segunda-feira, 11 de julho de 2016

Hierarquias em queda


Os fatos que acontecem no Brasil nos últimos anos são reflexo de um desgaste de um sistema de valores que alguns agentes sociais tentam recuperar ou manter na marra, já a partir de um governo interino do presidente em exercício Michel Temer, composto de forma golpista e fraudulenta.

O medo da queda de valores hierárquicos, diante de tantos escândalos de corrupção, ou gafes e crimes cometidos, se reflete pelos surtos histéricos que, a partir da grande imprensa, acontecem, e fazem religiosos de mentalidade medieval recorrerem a "remédios" como o Escola Sem Partido, projeto reacionário criado pelo advogado Miguel Najib e divulgado por gente como o ator Alexandre Frota.

A derrubada de totens e paradigmas assusta muita gente. Tecnocratas, famosos, burocratas, acadêmicos e oligarcas que se julgavam detentores de uma superioridade social inabalável estão com medo de perder privilégios e vantagens.

As transformações sociais vividas no Brasil amedrontam os privilegiados hoje, da mesma forma que em 1964, e é típico do Brasil que tais pessoas tentem forçar o país a dar passos para trás para evitar mudanças naturais.

Tudo que vem desta plutocracia está ruindo: do "funk", que simboliza um modo plutocrático de promover a "cultura" das classes populares, ao "espiritismo", que no fundo é o "catolicismo à paisana" que tanto agrada os barões midiáticos, a partir das Organizações Globo.

Estão caindo aristocratas, políticos, empreiteiros, antropólogos, jornalistas culturais, juristas, socialites, astros do futebol, apresentadores de TV, publicitários, médicos, arquitetos e tantos outros que se dispunham de uma reputação antes inabalável, só porque simbolizam alguma vantagem conquistada.

Até no mercado de trabalho se começa a ver que muitas das contratações de emprego não são feitas por puro preconceito, que vai desde a questão da idade à aparência ou mesmo uma especialização às avessas, quando o mercado prefere contratar gente medíocre do que outra que, mais talentosa, possa ameaçar a estabilidade dos privilegiados de hoje.

Isso desnorteia as pessoas, que ainda têm que encarar a catástrofe da decadência de um Estado e uma capital, ambos chamados Rio de Janeiro, que antes serviam de modelo para a sociedade. A sucessão de notícias funestas que atingem a outrora Cidade Maravilhosa assustam o país e o mundo, praticamente pondo xeque-mate à sua antiga condição de cidade-modelo para o resto do Brasil, onde até pouco tempo atrás qualquer coisa que vinha dessa cidade passava a valer em todo o país.

Diante disso, estouram movimentos obscurantistas aqui e ali. Grupos neofascistas, movimentos pedagógicos ligados a seitas retrógradas (como o Escola Sem Partido, que propõe desqualificar a Educação brasileira), são apenas exemplos de um Brasil apavorado que busca desesperadamente voltar aos parâmetros sociais de 1974.

É uma sociedade em pânico, já demonstrada pelo vandalismo e pela truculência digital das trolagens e cyberbullying da Internet. E mostra o quanto um número considerável de brasileiros, até pela educação ultraconservadora que recebem aqui e ali, de maneira direta ou indireta, estão com medo de ver seus ídolos e totens serem desqualificados por definitivo.

Da mesma forma, é uma sociedade insegura que precisa de "gente de cima" para "dar exemplo". Ver o desgaste de tantas personalidades do topo das hierarquias sociais, de âmbito político, econômico, técnico, acadêmico, lúdico e religioso, é demais para essas pessoas, que em primeiro momento estão reagindo com indignação, como alguém que é decepcionado pela primeira vez e recusa ver o seu antigo objeto de adoração desmascarado.

A situação só está começando e a crise social em que vive o país só vai aumentar, demonstrando que não há como recuperar antigas estruturas hierárquicas que hoje perdem o sentido, embora elas ainda sejam consideradas de "máximo valor" diante de um país atolado na areia movediça de suas zonas de conforto.

Essa crise acaba sendo necessária para as pessoas reverem seus valores, abandonando estruturas que parecem benéficas e estáveis, mas que influem direta ou indiretamente na série de injustiças e prejuízos humanos, muitos deles graves. É doloroso abandonar totens e paradigmas consagrados mas em profundo desgaste, mas isso é necessário para reinventar um país.

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