sexta-feira, 28 de abril de 2017

O fracasso da conciliação entre o "velho" e o "novo"

DIVALDO FRANCO FAZENDO POSE DE "BOM DISCÍPULO DE ALLAN KARDEC".

Um excelente texto do sociólogo e professor da Universidade de São Paulo, Aldo Fornazieri, fala dos fracassos das conciliações nos governos do PT na Presidência da República (os dois de Lula e o primeiro de Dilma Rousseff).

O autor cita não só os exemplos recentes dos governos petistas como também cita a experiência do primeiro-ministro do Segundo Império, Honório Hermeto Carneiro Leão, o Marquês do Paraná, que promoveu o Ministério da Conciliação, articulando forças liberais e conservadoras. Com sua morte, ele foi substituído pelo autoritário e conservador Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, que dissolveu o cenário conciliador anterior.

Muitos exaltam a conciliação como forma de atingir um benefício comum. Mas a vida humana é cheia de conflitos de interesses e, em muitos casos, a ideia de fraternidade inclui uma "direção" a ser tomada. E qual é essa direção? A do "amor e da paz"? Seria muito simples se fosse isso, mas não é.

O "espiritismo", curiosamente um "produto" do Segundo Império, surgido em 1884 depois de experiências isoladas cerca de uma década antes, acabou, desde o fim da era Wantuil - em 1974, morreu o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas - , apelou para a fórmula aparentemente conciliatória da "fase dúbia".

A ideia é conciliar "científicos" e "místicos", em torno de uma visão, já herdada do Catolicismo, do que se entende como "fraternidade cristã". Sempre se imagina a "fraternidade" como algo "sem interesse", nas na prática ela sempre esconde algum interesse, algum propósito por trás.

Evidentemente, num contexto em que lobos e cordeiros se "unem na fraternidade", como disse o anti-médium Divaldo Franco - ele mesmo o maior deturpador vivo do Espiritismo - em entrevista recente, costuma-se nivelar essa "solidariedade" aos interesses do mais privilegiado, o lobo.

O próprio "espiritismo" mostrou que não consegue resolver conflitos. A "aliança" entre os roustanguistas "arrependidos" e os seguidores do Espiritismo original foi forçada pelas conveniências e houve a ilusão de que, sem o poder central de Wantuil, o "movimento espírita" viveria seus plenos e felizes momentos de muito equilíbrio e imparcialidade.

Foi uma grande ilusão. A conciliação "dos sonhos" entre os "ensinamentos cristãos" (eufemismo para a ideologia católica tradicional) e o cientificismo de Allan Kardec (apenas apreciado de maneira pedante e tendenciosa) só revelou mais e mais contradições e, o que é pior, criou-se um aberrante "espiritismo" que mais parecia um "roustanguismo com Kardec".

A situação até piorou de quando o nome de Roustaing era mais assumido. O "espiritismo" brasileiro se transformou num engodo, que misturava conceitos de legado roustanguista - "reajustes espirituais", "profecias sobre progressos da humanidade" - com evocações superficiais aos ensinamentos espíritas originais, como o Conselho Universal dos Ensinos dos Espíritos.

Diante disso, evocava-se procedimentos, lições e avisos trazidos de O Livro dos Médiuns que eram desmentidos diante de citações de "André Luiz" e outros conceitos brasileiros. E tudo isso diante de um discurso que apelava para a "coerência" e o "equilíbrio", mesmo quando o igrejismo triunfava sobre o cientificismo.

Tentou-se até desvincular Francisco Cândido Xavier da FEB, após a morte de Wantuil, espécie de "descobridor" e "empresário" do "médium". E o mito de Chico Xavier, antes confusamente trabalhado, foi renovado e reinventado de forma "limpa" com a ajuda do poder manipulador da Rede Globo de Televisão, moldando o beato católico de Pedro Leopoldo e Uberaba de forma que ele, direitista e ultraconservador, fosse "digerido" até por ateus e esquerdistas.

O igrejismo acabou prevalecendo, de uma forma ou de outra. A princípio, a "fase dúbia", como é conhecida a atual fase do "movimento espírita", tinha como propósito agradar e conquistar a confiança de "científicos" como José Herculano Pires e Deolindo Amorim, mas, depois, com eles mortos, não havia mais motivo para se falar em "kardecismo autêntico".

E aí o igrejismo voltou a se acentuar de tal forma que o "espiritismo" hoje não é outra coisa senão a reciclagem da Teologia do Sofrimento católica. E isso fez o "espiritismo" viver um impasse ainda pior, porque o roustanguismo escondido debaixo do tapete nunca esteve tão explícito quanto nos últimos anos.

A promessa de "entender melhor Kardec" torna-se inútil, diante de tantas irregularidades, sobretudo no desmascaramento da "mediunidade", feita no faz-de-conta e à margem da Ciência Espírita, com tudo reduzido a um propagandismo religioso.

Com tantas irregularidades reveladas, o "espiritismo" sobrevive exibindo pretensa filantropia - que nada contribui para transformar a sociedade - e suas oratórias belas que são apenas palavras enfeitadas que nada dizem e, que, em certos casos, até ferem. Como o próprio Divaldo Franco acusando os refugiados do Oriente Médio de terem sido "antigos tiranos colonizadores".

Dessa forma, o "espiritismo" chegou ao fim de linha e é difícil que mais uma retratação faça sentido, pois se retratou demais, permitindo uma "conciliação" que só fez o "velho" Catolicismo medieval jesuíta vestir a capa do Espiritismo, o "novo" em questão. A crise chega ao seu ponto mais agudo e não há mais como compactuar, porque o antigo pacto só serviu mesmo para privilegiar os deturpadores igrejeiros na vã promessa de recuperar os postulados de Kardec.

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