segunda-feira, 3 de outubro de 2016

E, se lugar de Pompeia, estivesse o Rio de Janeiro?

SIMULAÇÃO DIGITAL DA TRAGÉDIA DE POMPEIA, NO ANO 79 DE NOSSA ERA.

O Brasil vive uma situação catastrófica, com um cenário político confuso marcado por um contexto sócio-econômico degradante e da atuação traiçoeira de setores da mídia e da Justiça. Vivemos retrocessos que serão indigestos demais para o vão otimismo da classe média movida por esperanças cegas e uma alegria imprudente e masoquista.

O Sul e Sudeste comandam esse cenário desolador, simbolizado pela ascensão política do impopular e retrógrado Michel Temer, garantido pela "República de Curitiba" dos partidarizados policiais, promotores, procuradores e juízes da Operação Lava Jato e pelo empenho das medievais bancadas BBB (evangélicos, militares e policiais e latifundiários) do Congresso Nacional, e pela grande imprensa reacionária e cada vez mais mentirosa e caluniadora.

Do Sul e Sudeste, destaca-se a decadência, em níveis avassaladores e em queda livre, do Estado do Rio de Janeiro, movido pelo neocoronelismo, pela pistolagem da Baixada Fluminense, pela monocultura do "funk" e do "sertanejo", sobretudo na ex-Cidade Maravilhosa simbolizada também pelos ônibus com pintura padronizada e pelos internautas agressivos com pensamento único, além do fanatismo futebolístico capaz de impedir cidadãos de dormirem à noite.

Todo esse cenário é deplorável, preocupante, e faz com que as forças reacionárias retomem o fôlego em vários aspectos. Não por acaso, já aumentaram drasticamente os casos de feminicídio conjugal que sempre marcaram a agressividade machista num Brasil que viu Domingos Montaigner morrer, mas que tem medo de imaginar Doca Street, mesmo no alto de 80 e tantos anos, figurando em algum obituário da grande imprensa.

De repente o Brasil andou para trás e o Rio de Janeiro tornou-se símbolo disso, retrocedendo tanto que teve que desfazer até de certos retrocessos, como o mercado cultural se desfazer da Rádio Cidade - um pastiche grosseiro de rádio de rock que não conseguia sequer criar um falso arremedo de rebeldia juvenil - e o cenário político se desfazer do tenebroso deputado Eduardo Cunha.

O pior é que o município do Rio de Janeiro ainda é oficialmente a "cidade-modelo" do Brasil. Seus retrocessos já foram exportados para o resto do país, como a pintura padronizada que sucateia frotas de ônibus em capitais como Recife e Florianópolis e os "bailes funk" que exportam orgias de sexo e violência até em cidades do interior gaúcho, catarinense e mineiro e introduzem "proibidões" até em cenas de "forró" no Ceará e do "pagodão" na Bahia.

O Rio de Janeiro jogou no lixo toda aquela reputação que esteve no auge entre 1958 e 1964. Tentou recuperar algumas das qualidades e avanços, mas desde os anos 1990 só caiu em vários aspectos da vida humana, social, econômica. Até a logística dos mercados decaiu, com os estoques cada vez mais demorando para serem repostos nos supermercados e outros estabelecimentos comerciais.

Há também a situação "confortável" de Niterói, finalmente conformada com a perda de seu posto de capital do Estado do Rio de Janeiro, há 41 anos, e feliz em se tornar uma cidade provinciana que nenhuma cidade provinciana do Brasil teria coragem de ser, mesmo na pior das hipóteses.

Ficamos imaginando se, no lugar do Pão de Açúcar, tivesse o Vesúvio se despertando, de repente, com toda sua fúria a expelir lavas e rochas encandescentes a ameaçar toda a área do Rio de Janeiro e parte de Niterói, que seria a "Herculano" da vez enquanto a ex-Cidade Maravilhosa seria a Pompeia da ocasião.

Será que um Maracanã lotado num clássico de futebol pararia seu espetáculo - cujo fanatismo faz pessoas gritarem por seus times até nas altas horas da noite, perturbando o sono de quem dorme para trabalhar no dia seguinte - diante da fumaça tóxica dos gases vulcânicos, das rochas de fogo jogadas a esmo e nas lavas que descem como caldas atingindo todo o lugar?

Será que, quando alguém tiver noção da catástrofe vesuviana, usaria Bíblias ou livros de Chico Xavier para afugentar as rochas cadentes a atingir pessoas e incendiar os lugares atingidos? Será que os sorrisos das pessoas serão suficientes para afastar ou eliminar esse espetáculo de horror e tragédia?

A preocupante indiferença das pessoas não sabe a crise que vive o país. A analogia da erupção vulcânica que soterrou duas cidades, Pompeia e Herculano, é apenas um comentário sobre o desprezo que a "boa sociedade" tem desse momento terrível em que vivemos, quando os setores mais atrasados da sociedade retomaram o poder com a ganância de reconquistar privilégios e abusos extremos. Isso é grave e nenhum otimismo cego irá resolver tal situação.

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