quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

As pessoas não estranham o mel das palavras de certos oradores


Ninguém estranha quando alguns oradores, como Divaldo Franco, adotam uma linguagem por demais melíflua, açucarada demais para as condições normais da natureza humana. Não se trata de uma voz de alguém evoluído, até porque são apenas aparatos materiais de palavras enfeitadas, que mais sugerem mistificação do que sabedoria e fazem o orador se autopromover com teorizações excessivas e desnecessárias sobre temas como paz e fraternidade.

Numa sociedade conflituosa em que vivemos, ideias pacifistas não podem se tornar prisioneiras de todo um ritual de palavras bonitinhas. Em muitos casos, falar demais sobre paz pode irritar as pessoas, e o excesso de teoria só se torna admissível numa sociedade marcada pelo deslumbramento religioso, da adoração aos pregadores da fé religiosa e de uma certa preguiça de ação da maioria das pessoas.

Há aspectos estranhos, sim. Parece cruel dizer isso, mas não é. Há mercadores das palavras que buscam as glórias da Terra através de uma carreira em que a voz tem sabor de mel e a escrita, perfume de flores. Quantas ambições não estão por trás desse aparato de "lindas mensagens", quantas promoções pessoais não estão por trás dessa diabetes de ideias, que se tornam entretenimentos de acomodação e anestesia social, mais do que convites para a ação e transformação?

Divaldo Franco é o maior deturpador vivo do Espiritismo. Ajudou a rebaixar o legado kardeciano a um sub-Catolicismo medieval. Suas aparentes virtudes, a "caridade" e a "oratória", já foram vistas com muita desconfiança por ninguém menos que José Herculano Pires, renomado estudioso espírita. Seus ocmentários sobre o anti-médium baiano, publicados em uma carta, não devem ser subestimados:

"Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".

Pesquisamos o que é o "caso Nancy" e vemos que Herculano Pires se refere a Nancy Ann Tappe, criadora da farsa das "crianças-índigo", juntamente com o ex-casal Lee Carroll e Jan Tober, um modismo esotérico que se tornou a "bandeira" adotada pelo "médium" baiano para descrever a "evolução planetária" e conduzir a "herança" de seu amigo mineiro Francisco Cândido Xavier a respeito de outra farsa, "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", uma patriotada religiosa.

As pessoas se deixam serem dominadas por oratórias com sabor de mel. Se deixam levar pelos apelos emocionais associados aos "médiuns" deturpadores do Espiritismo, que nunca possuíram a função intermediária e discreta dos verdadeiros médiuns.

Para aumentar ainda mais o aspecto vergonhoso, os médiuns do tempo da Codificação eram, apesar de aristocráticos, pessoas bem mais discretas e humildes que os "médiuns" brasileiros, que vivem da ostentação, da falsa modéstia e do culto à personalidade.

Quanta hipocrisia ver Divaldo Franco falando mal do culto à personalidade e das paixões religiosas, se esses dois processos se voltam tranquilamente à sua pessoa, através do entretenimento da "paz" muito falada e muito menos praticada.

ENTRETENIMENTO QUE PODE GERAR EFEITOS CONTRÁRIOS

O malabarismo discursivo apela para a prática constante da paz, mas é somente o "fazer falar". Tudo vira uma questão de retórica: o embelezamento das palavras e o desnecessário excesso de teorização da paz, através de conceitos abstratos que dão uma retórica aparentemente linda e empolgante, mas que se perde no vazio das palestras igrejeiras que produzem o divertimento viciado das palavras bonitas.

O grande problema que isso trás é que a realidade comprova que paz não se teoriza demais, não há a menor necessidade de investir num excesso de palavras porque a resolução de conflitos não passa pelo turbilhão de oratórias.

Em muitos casos, a excessiva exposição de "mensagens" sobre a paz, além de indicar forte grau de pieguice - que é o sentimentalismo excessivo e enjoado - , pode trazer irritação para pessoas que vivem com algum conflito ou tensão mental, podendo trazer efeitos contrários e fortalecer o ódio e o aborrecimento de muitas pessoas.

Do lado daqueles que gostam desse tipo de oratória, há outro efeito negativo, que, no entanto, parece à primeira vista preservar as boas emoções e os belos sentimentos. Mas, nesse caso, ocorre uma espécie de anestesia social, onde as palavras funcionam como água com açúcar, criando uma espécie de "diabetes mental", que é o transe e a sensação analgésica de aparente conforto emocional, algo que no entanto parece narcótico e movido mais pelo deslumbramento religioso do que pelo senso de altruísmo e serenidade.

Falar sobre a "paz" acaba se tornando um mero divertimento sem muito efeito prático. E cria falsas sensações de que "algo está funcionando". Mas se realmente isso funcionasse, o Brasil não teria vivido esse clima de ódio que hoje vemos. E vendo que a retórica melíflua sobre a "paz" vem de um deturpador do Espiritismo, de alguém que traiu severamente o legado espírita original, isso deve ser visto com muita estranheza e desconfiança.

Afinal, trata-se de uma "paz" anestesiante, mistificadora e dopante. Uma "paz sem voz" que depende da "superioridade" do orador em questão, que com seu malabarismo de palavras se impõe como um pretenso sábio e alegado possuidor da verdade.

Isso não está de acordo com a natureza normal da vida humana, onde os verdadeiros sábios não têm mel na boca e não falam necessariamente de forma suave, e muito menos têm a pretensão de dizer a verdade absoluta ou de trazer respostas para tudo.

Os verdadeiros sábios estão muito longe de terem como símbolo um mistificador como Divaldo, que está mais próximo dos antigos sacerdotes reprovados por Jesus de Nazaré, que muito energicamente alertava contra os manipuladores da palavra e mistificadores de oratórias de palavras enfeitadas e postura extravagante feitas para dominar o público e exercer influência total sobre ele. Portanto, tem razão Herculano quando alertou sobre a "conduta negativa" de Divaldo como orador.

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