quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Colunista do Brasil 247 erra feio ao citar obra 'fake' atribuída a Humberto de Campos


O pato da FIESP é ilustrativo. Os brasileiros são como filhotes de patos, que se agarram à primeira coisa que veem pela frente e lhes é do agrado. O colunista Ribamar Fonseca, do Brasil 247, embora num texto bem intencionado, recorreu à religião da plutocracia e da Rede Globo, o "espiritismo" brasileiro, para fazer apelos à paz num contexto de ódio e de intolerância social. Foi no texto "Em busca da paz", publicado no dia 04 de abril de 2016.

O texto, que cita uma obra fake atribuída a Humberto de Campos, a patriotada literária Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, escrito a quatro mãos por Francisco Cândido Xavier e Antônio Wantuil de Freitas para tentar agradar o Estado Novo - sobretudo a pessoa do Departamento de Imprensa e Propaganda, Lourival Fontes - , é uma tentativa de inserir igrejismo num portal de esquerda, no qual o autor é tomado de emoção e fascinação obsessiva em torno de Chico Xavier.

Sem levar a fundo os aspectos sombrios do "médium" mineiro, que sempre foi um sujeito conservador, um católico de crenças ortodoxas - beirando ao nível de um Olavo de Carvalho - e havia defendido a ditadura militar em um programa de TV de grande audiência, o escritor Ribamar Fonseca pode ter agido por boa-fé, mas isso não o isenta de ter cometido um grave equívoco, tão apegado à tentadora fascinação por um ídolo religioso.

O escritor, que talvez não tenha lido Allan Kardec senão em traduções igrejistas - crê-se, que, no caso, a da FEB lhe teria sido disponível - e não tenha a menor ideia de que o que conhecemos como "Espiritismo" no Brasil é uma deturpação das mais grosseiras, rebaixando o legado deixado por Kardec a um sub-Catolicismo de matizes medievais.

Esquece também Ribamar Fonseca que o caso Humberto de Campos levou Chico Xavier para os tribunais, por acusações de apropriação indébita do nome de um morto. O processo foi movido pelos herdeiros do escritor e a seletividade da Justiça, hoje conhecida através de nomes como Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e Gilmar Mendes, entre outros, beneficiou Xavier, que havia sido, em seu tempo, uma espécie de Aécio Neves da religião.

Quanto choque levaria Ribamar Fonseca se conhecesse o que os deturpadores brasileiros fizeram com o "espiritismo". Além disso, teorizar demais sobre a paz, como fazem os "espíritas", não resolvem as coisas, porque a vida é muito complexa para que se resolvessem conflitos e desigualdades pelo apelo à "paz em Cristo". Isso é igrejismo barato e sabemos que nem todos os que dizem "Senhor, Senhor", se vangloriando de suposto messianismo, podem ser considerados dignos de evolução moral.

Ribamar, como escritor e intelectual, deveria perceber que as obras originais de Humberto de Campos apresentam um estilo MUITO DIFERENTE do que se atribui à obra espiritual do autor maranhense. A desinformação quanto a isso, mesmo justificada pelas paixões religiosas, não se justifica. Ainda mais num portal de esquerda, que deveria ser um contraponto à mídia hegemônica, é duvidoso haver a defesa de Chico Xavier, que é um grande protegido da Rede Globo de Televisão.

Além disso, devemos ter cuidado quando se teoriza demais sobre a paz e apela demais para a tese de que "somos todos irmãos", que não resolve os conflitos em si existentes. Em muitos casos, o contexto da situação pode fazer com que a frase "somos todos irmãos" soe mais irritante que consoladora, e essa ideia também pode sugerir uma retórica dócil contra a individualidade e a diversidade humana.

"Irmão" é um eufemismo católico para "gado", e a analogia do rebanho, do gado bovino, é muito utilizada pelo discurso religioso conservador - no qual se inspira o "movimento espírita" brasileiro - , que remete à ideia de "somos todos irmãos" como forma de deixarmos tudo como está, desde que aceitemos passivamente, mesmo com graves injustiças, apenas minimizando os efeitos dos prejuízos.

Além disso, há uma obra de George Orwell - conhecido por relatar a tirania em 1984 - chamada A Revolução dos Bichos, nos quais a ideia de "fraternidade" religiosa é contestada: "Todos são iguais, mas uns são mais iguais que os outros". O sentido permaneceria totalmente o mesmo se mudarmos a frase para "Todos são irmãos, mas uns são mais irmãos que os outros".

Somos a favor da paz e da fraternidade, mas preferimos não colocá-las no aparato morto da teoria. Em vez de nos preocuparmos se somos ou não "irmãos", preferimos defender o fim das injustiças e desigualdades, resolvendo os conflitos conforme as circunstâncias. Aprisionar o conceito de paz e fraternidade em palavras bonitas mas vagas não impede, todavia, que injustiças sejam cometidas só porque os algozes e abusadores "também são nossos irmãos".

Isso é complicado de dizer, diante de um Brasil preso em paixões religiosas e no qual os "médiuns espíritas" conseguiram seu êxito de dominar os brasileiros através do perigoso método da fascinação obsessiva, lançando mão de muitas armadilhas que haviam sido alertadas por Kardec e seus mensageiros em toda a obra da Codificação.

A título de estimular o questionamento, reproduzimos o texto de Ribamar Fonseca, pedindo às pessoas que leiam o texto com cuidado, para não cair na tentação das paixões religiosas (perigoso véu que entorpece os sentidos através de seu forte apelo emocional) que certos trechos apresentam.

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Em busca da paz

Ribamar Fonseca - Brasil 247 - 4 de Abril de 2016

As paixões políticas, que obliteram o raciocínio e enegrecem o coração, criaram um campo fértil para a proliferação da intolerância e do ódio disseminados no país. Como consequência, estimulados pelas postagens odientas nas redes sociais, os atos de hostilidade, sobretudo contra pessoas ligadas ao governo e ao PT, se multiplicaram em todo o território nacional, revelando um comportamento fascista que já ultrapassa os limites suportáveis por uma democracia e que, portanto, precisa ser reprimido com rigor, na forma da lei, antes que surja a primeira vítima fatal.

Como até hoje nenhuma providência foi tomada contra esses insanos que, além de insultos, ofensas e ameaças até a autoridades constituídas dos três poderes, já pregam a morte dos adversários políticos, vai chegar o momento em que ninguém estará seguro em lugar nenhum. E a violência, que é o argumento dos ignorantes, dominará as ruas das grandes e pequenas cidades do Brasil.

Antes confinados às redes sociais, onde um advogado filiado ao PSDB ameaçou matar a presidenta Dilma Rousseff e mais recentemente criou-se um grupo intitulado "Morte a Lula", que prega o assassinato do ex-presidente operário, os atos de hostilidade se tornaram físicos e pessoas com a sanidade afetada pela paixão política, potencializada pelo ódio e intolerância, já agrediram verbalmente os ex-ministros Guido Mantega e Alexandre Padilha em lugares públicos, além de parlamentares, artistas e jornalistas simpatizantes de Dilma e Lula, como Chico Buarque de Holanda e Juca Kfouri, entre outros. Nem os ministros Teori Zavascki e Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, escaparam das hostilidades dos opositores do governo, simplesmente porque tomaram decisões justas, consideradas favoráveis aos petistas. Ninguém, portanto, está imune aos ataques dessa horda.

Conscientes da gravidade da situação, alimentada todo dia pelo noticiário oposicionista da grande mídia, algumas autoridades e representantes da sociedade organizada já começaram a se mobilizar em busca da paz, advertindo para os perigos do clima de ódio e intolerância e exortando ao diálogo as forças antagônicas, única maneira de conseguir-se a pacificação nacional. Um dos primeiros a pregar a necessidade de paz foi o ministro Marco Aurélio Mello, seguido do ministro das Comunicações Edinho Silva, mas já tem muito mais gente se movimentando nesse sentido, como o ministro da Justiça, o secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o presidente do Instituto dos Advogados, que se reuniram em Brasília para elaborar um documento capaz de sensibilizar o país para a urgência de criar-se um ambiente de paz, indispensável à governabilidade e à superação das crises.

"Peçamos a Deus que inspire os homens públicos, atualmente no leme da Pátria do Cruzeiro, e que, nesta hora amarga em que se verifica a inversão de quase todos os valores morais, no seio das oficinas humanas, saibam eles colocar muito alto a magnitude dos seus precípuos deveres. E a vós, meus filhos, que Deus vos fortaleça e abençoe, sustentando-vos nas lutas depuradoras da vida material". Esse texto, muito atual, do espírito Emmanuel, consta do prefácio do livro "Brasil, Coração do Mundo e Pátria do Evangelho", ditado há 78 anos, mais precisamente em 1938, pelo espírito do escritor Humberto de Campos, o mais jovem intelectual a ingressar na Academia Brasileira de Letras, e psicografado pelo médium Chico Xavier. Esse livro fortalece as esperanças de que o Brasil conseguirá mais uma vez superar suas dificuldades, sem maiores traumas, porque lá do alto a espiritualidade superior está atenta aos acontecimentos e também trabalhando em favor da paz em nosso país.

Ainda no mencionado livro, de 1938, Humberto de Campos faz uma exortação aos brasileiros, exortação essa válida para os dias atuais, nos seguintes termos: "Brasileiros, ensarilhemos para sempre as armas homicidas das revoluções! Consideremos o valor espiritual do nosso grande destino! Engrandeçamos a Pátria no cumprimento do dever pela ordem, e traduzamos a nossa dedicação mediante o trabalho honesto pela sua grandeza! Consideremos, acima de tudo, que todas as suas realizações hão de merecer a luminosa sanção de Jesus, antes de se fixarem nos bastidores do poder transitório e precário dos homens! Nos dias de provações, como nas horas de venturas, estejamos irmanados numa doce aliança de fraternidade e paz indestrutível, dentro da qual deveremos esperar as claridades do futuro. Não nos compete estacionar, em nenhuma circunstância, e sim marchar sempre, com a educação e com a fé realizadora, ao encontro do Brasil, na sua admirável espiritualidade e na sua grandeza imperecível!"

Vale a pena refletir sobre as palavras de Emmanuel e Humberto de Campos, psicografadas por Chico Xavier, porque elas traduzem o sentimento de todos os brasileiros que amam o seu país e querem vê-lo num clima de paz. Afinal, somos todos irmãos!

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