quinta-feira, 6 de abril de 2017

"Espíritas" não fazem palestras de graça. Há um preço de seu trabalho


Deturpar o Espiritismo, falando em "caridade" e criando todo um espetáculo de palavras bonitinhas, tudo isso de graça? Filmes "espíritas" que custaram algum dinheiro, disponíveis na íntegra, gratuitamente, para qualquer um ver? Livros "espíritas" permanentemente disponíveis de graça, para serem gravados no computador e até distribuídos para qualquer um?

Como diz o ditado, é bom demais para ser verdade. Não existe almoço grátis, diz a frase oficialmente atribuída ao economista neoliberal Milton Friedman, mas parece que para os "espíritas" só existe uma "moeda" em circulação entre eles, a da "luz", fora os "bônus-hora" que acreditam ser a unidade monetária em Nosso Lar.

A engenhosa dissimulação dos "espíritas" permite que a deturpação seja bem sucedida até diante dos esforços de recuperação das bases kardecianas originais. A "fase dúbia", em declínio mas ainda em evidência, consiste nesse mal disfarçado roustanguismo apoiado nas promessas de que Allan Kardec seria "devidamente respeitado" em suas ideias e procedimentos.

Tudo é feito mediante um preço. E se existe a aparente gratuidade em certas atividades e eventos, é porque há outros meios de faturamento. Nota-se que publicações "espíritas" são produzidas em quantidade industrial, com livros que, em princípio, não são liberados para consumo gratuito, ou filmes que também não tem esse destino inicial, quando lançados, porque precisam obter renda de outras formas.

Há até mesmo os "congressos espíritas", não só no Brasil mas em outros países onde houver receptividade desta doutrina igrejista que desfigurou a obra de Kardec, nos quais os "espíritas", sobretudo os "médiuns" dotados de culto à personalidade, fazem suas espetaculares palestras, com palavras bonitinhas, mediante o cachê arrecadado pelas taxas cobradas pelos eventos.

Os adeptos do "espiritismo" brasileiro acham isso "ótimo", porque "o dinheiro vai para a caridade". Mas é uma "caridade" que pouco ajuda, nunca cumpriu, sequer pela metade, a promessa de transformar a sociedade, e quando se fala nessa "filantropia" os focos sempre se voltam para o "benfeitor", pois os necessitados se rebaixam apenas a pálidos figurantes desse oba-oba publicitário.

No entanto, os palestrantes "espíritas" vivem uma vida confortável, em muitos casos virando verdadeiros aristocratas. Há até casos de gente rica, mesmo, como o anti-médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, que também é latifundiário.

Daí a facilidade com que eles têm para pregar a Teologia do Sofrimento, que através do exemplo de Francisco Cândido Xavier, pegaram emprestado do Catolicismo medieval. E isso é constatado com as próprias palavras que Chico Xavier, em várias oportunidades e mesmo sob atribuição a supostos autores mortos, disse a respeito dessa ideologia que faz apologia das desgraças humanas como um suposto atalho para obter as graças divinas.

Os "espíritas" não sofrem, e fazem o que querem com o legado kardeciano. Podem trair Kardec à vontade, para depois dizer que manifestam "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" ao pedagogo francês. São os próprios inimigos internos que desfiguram a Doutrina Espírita, mas se arrogam em usar em causa própria os próprios alertas do espírito Erasto a respeito.

Sobre a questão da "gratuidade", há o mito de que Chico Xavier doou os direitos autorais de seus livros "para a caridade". Isso é fantasia. O que o anti-médium mineiro fez foi doar os direitos à FEB, o que fez enriquecer o poder de sua cúpula, sobretudo o "padrinho" Antônio Wantuil de Freitas, que presidia a entidade.

Chico Xavier fortaleceu o poder de Wantuil e a força centralizadora da FEB. Mas, depois que Wantuil morreu, em 1974, o mineiro foi pegar carona num movimento de falsos dissidentes - entre eles, Divaldo Franco - , se aproveitando de divergências de federações regionais com o poder central da FEB (que só privilegiava, das federações regionais, a FEESP, paulista), aproveitando também para fazer revanche contra Luciano dos Anjos, dirigente da FEB que denunciou plágios de Divaldo sobre obras de Chico.

Foi aí que veio a "fase dúbia", já que, como Jean-Baptiste Roustaing, o deturpador pioneiro, era o símbolo do poder centralizado do alto clero da FEB, o nome de Allan Kardec, então subestimado, passou a ser a "bandeira" dos "regionalistas" que, a partir de 1975, foram isolar o poder dos herdeiros de Wantuil e traçar o "movimento espírita" tal qual conhecem os brasileiros médios, seguidores ou não da doutrina igrejeira.

A ideia é fingir que se abandonou o roustanguismo, pois ele simbolizava o poder da FEB, e com isso fazer de conta, também, que se estava recuperando as bases kardecianas originais. Chico Xavier tentou se aproximar do amigo José Herculano Pires - não nos esqueçamos do ditado "amigos, amigos, negócios à parte" - , que integrava o grupo dos "científicos" junto a Carlos Imbassahy, o pai, e Deolindo Amorim, este pai do jornalista Paulo Henrique Amorim.

Isso criou um engodo muito pior do que aquele difundido nos tempos de Wantuil. Assuntos científicos, ainda que de forma pedestre e pedante, passaram a ser evocados. Ativistas de todo tipo passaram a ser bajulados. Uma suposta liberdade temática passou a ser adotada, diferente do falso cientificismo que a Era Wantuil permitia que fosse evocado, nos moldes de Os Quatro Evangelhos de Roustaing.

Isso porque se considera que, pior do que a deturpação propriamente dita, é uma deturpação dissimulada. A mentira passa a ser pior quando ela tenta a todo custo um aparato de verdade. A "fase dúbia" tornou-se pior do que o roustanguismo assumido, porque até Erasto é usado para defender práticas e ideias que o próprio espírito de Erasto reprovaria sem um pingo de hesitação.

O que se nota é a ascensão dos "médiuns" dotados de culto à personalidade, logo transformados em anti-médiuns. A comunicação com os mortos saiu prejudicada porque os "médiuns" não tinham concentração suficiente para o contato verdadeiro com o além, e inventavam mensagens apócrifas cheias de propaganda religiosa que só fazia afastar os mortos mais e mais, com a exceção de espíritos zombeteiros e farsantes, que se divertem com isso.

Geralmente esses "espíritos das trevas" raramente enviam mensagens para os "médiuns", mas eles dão sugestões e intuem o tempo todo nesse processo cheio de contradições do "movimento espírita". Se alegram com o igrejismo, com os espetáculos de palavras bonitas, com o aparato da caridade e da fraternidade. E os espíritos inferiores são os que justamente permanecem em lugares onde se toca a "música espírita", até porque lhes traz lembranças felizes e os propósitos ajudam.

O rol de deturpações que a "fase dúbia" trouxe no Brasil, desfigurando a Doutrina Espírita e seus ensinamentos, faz também com que o "espiritismo" brasileiro seja um reduto perigoso do estrelato e da mitificação.

E isso parte não só de "espíritas de borracharia", mas também de gente "tarimbada", que poucos sabem terem sido deturpadores que conseguiram a fama e o prestígio e hoje vestem a máscara de "santos", dizendo "sempre coisas boas" para tranquilizar as massas e deixá-las prontas para receber valores místicos e moralistas de valores ético e lógico duvidosos.

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