terça-feira, 30 de agosto de 2016

Suposta mensagem de Jair Presente aponta fraude em informação "inacessível"

NÃO BASTASSE A LINGUAGEM ESTRANHA, A MENSAGEM SUPOSTAMENTE ATRIBUÍDA AO ESPÍRITO JAIR PRESENTE (FOTO) MOSTRA INFORMAÇÃO QUE HAVIA SIDO CONSULTADA.

Deu no Obras Psicografadas. Analisando mais supostas psicografias de Francisco Cândido Xavier, é citado, entre os casos de "comunicações inesperadas", mais um caso sobre Jair Presente, estudante que havia falecido em fevereiro de 1974 e do qual se atribuem supostas mensagens espirituais trazidas pelo "médium".

Sabemos que, embora acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora, liderados pelo tendencioso Alexander Moreira-Almeida, tentassem afirmar a "autenticidade" das supostas psicografias de Chico Xavier, alegando que as informações apresentadas pelo suposto Jair eram "inacessíveis" ao "médium", há muitas irregularidades que põem em xeque (digamos até xeque-mate) a essa tese.

Devemos levar em conta que Chico Xavier fazia fraude mediante colaborações de terceiros. Esse aspecto não foi levado em conta diante da farsa de Parnaso de Além-Túmulo e nem da sua "série Humberto de Campos / Irmão X". Ele sempre teve disponíveis tanto as consultorias de especialistas literários (embora houvesse um deslize no qual se confundiu Augusto dos Anjos com Antero de Quental) quanto outros escritores que completavam o trabalho.

Isso é tão certo que, dos anos 80 até o fim da vida, Chico Xavier cuidou pouco dos livros que levaram seu nome e é muito provável que ele só tenha assinado os livros que teriam sido feitos por editores da FEB e outras editoras, em certos casos. Doente, mas cheio de compromissos de um popstar religioso, ele nunca teria tido tempo hábil para lançar a média industrial de 15 livros anuais nessa época.

O caso de Jair Presente, aqui apresentado, remete a uma mensagem de 19 de julho de 1975, no qual a linguagem forçadamente informal, que remete a um hippie caricato, é também carregada de igrejismo, como em quase toda mensagem trazida por Chico Xavier. As informações de "difícil acesso" foram, na verdade, extraídas em uma certidão de óbito e uma nota de imprensa.

O suposto Jair teria citado um amigo, Irineu Leite da Silva, que teria falecido aos 35 anos e seria desconhecido da família do suposto mensageiro espiritual. O livro A Vida Triunfa, de Paulo Rossi Severiano, que comenta casos "formidáveis" da suposta psicografia de Chico Xavier, escreve o seguinte a respeito desse dado relacionado a Jair Presente e seu "amigo" Irineu:

"Jair Presente - houve citação em uma de suas cartas do nome de Irineu Leite da Silva, enterrado no “Parque Flamboyant”, em Campinas, Estado de São Paulo. O nome era desconhecido da família Presente, e não havia parentes ou conhecidos ligados a esse espírito, em Uberaba, onde o sensitivo recebeu a carta. A irmã de Jair, Sueli Presente, resolveu averiguar. Telefonou para o sr. Renato Mangiaterra, administrador do cemitério, mas este não encontrou nenhum registro com esse nome. Ela consultou, então, o arquivo do jornal local, e encontrou a notícia da morte de Irineu, no dia mencionado 7/6/1975. Insistiu junto administrador do cemitério e este descobriu que ele havia sido registrado com o nome de Pirineu, daí a confusão na informação prestada quando da primeira consulta. O Dr. Mario Boari Tamassia, escritor e jornalista, foi pessoalmente ao cemitério e documentou a veracidade da informação espiritual. Os dois dados absolutamente corretos, a referência ao dia do óbito (7/6) e a menção do cemitério, quando há três cemitérios em Campinas, são fatos indiscutíveis que dão o que pensar".

No final de nosso texto, mostraremos a mensagem do suposto Jair Presente na íntegra, para que o leitor pesquisasse com mais abrangência e para servir de referência ao trecho pesquisado. Quanto aos dados de Irineu Leite da Silva, a irmã de Jair, Sueli Presente, foi pesquisar os dados e encontrou um obituário citado no jornal Correio Popular, de Campinas. Mais adiante, um obituário foi encontrado com os dados que coincidem com os utilizados pela mensagem.


Isso mostra o quanto se deve tomar cuidado quando se alega "autenticidade" em supostas psicografias que apresentam informações supostamente inacessíveis. Devemos prestar atenção para a esperteza de Chico Xavier, e pelo fato de que ele sempre teve muitos colaboradores em sua volta, já que, evidentemente, ele não iria cometer fraudes sozinho, mas também suas obras "mediúnicas" estão longe de serem honestas, pelas irregularidades evidentes que aparecem.

Portanto, mesmo informações de "difícil acesso" eram mostradas por colaboradores, eram trabalhos engenhosos de pesquisas que complementam a "leitura fria", recurso da manipulação de mente, no qual o entrevistador, mesmo em conversas informais, arrancava do interlocutor não só informações e dados sutis mas também reações psicológicas que apresentam também outros dados subliminares.

Note que o famoso juízo de valor de Chico Xavier é reproduzido na suposta mensagem espiritual, quando se nota o trecho "Esse Jair não tem jeito, não" e "isso é bobagem da grossa", ditos em bastidor pelo próprio "médium" mineiro, o que desfaz a credibilidade da "psicografia", diante de dado tão tendencioso.

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SUPOSTA MENSAGEM DO ESPÍRITO JAIR PRESENTE

Divulgada por Francisco Cândido Xavier, em 19 de julho de 1975.

A mensagem

Minha querida madre, pater meu e minha sorela Sueli, somos presentes dando presença. E não quero começar papeando sem dar a Deus, nosso Criador e Pai, o respeito nosso.

O que há na paróquia é que vocês estão querendo aquelas conversadas de espírito de família. E acontece que, na cuca do meu grupo, a lembrança me bate forte. Não posso dar a silenciada. É preciso falar, porque os nossos daqui me permitem aquela boa gíria das amizades fiéis.

Às vezes, penso que é preciso acabar com essas dicas de fantasma-sorriso, mas a vida é nossa e como deixarmos de ser nós mesmos, dentro da vida? Nesse sentido, minhas palas hoje são melhores, estou incrementado nos estudos para retirar todos os meus grilos xexelentos. Quero carregar outra moringa nos ombros. E o negócio é esse aí: se não trabalhar, não entendo; se não entendo, não vale estudar.

Quando vim pra cá, percebi de repente que não passava de sabereta, embrulhando muitas lições aprendidas aí em bobagens que não tinham tamanho. Agora, vou tirando letra em muitas coisas que necessito guardar em mim para ser melhor. Muita gente bem de nossas turminhas deu para pensar que sou espírito vagau perdido na marginália. Pobres meninos patetas que éramos; querendo inventar uma língua nova, complicamos os comunicados nas melhores comunicações.

Entretanto, para Deus o sentimento é que tem valor, o coração é que fala. Posso latinizar as notícias da maneira mais sofistiqué, mas se não der de mim aquela sinceridade tou na lona da paranoia e isso eu não quero mais. Esse negócio de dar fio nas patotas que mandam fumo ou avançam no lesco-lesco dos comeretes a se arrancarem para umas e outras é perigo na certa. Quero o pensamento jóia para falar mesmo sem alinhavar as palavras fora da costura da boa gíria.

Mandem-se para cá e vocês vão ver como é duro varar o arco e virar a bola de pé pra frente no quadrado das notícias. Assim sendo, vocês todos podem perdoar os cabeludos que vierem pra cá sem preparação, bancando caretas nas lições de Cristo. Perdão, sim, porque seria difícil, pra mim, falar francês, no português brasileiro, exibindo qualidades que não tenho. De uma coisa, porém, vocês fiquem sabidos: é que já sei que trabalhar para os outros é o caminho melhor. Digo isso, embora esteja parado como nos tempos da Geografia, explicando pro professor como se vai à Guiana Inglesa, sem nunca ter ido lá, nem pra inglês ver. Já sei. Isso é progresso.  isposição mesmo pra fazer o que sei, só amanhã.

Apesar de tudo, Sueli, digo a você: a mediunidade é servir para sermos servidos. Todos precisamos de alguma coisa. Estendendo as mãos para o auxílio a quem sofre é o mesmo que receber outras mãos que chegam do Alto pra carregar-nos sobre as lutas de cada dia. Para mim, caridade é o melhor negócio da vida. A pessoa ajuda e recebe muito mais do que dá. Geralmente, querida irmã, somos alguém a servir, mas a pessoa servida representa em si um grupinho grande. E o grupinho se inclina pra nosso lado e dá uma melhorada geral em nossos caminhos. Aqui vejo muita gente fora da Terra, aprendendo isso! Entregando benefícios e recebendo benefícios maiores. Não estou ensinando você a paparicar Deus com papos furados ou com caldos melosos de conversa amolecida na adulação. Estou fazendo as palas do ato. Porque o assunto mais importante é agir mesmo.

Aqui está conosco o Joãozinho Alves e pede aos pais aquela confiança em Deus que não desanima. Ele está melhor e mais forte. E outro amigo, aqui ao lado do seu adoidado irmão, é o Irineu Leite da Silva, um moço do fino que vestiu paletó de madeira em 7 de junho passado. Estava eu entre aqueles que trabalhavam no Parque dos Flamboyant, quando ele foi considerado pessoa de sono eterno. Mas acordou junto de nós e está bem. Mesmo assim pede orações pelos pais, Sérgio e Rita, e insiste para que todos os entes queridos se consolem.

Afinal de contas essas paqueradas da morte acontecem com qualquer, E os caras do mundo precisam contar com isso. Não querem oi que ninguém morra. Queremos que todos os nossos irmãos do mundo transitem por todos os consultórios de plástica, tirando sarro nas rugas, que chegam com as janeiradas de natalício a natalício. Desejamos que todos cheguem aqui mambeando de velhice, sem coragem de olhar pros retratos solenes de 20 ou 40 anos de retaguarda - mas esse derbi da morte é um estripitisi de amargar. Dizemos amargar porque só colocamos jiló nesse assunto com tanto choro de lado que os panos do último dia é que são mesmo de amedrontar qualquer um. Pensemos na morte com fé em Deus. Afinal de contas, aí no mundo quem dorme está sempre treinando para ressuscitar.

Meu pai abrace Sérgio, Wilson e todos os meus sócios de pensadas e notas. Não creio que a rapaziada esteja acreditando muito no que digo. De vez em vez, escuto algum deles a dizer: “Mas esse Jair não tem jeito, não”. Mas isso é bobagem da grossa. Quem tem jeito para melhorar e consertar é só aquele Cristo amoroso e bom de todos os dias. Mas, isso é isso. Se fosse eu o vivo da história, talvez não acreditasse no amigo morto e ficaria ainda mais vivo, se ouvisse mensagens dos que houvessem caído em algum barato do pró-terra-de-pedra e cipreste, antes de mim.

Sueli, aos corações do Grameiro, o meu ‘muito obrigado’, aos companheiros do Grupo de Meimei aquela saudação embandeirada de preces pela felicidade de todos. Agora é parar. Terei falado o que não soube dizer. Estava com saudade de dar uma falada com vocês e dei papo. Deus me perdoe, é o que peço. Entretanto, vamos deixar seriedades pra lá e vamos dar aquele abraço da finalizada. Pai, mamãe, Sueli, estou feliz vendo vocês unidos. Tchau pra vocês. Tudo de bom. Noite calma e tempo de bênçãos. Ponho aqui a saudade pra quebrar. Um beijão do filhote adoidado e do irmão agradecido, mas que lhes oferece nestas páginas o maior amor da paróquia.

Jair (sic)

domingo, 28 de agosto de 2016

A grave contradição do mito "vencer a si mesmo"


Moralismo religioso não é filosofia. Muitos pensam que é e levam gato por lebre, levando mistificação como se fosse lógica e rigor moralista como se fosse conselhos para uma vida melhor. E num Brasil marcado pela ignorância e pela cegueira das convicções pessoais, isso fica muito, muito complicado.

Daí o mito do "vencer a si mesmo", que pessoas, com um deslumbramento cego e fanático, acreditam ser "lição superior de sabedoria". É um sentimento de emotividade exagerada que demonstra claramente nada ter a ver com filosofia nem com lógica nem com aprimoramento do conhecimento. É misticismo barato travestido de busca da verdade.

Isso porque o mito do "vencer a si mesmo", que por coincidência está presente tanto na Teologia do Sofrimento - corrente medieval do Catolicismo herdada pelo "espiritismo" brasileiro - e pelo taoismo, através do princípio de que a vitória do indivíduo não se dá pela afirmação das qualidades dele, mas antes pela devalorização de seus dons, talentos, habilidades etc, revela um aspecto perverso.

Este aspecto é o fato contraditório da ideia de "vencer a si mesmo", que pode também ser uma sutil apologia à auto-derrota. E aí o moralismo religioso cai em séria contradição, uma vez que sua teoria condena a derrota da própria pessoa, mas acaba aprovando a mesma coisa que diz reprovar.

Sim, porque, em primeiro momento, essa teoria sugere que a pessoa abra mão do que é supostamente excessivo em seus desejos, talentos, habilidades. A ideia é eliminar até mesmo o prazer, qualidade acusada, pelo moralismo religioso, de ser fonte de atitudes maliciosas, levianas e fúteis.

Mas, em segundo momento, a teoria mostra um lado muito, muito cruel. Superestimando o sacrifício humano e a abnegação, essa teoria acaba fazendo apologia à anulação da individualidade, confundida com egoísmo ou egocentrismo, e leva ao exagero a ideia de que é caridoso ceder a tudo, até mesmo ao necessário.

Isso complica muito as coisas e é por isso que, no "espiritismo" brasileiro, temos tratamentos espirituais que são fontes de mau agouro muito piores do que passar debaixo de uma escada ou quebrar um espelho. A pessoa está para sofrer, por mais que os palestrantes "espíritas" digam o contrário, até porque a apologia do sofrimento já foi dada por Francisco Cândido Xavier.

Sim, é isso mesmo, pois, queiram ou não queiram, Chico Xavier realmente fez apologia ao sofrimento. E de forma bem perversa: "sofrer sem mostrar sofrimento", "sofrer calado, sem queixumes", tudo isso foi dito pelo anti-médium mineiro pelas próprias palavras.

E aí tiramos a prova do status quo, e, diante de palestrantes que dizem que "não viemos para sofrer" e um ídolo religioso considerado o "maior do espiritismo" diz que "devemos sofrer amando", e, como este tem uma reputação maior e é tido, mesmo post mortem, como o "maior sábio do Brasil de todos os tempos", então a lógica é que o "movimento espírita" faz apologia do sofrimento humano, sim.

VENCER OU DERROTAR?

Diz a própria lógica das competições esportivas e das lutas corporais que "vencer" significa "derrotar o outro". Daí a maior e mais aberrante contradição do "vencer a si mesmo", a ideia implícita de "derrotar a si mesmo", que deixa o moralismo religioso, tido como "filosófico", num sério impasse.

Afinal, todo esse engodo que os incautos entendem como "filosofia", cheia de conceitos esotéricos, moralistas, igrejeiros e coisa parecida, se contradiz quando, reprovando a auto-derrota de indivíduos pessimistas, entende a vitória pessoal justamente através da auto-derrota.

Sim, para você não se auto-derrotar, através do pessimismo e da acomodação, você terá que se auto-derrotar, através da abnegação e do sacrifício pesado, que lhe trazem angústia e sofrimento, logo traz pessimismo. Que superação é esta que só tem um único caminho, a auto-derrota?

O mito de que o pior inimigo do indivíduo é ele mesmo piora as coisas. Além do mais, o que ele tem que abandonar, na prática, não são os excessos de desejos desvairados, de caprichos e teimosias, mas sim as suas qualidades especiais, o seu talento, as suas habilidades, os desejos justos, o prazer (que, bem usado, seria o motor da evolução espiritual) e as vocações.

"VIDA ETERNA" COMO DESCULPA PARA DEFENDER LONGOS SOFRIMENTOS

Há um desequilíbrio existencial nestas pregações, por mais que o malabarismo da palavra tente negar. No mito de "vencer a si mesmo", você tem que anular sua individualidade, enquanto se entrega a sacrifícios e desgraças acima do que se pode suportar. E aí entra uma má interpretação das coisas.

Em doses moderadas, a desilusão e os limites, ou mesmo, às vezes, certos infortúnios, são necessários para a reeducação moral do indivíduo, e mesmo situações inusitadas, dentro desse limite, pode desenvolver novas habilidades, novos talentos, novos desejos e necessidades novas.

Mas, da forma como se prega o moralismo religioso, suportar desgraças é uma chaga sem fim. Em muitos casos, o remédio acima da dose exata causa efeitos colaterais, fazendo do sofredor uma pessoa rancorosa, fechada, ensimesmada, vingativa e perigosa para o convívio com a sociedade.

O "espiritismo" faz pouco caso com essa asfixia existencial da alma do indivíduo, achando que toda desgraça e sofrimento é "desafio", exigindo demais a paciência da pessoa, pouco se preocupando se a pessoa encontra dificuldades para superar sua triste sina.

Usando como desculpa a ideia de "vida eterna" ou "vida futura", o moralismo "espírita" defende, de maneira desumana, o prolongamento do sofrimento do indivíduo. É claro que usa um discurso macio, supostamente benevolente, tipo "não reclame, confie em Deus, tenha paciência e espere o porvir", usando como pretexto a obtenção de "bênçãos futuras", uma ideia que ninguém sabe o que realmente se trata.

Diante disso, conclui-se que o mito de "vencer a si mesmo" é uma das maiores perversidades que se pode dizer sob o signo da religião ou do misticismo, ou mesmo sob o verniz da "filosofia". Quem defende essa ideia demonstra completo sadismo com o outro, ignorando que sofrimentos prolongados causam efeitos danosos, até porque sofrimento demais jamais faz bem a ninguém.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

"Espíritas" falam da "felicidade sem ter". Para quem não tem

"FELICIDADE NÃO É TER", DIZEM OS "ESPÍRITAS". MAS NÃO É PARA OS RICOS QUE SERVEM TAL AVISO.

O "movimento espírita", verificando as cobranças feitas pela sociedade, quando sobretudo se revela que a religião brasileira, com algumas filiais no exterior (como Portugal), é na verdade uma versão rediviva do Catolicismo medieval, anda trabalhando uma retórica sutil sobre a "felicidade".

A ideia é forjar um espiritualismo - o que, a princípio, favorece os "espíritas", que tentam inventar um vínculo com Allan Kardec que, na prática, nunca existiu - , dizendo que a felicidade não é uma questão de "ter", mas de "ser", aconselhando as pessoas a nunca reclamarem da vida e nem angustiarem no sofrimento.

Os conselhos parecem benevolentes: "mude o pensamento", "cultive a esperança", "faça Sol íntimo dentro de si", "confie nas forças do Alto", etc. Há até a falácia de que a pessoa não está desamparada, ela pode até ser linchada num cyberbullying que "uma força superior ora por ela". Então tá.

Só que, se montarmos o quebra-cabeça dos discursos feitos aqui e ali, vamos notar um receituário bastante amargo e praticamente dado em overdoses. O sofrimento sem queixumes, a felicidade do nada, tudo isso é uma retórica que os "espíritas" dão não para os remediados da fortuna, mas para os deserdados da sorte.

É só ver que um Divaldo Franco, só para citar um exemplo mais festejado, não faz cobranças dos ricos quando recebe condecoração, quando faz palestras em hotéis de luxo, quando se beneficia dos prêmios terrenos que a superioridade religiosa, também uma ilusão terrena, recebe, aos montes.

Neste caso, o "espírita" apenas agradece, e o discurso muda. Ele acaba dizendo que os ricos "também são generosos", que eles "ajudam, sim", e que os prêmios que ele recebe são "gratidões sinceras" a um "trabalho modesto", um "reconhecimento pleno" do "trabalho de humildade e caridade".

Não há cobranças para os ricos ajudarem mais, porque os ricos "também ajudam". Porque "existe bondade" entre os "bem de vida". Que há a "consciência da boa ação", que "permite a doação", e há quem diga que as mulheres ricas, quando se livram de roupas fora de moda e já velhas, estão "fazendo caridade".

Quando os "espíritas" se dirigem aos menos afortunados, à classe média baixa e aos pobres, a retórica é outra. "Não deseje ter, deseje ser", é o preceito que o julgamento de valor dos palestrantes "espíritas" determina aos sofredores.

Sem considerar individualidades, os "espíritas" apenas dizem aos sofredores: não reclamem, aceite o que as circunstâncias impõem. É o popular "se vira, desgraçado", mas dito com palavras dóceis e meigas e um tom paternal que possa dar a falsa impressão de "sabedoria profunda" de "conselhos valiosos".

Os "espíritas" não estão aí se fulano tem habilidades próprias, necessidades pessoais peculiares, planos de vida individuais. A pessoa que fez um plano de vida desde a juventude que comece tudo do zero. Ainda que, em vez de dignidade, consiga uma vida na qual se alimente de pão e água morando numa latrina com o tamanho de um sanitário de prédio antigo, quase a mesma área de um armário de roupas.

Aí é que temos a terrível armadilha da apologia das desigualdades sociais. Aos remediados, nada se cobra, e os "espíritas" até usam a desculpa de que eles "já foram recompensados" ou que, se fizerem algo errado, irão "pagar pelo que fizeram" daqui a cem anos.

Já aos desafortunados, para os quais os esforços para superar as desgraças são praticamente vãos ou terão que estar acima das capacidades de cada indivíduo, os "espíritas" argumentam: "não pensem em ter". Um receituário traiçoeiro de quem defende uma vida qualquer nota.

Dentro deste raciocínio, a pessoa que vive numa ditadura e é perseguida pela repressão não pode pedir asilo. Além disso, os "espíritas" não veem a diferença entre ter habilidades e peculiaridades de espírito e ter extravagância material. Só o fato de ter uma vocação diferente para tal trabalho é considerada um "luxo" a ser exterminado ou levianamente utilizado, como um jornalista, em Salvador, cuja única opção é trabalhar na corrupta e tendenciosa Rádio Metrópole, do astuto Mário Kertêsz.

Com este raciocínio, se um homem se demonstrou interessado por uma muher com a personalidade de uma Emma Watson, o fato dela ser lindíssima é visto como "sensualismo", "luxo" e "desejo excessivo e desnecessário". Se em seu caminho só aparecem as chamadas "periguetes" de perfil grotesco e personalidade fútil, ele terá que aceitar resignado porque é "oportunidade de obter humildade e simplicidade".

Em contrapartida, a mulher que é atraente tem em seu caminho um homem com mais posses e menos caráter. A mulher que não é atraente, no entanto, tem em seu caminho homens mais grotescos. E tais desigualdades amorosas, para homens e mulheres, são tidas pelos "espíritas" como "oportunidades de desenvolver amor onde não existe".

Na teoria, tudo é fácil. Mas, na prática, dramas terríveis acontecem, mas os "espíritas", indiferentes a isso, dizem que tudo é culpa da vítima, que cultivou "maus pensamentos" e "não aproveitou as oportunidades lançadas". Como se namorar uma "periguete" fosse uma "oportunidade" de "dar amor" a uma mulher que demonstra futilidade e que também tem suas extravagâncias, com um "sensualismo" muito mais acentuado do que se imagina.

O que os "espíritas" pregam é que as pessoas que não têm fiquem sem ter. Que se satisfaçam com a vida que vivem. Que sejam felizes do nada ou se consolem vendo passarinhos cantando nas árvores, o que é até bom, mas não é tudo na vida. Ninguém nasce para ficar vendo passarinhos ou o rio correr em sua trajetória.

Isso mostra a insensibilidade do "movimento espírita" e, mais uma vez, o moralismo desta doutrina se revela perverso, e cada vez mais demonstrando que o "espiritismo" brasileiro é, na verdade, uma reciclagem da Teologia do Sofrimento católica, uma corrente medieval que nem todos os católicos defendem, mas que os "espíritas", mesmo de forma não-assumida, defendem com muito ardor.

De acordo com essa ideologia, aos sofredores resta aguentar as desgraças, como condenados a sentenças criminais que precisam cumprir penas sob um longo período, sem saber quando poderão se libertar desses infortúnios. E os "espíritas" ainda falam que é possível ser feliz assim.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A confusão mental diante do sentido das leis e da Filosofia

EM SEU TEMPO, O FILÓSOFO SÓCRATES SE PASSAVA POR IGNORANTE. HOJE, MUITOS SE PASSAM POR SÁBIOS.

A ignorância dos brasileiros é preocupante. Não se trata daquela "ignorância poética", nem da "ignorância" estratégica do filósofo Sócrates, um dos intelectuais da Grécia Antiga. É aquela ignorância que nem a vaidade travestida de falsa modéstia de pessoas que se dizem sábias e se gabam de "estarem sempre aprendendo" consegue esconder.

Há uma grande confusão mental das pessoas. E isso atinge sobretudo pessoas com mais de 50 anos, grisalhas, com alguma grande experiência profissional, com filhos criados e netos nascidos, e que são justamente as que estão mais transtornadas, confusas, imaturas, imprudentes e, acima de tudo, inseguras com os tempos de hoje.

É bom deixar claro que esse cenário de "coroas" e "vovós" que pouco têm a nos ensinar é reflexo de um cenário social brasileiro que nunca foi definitivamente positivo ou edificante nos últimos 52 anos. Temos que ter paciência e admitir essa situação, até porque se nossos "grisalhos" são em maioria imaturos, é porque eles foram maus jovens há cerca de 45 anos, quando era praticamente proibido ter ideais de vida.

Era o cenário da ditadura militar, que revelou sua imprudência política e econômica e sua crueldade social. Que fez degradar o ensino básico e superior, fazendo com que os alunos da época, sobretudo secundaristas e universitários, fossem proibidos de ter projetos de vida senão a crua sobrevivência do processo bruto de ganhar dinheiro e ter família. Quase um robô social, um mero tijolo do edifício social do país.

Parece ofensivo dizer para alguém que senhores e senhoras de cerca de 60, 65 anos hoje são em maioria imaturos e inseguros. Mesmo para quem é mais jovem. "Meu pai, empresário tal, com tantos anos de experiência, não pode ser imaturo. Ele me ensinou muita coisa, ele é sábio com mais de 30 anos de estrada", brada um rapaz. "Minha mãe, advogada, sempre foi uma filósofa para minha vida", brada outro. Até os próprios "coroas" reagem segurando diplomas em suas mãos.

Na verdade, as crises que hoje ocorrem na humanidade se devem a "coroas" ineficientes que falharam ao conduzir as novas gerações. Eram pessoas que perderam a juventude na corrida frenética do dinheiro e pela hierarquia social que, quando atingiram seus objetivos, mostraram o vazio de suas personalidades que só pensaram em "sobreviver" e viviam a ilusão da "racionalidade excessiva".

Gente realmente sábia e segura da vida, com mais de 50 anos de idade, é coisa muito mais rara de se haver. Primeiro, porque quem poderia ser sábio foi castrado por uma realidade de trabalho desgastante. Segundo, porque quem ocupa os altos postos da pirâmide social são justamente incompetentes para transmitir alguma sabedoria e maturidade. Poucos que estão no lado médio da pirâmide restaram para transmitir conhecimentos e lições com alguma profundidade.

NINGUÉM SABE COISA ALGUMA

Ninguém sabe, na verdade, o que é sabedoria. Portanto, também não entende o rigor das leis nem o sentido de Filosofia. Nos tempos recentes, em que se viu uma performance confusa do Judiciário e do Ministério Público, com o uso seletivo, tendencioso e distorcido das leis, com um Sérgio Moro admitindo aceitar provas ilícitas para combater supostos corruptos, e tendo apelado para divulgar ilegalmente escutas telefônicas só para desmoralizar Lula e Dilma Rousseff.

Ninguém perguntou sobre provas contra Dilma Rousseff, acusada indevidamente de crime de responsabilidade. O ódio faz com que haja pessoas caluniando gratuitamente ela e seu antecessor Lula. Inventam-se crimes que nunca cometeram, a ponto de haver até uma piada que diz que os anti-petistas "acharam os criminosos e seguem procurando pelo crime".

Ninguém pergunta: existem documentos que confirmam isso ou aquilo? Em vez disso, a grande mídia, como a "admirável" Rede Globo e a "respeitável" revista Veja, fazem todo um exibicionismo do suposto triplex de Lula em Guarujá, toda uma cobertura sensacionalista que transformou, de graça, uma vaga suspeita em fato consumado, e a nossa "grande imprensa", que se diz tão zelosa com o "dever de informação", cometeu uma gafe estratosférica.

A Polícia Federal simplesmente constatou, no relatório, que Lula nunca foi dono do tal triplex e o máximo que ele fez foi apenas verificar o apartamento que apenas teve o interesse de comprar com seu salário, não com um suposto desvio de verbas públicas ou uma fortuna exorbitante. Mas Lula simplesmente desistiu de comprar o apartamento e mesmo assim virou "dono" do imóvel, avaliado num valor dez vezes menor que o imóvel dos donos da Rede Globo.

O imóvel referido é de responsabilidade da filha de João Roberto Marinho, principal executivo das Organizações Globo, que mantém com os irmãos José Roberto e Roberto Irineu. Os três são filhos de Roberto Marinho e já administravam a corporação quando o pai, ainda vivo, já estava doente e impossibilitado de conduzir os negócios. O apartamento, uma mansão localizada em Parati, ainda foi construído ilegalmente, em área de proteção ambiental.

EMOÇÃO SEM RACIOCÍNIO

Mas é esse o Brasil que transformou um plagiador de livros em "ícone máximo da bondade". Em sucessivos apelos à emoção, transforma-se um farsante em "espírito iluminado", e se forja um passaporte simbólico para o Paraíso, confiantes que o farsante transformado em ídolo religioso de máximo prestígio irá seguir direto para o reino dos puros sem precisar voltar para aprender algo na vida.

A cegueira emocional é muita, excessiva. Pessoas presas em suas convicções, mas tentando criar argumentos racionais aqui e ali para justificar interesses nada racionais. Pensa-se muito para criar um motivo para a estupidez, "filosofa-se" demais para sustentar pontos de vista dos mais ridículos, o que é motivo para muitas brigas na Internet, porque o insensato de ocasião quer sempre ficar com a palavra final, nem que seja criando blogues ofensivos para seus discordantes.

É por isso que muitas coisas não são resolvidas. Há um "Fla-Flu" ideológico em que os mais coerentes têm apenas um direito a se expressar, de preferência para plateias pequenas ou demandas minúsculas. Não têm direito à visibilidade plena, ou, se têm, são neutralizados pelas conveniências das situações, que favorecem outros com visibilidade ou prestígio maior.

Já quem é incoerente pode não ter tanto carisma quanto sonhava, mas, se perde a tão desejada unanimidade, sempre possui a visibilidade plena, o prestígio inabalável, a palavra final, e a prevalência oficial de seus pontos de vista. Pode ser vaiado com um certo barulho, que seu prestígio será sempre inabalável. Pode sumir de cena e voltar como se nada de ruim tivesse acontecido.

Isso cria complicações. Daí juristas corrompendo as leis, mas ficando nisso mesmo. Daí a grande mídia, mentindo e ficando nisso mesmo. Daí subcelebridades cometendo gafes, e ficando nisso mesmo. Daí Chico Xavier se apropriando indevidamente de Humberto de Campos, Auta de Souza e outros mortos, escrevendo da mente própria usando os nomes deles. E fica nisso mesmo.

O QUE NINGUÉM SABE É QUE NINGUÉM SABE

Ninguém busca a verdade, a coerência, a consistência, a autenticidade. E o sentido de Filosofia é dos mais anti-filosóficos que existem, vide o caso das palestras "filosóficas" que a turma da "data-limite", como Juliano Posati, Geraldo Lemos Neto e companhia, tentam fazer para explorar as pessoas.

"Filosofia", neste sentido tão comum, é uma masturbação retórica de assuntos abstratos, valores moralistas, delírios cósmicos e devaneios esotéricos, no qual a palavra "conhecimento" é usada e abusada sem que as pessoas realmente tenham conhecimento do que essa palavra significa.

Além disso, que busca de verdade é essa nesse matagal de palavras enfileiradas, bonitinhas, nesse processo tão confuso que foi consagrado desde que a impunidade premiou um caipira mineiro que plagiava livros, fazia pastiches literários e usava levianamente o nome de outrem para pura autopromoção, usando da falácia do Ad Passiones (apelo à emoção) para obter popularidade e, de forma arrivista, criar a ilusão de "pureza espiritual" para o deleite de seus seguidores.

Não se sabe o que é Filosofia no Brasil, poucos realmente compreendem o que é isso. Muitos cursos de Filosofia são pouco confiáveis, por esconder noções esotéricas, misticismo barato diante da interpretação malfeita de textos filosóficos autênticos. Mancha-se a abordagem filosófica com igrejismo, horóscopo, ufologia e moralismo para empurrar conceitos nada filosóficos como se fossem "lições de sabedoria plena".

Inversamente ao filósofo Sócrates, que fingia ignorância para contra-argumentar seus interlocutores, muitos brasileiros têm mania de dizerem que são "sábios" e mesmo quando apelam para Sócrates na imitação de sua pseudo-ignorância - falsos sábios também adoram dizer "o que sei é que nada sei" - revelam essa mania de pedantismo e falso saber.

É por causa disso que o Brasil sucumbe a retrocessos imensos, pois esse coquetel de dissimulação, pedantismo, arrogância, falsa modéstia, vaidade, fingimento, desculpas esfarrapadas, malabarismo discursivo e tantas outras manobras de falsidade e oportunismo só faz a sociedade ficar mais confusa, imatura, insegura. A boa aparência não esconde o mau conteúdo, embora tente salvar reputações. Só que o tempo mostrará que essas reputações salvas se tornarão inúteis para o progresso em geral.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A decadência de Curitiba


As regiões Sul e Sudeste, antes associadas ao progresso econômico e sócio-cultural, eram vistas como um esboço do mundo desenvolvido no Brasil. Tendo como potência econômica a cidade de São Paulo e como potência cultural a cidade do Rio de Janeiro, as duas regiões, no entanto, simbolizam o que há de mais preocupante nos retrocessos ocorridos no Brasil.

O Rio de Janeiro é um exemplo dramático disso. Depois de um breve evento olímpico, considerado bem sucedido e marcado com muita alegria, a "noite de Cinderela" do agosto carioca dará lugar ao processo de retrocesso vertiginoso vivido nos últimos 25 anos e que se tornou intenso a partir de 2007.

O Estado fluminense passou a viver um período de neocoronelismo político. O PMDB carioca passou a adotar práticas dignas de República Velha, combinando corrupção, autoritarismo, demagogia e desculpas esfarrapadas. Além disso, existem latifundiários no interior do Estado do Rio de Janeiro e a pistolagem rola solta na Baixada Fluminense, recentemente matando quase 20 candidatos a cargos eletivos na atual campanha eleitoral.

Até o risco da monocultura é extremo, sobretudo pelo crescimento do "funk", ritmo marcado pela mediocridade sócio-cultural, e pela penetração fácil do "sertanejo", pastiche de música caipira cujo acesso no Rio de Janeiro era outrora mais problemático. Hoje quem tem mais dificuldade de se projetar no grande público carioca é a Bossa Nova e o rock alternativo.

Mas a decadência do Rio de Janeiro, acompanhada também pela decadência de São Paulo - que deixou de servir de modelo a ser seguido por todo o país, até porque o establishment político, midiático e econômico-cultural já produziu um Rio de Janeiro "paulistanizado" nos anos 90 para vender valores retrógrados para o resto do país - , mostra também outra cidade decadente.

Trata-se de Curitiba, capital do Paraná cuja decadência avassaladora surpreende diante do mito que durou durante anos de "cidade moderna" e "símbolo da civilização" no Brasil. Sendo a quarta capital onde há mais mulheres assassinadas por motivos conjugais - houve um caso de um assassinato cometido num shopping e outro numa rua da capital paranaense - , o que revela um machismo vingativo, só isso mostra o quanto o paradigma de modernidade morreu na capital paranaense.

Recentemente, Curitiba virou palco de violenta intolerância social. A atriz Letícia Sabatella, por ter se posicionado contra o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, vítima de vagas acusações de corrupção muito mal investigadas, foi agredida quando passava por Curitiba por um grupo de manifestantes, que a chamaram de "puta", entre outras xingações.

Ironicamente, Letícia, mineira que viveu alguns anos na capital paranaense, havia cometido um erro que foi se embriagar, meses atrás, na saída de uma festa. É curioso que, nesta época, boa parte dos que passaram a agredi-la recentemente se solidarizaram com a embriaguez, chegando a criar um "deitaço" em defesa do direito de "encher a cara". Muitos desses solidários passaram a agredi-la quando ela se recusou a aceitar o "Fora Dilma".

Curitiba vive uma crise muito grave, tornando-se uma das cidades que mais se expressam o ultraconservadorismo. Pelo fato de ser sede da Justiça Federal que investiga a Operação Lava-Jato - na prática, uma campanha de verniz jurídico para desmoralizar o PT e abrir caminho para a oposição e seu projeto de entreguismo e degradação da qualidade de vida do povo - , o juiz Sérgio Moro, que lembra um Superman nos seus traços faciais e no penteado, é mais idolatrado pelos curitibanos.

Desde que Jaime Lerner, o arquiteto do "milagre brasileiro", ele mesmo um antigo universitário conservador, opositor de João Goulart e que se filiou, com gosto, na ARENA (Aliança Renovadora Nacional), tornou-se prefeito biônico de Curitiba, a capital paranaense forjou um mito de modernidade que no entanto seguiu os paradigmas conservadores da ditadura militar.

Aspectos que só soam novidade para os brasileiros que não percebem as armadilhas do Primeiro Mundo, como a pompa de pistas exclusivas para ônibus, ilustrando um sistema que esconde as empresas de ônibus na pintura padronizada (medida que cada vez mais revela sua decadência), desemprega cobradores sob o pretexto da bilhetagem eletrônica e faz reduzir frotas de coletivos em prol do lobby da indústria automobilística (que quer mais automóveis nas ruas), revelam a ilusão de uma falsa modernidade da racionalidade tecnocrática.

A ilusão de uma Curitiba "moderna", vendida sob o pretenso rótulo de "padrão Primeiro Mundo", começou a ser derrubada quando a década de 1990 mostrou fenômenos da mediocridade cultural vindos do Paraná, não necessariamente da capital, mas tendo nesta cidade sua vitrine para o sucesso nacional.

O que dizer da canastrice musical de Chitãozinho & Xororó e seu pastiche de música caipira, uma dupla incapaz de se destacar por trabalhos autorais e que vende uma falsa imagem de sofisticação através de regravação de sucessos alheios? E o apresentador Carlos "Ratinho" Massa, que começou no noticiário policialesco mais grotesco e tenta ser um apresentador de variedades enquanto, como empresário e fazendeiro, é acusado de possíveis irregularidades trabalhistas?

Há um grande número de jovens conservadores, que, embora aparentemente apartidários, defendem bandeiras retrógradas como apoiar governos de centro-direita e programas de privatização de empresas públicas.

Eles aceitam até que a Petrobras seja aos poucos vendida para diferentes grupos estrangeiros e que perca o controle do pré-sal, cuja aquisição será repartida entre as grandes corporações estrangeiras (como BP, Shell e Exxon), e por uma Chevron que quer comprar a Petrobras.

Vários curitibanos, assim como paulistanos, gaúchos e catarinenses, acompanham os cariocas nas campanhas de cyberbullying, quando alguém que discorda de um ponto de vista "estabelecido" é humilhado por uma ação combinada de um grupo de internautas.

O máximo de "vanguarda" que Curitiba pôde dar ao Brasil foi um grupo como o Bonde do Rolê, que aparentemente faz uma fusão de "funk carioca" com rock e se autoproclama "alternativo". Ainda que se apoiem numa postura humorística, o grupo acaba servindo para empurrar a divulgação do "funk" para as mídias alternativas, quando se sabe que o ritmo carioca não passa de um pop comercial mais rasteiro.

Há fanatismo esportivo, há a mercantilização das relações sociais, há a predominância da "cultura" popularesca nas rádios e TVs locais, e os problemas urbanos revelam mais atraso do que "complexidade". A decadência que se verifica na cidade do Rio de Janeiro não é muito diferente da que vivem os curitibanos.

O fenômeno Sérgio Moro só veio a reforçar essa decadência, já que o juiz nascido em Maringá mas atuando na capital paranaense personifica valores moralistas de um suposto combate à corrupção, desculpa para tirar do poder forças progressistas e recuperar o poder político que escapou das mãos das elites privatistas e financistas.

Tido como "herói" graças a uma engenhosa campanha articulada pela Rede Globo e outros veículos solidários, Moro é o tipo de juiz tendencioso, que é enérgico demais para uns (como os petistas e alguns políticos e empresários associados), mas é frouxo e hesitante para outros. Dois exemplos são a falta de interesse de Moro em convocar Aécio Neves para depor na Operação Lava-Jato e a desculpa de que também não chamou a ex-jornalista Cláudia Cruz (mulher do deputado Eduardo Cunha) para prestar depoimento porque "não achou o endereço dela".

Curitiba, a exemplo do Rio de Janeiro e de São Paulo, simbolizam o desgaste e a decadência de regiões que pararam no tempo com seus velhos paradigmas. Mantendo estruturas de status quo que só fizeram sentido na ditadura militar, o Sul e Sudeste sofrem uma decadência tão grande que os faz até mais atrasados que o Norte e Nordeste que, longe de serem regiões prósperas e modernas, começaram a acordar e resolver seus problemas.

Há quem diga que o Sul e Sudeste, diante da combinação de sua prepotência, arrogância e seu provincianismo ultraconservador, estão se tornando o "túmulo do Brasil", que nem os "paraísos" simbólicos como o Maracanã, a praia de Copacabana, a Avenida Paulista e o moderno prédio da Justiça Federal em Curitiba conseguem disfarçar.

sábado, 20 de agosto de 2016

No Brasil prevalece a vitória do bolor sobre o fungicida

SUPONHAMOS QUE ESTE SEJA O PLANETA TERRA E A ÁREA AFETADA PELO BOLOR É O BRASIL.

O Brasil está num apego desesperado e neurótico que atinge níveis preocupantes e fazem com que a sociedade considerada "mais influente" se torne psicopata. O cenário social, político, cultural e econômico que temos é fruto de tantas neuroses, teimosias e ignorâncias.

Preso em velhos paradigmas, que tentam resistir como se fosse a luta e a vitória do bolor sobre o fungicida, o país corre o risco de sofrer retrocessos ainda piores. Do "funk" ao machismo feminicida, o Brasil não abre mão de velhas convicções nem de velhas reputações. O status quo sofre decadências sucessivas mas reputações se tornam intocáveis na marra.

Esse é o terrível vício que faz do Brasil um país cada vez mais distante do desenvolvimento social. Para ser um país com liderança mundial, o Brasil teria de fazer romper com velhos paradigmas, se desapegar de velhos símbolos, totens, práticas etc.

Sucessivas notícias envolvendo encrencas e gafes vergonhosos de gente com mais de 60 anos mostram a queda do mito da maturidade que chega automaticamente com o embranquecer dos cabelos. A complexidade social que atinge pessoas detentoras de poder e prestígio de âmbito social, econômico, político, lúdico e até religioso é uma realidade que se revela inevitável.

Mesmo assim, as pessoas reagem. Reações organizadas de setores da sociedade permitem que o bolor prevaleça sobre o fungicida. A fúria de valentões nas mídias sociais, que num momento de catarse arrastavam seguidores a participar de uma campanha de desmoralização de um discordante de alguma coisa "estabelecida" foi apenas um aperitivo desse banquete venenoso que ameaça o país.

FELICIDADE À ESPERA DO PIOR

Há em uma boa parcela da sociedade brasileira uma grande esperança pelo governo de Michel Temer, uma torcida para que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, cujo pretexto, de supostas irregularidades fiscais, foi anulado pelo Ministério Público Federal, seja definitivo e o presidente interino se torne efetivo.

Pessoas veem os noticiários econômicos de uma grande imprensa controlada por famílias empresariais e ficam extasiadas e felizes diante de propostas retrógradas como a extinção do intermédio da lei nas negociações entre patrões e empregados, na possibilidade dos trabalhadores terem carga horária semanal de 80 horas e terem seus salários novamente desvalorizados.

Acham que isso é "necessário" para "combater a crise" e depositam fé em políticos que, como os do PSDB (Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves etc), cometeram gigantescas somas de desvio de dinheiro público, através de privatizações e licitações irregulares.

Mas esta esperança contagia até mesmo os decadentes "espíritas", que não conseguem mais explicar suas contradições, isolados na sua prática viciada de bajular Allan Kardec e, paradoxalmente, exaltar igrejistas como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, cujas obras contrariam frontalmente e de forma aberrante o legado do pedagogo francês.

Depois da gafe de definirem as reacionárias manifestações de 13 de março de 2016 como "conscientização política" e "despertar espiritual" da população e atribuir a isso "regeneração" da humanidade, os "espíritas", com surreal alegria, comemoram a chance do Brasil se tornar "finalmente o Coração do Mundo".

Como o Brasil se tornará o centro humanitário do mundo, se irá retomar a postura subserviente aos EUA? Que liderança se esperará do Brasil, sendo ele capacho dos interesses do empresariado dos países ricos? O Brasil liderará o mundo servindo sopinha nas instituições religiosas?

O mais espantoso é que as manifestações definidas pelos "espíritas", tão zelosos em ter a "palavra final" para tudo, como "libertadoras" e "intuídas pela espiritualidade superior" foram, na verdade, movidas pelo ódio, pelo rancor, pelo preconceito e pelas humilhações que há um bom tempo aconteciam na Internet intimidando quem discordasse do "pensamento único" sobre qualquer coisa, seja uma gíria, um modismo, um conceito social qualquer.

As próprias manifestações do 13 de Março, que foram mais um fenômeno de mídia do que um fenômeno social - já que os tais protestos "contra a corrupção" foram até menores do que em 2015 - revelaram bandeiras fascistas, racistas, homofóbicas, elitistas e tinham até clamores de morte a Lula e Dilma Rousseff e recados esnobes do tipo "vá para Cuba".

Mas tudo isso tem a ver. Afinal, é o país que acha que os charlatães Chico Xavier e Divaldo Franco são "símbolos máximos de caridade", sem ter ajudado profundamente os brasileiros. Eles mesmos são reflexo desse apego ao status quo e aos velhos paradigmas, já que os dois simbolizam mais uma religiosidade extrema que está vinculada a velhos moralismos e misticismos antiquados.

O Brasil velho e embolorado resiste a todo custo. É um país velho e obsoleto que tenta se impor aos novos tempos, ainda que na marra. O problema é que as elites que apostam em velhos paradigmas também tem riscos e impasses, e não parecem capazes de lidar com isso com habilidade e serenidade. O Brasil anda muito, muito frágil. Se existe "coração do mundo", ele já está infartado.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Pessoas com status são mais iludidas do que realistas


As pessoas com maior posição social, mais velhas, mais experientes e com mais atributos (dinheiro, fama, diploma) são realistas? Detém a visão objetiva e imparcial das coisas? Possuem o privilégio da razão e do bom senso? Representam a civilização da forma, se não ideal, pelo menos mais adequada possível?

Não. No Brasil dos últimos meses, são essas pessoas que mais cometem erros, dos mais graves, são tomadas das maiores teimosias, possuem fantasias das mais ilusórias, têm uma visão equivocada das coisas, vivem fora da realidade e querem que o mundo seja de acordo com suas convicções pessoais.

O "velho mundo" que essas pessoas representam se rebela contra os avanços sociais e os novos valores. O Brasil vive a "revolta do bolor", a "revolução do mofo", com um governo do presidente interino Michel Temer, moldado em paradigmas que só faziam sentido nos tempos do general Ernesto Geisel, que tenta forçar uma marcha-a-ré histórica para o país.

Até que ponto esse "velho mundo" encontra respaldo, movido por uma assustadora e patológica nostalgia, de privilegiados de toda espécie querendo retroceder a humanidade na marra, no desespero de reconquistar velhas vantagens e recuperar um já obsoleto cenário social de desigualdades consentidas e velhas hierarquias que não fazem mais sentido.

Ultimamente, observa-se que a maioria esmagadora dos velhos não têm capacidade de ensinar coisa alguma sobre a vida. Nas ruas, observa-se pessoas grisalhas tentando entender o mundo, quando em outros tempos elas tinham condições de explicar o mundo para os mais novos. Atualmente, até o Wikipedia consegue ensinar alguma coisa a mais que nossos "coroas" e "vovôs".

Os pais de família também vivem de suas ilusões, até mesmo austeras. Não se decidem se seus filhos têm que trabalhar em casa para ajudá-los ou se têm que procurar um emprego qualquer, de preferência fora da vocação dos jovens.

A realidade é dura e os mais velhos querem que se aceite como está, porque "não dá para resolver". Mas a sociedade do status quo está vulnerável, os mais velhos se apegam a convicções e paradigmas que a cada vez mais se apodrecem, por mais que haja um esforço muito grande em recuperá-las, a custa dos jogos de mercado, dos investimentos financeiros e do patrulhamento moralista.

Velhos também se iludem, vivem fantasias dignas do imaginário infantil, mas sem a inocência das crianças, substituída pela cruel perspectiva de que as fantasias adultas têm que estar acima da realidade. O que não é a religião senão os contos de fadas dos adultos?

O mercado de trabalho também é movido por fantasias, quando os empregadores se recusam a admitir pessoas talentosas por puro preconceito, porque os candidatos não são "bonitões", não são de famílias ricas, sem falar da desculpa da "falta de dinheiro", porque em muitos casos os empregadores jogam fora oportunidades de terem profissionais dinâmicos e capazes de fazer as empresas crescerem.

Por outro lado, quando esses empregadores, iludidos por paradigmas, empregam pessoas dotadas de boa aparência e senso de humor, quando as entrevistas de emprego e seus testes psicológicos só conseguem admitir pessoas aparentemente extrovertidas, as empresas acabam levando gato por lebre, contratando pessoas que armarão esquemas de corrupção ou, na melhor das hipóteses, terão um desempenho profissional abaixo do regular.

Eles não imaginam que muitos candidatos a emprego extrovertidos, cheios de piadas para contar, podem ser profissionais medíocres, que perdem boa parte de suas rotinas de trabalho conversando, papeando bobagens, e só seguem quase que automaticamente as diretrizes de sua profissão, sem no entanto encarar novos desafios e enfrentar novos problemas.

Há muitas e muitas ilusões, e o Brasil de Michel Temer mostra o canto de cisne de tantas convicções vindas de pessoas "de cima", iludidas com a idade, com o dinheiro, com o tempo de experiência, com a formação acadêmica, o poder político, a fama e tantas outras vantagens que pareciam lhes fazer superiores e, se não perfeitas, algo próximo a isso.

Isso é um grande alerta para um "velho mundo" que não quer abrir espaço. As pessoas estão iludidas achando que, bastando um investimento financeiro pesado, uma propaganda midiática para arrancar um respaldo popular e uns arranjos jurídicos para institucionalizar as coisas e ideias, suas velhas convicções possam permanecer de pé e o bolor social pudesse perdurar por muitas décadas.

Quanta ilusão, quanta fantasia. Diante do furacão do tempo, com novos problemas e desafios, o refúgio de uma parcela de pessoas antes consideradas privilegiadas, influentes e experientes, para o resgate de velhos paradigmas só revela sua decadência, e mostra que não se pode combater um furacão com um sopro. Com medo da queda, os "de cima" estão preparando um tombo ainda maior.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

"Espíritas" tendem a ter morte mais dolorosa que a dos ricos

O "BOA-VIDA" JORGINHO GUINLE.

Há uma frase atribuída a Jesus de Nazaré que diz "É mais fácil um camelo entrar na cabeça de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus". A frase é de uma coerência indiscutível, mas ela é complementada por outra que parece oposta, mas não é.

Essa frase é que é "mais fácil um rico entrar no Reino dos Céus do que um 'espírita'". Exagero? Diante do que vemos nesse igrejismo medieval que é o "espiritismo" brasileiro, não há exagero. Embora os ricos estejam longe de serem sequer um arremedo de pessoas iluminadas, numa comparação ligeira, entre um aristocrata e um "espírita", o primeiro tem mais chance.

Pelo menos, o que se pode admitir é que os ricos não têm tantas ilusões em suporem o ingresso celestial no além-túmulo. Mesmo os que se entregam à cegueira dos caprichos materialistas, da futilidade dos gozos terrenos, eles têm noção de que não serão recebidos com pompas e solenidades na porta de entrada do Paraíso.

Mesmo o mais fanfarrão dos ricos, ou o mais desequilibrado dos aristocratas que se mancham em crimes diversos, quando estão na agonia da velhice enferma, sabem que não lhe esperará, no além-túmulo, corais de anjos e autoridades oferecendo troféus e medalhas.

É verdade que as classes ricas, num contexto em que a plutocracia assaltou o poder e conquistou a República brasileira na marra, estão mais próximas da tragédia do que da bonança. Mas aí, ironicamente, os "espíritas" demonstram um apoio sutil a esse governo, representado por Michel Temer, justamente quando em torno dele cercam setores mais ricos e poderosos da sociedade e, para piorar, mais comprometidos com o egoísmo e o prejuízo de multidões.

Sim, a dita "religião da bondade", tão preocupada em pregar a "caridade" e a "humildade", andou surtando ao pedir que "oremos em favor" de governos plutocráticos que atendem aos interesses elitistas. Paciência, a FEB defendeu o golpe de 1964 e apoiou a ditadura militar. Fatos comprovam.

Mesmo assim, os "espíritas" mantém o agravante de que, protegidos por uma mítica religiosa, acreditam ter seu acesso garantido ao Céu ou, na pior das hipóteses, a designação de, pelo menos, mais uma encarnação "a serviço do bem e do amor ao próximo".

DOIS CASOS

Vamos descrever dois casos, de um ricaço que tinha uma vida extravagante, mas um caráter moral leviano e até simpático, e um esperto beato religioso, que muitos acreditam ser o "símbolo máximo de caridade brasileira de todos os tempos".

De um lado, Jorge Guinle, aristocrata carioca, de uma família rica, associada ao Copacabana Palace, famoso por seus contatos com autoridades, celebridades e com o who is who do glamour e do luxo do mundo inteiro em seu tempo.

De outro, Francisco Cândido Xavier, funcionário público nascido no interior de Minas Gerais, beato católico de crenças ortodoxas mas que tinha como única diferença uma paranormalidade, que era bem mais limitada do que se pode imaginar.

Ambos faleceram, mais ou menos na mesma época e faixa etária. Chico Xavier, com 92 anos, em 2002. Jorginho Guinle em 2004, aos 88 anos. E adivinhem quem é que teve a morte mais dolorosa, quem é que se decepcionou mais quando retornou à chamada "pátria espiritual"?

Evidentemente muitos vão dizer que foi Jorginho Guinle, um "boa vida" que nada fez de útil, e que por isso levou um grande choque quando, no mundo espiritual, viu que era pior do que um mendigo, enquanto o frágil Chico Xavier chegou triunfante no mundo espiritual com a certeza de ter completado sua missão na Terra. Correto?

Errado! Extremamente errado! Jorginho Guinle era o tipo de pessoa que não esperava o ingresso ao Paraíso. Ele tinha todo o luxo material, vivia toda a ilusão de vida aristocrática, mas em toda sua vida, ele não causou graves problemas à humanidade, apenas viveu sua vida com alegria e era até uma figura simpática, além do fato de ter escrito um modesto livro sobre jazz.

Já Chico Xavier "penou" quando o além-túmulo sepultou todas as ilusões que a chancela religiosa traz, já que poucos percebem que a religião traz ilusões muito mais perigosas do que a fortuna, já que o status religioso trabalha com riquezas "invisíveis", fora o fato que o "espiritismo" brasileiro é herdeiro do Catolicismo medieval.

Poucos admitem isso. O "espiritismo" brasileiro é influenciado pelo Catolicismo medieval pelo legado dos jesuítas portugueses, Isso é fato, não há como escapar. Da mesma forma, os "espíritas" têm no seu DNA a visão igrejista de Jean-Baptiste Roustaing, como o Michel Temer tem como DNA as "pautas-bombas" de Eduardo Cunha. Esconder o idealizador e assumir suas ideias não significa romper com a herança do mentor descartado.

O "espiritismo" brasileiro de hoje é roustanguista até a medula, mesmo que bajule Allan Kardec zilhões de vezes. Mesmo que usurpe os avisos de Erasto e deturpem ao sabor dos "espíritas" brasileiros. Mesmo que ilustre palestras milionárias em hotéis cinco estrelas com figuras da anatomia humana e cenários de universo estrelar. Mesmo que seus periódicos façam um verdadeiro desfile de citações de personalidades científicas aqui e ali.

Chico Xavier, do contrário de Jorginho Guinle, causou muita confusão. E, enquanto o aristocrata apenas deixava sua vida fluir, o "médium" fazia seu arrivismo, usando a caridade de forma leviana só para legitimar suas fraudes pseudográficas e os valores retrógrados que pregava em livros e depoimentos.

CHICO XAVIER CAUSOU MUITA CONFUSÃO

Os adeptos de Chico Xavier têm que cair na real e admitir que ele foi um arrivista, um caipira plagiador e pastichador de livros que usou a religião como um trampolim pessoal. Ele nada teve dessa imagem de "caridade" e "bondade" que nunca passaram de um mito trabalhado, em primeiro momento, pelo seu mentor terreno Antônio Wantuil de Freitas, o presidente da FEB que nunca foi santificado da mesma forma, e, em segundo momento, pela maquiavélica Rede Globo de Televisão.

Ele causou confusões diversas, tentou atenuar fraudes literárias com "mensagens de amor", se autopromoveu às custas dos mortos e da ostentação dos sofrimentos familiares, e forjou uma falsa superioridade espiritual quando, nos bastidores, chegava a praticar a maledicência e o juízo de valor que sempre condenava dos outros, acusando levianamente vítimas de um incêndio em um circo de Niterói e falando mal de amigos de um jovem morto, Jair Presente, só porque eram céticos.

São verdades dolorosas que os chiquistas se recusam a ouvir, tapando olhos e ouvidos e, evidentemente, se calando quando não conseguem argumentar ou quando são rebatidos nos seus ataques. Pois os chiquistas também atacam e ferem os contestadores, bem mais do que as verdades cortantes que estes trazem derrubando o mito fabuloso e fantasioso do "bondoso médium".

Só a deturpação que Chico Xavier fez da Doutrina Espírita é um mal dos mais extremos, uma desonestidade doutrinária que, em muitos momentos, teve a responsabilidade direta do "médium", e, em outras, o fez consentir com as "orientações" de Wantuil.

Com tantas confusões criadas, é impossível que Xavier tivesse consciência tranquila, embora ele acreditasse que, sendo beato religioso, fazendo a "filantropia de fachada" que fascina mais pela embalagem religiosa do que pelo (ínfimo) número de beneficiados, ele acreditasse que seria perdoado pelo Alto e fosse, com todos os erros e confusões, aceito no "banquete eterno dos puros".

Grande ilusão. Ao regressar para o mundo espiritual, Chico Xavier tomou um choque violento por saber que o mundo espiritual não é uma igreja e a vida humana não é simplória para que a embalagem religiosa garantisse a pureza moral necessária para o ingresso ao Paraíso. Com certeza, Chico Xavier teria se decepcionado com o retorno à "pátria espiritual", quando não foi recebido de forma esperada pelos anjos do céu e ainda teve a noção de que teria que reencarnar muitas e muitas vezes.

Já dá para perceber como será o choque que Divaldo Franco terá quando regressar ao além, quando não haverá corais de anjos, nem solenidades, nem autoridades lhe saudando, nem concessão de medalhas e condecorações, nem sequer assinatura de atestados confirmando o ingresso definitivo ao Reino dos Puros.

Com isso, é possível que Jorginho Guinle tenha tido melhor sorte quando, retornando ao mundo espiritual, teria estado consciente de sua imperfeição espiritual e, não causando sérias confusões, teria tido uma consciência muito mais tranquila do que os "espíritas" que, tomados pela ilusão do status religioso, tinham pressa de estar entre Anjos e Santos.

Jorginho Guinle está muito mais preparado para uma evolução espiritual rápida, já que o aristocrata aproveitou melhor sua alegria de viver sem pretensões e, consciente de sua imperfeição, tem muito mais capacidade de superar seus defeitos, em vez de se entorpecer por uma pretensa perfeição moral movida pelas sensações terrenas.

domingo, 14 de agosto de 2016

Erasto e a apropriação indébita dos "espíritas"


Quem são os "donos da verdade"? Certamente aqueles que dizem, na cara dura, "a verdade está comigo", "eu sou a personificação do bom senso" ou "a razão nunca passa senão por minhas mãos"? Não. Num Brasil em que as piores armadilhas não aparecem, o chamado "dono da verdade" não se manifestam claramente.

No "espiritismo", a deturpação "espírita" ocorreu de tal forma que até mesmo os alertas de Erasto foram deturpados. O espírito do discípulo de Paulo de Tarso (conhecido como São Paulo pelos católicos), Erasto, era um dos mais enérgicos críticos da deturpação da Doutrina Espírita.

Ele havia dito que era melhor repelir dez verdades do que aceitar uma única mentira. No "movimento espírita", aceita-se a mentira do igrejismo deturpador, simbolizado por Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco. Eles acabam se tornando os "donos da verdade", pois a eles, beneficiados pelo status religioso, se atribui a palavra final sobre qualquer coisa.

Um texto merece leitura cautelosa e crítica. O autor, um "espírita" de moldes bem católicos, que "acende a vela" para dois indivíduos antagônicos - Allan Kardec e Chico Xavier - , se apropria de Erasto, diluído em uma tradução igrejista (editora IDE), para interpretar, de maneira tendenciosa, o recado dado por Erasto.

É verdade que, aqui na Terra, não conhecemos o que poderia ser a verdade das coisas. Mas os "espíritas" conhecem bem menos. Evidentemente, eles trabalham as ideias distorcidas de Kardec, transformado em "padre" por traduções irresponsáveis (editoras FEB e IDE), que, por ironia, são armadilhas previstas pelo próprio Erasto.

Esquecem os "espíritas" que coisas que a razão e o bom senso reprovam devem ser repelidas. Isso foi Erasto que disse. As "colônias espirituais" de Chico Xavier, as "crianças-índigo" que foram uma farsa criada por um casal de desocupados querendo ganhar dinheiro, e que Divaldo Franco corroborou como sendo uma "descoberta científica", são coisas que Erasto reprovaria de imediato e com energia.

Diante de tantos erros atribuídos a esses anti-médiuns e a outros "espíritas" solidários, o "movimento espírita" sempre apela para a carteirada moral, dizendo que eles, "pelo menos", falavam em "caridade" e "tiveram suas vidas voltadas exclusivamente ao amor do próximo". Apesar de agradável, tal alegação soa ainda mais hipócrita do que alguém possa admitir.

Pois o que eles fazem é um desfile de palavras e um roteiro de ações paliativas que abordam a ideia de "bondade" de maneira viscosa, gosmenta, como um açúcar servido em doses diabéticas. São manifestações piegas, em que o sentimentalismo exagerado, como uma doçura excessiva, mais prejudica do que beneficia.

Uma prova disso é que o desfile de palavras enfeitadas de Chico Xavier e Divaldo Franco corrompe as almas, fazendo-as puras e benevolentes na aparência e sombrias e maléficas na essência. Enquanto temos que concordar com chiquistas e divaldistas, eles são dóceis e meigos, mas a primeira discordância lhes faz ferver os nervos, como a ignição de um incêndio.

Embora vários deles tentem apelar para uma réplica mais comportada, com palavras falsamente fraternais e argumentos falsamente consistentes, chiquistas e divaldistas, quando recebem a mínima discórdia, se espumam de raiva e não são raras as denúncias de pessoas que foram vítimas de cyberbullying pelos próprios "espíritas".

Uma chiquista tresloucada, ao ver que Chico Xavier foi contestado por uma espírita autêntica, veio com uma arrogante carteirada: "Quem é você para falar de Chico Xavier?". O que mostra o quanto a moral diabética, que cria uma falsa pureza espiritual através da doçura das palavras e dos atos de fachada da caridade paliativa ou assistencialismo, escondem verdadeiros venenos no coração.

Um outro seguidor de Chico Xavier, diante dos questionamentos trazidos por um blogue, Obras Psicografadas, reagiu como um psicopata: "Benditas sejam as fraudes do Chico e as falsas personalidades de seus guias, – seus alteregos – que conseguiram colocar milhões de desesperançados no caminho da luz, da esperança e da renovação!" foi uma de suas frases.

Mas para quem se serve da "chicuta" como um veneno de dóceis palavras bem organizadas e enfeitadas, adoçando o coração mas envenenando vidas e consciências, observa-se que os recados de Erasto não podem servir de brinquedo retórico para palestrantes "espíritas" ambiciosos e que se julgam, não pela palavra aparente, mas pela argumentação astuta, "possuidores da verdade".

É bom deixar claro que Erasto foi muito duro com a deturpação "espírita" e O Livro dos Médiuns, é claro, é lido pelos "espíritas" por suas traduções deturpadas, igrejeiras, que distorcem, e muito, o texto original de Allan Kardec, daí que a contundência de Erasto é dissolvida com água e açúcar de modo que o prudente espírito possa ser usado para apoiar os deturpadores que, em verdade, condenou.

Enquanto os "espíritas" tentam dizer que eles "erram muito" e que "Chico e Divaldo também erraram", mas usam a "bondade" como carteirada para que eles prevalecessem até mesmo quando se considera a retomada das bases originais kardecianas, Erasto já havia dado esse aviso, como se vê no trecho da tradução de O Livro dos Médiuns feita por José Herculano Pires:

"Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé".

Sim, é isso mesmo. Erasto avisou para tomarmos cuidado justamente quando mensagens trazidas por espíritos ou supostos médiuns usam como pretexto a "bondade" e a "fraternidade". Lamentavelmente, os brasileiros ignoram esse aviso (até desconhecem), e mergulham fundo na credulidade de quem se promove lançando "palavras de amor" e caridade paliativa.

As pessoas caem na armadilha, deslumbradas com a beleza da isca. E comemoram ações de caridade palativa que se tornam tão inócuas que as áreas "protegidas" por Chico e Divaldo, a cidade de Uberaba e o bairro de Pau de Lima, em Salvador, são justamente alguns dos lugares mais violentos no Brasil.

Em Uberaba, por exemplo, uma busca na Internet revela que as pessoas estão assustadas, apavoradas, com a violência na cidade mineira onde Chico passou suas últimas décadas. Há até mesmo uma foto montagem da figura alegória da Morte (uma dama encapuzada) circulando por uma rua de Uberaba. A imprensa descreve a violência como fato preocupante e pessoas já fizeram passeatas mostrando fotos de pessoas assassinadas e pedindo justiça e segurança.

Os "espíritas" nem ligam para isso. Para eles, violência é apenas um "mimimi" para vender jornal, atrair audiência para rádios e TVs. Acham que o Brasil está às mil maravilhas, porque a sopinha insossa do "centro espírita" está combatendo a miséria mundial, ainda que esses "índices revolucionários" estejam muito abaixo de 0,1% da população brasileira.

Arruma-se todo tipo de desculpa para legitimar deturpadores. E é essa desordem coletiva, esse efeito manada da credulidade religiosa, essa "espiral do silêncio" que foge dos avisos de Erasto, mas que sabem muito bem deturpar seus alertas ao sabor das conveniências, que faz com que a doença infantil do "espiritismo" brasileiro, igrejista e medieval, se torne um mal de difícil cura.

É um terrível hábito dos brasileiros em que diversas visões deturpadoras ou oportunistas prevaleçam e sobrevivam a todo tipo de réplica que tente desmascarar. Isso revela o grande mal que vicia o Brasil, que é a deturpação. Pior do que o mentiroso pouco habilidoso, é aquele que veste a capa da "verdade" e que numa argumentação bem elaborada, se acha sempre o "dono" da palavra final.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A ascensão dos fascistas no Brasil


Eles atuavam na Internet desde, pelo menos, o final dos anos 1990. Em 2005, já eram reacionários, mas se autoproclamavam "progressistas". Mas, nos últimos anos, eles se mostram tão claramente fascistas que se tornam uma séria ameaça social para um país desorientado como o Brasil.

Diante de vários casos de cyberbullying e violência nas ruas, a truculência dos reacionários que defendem o "estabelecido", desde uma gíria imposta pela mídia ("balada", difundida pelo lobby Rede Globo / Jovem Pan) ou arbitrariedades imposta supostamente pela "mobilidade urbana" (pintura padronizada nos ônibus e dupla função motorista-cobrador) até comentários racistas e machistas, é um fenômeno que causa perplexidade mesmo entre parte da direita brasileira.

Contrariando o suposto otimismo dos "espíritas", a ascensão dos fascistas pode colocar o Brasil em posições ainda mais retrógradas na comunidade das nações. Além disso, o governo ultraconservador de Michel Temer e a corrupção nos poderes Legislativo e Judiciário, que, sob o pretexto de "combaterem a corrupção", manipulam as leis apenas para os interesses de grupos privilegiados.

Animados com a onda de ódio contra os programas relativamente progressistas do Partido dos Trabalhadores, vários setores da sociedade brasileira começaram a reivindicar pautas retrógradas, apoiadas de imediato pelo presidente interino Michel Temer ou por seus ministros, parlamentares e empresários associados.

Vieram então pautas reacionárias, envolvendo machismo, obscurantismo religioso, economia privatista, pedagogia medieval e outras causas que não haviam desaparecido de todo mesmo com o fim da ditadura militar e, latentes desde 1985, voltaram com toda a força se aproveitando da onda de intolerância a tudo que soar progressista e contrário aos interesses das elites.

É uma situação descontrolada. Juristas, juízes e advogados manipulando parcialmente as leis para defender as causas dos amigos e combater tudo que estiver associado ao PT. Parlamentares acusados de corrupção, com provas muito mais consistentes e verdadeiras do que as que se atribui a Dilma Rousseff, presidenta condenada por uma onda de boatos. Políticos sem escrúpulos em defender perdas para as classes trabalhadoras.

Junto a isso, existe até um projeto pedagógico que pretende apresentar a Idade Média para o Brasil, a Escola Sem Partido, que afronta artigos da Constituição Federal e impõe censura ao trabalho dos professores. Além disso, movimentos que respaldam o direitismo já criam grupos que fazem alusão à violência, como os Revoltados On Line e os Gladiadores da Fé da Igreja Universal do Reino de Deus, isso para não dizer os próprios fãs de Jair Bolsonaro, a truculência em pessoa.

É um cenário sombrio no Brasil, no qual os "espíritas" não só estão complacentes como demonstraram até mesmo apoio. Um exemplo é o livro O Partido: Projeto Criminoso de Poder, de Robson Pinheiro, é uma alusão sutil ao PT e às passeatas dos "coxinhas" (reacionários de classe média que se manifestaram vestindo camisas da CBF, por sinal entidade do futebol brasileiro marcada pela corrupção).

O "Correio Espírita" também definiu as passeatas dos "coxinhas" como "momento de despertar político dos jovens". Outras fontes "espíritas" atribuem a tais eventos como "libertação" e "despertar da humanidade contra os abusos do egoísmo humano".

Mas até Francisco Cândido Xavier defendeu o golpe de 1964, a ditadura militar no auge e a eleição de políticos conservadores (como Fernando Collor) alegando que tais cenários políticos "trabalhavam em favor da sociedade". Se vivo fosse, Chico Xavier teria defendido o "Fora Dilma" e apelado para que "orássemos em favor" de Michel Temer.

No entanto, se vê, nestas manifestações, qualidades negativas que os próprios "espíritas" dizem condenar: o ódio, a revolta, a violência. Houve gente mostrando nádegas nas ruas, num ato puramente grotesco. Houve exibições de símbolos nazi-fascistas e até mesmo duas senhoras descansaram mostrando um cartaz que diz "Por que não mataram todos em 1964?".

Pessoas sado-masoquistas que preferem ver o Brasil ser extinto do que ser governado pelo PT. Existe até mesmo a palavra-chave, no Twitter, chamada #TemerMelhorQuePT. Pessoas que preferem ver a Petrobras extinta depois de adquirida por alguma das "seis irmãs" do cartel internacional de petróleo (provavelmente a estadunidense Chevron, negociada pelo ministro das Relações Exteriores, José Serra). Gente que prefere pagar mais caro achando que nada têm a perder.

Enquanto isso, aumentam os assaltos nas ruas das grandes cidades nos últimos meses e o cenário da plutocracia pode mudar do sonho para o pesadelo. Poderá haver guerra civil, pobres e ricos poderão se confrontarem nas ruas, e a chamada plutocracia (sociedade de privilegiados) poderá também sofrer suas graves perdas diante desse cenário desolador que será o governo Temer, se efetivado.

Especialistas sérios definem Michel Temer dentro do estilo do político que sempre encerra seu mandato presidencial deixando o país com grave crise econômica, com a inflação atingindo índices elevados. Isso porque o próprio Temer comprovou realizar gastos descomunais com aliados, em valores financeiros superiores àqueles que o presidente interino prometeu economizar com os cortes de gastos e com medidas de austeridade econômica.

Os fascistas já acumulam fichas policiais. Jornalistas do mundo inteiro chamam a atenção de todo o processo de retrocessos sociais no Brasil, envolvendo mídia, internautas, políticos, religiosos, juristas e empresários comprometidos com esse catastrófico cenário político.

Isso tudo já derruba as profecias tão tendenciosamente difundidas pelos "espíritas" de que o Brasil passaria por um período de regeneração a partir de 2012 para, em 2019, iniciar seu caminho para ser o tal "Coração do Mundo". Além disso ser uma grande besteira, observa-se um quadro inverso, de profundos retrocessos sociais simbolizados pelas forças sociais que assumiram o poder nos últimos meses.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O mercado do preconceito


Vivemos o mercado do preconceito, que envolve não só emprego, mas concursos públicos, seleções acadêmicas, políticas habitacionais, enfim, uma série de procedimentos ligados à vida humana e sua qualidade de vida. E que valores conservadores não conseguem resolver, tomados de tantos sentimentos discriminatórios.

O mercado de trabalho, que é movido pelo jogo das aparências, dá preferência a quem é jovem, bonito, fala inglês fluentemente e que seja tão extrovertido a ponto de ser capaz de ter uma piada pronta. Em muitos casos, o talento só precisa ser mediano. A ideia de dar uma "imagem positiva" à empresa é mais importante do que os efeitos sociais de um trabalho diferenciado.

Houve modismos do "veterano júnior", aquele mito estranho do profissional ao mesmo tempo com menos idade e mais experiência. Recentemente veio o modismo do "profissional piadista", o cara "brincalhão" que conta piadas para os colegas.

Mesmo quando o politicamente correto permite que empresas contratem portadores de alguma limitação física ou gente com mais idade, mais para atender a obrigações legislativas ou para visar vantagens fiscais, ainda existe o preconceito que assombra, sobretudo, as entrevistas de emprego, em que o profissional de recursos humanos age como um verdadeiro carrasco.

O preconceito empresarial muitas vezes leva gato por lebre. Rejeita diplomas enviados por e-mail ou por algum portal de emprego, porque o candidato disse que não fala inglês fluente, possui um currículo supostamente fraco, tem mais idade e uma aparência tida como "desengonçada" e parece tímido e cabisbaixo.

Mas muitas vezes é esse candidato que pode aprender com muito mais facilidade um ofício, passar a falar fluentemente o inglês se lhe derem oportunidade, e salvar a empresa da falência com um trabalho exemplar que só traga um desempenho dinâmico e aumente o faturamento e os rendimentos.

Já o "bom profissional" bonitão, extrovertido, divertido e fluente, muitas vezes, pode se provar um profissional insosso, sem acrescentar coisa alguma à empresa, sendo um profissional "não fede nem cheira" quando a empresa está bem, mas diante das crises é alguém incapaz de contorná-las, ficando apenas na mesmice de seu desempenho limitado.

Isso na melhor das hipóteses. Na pior delas, o "funcionário-piadista" pratica bullying profissional (assédio moral grave), faz assédio sexual com as colegas mais atraentes, trabalha de maneira desleixada protegido pelo seu status de bonitão esbelto e extrovertido, e o vitorioso das entrevistas de emprego se torna um derrotado depois que, com algum deslize ou escândalo, põe a empresa à beira da falência, ou, quando muito, à depreciação de sua imagem na sociedade.

Há também os concursos públicos, dotados de preconceitos criteriológicos alimentados por preceitos moralistas de "saber mais que pode", colocando um saber quantitativo e sobrecarregado como critério de aprovação de um candidato.

Em boa parte dos casos, os concursos chegam a exigir, sem necessidade, conhecimentos de Direito e Matemática (mesmo sob o eufemismo de Raciocínio Lógico-Quantitativo), para meros cargos administrativos ou de assessoria, sobretudo de nível médio, mas tratando os candidatos como se fossem bacharéis em Direito ou Matemática.

São preconceitos moralistas. A ideia de que "quem estuda demais, sabe mais" é uma falácia, porque a overdose de estudos sempre resulta em desgaste mental que mais contribui para o fracasso do que para o sucesso nas provas. "Estudar como um animal" e "meter a cara" são garantia de "rodar" nas provas, obtendo, quando muito, uma sofrida 250ª colocação para uma lista de cerca de 50 aprovados.

Na política habitacional, o que se vê é um acúmulo de preconceitos diversos: a pressão do desemprego, as desavenças familiares, as convenções sociais, que põem muita gente para morar nas ruas. Os aluguéis caríssimos, feitos mais para custear as frescuras de senhorios e corretores de imóveis, criam uma população que, se não monta barracos em favelas, arruma um espaço qualquer na rua para, pelo menos, dormir, ainda que diante da sujeira e do risco de contaminação.

E ai vemos intelectuais alegres exaltando o "mau gosto popular", ridicularizando a "supremacia do bom gosto" e defendendo ídolos musicais bregas e mulheres-objetos que só no Brasil são associadas ao feminismo, como se fosse algo positivo apreciar tendências que ridicularizam a imagem das classes populares. Esses intelectuais chegaram ao cinismo de dizer que morar em favela, praticar prostituição, ser camelô e se divertir na embriaguez são "formas ideais" de vida do povo das "periferias".

No meio acadêmico, os preconceitos são muito graves. Já não se aceitam teses de pós-graduação pela qualidade do tema, mesmo que ele seja polêmico e de muita contestação. Aliás, contestação é vista como um "mal" pelos meios acadêmicos, o que certamente eliminaria da História pensadores renomados como Umberto Eco e Pierre Bourdieu, se eles tivessem sido brasileiros. Eles mal teriam um diploma de graduação para depois mofarem em blogues com um máximo de 25 visitantes.

A maioria dos acadêmicos exige teses empoladas, monografias enfeitadas do mais perfeito aparato retórico. Palavras bem arrumadas, numa roupagem pretensamente científica, objetiva e imparcial, que não raro envolvem temas absurdos e risíveis, abordados de maneira asséptica, acrítica e meramente descritiva, criando teses que podem render aplausos da banca acadêmica, mas "morrem" nas estantes dos acervos monográficos.

Nos cursos de graduação e pós-graduação de universidades particulares, o que se observa são as taxas caríssimas de inscrição e mensalidades, que em muitos casos custeiam mais as coleções de paletós de seus reitores e as festas de gala de seus acadêmicos mais destacados, obrigando o cidadão comum a pagar mais caro por uma especialidade técnica, e, quando beneficiado por financiamentos, ter que reembolsar com empregos sem remuneração.

Existe a urgência da sociedade flexibilizar mais os critérios, em vez de ter que fechar e enrijecer os critérios moralistas e tecnocráticos. O Brasil se transforma e não se pode se prender a esses velhos paradigmas. A plutocracia quer se manter na marra, mas é ela que pagará o preço mais caro dos retrocessos que defendem e dos privilégios que tentam salvar. Se o Brasil "de cima" não mudar, ele poderá sofrer uma séria queda do alto, que será mais dolorosa.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Por que o pânico dos hierarcas de toda espécie?


O governo de Michel Temer e toda uma agenda ultraconservadora revela não uma "coragem" das elites de recuperar valores "sagrados" que só elas julgam acima dos tempos, mas um terrível medo delas serem ultrapassadas por uma avalanche de mudanças.

Fala-se até em censura na Internet, enquanto na Educação a chamada Escola Sem Partido - que, na prática, tem partido, que é o obscurantismo ideológico - tornou-se uma bandeira da suposta "educação independente e plural", que no entanto já avisou que ensinará preconceitos de natureza machista, racista, homofóbica e até antissemita.

A tranquilidade da sociedade, quando o fato é haver tantos movimentos retrógrados, como uma privatização voraz que eliminará o que restar de serviço público - se deixar, até a creche da esquina poderá ser controlada por uma corporação estadunidense - , é ao mesmo tempo masoquista e suicida, como se trabalhar 80 horas semanais fosse garantir umas horas se selfies com os amigos.

Até a supremacia da Rede Globo, que está perdendo audiência como areia caindo em sacola furada, está assustando as elites, que há muito tempo veem seus valores e totens ameaçados de cair. "A maçã está ácida de tão podre, vamos salvá-las; sacrifiquem a fruta nova em favor da fruta podre", é o que dizem as pessoas que perdem toda uma série de símbolos e práticas antes considerados "sagrados".

Babilônias da pós-modernidade com sua desigualdade organizada que parecia reinar num falso equilíbrio social estão num processo catastrófico de decadência. Cidades que eram mecas do consumismo e do entretenimento, como Orlando (EUA), Paris, Nice, Munique e Rio de Janeiro veem a tragédia bater na porta de moradores, seguranças e turistas.

Pessoas ricas com medo de perder privilégios. Homicidas percebendo sua tragédia iminente quando eles apenas se resignavam em abraçar uma longevidade doentes. Corruptos escondidos numa "moralidade democrática" da direita percebendo que os escândalos que eles atribuíram aos rivais do PT se refletem neles próprios, comprometendo a imagem de "honestidade" que eles fabricavam.

A hierarquia, tal como conhecemos, está caindo e o que se vê é o "inferno na torre" na sociedade brasileira, que corre desesperada, no Brasil, para entregar o pré-sal a Tio Sam e, junto dele, as demais riquezas e instituições. O pânico da sociedade em retroceder a História e resgatar valores obsoletos chega a fazer com que antigos paladinos da ética e da lucidez pareçam verdadeiros débeis-mentais na defesa da plutocracia e de valores "superiores" como a religião e a tecnocracia.

A paranoia neurótica das elites, que chegam a perder a cabeça gritando "PT só tem bandido" - um antes conceituado diretor teatral cometeu uma gafe inserindo um discurso anti-petista numa peça de autoria do petista Chico Buarque e um jornalista acusou o New York Times de ser patrocinado pelo mesmo Partido dos Trabalhadores - mostra o quanto a sociedade "de cima" ficou psicopata.

A neurose de querer um "pensamento único", uma "sociedade monorracial", com todo mundo pensando igual às elites mais retrógradas se reflete até mesmo numa atitude aparentemente menor de botar diferentes empresas de ônibus para exibir o único visual do "consórcio" da prefeitura ou do governo do Estado, ignorando os prejuízos que isso pode trazer (confundir passageiros e ocultar a corrupção político-empresarial), criando um contexto ainda pior.

Você trabalha mais horas, ganha menos salários, tem muitas contas a pagar, precisa rever os amigos, numa realidade tão sobrecarregada e você ainda tem que prestar atenção para não pegar o ônibus errado, porque a empresa A tem a mesma cor da empresa B ou C e, muitas vezes, pegar um ônibus errado significa a morte num desembarque em algum lugar estranho e ermo.

A imposição de transtornos, dificuldades, malefícios e sacrifícios acaba fazendo as máscaras das elites caírem. Mesmo a ação "patrulheira" do cyberbullying se volta a seus autores pela ameaça que a empolgação da zoeira impune pode causar, com o algoz vivendo seu dia de caça, quando se empolga demais com a humilhação e pode ser assassinado numa simples discussão de time de futebol num bar, durante um fim de semana.

A tragédia assombra as elites, como uma pedra atirada do alto de um Vesúvio em atividade. Mas as elites, certas de seu triunfo, acham que basta pegar um tacape para abater a rocha caindo em sua direção para desviá-la do caminho. É como um granfino que vê o grande edifício em chamas que pega uma garrafa de champanhe para tentar, em vão, apagar o incêndio.

A catástrofe pode estar, em primeiro momento, ameaçando as classes populares, as forças progressistas e os novos segmentos sociais diante de movimentos organizados diversos para fazer voltar o país, na melhor das hipóteses, aos padrões sociais do período do governo Ernesto Geisel.

Mas esta catástrofe ameaça muito mais aqueles que apostam num resgate aos valores ultraconservadores, à revolta do bolor contra o fungicida, em que até mesmo a carteirada moral (a desculpa do "Quem nunca erra" que faz apologia a erros graves, quando vindos de "gente importante") é lançada para atenuar a gravidade de muitos escândalos e crimes.

No Brasil, as elites acham que, sufocando os avanços sociais e revertendo a sociedade para padrões sociais, políticos, econômicos, morais e culturais de, pelo menos, 40 anos atrás, retomarão o sossego de antes. Só que esse sossego está definitivamente perdido e forçar a recuperação desse antigo sossego elitista, machista, racista, moralista, patriarcalista, ancião, tecnocrático, midiático etc só representará mais desordem e mal estar.

Muitos ignoram, por exemplo, que o projeto Escola Sem Partido pode acidentalmente se tornar uma "escola de bandidos" uma vez que seu projeto pedagógico opressor pode fazer o aluno, revoltado com tamanha pressão, vai se entregar ao crime, por simples questão de rebeldia e desabafo.

É como se, num aprendizado às avessas, a Escola Sem Partido lhe ensinasse como é empolgante ser criminoso, diante de um moralismo socialmente asfixiante que não aproveita bem os potenciais da juventude e, neste vazio, faz ela sucumbir a alternativas ilícitas e cruéis de emancipação pessoal.

As elites ficam apavoradas e em pânico ao pensar na sua decadência e, por isso, ficam tranquilas e serenas no resgate de uma agenda ultraconservadora, se esquecendo que esta agenda, na medida em que propõe valores sociais excludentes e permite a recuperação da concentração de renda dos mais ricos, pode fazer com que a plutocracia veja seus filhos morrerem nos assaltos desesperadamente movidos pela massa excluída.

A catástrofe da agenda ultraconservadora, em primeiro momento, aumenta as desgraças dos desfavorecidos, mas, na medida em que se retomam privilégios abusivos das elites, as fazem também vulneráveis à revolta dos que experimentaram uma breve e relativa inclusão social e agora se irritam em se verem cada vez mais excluídos. A plutocracia desenha sua própria tragédia.

sábado, 6 de agosto de 2016

O pesadelo sonhado pela plutocracia


Como se dá o pesadelo? Normalmente, um pesadelo começa como um sonho bom, maravilhoso, em que é representada uma situação da vida pessoal de alguém, num belo dia, com céu azul e tudo. Parece uma situação agradável, um momento maravilhoso, uma ocasião alegre.

De repente, acontece alguma coisa que traz, em seguida, algo não só desagradável como perigoso e assustador. O dia pode continuar ensolarado e a pessoa, por exemplo, pode continuar em festa, mas ocorre alguma coisa muito assustadora, como ver uma pessoa com aspectos monstruosos ou ver uma situação trágica na eminência de ocorrer. A pessoa, apavorada, acorda. É o pesadelo.

Hoje temos a onda de retrocessos que atinge o Brasil. Nos últimos meses, setores influentes e privilegiados da sociedade, incomodados com os avanços sociais, reagiram em revolta e pedem um "mundo velho" de volta, a atender suas velhas convicções e os velhos interesses perdidos. É a "revolta do bolor" que é representada sobretudo pelo governo retrógrado do presidente interino Michel Temer.

A Escola Sem Partido, as demissões em massa do serviço público, as velhas privatizações que reafirmam poder de empresas estrangeiras na economia brasileira, as reformas trabalhistas que farão as pessoas trabalharem mais e ganharem menos, além de adiar a aposentadoria para mais tarde, os apelos para obedecer velhas hierarquias, tudo isso simboliza essa marcha-a-ré histórica.

Iludidas com a felicidade do WhatsApp, das piadas e dos jogos esportivos na areia da praia, na vitória fácil dos times do futebol carioca (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo), as pessoas não veem a tragédia que representa essa forçada retomada do obscurantismo no Brasil.

Isso voltará aos climas de insegurança que ocorreram na Era Geisel. Se as pessoas querem recuperar uma sociedade nos moldes do Brasil escravocrata, também recuperarão a ameaça que significou a Revolta dos Malês, matando os brancos escravocratas. Se querem recuperar os padrões do "milagre brasileiro", recuperarão também a violência que atingia as ruas das cidades na crise da ditadura militar.

A certeza de que as pessoas ficarão protegidas nos sofás, no seu quarto diante do WhatsApp do celular ou nas quatro paredes das boates, a noção do risco que sofrem, e é altíssimo, revela a falta de noção daqueles que acham que retroceder a humanidade é um ato pacífico de investir dinheiro na recuperação de velhos paradigmas, contando com o apoio da mídia para influenciar a opinião pública e dos meios jurídicos para institucionalizar esses velhos padrões.

Nada é pacífico e os efeitos que isso causará nos privilegiados é devastador. Voltarão a crescer aqueles assaltos que vitimavam as elites abastadas, diante do estrangulamento econômico que o projeto "Ponte para o Futuro" causará nos brasileiros, promovendo desemprego e, com isso, fazendo muitos desesperados recorrerem ao crime para obterem dinheiro.

Noticiários policiais em que pessoas ricas são mortas em assaltos ocorridos logo quando elas se dirigiam de carro para a garagem de seus prédios se multiplicarão. Isso é catastrofismo? Não. Será o efeito dramático que o Brasil plutocrático fará, diante do fim das conquistas sociais prevista pelo governo Temer e que tirará muitos benefícios das classes desfavorecidas.

Diante do privilégio perdido, muitas pessoas de origem pobre ou de classe média baixa irão se revoltar, diante dos obstáculos a serem agravados no mercado de trabalho, e isso fará com que os "de cima" sejam vítimas de chantagens, vinganças e violência, trazendo à plutocracia um preço sangrento por causa das asfixias sociais que ela irá impor com seus retrocessos sociais.

Isto não é catastrofismo. É o efeito natural de pessoas que experimentaram algum benefício nos tempos dos governos de Lula e Dilma Rousseff, e que veem a perda eminente dos mesmos pelo Plano Temer e, indignadas com isso e movidas pela insegurança e pelo vazio de valores e perspectivas, recorrem ao crime para tomar dos ricos e abastados o dinheiro que não conseguem obter pela falta de emprego.

Como um pesadelo, a plutocracia inicia seu belo sonho de recuperar velhos paradigmas, algo que parecia simplório e fácil com as passeatas "verde-amarelas", com a pregação da grande mídia empresarial, com a inclinação, ainda que confusa e irregular, dos setores do Judiciário e do Ministério Público, dos quais se destaca um Sérgio Moro com feições de Super-Homem, e um esforço político sem escrúpulos de receber apoio de gente corrupta.

Só que o lindo sonho parece como uma manhã de sol e céu azul que, no momento de grande calor, junta uma grande porção de nuvens brancas que parecem belas e serenas, mas que ao longo das horas se transformam em nuvens cinzentas e em cor grafite, das quais sairão trovões violentos, raios assustadores e tempestades a alagar ruas e derrubar árvores sob ventos fortes.

A plutocracia parece que conseguirá retroceder a humanidade, e, num Brasil cujo hábito comum é a dissimulação, ainda tentará mentir dizendo que seus valores "não são velhos, mas atemporais" e que "não trarão prejuízos para a sociedade".

Mas, como diz o ditado, as práticas valem mais do que mil palavras, e o problema é que a sociedade "de cima" que não quer perder privilégios nem ver caírem paradigmas já obsoletos tenta um duro esforço de promover retrocessos sociais que pode até impor um alto preço a quem não está no "alto da pirâmide", mas também trará uma conta amarga justamente para quem quer recuperar velhos privilégios de toda espécie.