quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Pessoas com status são mais iludidas do que realistas


As pessoas com maior posição social, mais velhas, mais experientes e com mais atributos (dinheiro, fama, diploma) são realistas? Detém a visão objetiva e imparcial das coisas? Possuem o privilégio da razão e do bom senso? Representam a civilização da forma, se não ideal, pelo menos mais adequada possível?

Não. No Brasil dos últimos meses, são essas pessoas que mais cometem erros, dos mais graves, são tomadas das maiores teimosias, possuem fantasias das mais ilusórias, têm uma visão equivocada das coisas, vivem fora da realidade e querem que o mundo seja de acordo com suas convicções pessoais.

O "velho mundo" que essas pessoas representam se rebela contra os avanços sociais e os novos valores. O Brasil vive a "revolta do bolor", a "revolução do mofo", com um governo do presidente interino Michel Temer, moldado em paradigmas que só faziam sentido nos tempos do general Ernesto Geisel, que tenta forçar uma marcha-a-ré histórica para o país.

Até que ponto esse "velho mundo" encontra respaldo, movido por uma assustadora e patológica nostalgia, de privilegiados de toda espécie querendo retroceder a humanidade na marra, no desespero de reconquistar velhas vantagens e recuperar um já obsoleto cenário social de desigualdades consentidas e velhas hierarquias que não fazem mais sentido.

Ultimamente, observa-se que a maioria esmagadora dos velhos não têm capacidade de ensinar coisa alguma sobre a vida. Nas ruas, observa-se pessoas grisalhas tentando entender o mundo, quando em outros tempos elas tinham condições de explicar o mundo para os mais novos. Atualmente, até o Wikipedia consegue ensinar alguma coisa a mais que nossos "coroas" e "vovôs".

Os pais de família também vivem de suas ilusões, até mesmo austeras. Não se decidem se seus filhos têm que trabalhar em casa para ajudá-los ou se têm que procurar um emprego qualquer, de preferência fora da vocação dos jovens.

A realidade é dura e os mais velhos querem que se aceite como está, porque "não dá para resolver". Mas a sociedade do status quo está vulnerável, os mais velhos se apegam a convicções e paradigmas que a cada vez mais se apodrecem, por mais que haja um esforço muito grande em recuperá-las, a custa dos jogos de mercado, dos investimentos financeiros e do patrulhamento moralista.

Velhos também se iludem, vivem fantasias dignas do imaginário infantil, mas sem a inocência das crianças, substituída pela cruel perspectiva de que as fantasias adultas têm que estar acima da realidade. O que não é a religião senão os contos de fadas dos adultos?

O mercado de trabalho também é movido por fantasias, quando os empregadores se recusam a admitir pessoas talentosas por puro preconceito, porque os candidatos não são "bonitões", não são de famílias ricas, sem falar da desculpa da "falta de dinheiro", porque em muitos casos os empregadores jogam fora oportunidades de terem profissionais dinâmicos e capazes de fazer as empresas crescerem.

Por outro lado, quando esses empregadores, iludidos por paradigmas, empregam pessoas dotadas de boa aparência e senso de humor, quando as entrevistas de emprego e seus testes psicológicos só conseguem admitir pessoas aparentemente extrovertidas, as empresas acabam levando gato por lebre, contratando pessoas que armarão esquemas de corrupção ou, na melhor das hipóteses, terão um desempenho profissional abaixo do regular.

Eles não imaginam que muitos candidatos a emprego extrovertidos, cheios de piadas para contar, podem ser profissionais medíocres, que perdem boa parte de suas rotinas de trabalho conversando, papeando bobagens, e só seguem quase que automaticamente as diretrizes de sua profissão, sem no entanto encarar novos desafios e enfrentar novos problemas.

Há muitas e muitas ilusões, e o Brasil de Michel Temer mostra o canto de cisne de tantas convicções vindas de pessoas "de cima", iludidas com a idade, com o dinheiro, com o tempo de experiência, com a formação acadêmica, o poder político, a fama e tantas outras vantagens que pareciam lhes fazer superiores e, se não perfeitas, algo próximo a isso.

Isso é um grande alerta para um "velho mundo" que não quer abrir espaço. As pessoas estão iludidas achando que, bastando um investimento financeiro pesado, uma propaganda midiática para arrancar um respaldo popular e uns arranjos jurídicos para institucionalizar as coisas e ideias, suas velhas convicções possam permanecer de pé e o bolor social pudesse perdurar por muitas décadas.

Quanta ilusão, quanta fantasia. Diante do furacão do tempo, com novos problemas e desafios, o refúgio de uma parcela de pessoas antes consideradas privilegiadas, influentes e experientes, para o resgate de velhos paradigmas só revela sua decadência, e mostra que não se pode combater um furacão com um sopro. Com medo da queda, os "de cima" estão preparando um tombo ainda maior.

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