domingo, 17 de julho de 2016

A grande imprensa brasileira de um Brasil em ruínas

REINALDO AZEVEDO E MERVAL PEREIRA - Jornalistas que, por suas convicções pessoais, são capazes de expressar desequilíbrio emocional.

Um alerta para as pessoas que veem Rede Globo e Globo News tranquilamente, compram Folha de São Paulo, Veja, Época e Isto É acreditando que se servem do melhor jornalismo, que recebem uma visão transparente e objetiva do mundo.

A chamada grande imprensa, ou, num âmbito geral, a grande mídia, sofre uma crise avassaladora. Uma decadência que põe o jornalismo trabalhado por elas em ruínas, e, salvo exceções que cada vez mais se tornam raras, a grande imprensa comercial simplesmente rompeu com os princípios de ética, objetividade e profissionalismo que antes fizeram o nome do jornalismo.

Há denúncias de várias pessoas de que jornalistas da revista Veja e do canal de TV noticioso Globo News já sofrem desequilíbrio emocional. Aqui temos que chamar atenção de uma diferença entre o direito de um jornalista se emocionar, quando a situação é realmente comovente, e um jornalista perder a cabeça porque os fatos não ocorrem em seu agrado.

Quando Romero Jucá, então ministro do Planejamento do desastrado governo Michel Temer, foi denunciado por uma gravação de meses atrás feita pelo aliado e ex-presidente da Transpetro (subsidiária da Petrobras), Sérgio Machado, o comentarista do canal Globo News, Merval Pereira, se demonstrava visivelmente irritado.

Mas isso é fichinha se observarmos que, nas páginas de Veja, nomes como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi escreviam com fúria, consagrando o chamado "ódiojornalismo" que vem de carona na partidarização da grande imprensa comercial, cada vez mais solidária ao PSDB e derivados e cada vez mais hostil ao Partido dos Trabalhadores.

A grande imprensa, no conjunto da obra, decaiu de forma humilhante e vergonhosa. Contratou profissionais cada vez menos competentes, a princípio em nome de interesses comerciais em prol de um jornalismo que "não conteste demais" e seja feito "para agradar o leitor". Só que isso virou um eufemismo para um jornalismo asséptico, sem gosto, sem cara, conservador, acomodado, fútil e até muito mal escrito e desinformado.

Noticiários qualquer nota sobre a mesmice cotidiana, sem um pingo de bons textos, boas informações, nenhum quesitonamento reflexivo. Tão mal escritos e desinformados que nem mesmo informações transmitidas por um mesmo periódico podem ser cruzadas.

Segundo uma mensagem de um internauta que recebemos, um jornal de Niterói, O Fluminense, tão preocupado em desenvolver um jornalismo asséptico, não conseguiu estabelecer a relação díspare entre um prefeito, Rodrigo Neves, recebendo um prêmio de "empreendedor", e o espantoso fechamento de estabelecimentos comerciais na cidade fluminense. Nem para chamar diferentes repórteres para juntarem as informações foi feito.

O jornalismo investigativo, pelo menos o que se pratica na chamada grande imprensa, é uma prática em extinção, de tal forma que um dos principais jornalistas investigativos que trabalha para a grande mídia atuantes no Brasil é o correspondente Glenn Greenwald, jornalista e advogado inglês radicado no Brasil.

Jornalista que revelou as informações secretas de Edward Snowden, a respeito dos bastidores da CIA, Greenwald também denunciou o processo irregular que se deu da votação na Câmara dos Deputados ao decorrer do governo Michel Temer, com muitos corruptos envolvidos na campanha pela derrubada do PT com sua saída do Governo Federal.

A grande imprensa é culpada pelo cenário político caótico que se vive. Ela foi capaz de publicar mentiras e tratar boatos contra petistas como se fossem "verdades indiscutíveis". Recentemente, comemoraram a prisão de um ex-ministro dos governos petistas, Paulo Bernardo. Tudo por conta de acusações mal-formuladas.

Dilma Rousseff foi afastada do poder acusada de operações financeiras que são consideradas normais no meio político. Em compensação, há muito mais provas de corrupção contra Aécio Neves, acusado de envolvimento tanto com o Mensalão quanto a Lava-Jato, fora outros escândalos (como desvio de dinheiro público para sustentar aeroportos particulares e uma emissora FM do interior), e a imprensa coloca essas sujeiras debaixo do tapete, protegendo o senador mineiro do PSDB.

O Brasil está desgovernado por culpa das pregações ideológicas da grande imprensa, que sempre desejou um projeto político retrógrado, que mais favoreça as elites e o empresariado. A decadência vergonhosa das elites, representada em âmbito geral pelo declínio vertiginoso e de níveis catastróficos do Sul e Sudeste, sobretudo Rio de Janeiro, mostra o quanto os "de cima" estão vendo o topo da pirâmide ruir como um precipício se rachando sobre o abismo.

O Estado do Rio de Janeiro sofre violência e sucumbiu a decadências em todos os aspectos. Algo que já não pode ser mais escondido, pois é uma decadência que coloca o Estado aos níveis abaixo das unidades federativas mais provincianas. Perto do que está o Estado do Rio de Janeiro hoje, o Acre parece a Suíça.

Mas outros Estados, como São Paulo e Paraná, mas sem esquecer Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, a decadência é alarmante, e acima dos índices considerados esperados pela chamada "complexidade da vida moderna".

A Minas Gerais de uma tragédia ambiental preocupante, causada pelo descaso empresarial, que fez estourar uma barragem situada em Mariana e despejou o lodo contaminado por um longo caminho até o mar, passando pelo Espírito Santo e atingindo várias cidades, além de ter causado várias mortes, é a terra natal de Aécio Neves, que está ameaçado de ser enquadrado em um dos piores escândalos a ser denunciado pelo publicitário Marcos Valério, que admite fazer em breve delação premiada.

São Paulo viveu a contradição de, sofrendo enchentes em sucessivos dias chuvosos, ter que conviver com a falta d'água meses depois. A capital paulista perdeu a batalha entre o provincianismo e o cosmpolitismo e a maior capital da América Latina sofreu sua queda quando se reduziu a um quintal privativo de chefões de mídia, empresários do entretenimento brega e políticos tucanos.

O Paraná, que antes tinha em Curitiba um modelo virtual de cidade moderna, como se fosse uma "Estocolmo dos trópicos", também decai e não só por ser reduto dos golpistas que queriam derrubar Dilma Rousseff, através dos juristas comprados pelo tucanato e pelo poder midiático, como Sérgio Moro (que é duro demais para combater petistas, mas hesitante até para investigar tucanos e aliados), mas pela crise social que sofre no âmbito local.

É um reduto de degradação cultural - a mediocridade cultural puxada pela dupla Chitãozinho & Xororó e pelo apresentador Carlos "Ratinho" Massa, é notória - , da imprensa (a CBN é um claro exemplo disso), temperada pelo episódio da perseguição de juristas contra jornalistas independentes que denunciaram os salários exorbitantes do Judiciário local, e em suas "modernas" cidades já ocorrem assassinatos à luz do dia, assustando a população.

É em Curitiba que está ocorrendo o esgotamento definitivo e irreversível de um modelo de transporte coletivo lançado, no auge da ditadura militar, por Jaime Lerner. Um modelo cujas medidas de pintura padronizada nos ônibus, dupla função de motorista-cobrador e redução de percursos para forçar a baldeação usando o Bilhete Único, se revelam definitivamente obsoletas e prejudiciais.

Mas tudo isso é reflexo de uma crise de valores generalizada que tem na grande imprensa seu quadro mais dramático, uma imprensa decadente de um Brasil em ruínas. Pois as pessoas são desafiadas pelas circunstâncias em admitir a crise em que vivem, e hoje o sobressalto da chamada "boa sociedade" é tanto que ela se recusa a admitir essa crise.

Essas pessoas "de bem com a vida" preferem viver isoladas nas redes sociais - o WhatsApp se revela até mais decadente que o Facebook e o antigo Orkut, já notórios redutos de brasileiros reacionários e desinformados - e aceitar essas crises como "algo normal". Acham que a coleção de escândalos do governo Michel Temer é "natural" e ainda apelam para o bordão hipócrita "Quem Nunca Erra?" que só serve para fazer apologia aos erros graves cometidos por gente privilegiada.

E assim as pessoas têm que conviver com a decadência, com as gafes, com os transtornos, com as tragédias, e não há como ver normalidade nisso. Sobretudo diante de uma imprensa que cada vez informa menos, reduzida a meros panfletos das elites empresariais e porta-voz de causas e propostas cada vez mais anti-democráticas. Será que as pessoas estão esperando haver um holocausto para se mexerem?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.