quinta-feira, 12 de maio de 2016

As diferenças entre o Método Paulo Freire e o método da Mansão do Caminho


Diante de uma moral estranha, que contamina até algumas pessoas que se consideram "progressistas", de que a "melhor caridade " é aquela feita sob o signo da religião, pouco importando se o resultado obtido é inócuo e precário, comparamos aqui dois projetos educacionais.

Um deles é o Método Paulo Freire, do famoso pedagogo pernambucano, que havia sido implantado entre 1961 e 1964 e foi abortado pela ditadura militar. Era um projeto de alfabetização para adultos que manteve seu princípio laico, mesmo quando a serviço de instituições católicas ligadas à Teologia da Libertação.

Outro é o projeto educacional da Mansão do Caminho, que faz a fama do seu idealizador, o "médium" baiano Divaldo Franco, tido como "o maior filantropo do Brasil" por conta da simbologia religiosa a que está associado, sendo um "espírita" influenciado por valores conservadores da Igreja Católica.

É espantoso que uma boa parcela de brasileiros dê preferência ao projeto de Divaldo Franco e o defina como "revolucionário". Nem mesmo o inócuo resultado de 0,00012% de beneficiados anuais em relação à população do Brasil tira o título de "maior filantropo do Brasil", já que a roupagem religiosa garante tudo, tal a mitologia associada a ritos e dogmas vinculados à fé.

Alguns setores chegam a definir, com os equívocos próprios do reacionarismo ideológico, o Método Paulo Freire como "fábrica de ideologias", "laboratório de guerrilheiros". Enquanto isso, o inócuo método da Mansão do Caminho, que envolve manipulação religiosa - ensina-se, por exemplo, a bobagem das "crianças-índigo" e a imagem antropomorfizada de Deus, defendidas por Divaldo - é tido como "transformador" apenas porque está de acordo com a moral religiosa.

A título de comparação, citemos algumas situações e mostramos a tendência de cada projeto em encarar cada problemática descrita abaixo, para que o leitor verifique qual o projeto que realmente é transformador, se o "menos ruim" da caridade religiosa é melhor do que o "bem melhor" da caridade laica. Vamos lá:

COMPREENSÃO DO MUNDO EM VOLTA

Método Paulo Freire: Compreensão de forma crítica e questionadora. Observação contestatória dos problemas cotidianos, desenvolvimento de uma visão analítica capaz de verificar os detalhes desses problemas, seus aspectos mais prejudiciais e a identificação das formas de romper com as dificuldades que dão origem a esses problemas.

Método Mansão do Caminho: Embora não se veja os problemas cotidianos como positivos, a ideia não é analisá-los de forma crítica e questionadora, mas a aceitação das dificuldades. A ideia é buscar somente o esforço individual para sobreviver a essas dificuldades, condicionando o benefício pessoal aos limites de uma sociedade injusta encarada com resignação.

EXPLORAÇÃO DO SER HUMANO PELA OPRESSÃO DOS DETENTORES DE PODER

Método Paulo Freire: Compreensão do perfil do opressor, da pessoa detentora de algum privilégio de poder que realiza algum abuso desumano contra seu subordinado. Denúncia dessa opressão e de seu praticante, e busca de apoio de outras pessoas para combater a opressão e punir o opressor, mesmo quando há algum risco de represália.

Método Mansão do Caminho: Embora se admita usar as garantias da lei para limitar e punir as ações de um opressor, a ideia não é mobilizar para combatê-la de maneira firme e enérgica, mas antes orar para o opressor "ter condições" de "pensar no outro". Aceita-se a opressão na medida do possível, só reagindo quando ela vai longe demais nos seus efeitos.

MANEIRA DE DESENVOLVER A SOLIDARIEDADE

Método Paulo Freire: Ensinando, através de um programa de ensino de palavras e fonemas, expressões vividas pelo cotidiano de cada comunidade, e, transmitindo, com isso, os problemas cotidianos, estimula-se o senso crítico e o estímulo à ação social que faz as pessoas se mobilizarem para lutarem por melhorias de vida e combater de forma enérgica a opressão e a injustiça.

Método Mansão do Caminho: A solidariedade é feita sem que se faça uma contestação profunda do meio em que se vive, apenas criando ações paliativas, dentro dos padrões religiosos de caridade, de diminuir apenas os efeitos extremos das injustiças sociais, sem que no entanto se lute para afetar o sistema de privilégios e desigualdades existente, pelo menos de maneira profunda e enérgica.

MOBILIZAÇÃO

Método Paulo Freire: Diante do ensinamento combativo da mobilização social - combativo no sentido de enfrentamento dos abusos de poder existentes, que não pode ser entendido erroneamente como "guerrilha" ou "terrorismo" - , busca-se estimular a ação ampla e enérgica, de forma a obter conquistas sociais impondo limites drásticos aos privilégios dos detentores do poder.

Método Mansão do Caminho: A mobilização é apenas assistencialista. Não é feita uma luta para limitar os privilégios dos detentores do poder, até porque eles podem "ajudar" na "superação da miséria". Busca-se apenas uma mobilização dentro dos limites religiosos e até por vias legais e institucionais, mas sem romper com o sistema de privilégios existente, apenas buscando a melhor sobrevivência dentro de seus limites.

PERSPECTIVA DE VIDA

Método Paulo Freire: Buscar a melhoria na qualidade de vida, numa sociedade sem classes.

Método Mansão do Caminho: Sobreviver da melhor forma possível, dentro do limite de uma sociedade de classes.

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