domingo, 6 de novembro de 2016

Elites que retomaram o poder no Brasil caem em qualidade

PROCURADOR DELTAN DALLAGNOL, DO MINISTÉRIO PÚBLICO: FAMOSO PELA GAFE DE SEUS ESQUEMAS DE POWER POINT.

As elites que reconquistaram o poder no Brasil, nos últimos meses, vivem numa utopia plena. Acham que, com o sustento financeiro, o respaldo jurídico e o apoio da coletividade, numa aliança "segura" entre empresariado, Judiciário e grande mídia, poderão permanecer no poder de maneira tranquila e efetiva. Mas não será assim.

Afinal, o Brasil vive seu período de maior vulnerabilidade social. O governo de Michel Temer é, seguramente, o pior de toda a História da República brasileira. Vemos um Judiciário parcial e tendencioso, uma grande mídia cada vez menos comprometida com a informação e a verdade, e uma sociedade que se torna moralista sem moral.

Já se fala até em volta da "defesa de honra" para o feminicídio machista, um ano depois de ser considerado crime hediondo e numa época em que Doca Street e Pimenta Neves já compraram a passagem para o além. E nas redes sociais pessoas manifestam ataques racistas livremente, se esquecendo que cometem crimes inafiancáveis.

Sim, a sociedade voltou a ter um surto reacionário comparável aos tempos da ditadura militar. E isso mostra o quanto as elites que reconquistaram o poder caíram muito em qualidade, sob vários aspectos, com um neoconservadorismo que já começou desastroso nessa retomada do poder e cujas chances de haver alguma melhora estão praticamente perdidas.

Vemos tecnocratas, aristocratas, empresariado, celebridades, artistas, políticos e juristas que dominam a sociedade de uma forma ou de outra, com o prestígio do dinheiro, da fama, do diploma, do poder político, da hierarquia administrativa etc, dotados de plena incompetência, cometendo inúmeras gafes, praticando a causa específica de maneira superficial e equivocada e por aí vai.

Enquanto na mídia de esquerda - acusada, levianamente, de ser "petista" e "ideológica" - se observam juristas, economistas, jornalistas e acadêmicos sérios alertando para inúmeras infrações legais e profissionais cometidas pelas elites que retomaram o poder, na mídia solidária ao contexto atual o que se vê são abordagens de um otimismo fantasioso digno de contos de fadas.

É só observar a PEC do Teto (inicialmente PEC 241, hoje PEC 55) e a Escola Sem Partido. Na mídia dominante, a partir do exemplo da própria Rede Globo, seus defensores usam argumentos confusos e um tanto fantasiosos, em que uma teoria linda é mostrada, como um "controle racional" dos gastos públicos e uma Educação que "forma cidadãos sem fazer manipulação ideológica".

São argumentos fora de lógica e sem garantia de aplicação na realidade. Mais parecem campanhas publicitárias. E isso mostra o quanto a elite que retomou o poder está velha, cansada, mofada. Isso reflete até nas estéticas retrô que envolveram, por exemplo, os panfletos e cartazes do seminário do Movimento Brasil Livre.

Outro exemplo são os economistas que tentam argumentar sobre projetos socialmente excludentes, feitos mais para recuperar o mercado e a indústria do que para garantir renda para todos. Um exemplo típico, de economistas tidos como "salvadores da pátria" que nunca conseguiram resolver crises e só as fizeram agravar, diante de medidas que só favoreceram o empresariado, em detrimento da população.

Mas o próprio Michel Temer se insere nesse cenário de incompetência, já que ele mesmo, autor de livros sobre Direito Constitucional e tendo sido professor universitário da mesma especialidade, decepcionou seus próprios alunos em suas atuações como advogado e político, principalmente na atual condição de presidente da República.

A incompetência generalizada já tem um precedente famoso no "espiritismo", quando os juízes de uma geração ancestral da de Sérgio Moro, em 1944, revelaram sua incompreensão sobre a gravidade da apropriação indébita de Humberto de Campos cometida pelo espertalhão Francisco Cândido Xavier e Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB.

Pesquisas de conteúdo aprofundadas sobre os supostos livros do "espírito Humberto de Campos" trazidos por Chico Xavier revelam que os textos lembram muito bem os estilos dos escritos de Wantuil e os depoimentos do "médium", levando a concluir, com a máxima segurança, de que a suposta psicografia que gerou uma grande série de livros - algumas sob o codinome "Irmão X" - teriam sido feitas a quatro mãos por Chico e Wantuil.

Os juízes daquela época não entenderam a situação, achavam que não era necessário mexer com obras ditas "espirituais" e, por isso, deixaram o caso em empate, mas num empate que fez o mito traiçoeiro de Chico Xavier crescer como bola de neve, para o completo prejuízo da Doutrina Espírita e das atividades mediúnicas no Brasil, completamente desmoralizadas.

A sociedade conservadora já começa a aceitar deslizes, corrupções, crimes e outros erros graves cometidos pelas elites. Chegam a fazer descaso diante de tantas gravidades. E ainda consideram seus infratores, criminosos e outros errados convictos como "responsáveis" por conta de algum status quo que os permita "trazer alguma esperança" para os brasileiros.

Chico Xavier ganhou de graça o status de "pessoa mais pura e elevada que passou pela Terra", uma ilusão movida por paixões religiosas cuja validade apenas se situa na vida material. Falecido em 2002, Chico já sentiu o choque da desilusão extrema no mundo espiritual, vendo que lá não existe Nosso Lar e que ele foi desdenhado e reconhecido como um farsante e um arrivista, porque não há segredos a serem escondidos no além-túmulo.

É o choque que sofrerá Divaldo Franco assim que ele "viajar para o outro lado". Mas isso a "boa sociedade" que retomou o poder não quer saber. Há mais fantasias, complacências e omissões nas elites que reconquistaram o poder do que se imagina, num país em que Romero Jucá é denunciado por corrupção, com provas documentais, e pouco depois torna-se cotado para ser um dos líderes do governo "responsável" de Michel Temer.

A sociedade que reconquistou o poder revela o seu odor insuportável de cadáver apodrecido, simbolicamente embalsamado pelas circunstâncias. Ela acredita que veio definitivamente para ficar, mas chegará um tempo em que as circunstâncias lhe escaparão do controle.

Afinal, as elites conservadoras não reconquistaram o poder por suas qualidades positivas, e nem pela capacidade de se adaptar aos novos tempos, presas em convicções antigas e em nostalgias doentias de antigos privilégios e hegemonias. Diante disso, ela mesma produzirá as crises sem controle das quais se mostrará incapaz de resolver, cega em suas "certezas" e "necessidades". É esperar para ver.

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