segunda-feira, 10 de abril de 2017

O impasse do "espiritismo" brasileiro de hoje


Mais uma vez o "movimento espírita" espera por uma retratação. Sempre o vai-e-volta da deturpação que sempre sai triunfante, por causa dos discursos de "amor e fraternidade". Diante de tantos incidentes, confusões e conflitos, muitos sob motivos dos mais graves e mediante sérios escândalos, a tendência parece, para muitos, ser mais uma vez a compactuação.

Só que hoje, na Internet, os diversos incidentes do passado são expostos em retrospectiva, desde os escândalos literários provocados por Francisco Cândido Xavier por causa das armações do livro Parnaso de Além-Túmulo e da usurpação do nome consagrado de Humberto de Campos, até incidentes menos antigos como a farsa de Otília Diogo ou o plano de forjar traduções ainda mais grosseiras da obra de Allan Kardec, em 1973.

Fica muito complicado, hoje, os "espíritas" apostarem na retratação que novamente irá salvar os deturpadores, sob uma falsa conciliação em torno de um falso espiritismo, igrejista ao extremo, mas pretensamente "fiel" aos postulados kardecianos originais. A "fase dúbia" espera esse movimento de correr atrás do próprio rabo para deixar tudo como está.

Todavia, a situação se complica mais e mais, porque não há mais o faro publicitário de Antônio Wantuil de Freitas, então presidente da FEB, que contornou os escândalos do seu pupilo Chico Xavier recorrendo ao jogo de cintura, ao sensacionalismo, aos despachos de umbanda e, provavelmente, até a uma "queima de arquivo" (no caso do sobrinho de Chico, Amauri Xavier).

Da mesma forma, não existe uma grande liderança "espírita" entre as novas gerações e o mais novo "espírita" de maior carisma, o "médium" baiano José Medrado, já tem mais de 55 anos de idade. A "fase dúbia" também deu o que tinha que dar e sua única tendência é se repetir, mesmo através de divulgadores mais recentes como Robson Pinheiro e Juliano Pozati.

Ainda assim, a crise é aguda e mostra o preço de uma má escolha. Não é possível que os deturpadores "reaprendam" Kardec, porque é isso que se propôs quando se instituiu a "fase dúbia". O fracasso de tentar recuperar as bases espíritas originais mesmo dando alguma consideração aos deturpadores é evidente.

Isso porque não raro teoria e prática se chocavam. A gororoba que se transformavam os periódicos "espíritas" misturavam conceitos corretos trazidos pelas obras de Allan Kardec e práticas igrejistas adaptadas do roustanguismo no Brasil.

A aparente coexistência de descrições de temas científicos com relatos apaixonados de milagres religiosos pode parecer, aos olhos dos incautos, uma demonstração de equilíbrio e imparcialidade, e muitos ficavam tranquilos porque essas contradições pelo menos repousavam num aparato de "belas palavras" e "bons sentimentos". Qualquer problema?  Nada que uma ilustração de coraçõezinhos ou uma foto de crianças pobres sorridentes ou de belas paisagens poderiam resolver!

Isso é resultante de níveis de percepção que estão perdendo o sentido, enfrentando uma séria decadência. No plano político, jurídico e midiático, vivemos um surto de desordens e escândalos causados por pessoas que antes eram associadas à ideia de "competência", "transparência" e "sabedoria", resultando no cenário caótico simbolizado pelo governo Michel Temer, pela corrupção do Supremo Tribunal Federal e pela prepotência descomunal da Rede Globo.

Os escândalos, que, por enquanto, não são levados a sério pela sociedade, que parece feliz diante da catástrofe social de hoje em dia, desafiam a própria zona de conforto de antigas percepções e convicções, que até agora aceitam erros graves, quando vindos de privilegiados, como se fossem erros sem a menor importância.

 Imaginemos se a população de Pompeia e Herculano tivessem a mesma negligência e pensassem que a fumaça do Vesúvio fosse apenas a de alguma carne no fogo, felizes diante da catástrofe que depois deixaria soterradas as duas cidades romanas, situadas na área da atual Itália.

O status quo não pode mais ser desculpa para erros tão graves, sejam os escândalos políticos do governo Michel Temer e seus aliados, a atuação tendenciosa e, não raro, omissa, do Judiciário e do Ministério Público, a prepotência da Rede Globo e as fortunas exorbitantes dos seus donos e o prestígio religioso que permite os "espíritas" desfigurar o pensamento de Kardec e fazer até juízos de valor e apologias ao sofrimento humano.

Cobra-se da sociedade brasileira a renúncia a tantos totens e dogmas associados ao topo da pirâmide social. A tarefa não é fácil. Se verificarmos que, na classe média ou mesmo entre negros e pobres, existe o apreço a uma figura preconceituosa e autoritária como Jair Bolsonaro, isso significa que o preço caro do apego ao status quo pelos brasileiros ainda fará cobranças ainda mais difíceis.

E o "espiritismo", perdido na corda-bamba, só é uma parte a ser atingida pelo furacão social de hoje, pela própria natureza de suas contradições profundas que nunca se resolvem e se mantiveram até agora no movimento de bate-e-volta da deturpação espírita.

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