quinta-feira, 26 de maio de 2016

O governo de Michel Temer e a histeria das zonas de conforto


Não é segredo algum que o Brasil é um país bastante conservador. A histeria de uma boa parcela da sociedade em querer a saída, "na marra" e sem um motivo preciso e consistente, da presidenta Dilma Rousseff do poder, revela esse reacionarismo que se esconde até em pessoas que parecem modernas, como se observa nas mídias sociais na Internet.

A revolta das zonas de conforto das pessoas com algum privilégio, por menor que seja, permitiu que o insosso Michel Temer tomasse posse como presidente interino, embora com fome, mas sem qualquer apetite, de concluir o mandato em 2018 como efetivo.

Temer mostrou um ministério e um projeto político comparáveis ao dos tempos da "distenção" do governo do general Ernesto Geisel, já que foi um retrocesso em relação aos vários avanços ocorridos desde que o também general João Baptista Figueiredo preparava o caminho para a redemocratização.

Usando como pretexto a recuperação econômica, o governo Michel Temer cometeu diversos retrocessos sociais. Diante da repercussão negativa de muitas medidas, ele tenta reparar alguns males extremos, como dotar a equipe ministerial só de homens, mas dando às mulheres a solução paliativa dos cargos do segundo escalão. Mas não é a mesma coisa.

Nas mídias sociais, nota-se a histeria anti-petista que vê marxismo em tudo, vindo de direitistas que nunca leram os livros de Karl Marx. As pessoas são tomadas da mania de julgar o mundo de acordo com suas convicções pessoais, com argumentos "racionais", como se o cérebro estivesse sempre a serviço do umbigo.

E isso não é um hábito exclusivo da direita, embora lhe fosse o mais típico. A ideia de ver o "funk" como "progressista" é um vício de setores da esquerda. Direita e esquerda também erram, no plano religioso, ao ver a ideia de "bondade" como um subproduto da fé religiosa.

Hoje as zonas de conforto estão em risco, como um edifício que apresenta rachaduras, anunciando um desabamento futuro. As pessoas procuram acreditar no "balança mas não cai" dos seus valores retrógrados que nunca desaparecem, das convicções pessoais equivocadas que nunca se desqualificam e sempre encontram meios de apresentar justificativas "racionais" aqui e ali.

Relações hierárquicas, medidas paliativas, privilégios sociais acomodados, tudo isso está em risco e, em parte, está protegido pelo conservadorismo político do impopular Temer. Há um desespero das pessoas em se apegarem a uma rotina "perfeitamente imperfeita" vigente nos últimos 40 anos, mesmo com o perecimento avançado de muitos paradigmas.

Só que a crise tende a aumentar, o que se comprova com os protestos que Michel Temer está sofrendo do povo brasileiro e a repercussão negativa que seu governo tem no exterior. O pânico de muitos brasileiros, os que pensam o mundo com seus umbigos, em ver o exterior contestando o que suas zonas de conforto definem como sagrado, é evidente.

E isso é assustador, porque a paranoia está transformando a imprensa antes especializada em alguma coisa num antro de reacionários cometendo gafes e transmitindo desinformação. Está transformando os internautas em pessoas convictas de sua burrice, que tentam proteger com argumentos falsamente inteligentes.

Essa crise se acentuará, o que, em 2019, irá derrubar de vez a tese do "coração do mundo" dita por Francisco Cândido Xavier, ele mesmo uma expressão das zonas de conforto de seus seguidores. Ele, Chico Xavier, o símbolo desse apego passadista a uma "república velha" parcialmente democrática, mas sempre garantidora de privilégios de poder e da prevalência de paradigmas retrógrados que só atendem a interesses imediatistas de uns poucos.

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