terça-feira, 23 de maio de 2017

O "espiritismo" e o Brasil preso no atraso


Quem não está tomado de paixões religiosas poderá prestar muita atenção nas doutrinárias "espíritas" e nas reuniões ditas "mediúnicas", sobretudo aquelas que marcaram a trajetória ao anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier.

Serão observadas energias confusas e pesadas, não porque os "amiguinhos pouco inclinados" precisam "aprender", mas porque eles é que dominam os ambientes, já que o "espiritismo", que optou desde o início pela tendência igrejeira de Jean-Baptiste Roustaing, atraiu para si energias maléficas e nocivas para muitas famílias, que contraem azar com o menor contato "amoroso" com esta doutrina igrejeira.

O "espiritismo" é um reflexo de um Brasil que mistura ambições, dissimulações, fingimentos, e tantos sentimentos, sensações e intenções bastante sombrios, mascarados pela hipocrisia que apela para os mais belos aparatos de bondade, beleza e quase perfeição.

A religião que só evoca o nome de Allan Kardec no nome, todavia, comete traições da mais extrema gravidade aos seus postulados e alertas. Não adianta o "espírita" igrejeiro fingir "querer aprender Kardec" para ter boa conta no Espiritismo autêntico. Aprende a boa teoria, numa "decoreba" doutrinária, mas depois que sai da aula volta ao seu igrejismo mais gosmento.

O quanto o Brasil está atrasado. Nas redes sociais, o que se revelou foi que uma considerável parte dos brasileiros, mesmo aqueles de elite, diploma universitário e aparentemente com alguma base informativa razoável, ainda parece dotada de valores medievais, com sérios preconceitos sociais que o aparato de modernidade, ou a pouca idade e a aparente conectividade na Internet não conseguem esconder.

As paixões religiosas, que, fora do institucionalismo religioso, apelam para aparatos como o Assistencialismo e o Ad Passiones e se apoiam na pós-verdade para explicar qualquer absurdo ou retrocesso na vida, dentro da religião propriamente dita naufragam num mar de ilusões movidas pelo açúcar excessivo das palavras e das imagens comoventes ou alegres.

O "espiritismo" brasileiro tornou-se, então, um caso gravíssimo e é assustador que ninguém se encoraje a questionar essa religião, que na prática tornou-se uma "prima pobre" da Cientologia, fartamente denunciada nos EUA, com documentários exibidos até em emissoras comerciais. Aqui até a mídia mais progressista corrobora os devaneios "espíritas" mais próprios da Rede Globo de Televisão e da revista Veja.

A onda conservadora que varreu o Brasil a partir de maio de 2016, mas que já estava latente desde o começo da década de 1990 apela para uma agenda de retrocessos assustadora, porque, dependendo do saudosismo doentio de uns e de outros, podemos regredir, em alguns aspectos, ao ano de 1974, mas, em outros, pode-se regredir até antes de 1792. Há movimentos querendo a revogação até do Sete de Setembro, movidos por neuroses extremamente doentias.

E o próprio "espiritismo" regrediu tanto que a promessa de "aprender melhor Kardec", que foi o principal aspecto da "fase dúbia" que domina o "movimento espírita" desde 1975, foi em vão. O que se viu foi o acentuamento do igrejismo, mesmo mascarado por evocações pedantes e tendenciosas à Ciência e Filosofia, ao ponto de abraçar a Teologia do Sofrimento e rebaixar o legado kardeciano a uma forma repaginada do velho Catolicismo jesuíta, de caraterísticas medievais.

Que apenas Chico Xavier fosse um devoto da Teologia do Sofrimento (fato confirmado não por assumir teoricamente essa ideologia, mas pelas ideias professadas, ou seja, um "conteúdo" manifesto sem o "rótulo"), vá lá, pela formação social que ele teve. Mas a Teologia do Sofrimento, até pela influência que ele exerceu no "movimento espírita", passou a ser o maior princípio do "espiritismo" brasileiro, muito mais do que qualquer postulado kardeciano, mesmo os mais deturpados.

Até os meios de popularizar o "espiritismo" brasileiro enfatizam mais o igrejismo, como os romances "espíritas", as sessões "mediúnicas", as reuniões nos "centros espíritas", o conteúdo das publicações desta doutrina. Poucos percebem que muitas dessas ideias e práticas tidas como "kardecistas" (termo que já se torna pejorativo em relação a Kardec) são na verdade herança de J. B. Roustaing.

O atraso do "espiritismo" brasileiro é profundo e assustador, vendo que muitos incautos imaginam que Chico Xavier e Divaldo Franco são os "donos do futuro". Duas pessoas retrógradas, o primeiro um caipira ortodoxo e ultraconservador, o outro um sujeito com ares de professor dos anos 1930, dos velhos tempos da oratória rebuscada, das ideias truncadas e do pretenso saber hierarquizado, pomposo e pedante.

Evidentemente, quem é seduzido pelas paixões religiosas, acha que isso "não faz sentido". Vai tentar argumentar, com sua "ginástica intelectual" e seu malabarismo retórico, que isso "não existe" e que o "espiritismo" é futurista e que o Brasil é o "país mais moderno do mundo", e que no Brasil só os "romanos" é que sofrem os prejuízos graves tão conhecidos no nosso cotidiano.

São argumentos desesperados de gente que quer ter a posse da verdade, sem saber sequer a natureza das situações que existem, e que são bastante sombrias. Ver que os brasileiros estão regredindo até para os padrões sociais de 79 d.C, quando Pompeia e Herculano foram destruídas pelas lavas e pedras do Vesúvio. Quantos Vesúvios teria que ter o Brasil diante de tantas Pompeias e Herculanos?

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