedade brasileira.

O tratamento desigual que se dá a pessoas diferentes que fazem a mesma coisa, como um jovem pobre que furta uma bolsa, tratado com mais crueldade pela polícia do que um político que desvia para sua conta particular o dinheiro público que seria para uma escola, motiva essa complacência.

Quando o status quo protege encrenqueiros, que estão associados a estereótipos de valor tecnocrático, político, midiático, empresarial e religioso, as pessoas aceitam que determinados indivíduos cometam gafes preocupantes, crimes perversos, a mais pérfida corrupção e outros delitos graves.

Desde que tais delitos graves não afetem a imagem "admirável" que tais pessoas inspiram a esses setores complacentes da sociedade, até a impunidade é socialmente aceita, com Michel Temer seguindo "normalmente" o seu mandato num país em que um Guilherme de Pádua que matou uma atriz atrai seguidores em sua conta no Instagram.

No "espiritismo", a memória curta escondeu as irregularidades gravíssimas e os escândalos preocupantes que poderiam ter derrubado Francisco Cândido Xavier, mas não impediram os processos de transformá-lo no semi-deus que seus fanáticos seguidores querem que ele continue sendo.

Os fatos mostram que Chico Xavier cometeu vergonhosos plágios e pastiches literários, pregou um igrejismo retrógrado sob o verniz de "doutrina espírita" e fazia juízos de valor que contradiziam seus apelos para que "ninguém julgasse quem quer que fosse".

Chico Xavier foi um corrupto (praticar plágios e pastiches literários e atribuir autoria de mortos é um ato desonesto e, portanto, uma corrupção) que as conveniências políticas, empresariais e religiosas, com uma ajudinha da mídia (TV Tupi e Rede Globo), fizeram transformá-lo, tendenciosamente, num "simbolo máximo de amor e de bondade".

Até mesmo a "caridade" de Chico Xavier é muito, muito duvidosa. Primeiro, porque seus projetos assistenciais eram paliativos e nunca ajudaram de maneira ampla, profunda e definitiva as pessoas. Eram aquela "bondade" feita dentro dos clichês moralistas e paternalistas da religião, que "ajudam", mas de maneira limitada sem afetar o sistema de privilégios vigente.

Segundo, porque Chico teve também posturas ideológicas muitíssimo estranhas. Defendeu explicitamente a ditadura militar, já em sua cruel fase, num programa de televisão. Acusou vítimas do incêndio em um circo de Niterói de terem sido, em outras vidas, romanos sanguinários. Ficou irritado quando amigos de Jair Presente reclamavam de irregularidades nas supostas mensagens espirituais e definiu o ceticismo destes jovens de "bobagem da grossa".

Depois vem palestrante "espírita" em seu blogue falar em livros novos sobre Chico Xavier com as capas desses volumes aparecendo diante do céu azul, como se as obras tivessem sido escritas sob encomenda do "Alto". Puramente ridícula essa propaganda a respeito de Chico Xavier, em que se investem no aparato das "palavras de amor", "estórias lindas" e coisa parecida.

Retomando o tema dos escândalos, Chico Xavier passou por escândalos graves, muitos deles de sua direta responsabilidade, por se atrever a fazer pastiches literários sob o pretexto de serem "psicografias". É culpa de Chico Xavier, sim, de criar confusões e causar tanta indignação e revolta de pessoas que só queriam coerência e transparência e foram levianamente xingadas de "cruéis" só porque o fraudador era um ídolo religioso.

Chico Xavier ludibriou os brasileiros já leigos em literatura e, incapazes de ver diferença entre Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade, se revelaram menos capazes de perceber a diferença entre um fluente Humberto de Campos registrado em vida e um suposto "espírito Humberto de Campos" de escrita pesada, cansativa e deprimente.

Chico Xavier dividiu famílias quando divulgava mensagens atribuídas aos parentes mortos que claramente não tinham a ver com o estilo de escrita dos falecidos. Fazia pais brigarem com mães, primos com irmãos, filhos com pais, sogros com genros ou noras, porque uns se comoveram com o tom "amoroso" das mensagens e não conseguiam ver a irregularidade das mesmas, entorpecidos pela sedução das "palavras de amor".

Chico Xavier aprontou muito e de forma feia e irresponsável. E saiu impune dessa, sendo o exemplo máximo da impunidade social que volta e meia transforma estelionatários e assassinos de grande status sócio-econômico em "pessoas legais". Chico fez fraudes, pastiches e outras coisas retrógradas e tornou-se endeusado na posteridade. Divaldo Franco também fez das suas e segue o mesmo caminho para a divinização póstuma no futuro.

Daí que essas pessoas acabam merecendo o governo irregular de Michel Temer, que traz um projeto retrógrado para o Brasil e conta com uma equipe cheia de corruptos e incompetentes. Até parece que Michel Temer se inspirou em Chico Xavier para fazer o seu governo.

Ou talvez Aécio Neves e Eduardo Cunha (um forneceu a Temer as propostas eleitorais do PSDB de 2014 e outro, as "pautas-bombas" que propôs na Câmara dos Deputados) é que possam ter se inspirado no "bondoso médium" para criar esses programas de governo que praticamente farão o Brasil se atolar na Teologia do Sofrimento, ideologia tão defendida (mas de forma não-assumida) pelo "médium" mineiro.

Daí o preço dos brasileiros em usar o status quo político, econômico, empresarial, tecnocrático e, sobretudo, religioso, para acobertar escândalos e legitimar pessoas que não merecem legitimidade alguma. O progresso social fica para depois. Primeiro, os prejuízos, depois, nunca se sabe.

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