terça-feira, 27 de junho de 2017

Unidos pela deturpação


O "espiritismo" brasileiro, nos últimos 40 anos, tentou forjar uma estabilidade, na qual a antiga supremacia dos "místicos" tornou-se mais dissimulada e menos centralizada. O alto clero da FEB, com a morte do ex-presidente Antônio Wantuil de Freitas, se isolava enquanto os astros do "movimento espírita" passavam a pregar um "roustanguismo com Kardec".

O discurso de "fraternidade" era apenas um pano de fundo para que os deturpadores do "movimento espírita", agora com poder maior para as federações regionais, construíssem sua "torre de Babel" apenas abafando divergências severas. Todos, porém, com um propósito comum: trair a Doutrina Espírita com a deturpação igrejeira, mas sempre dando a falsa impressão de que cumprem "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" à Codificação.

A "fraternidade da deturpação" tem suas divergências aqui e ali. Uns admitindo "virtudes" na obra de J. B. Roustaing. Outros vendo seu nome como um palavrão. Uns admitindo a "profecia da data-limite". Outros a renegando completamente. Uns inserindo até Astrologia no Espiritismo. Outros falando em masturbação e ato sexual em "colônias espirituais". Outros definindo a homossexualidade como "doença", outros como "mera confusão emocional". Uns admitindo um tributo dos "espíritas" ao Vaticano. Outros dizendo que isso é uma leviandade.

Tudo isso seria apenas uma questão de liberdade e diversidade de opiniões e escolhas se não fosse a alegação destes mesmos "espíritas" de supostamente professarem "um único e exato tipo de Espiritismo, o de Allan Kardec". Ver que tal postura acoberta uma série de hipocrisias é bastante constrangedor, e deixamos que o legado de Kardec seja transformado num "samba do crioulo doido", em nome da "caridade" e da "fraternidade".

Qualquer farsa cometida pelos "espíritas" é logo defendida com imagens de crianças pobres, destas que se obtém do acervo do Getty Images, Stock Photos e outros serviços de imagens. A "carteirada filantrópica" do "movimento espírita" é sempre servida como desculpa para se admitir qualquer tipo de deturpação, como se distorcer os ensinamentos de Allan Kardec ao sabor do igrejismo fosse válido "pelo pão dos pobres".

Para piorar, existem aqueles que criticam a "vaticanização" mas a praticam com gosto e exaltam os "vaticanizadores" do Espiritismo. De que adianta falar mal do "espiritismo à moda da casa", dos "múltiplos espiritismos", da "vaticanização", dos "Constantinos espíritas", para depois exaltar como "exemplo de sabedorias" obras igrejistas como aquele novo romance da autora "espírita" cujo enredo é do mais abundante moralismo igrejista?

Quantos "espíritas" falam mal da Idade Média, dizem que o Catolicismo medieval é "página virada", mas defendem ideias próprias do Catolicismo jesuíta que vigorou no Brasil-colônia e chamam para "proteger" as "casas espíritas" as almas dos mais diversos membros da Companhia de Jesus? E quantos críticos da "vaticanização" se esquecem que os próprios Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco são os maiores "vaticanizadores" de toda a Doutrina Espírita?

Os próprios Chico Xavier e Divaldo Franco, em seus livros, tentavam dar a falsa impressão de que não compartilham com o "superado" e "decadente" medievalismo católico. Mas isso foi conversa para boi dormir, porque tais obras são repletas do mais profundo e explícito medievalismo católico, com as mais piegas exaltações e defesas de dogmas católicos e expressões explícitas da mística própria do velho Catolicismo Apostólico Romano.

Da parte de Xavier, se via o redivivo padre Emmanuel da Nóbrega falando, de maneira hipócrita, do fim do Catolicismo medieval e das "tristes lembranças" daqueles tempos, fingindo defender irrestritamente o novo advento da Era do Conhecimento, porque Emmanuel sempre se expressou um severo opositor ao pensamento crítico e questionador, quando este se encoraja a contestar a validade dos velhos dogmas católicos ou dos dogmas neocatólicos inventados pelo "espiritismo", como a predestinação do Brasil como "pátria do Evangelho".

Quantos "vaticanizadores" do Espiritismo se protegem pela capa dos "fiéis discípulos do legado de Kardec". E quanta "vaticanização" é transmitida por baixo dos panos, sob a promessa de "respeitar rigorosamente as bases kardecianas", não raro com desmedido entusiasmo. Desta forma, os deturpadores querem que confundamos liberdade religiosa com confusão e contradições graves. O que tem de lobo querendo respeitar rigorosamente o rebanho...

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