quinta-feira, 2 de março de 2017

Chiquistas tem muito pretensiosismo e pouca sinceridade


Os adeptos de Francisco Cândido Xavier têm mais pretensão do que sinceridade. Se julgam intelectualizados, espiritualizados, modernos e futuristas, mas são o contrário de tudo isso. Refletem uma mania doentia dos brasileiros, que é a de dissimular as coisas e fingir que está na frente do tempo, quando se está atrás.

Quem tem um mínimo de discernimento sabe que é muito perigoso transformar Chico Xavier num colecionador de virtudes ou num homem acima de tudo e de todos. Todos os seus seguidores seguem esse perigoso caminho e não gostam de ser contrariados. Acabam tentando argumentar demais sem convencer num só momento, apesar de tantas alegações verossímeis e persuasivas.

Os próprios seguidores não se entendem, nessa Torre de Babel que se constrói com a adoração obsessiva e apegada a um suposto médium, daí as polêmicas intensas. E isso prova que Chico Xavier não representa coerência e bom senso, e a ideia de bondade, sem estas outras virtudes que lhe são amigas, perde toda a sua importância.

Vamos nos unir na fraude, na mistificação, no fanatismo religioso, no moralismo conservador? Uniremos em torno de um deturpador do Espiritismo? A obsessão doentia pela adoração a Chico Xavier, que faz os nervos ferverem diante de qualquer questionamento ao suposto médium, visto erroneamente como "ataque", revela, na verdade, uma série de preconceitos e fantasias.

A personalidade de Chico Xavier se revela um católico beato, um caipira conservador e às vezes reacionário, um arrivista que queria se colocar acima de tudo e de todos, um sujeito blindado por setores dos mais conservadores da sociedade. Um homem que apoiou o golpe militar de 1964 e continuou apoiando a ditadura até depois de parte da direita passar a se opor ao regime.

Chico Xavier, na verdade, revela os preconceitos, fantasias e neuroses de seus vários tipos de seguidores, tanto aqueles que o idealizam demais com qualidades surreais como as de "filósofo", "cientista" e "profeta", quanto para aqueles que o idealizam dentro dos "limites religiosos", definindo-o apenas como "médium e filantropo".

São preconceitos que envolvem fantasias religiosas guardadas no inconsciente da infância e que mostram que muitas pessoas que parecem modernas e futuristas são, na verdade, antiquadas e, num sentido mais sombrio, saudosistas, apegados a velhos paradigmas religiosos que aprenderam em seus ambientes familiares. São, portanto, pessoas bastante conservadoras.

São fantasias que fazem com que pessoas precisem de um outro alguém que simbolize estereótipos de qualidades superiores que as pessoas são incapazes de ter, mas que Chico Xavier também nunca teve. Ele nunca teve, mas simbolicamente as representa, por conta de fantasias idealizadoras de seus seguidores mais diversos.

É como se Chico Xavier tivesse se transformado num brinquedo ao sabor da imaginação de seus seguidores. Cada um cria o "seu" Chico Xavier que quiser. E tudo isso é feito sob o consentimento dos próprios "espíritas", sob a alegação da "livre crença" e do "direito da fé religiosa". Chega-se a defender a liberdade de crença sem limites, quando ela chega ao ponto inconveniente de jogar a coerência, a lógica e o realismo no lixo.

As pessoas que defendem Chico Xavier, que variam desde os falsos apreciadores da Ciência e da Filosofia, como o produtor Juliano Pozati, até aqueles que acreditam que a estátua em homenagem ao anti-médium mineiro "derrama lágrimas", tentam todo tipo de justificativa para manter seu mito no seu pedestal. E há quem acredite que as bases kardecianas originais poderão ser recuperadas com o aproveitamento de ideias chiquistas, o que é um absurdo.

Falta sinceridade nos chiquistas. Se eles gostam tanto de Chico Xavier, então eles deveriam admitir também que gostam de Jean-Baptiste Roustaing, do "lendário" ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas e de Roberto Marinho e seus filhos que dele herdaram as Organizações Globo .

Isso porque foi em Roustaing que Chico Xavier se baseou para desenvolver suas ideias igrejeiras e adaptar o roustanguismo à realidade brasileira, o que impede completamente qualquer associação do anti-médium mineiro aos postulados originais de Allan Kardec.

Foi Antônio Wantuil de Freitas que descobriu Chico Xavier e, atuando como uma espécie de empresário, transformou o caixeiro de Pedro Leopoldo num astro pop religioso, num ídolo alvo da adoração fanática de beatos tão católicos que causaram estranheza nos católicos propriamente ditos.

E foi a Rede Globo que, inspirada num documentário inglês sobre Madre Teresa de Calcutá, trabalhou um mito de "bondade" e "filantropia" sobre Chico Xavier, um estereótipo de "caridade" que mais arranca lágrimas de comoção das plateias do que realmente traz alguma ajuda aos necessitados. Até porque, se realmente trouxesse alguma ajuda, o Brasil seria outro.

Hoje o país está na pior e não é por falta de Chico Xavier, até porque o anti-médium é demais adorado em todo o país. Como foi fácil a vida de um deturpador do Espiritismo que hoje é visto quase como um deus.

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