sábado, 20 de agosto de 2016

No Brasil prevalece a vitória do bolor sobre o fungicida

SUPONHAMOS QUE ESTE SEJA O PLANETA TERRA E A ÁREA AFETADA PELO BOLOR É O BRASIL.

O Brasil está num apego desesperado e neurótico que atinge níveis preocupantes e fazem com que a sociedade considerada "mais influente" se torne psicopata. O cenário social, político, cultural e econômico que temos é fruto de tantas neuroses, teimosias e ignorâncias.

Preso em velhos paradigmas, que tentam resistir como se fosse a luta e a vitória do bolor sobre o fungicida, o país corre o risco de sofrer retrocessos ainda piores. Do "funk" ao machismo feminicida, o Brasil não abre mão de velhas convicções nem de velhas reputações. O status quo sofre decadências sucessivas mas reputações se tornam intocáveis na marra.

Esse é o terrível vício que faz do Brasil um país cada vez mais distante do desenvolvimento social. Para ser um país com liderança mundial, o Brasil teria de fazer romper com velhos paradigmas, se desapegar de velhos símbolos, totens, práticas etc.

Sucessivas notícias envolvendo encrencas e gafes vergonhosos de gente com mais de 60 anos mostram a queda do mito da maturidade que chega automaticamente com o embranquecer dos cabelos. A complexidade social que atinge pessoas detentoras de poder e prestígio de âmbito social, econômico, político, lúdico e até religioso é uma realidade que se revela inevitável.

Mesmo assim, as pessoas reagem. Reações organizadas de setores da sociedade permitem que o bolor prevaleça sobre o fungicida. A fúria de valentões nas mídias sociais, que num momento de catarse arrastavam seguidores a participar de uma campanha de desmoralização de um discordante de alguma coisa "estabelecida" foi apenas um aperitivo desse banquete venenoso que ameaça o país.

FELICIDADE À ESPERA DO PIOR

Há em uma boa parcela da sociedade brasileira uma grande esperança pelo governo de Michel Temer, uma torcida para que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, cujo pretexto, de supostas irregularidades fiscais, foi anulado pelo Ministério Público Federal, seja definitivo e o presidente interino se torne efetivo.

Pessoas veem os noticiários econômicos de uma grande imprensa controlada por famílias empresariais e ficam extasiadas e felizes diante de propostas retrógradas como a extinção do intermédio da lei nas negociações entre patrões e empregados, na possibilidade dos trabalhadores terem carga horária semanal de 80 horas e terem seus salários novamente desvalorizados.

Acham que isso é "necessário" para "combater a crise" e depositam fé em políticos que, como os do PSDB (Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves etc), cometeram gigantescas somas de desvio de dinheiro público, através de privatizações e licitações irregulares.

Mas esta esperança contagia até mesmo os decadentes "espíritas", que não conseguem mais explicar suas contradições, isolados na sua prática viciada de bajular Allan Kardec e, paradoxalmente, exaltar igrejistas como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, cujas obras contrariam frontalmente e de forma aberrante o legado do pedagogo francês.

Depois da gafe de definirem as reacionárias manifestações de 13 de março de 2016 como "conscientização política" e "despertar espiritual" da população e atribuir a isso "regeneração" da humanidade, os "espíritas", com surreal alegria, comemoram a chance do Brasil se tornar "finalmente o Coração do Mundo".

Como o Brasil se tornará o centro humanitário do mundo, se irá retomar a postura subserviente aos EUA? Que liderança se esperará do Brasil, sendo ele capacho dos interesses do empresariado dos países ricos? O Brasil liderará o mundo servindo sopinha nas instituições religiosas?

O mais espantoso é que as manifestações definidas pelos "espíritas", tão zelosos em ter a "palavra final" para tudo, como "libertadoras" e "intuídas pela espiritualidade superior" foram, na verdade, movidas pelo ódio, pelo rancor, pelo preconceito e pelas humilhações que há um bom tempo aconteciam na Internet intimidando quem discordasse do "pensamento único" sobre qualquer coisa, seja uma gíria, um modismo, um conceito social qualquer.

As próprias manifestações do 13 de Março, que foram mais um fenômeno de mídia do que um fenômeno social - já que os tais protestos "contra a corrupção" foram até menores do que em 2015 - revelaram bandeiras fascistas, racistas, homofóbicas, elitistas e tinham até clamores de morte a Lula e Dilma Rousseff e recados esnobes do tipo "vá para Cuba".

Mas tudo isso tem a ver. Afinal, é o país que acha que os charlatães Chico Xavier e Divaldo Franco são "símbolos máximos de caridade", sem ter ajudado profundamente os brasileiros. Eles mesmos são reflexo desse apego ao status quo e aos velhos paradigmas, já que os dois simbolizam mais uma religiosidade extrema que está vinculada a velhos moralismos e misticismos antiquados.

O Brasil velho e embolorado resiste a todo custo. É um país velho e obsoleto que tenta se impor aos novos tempos, ainda que na marra. O problema é que as elites que apostam em velhos paradigmas também tem riscos e impasses, e não parecem capazes de lidar com isso com habilidade e serenidade. O Brasil anda muito, muito frágil. Se existe "coração do mundo", ele já está infartado.

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