quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Endeusamento de Chico Xavier e Madre Teresa de Calcutá tem fins financeiros


A religião é um repositório de ilusões e paixões humanas nas quais se combinam sensações de emotividade extrema, juntando pieguice, fantasias e falsa modéstia. É um fenômeno no qual as mesmas paixões da fortuna e do luxo se voltam para valores simbólicos e não-materiais, mas sujeitas ao mesmo envaidecimento e a um triunfalismo pior do que o dos ricos da matéria.

O religioso não admite que pode errar. Ele se julga protegido por uma aura de superioridade que se considera imune a qualquer questionamento ou impasse. Religiões nunca entram em falência. Os religiosos sempre se consideram com a posse da palavra final e com a certeza de que, se não têm ainda o passaporte para o Céu, estão num caminho relativamente curto para isso.

A religião não é um mal em si, se ela se manifestar dentro dos seus limites, sem forçar proselitismo, sem se achar acima da realidade. Mas quando a religião se julga acima da realidade, se impõe para a aceitação por outrem e determina os limites para o raciocínio questionador e científico, ela se torna, portanto, um mal.

É o que se vê, por exemplo, na chamada "bancada da Bíblia", predominantemente de seitas evangélicas do tipo "neopentecostal", derivadas ou dissidentes da veterana Igreja Nova Vida, mas também com o sutil e eventual apoio de católicos e "espíritas".

Pois é essa bancada, no Congresso Nacional, que está promovendo uma marcha-a-ré histórica, apoiando a instalação ilegal e ilegítima de Michel Temer, e através dele implantando uma pauta de medidas retrógradas que envolvem a redução sutil de direitos trabalhistas e o freio aos avanços sociais conquistados.

Embora Michel Temer tenha que cometer recuos aqui e ali - ele voltou atrás da extinção do Ministério da Cultura e do aumento para doze horas na carga horária de trabalho - , a influência da "bancada da Bíblia" já sinaliza que novos retrocessos estão a caminho, o que faz muitos especialistas compararem o cenário político brasileiro de hoje à Idade Média ou à Alemanha nazista.

A religião, portanto, vive de suas ilusões e de seus mecanismos arrivistas. E a competição acirrada que envolve sobretudo neopentecostais e "espíritas", que disputam a superação da hegemonia católica e a supremacia religiosa no Brasil, revela todo um processo ganancioso que se apoia sob o verniz da fé e sob o pretexto da fraternidade.

E aí se observa, sobretudo, os interesses comerciais em jogo. No caso dos neopentecostais, é bastante óbvio, ante a máquina midiática que foi construída, através da aquisição, nos anos 90, da veterana Rede Record (a TV Record paulista é a mais antiga emissora de TV em atividade no Brasil), a partir dos dízimos, uma espécie de estelionato religioso no qual os pastores persuadem seus fiéis a doar uma relativa soma de dinheiro, sob a promessa da "salvação divina".

No caso do Catolicismo e do "espiritismo", se observa sobretudo quando se tenta promover determinados ídolos religiosos como "espíritos perfeitos", visando interesses financeiros estratégicos, envolvendo produtos relacionados e até mesmo finalidades turísticas.

Madre Teresa de Calcutá não foi canonizada pelo Vaticano por ser a perfeição que oficialmente lhe é atribuída, até porque ela foi denunciada, ainda no fim da vida, por ter deixado seus alojados nas "casas de caridade" em condições terrivelmente desumanas. Ela foi canonizada porque é considerada uma grande fonte de renda para a Igreja Católica.

Livros sobre o "belo exemplo" de Madre Teresa, exemplares da "milagrosa medalha" - um artefato inócuo, como comprovou o caso Monica Besra, na Índia, e mostra fortes indícios na intoxicação alimentar creditada como "câncer terminal" do engenheiro Marcílio Andrino - e gravuras da "santa" podem ser comercializados com o dinheiro sendo enviado para a "caridade" (leiam-se as contas bancárias dos sacerdotes, já beneficiados em vida pelos desvios financeiros de Madre Teresa).

No "espiritismo", observa-se o mesmo com Francisco Cândido Xavier. Depois de uma propaganda confusa e sujeita a escândalos, através da FEB, entre 1932 e 1970 (da farsa literária do Parnaso de Além-Túmulo ao desfecho do caso Otília Diogo), Chico Xavier passou a ser, aos poucos, promovido nos mesmos moldes publicitários que promoveram Madre Teresa através do documentário inglês Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), de Malcolm Muggeridge, lançado em 1969.

Com os mesmos elementos do documentário de Muggeridge, Chico Xavier foi relançado como um "grande filantropo", copiando os mesmos truques publicitários: chegada a uma casa de caridade acolhido pela multidão, segurar criança no colo, passar a mão nas cabeças dos doentes, conversar com velhinhos pobres, dar depoimentos pseudo-filosóficos etc. Se toda propaganda política fosse assim, até os "ficha-suja" poderiam ser santificados com uma campanha assim.

Se Madre Teresa virou "santa" para o bem do comércio de artigos católicos a ela relacionados, Chico Xavier é declarado "espírito de luz" sob o mesmo propósito: vender, vender e vender livros, assim como produzir materiais derivados que levam seu nome, cheios de estórias "lindas", "lições de vida", "mensagens de amor" e tudo o mais, fora os livros "científicos" da "profecia da data-limite", que fazem do nome Chico Xavier uma máquina de fazer dinheiro.

O aparato de "caridade" e a eventual "gratuidade" de produtos e eventos "espíritas" não desmente o arrivismo financeiro. Afinal, já existem outros meios de captar recursos, sem falar que muitas das doações de roupas e outros objetos servem para serem revendidos. Na "Cidade da Luz", em Salvador, José Medrado também apela para "dízimos" à maneira de seus vizinhos da Igreja Universal do Reino de Deus.

Há workshops, filmes de dramaturgia ou documentários, há lançamentos de novos livros que, em grandes quantidades, compensam a inserção de filmes e livros "espíritas" para o carregamento gratuito nas redes sociais. A "gratuidade" é apenas um aparato, uma isca para atrair fiéis, porque o comercialismo tem outros meios de arrecadação, que fazem com que "médiuns" profissionalmente modestos possam ter um conforto além do normal.

Isso mostra o quanto a religião "espírita" não é muito diferente de outros exploradores da fé, apenas se diferindo no status ainda intocável de mercadores das belas palavras, beneficiados pela blindagem midiática, jurídica e política que os faz imunes mesmo diante de denúncias sérias e graves. Ser "santo" no Brasil tem duas condições favoráveis: ser do PSDB e ser "espírita". Podem errar a vontade que ninguém mexe.

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