sábado, 20 de dezembro de 2014

Amauri Xavier Pena teria sido assassinado?


Um dos grandes mistérios do "movimento espírita" é o falecimento repentino e prematuro do sobrinho de Chico Xavier, Amauri Xavier Pena, a figura enigmática da qual até agora não se encontrou uma foto disponível na Internet.

Amauri havia denunciado a fraude de Chico Xavier e, de repente, faleceu, supostamente por causa do vício do álcool. Era filho de Maria Xavier, irmã mais velha do anti-médium mineiro. Amauri nasceu em 1933, num dia não creditado, tão cercada de mistérios está a sua figura. Nascido em Pedro Leopoldo, mudou-se com a família para Sabará, na Grande Belo Horizonte.

Desde cedo parecia seguir a suposta mediunidade, depois que leu Parnaso de Além-Túmulo, do seu tio. Escrevia muitos poemas e teve seu trabalho acompanhado por Rubens Costa Romanelli, professor e fundador da União da Juventude "Espírita" de Minas Gerais e também jornalista.

Amauri estava por trás da elaboração de um livro supostamente mediúnico, Os Crusíladas, nunca publicado, mas que seguia a linha de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho mas com ênfase no "descobrimento" por Pedro Álvares Cabral, e cuja autoria seria atribuída ao suposto espírito de Luís de Camões.

Jaci Pena, pai de Amauri, via no "movimento espírita" uma forma da família sair da pobreza e a essas alturas a UEM (União "Espírita" Mineira), da qual Rubens também estava associado, era assediada pela FEB, que via em Amauri Pena alguém promissor, um possível sucessor de Francisco Cândido Xavier.

Com casos de suposta obsessão por parte de Maria Xavier, a família aparentemente se surpreendeu quando Amauri supostamente sucumbiu ao alcoolismo. Não se sabe quais fatores o levaram à bebedeira, e muitos se contentam com a visão oficial de que foi depressão. Famos falar do caso depois.

Antes devemos nos atentar com o caso de Amauri na FEB, com uma denúncia que ele havia feito ao jornal Diário de Minas, de Belo Horizonte, A denúncia foi publicada na edição de 10 de agosto de 1958, embora feita a partir do mês anterior.

A DENÚNCIA DE AMAURI

Infelizmente, não há edições digitalizadas do Diário de Minas de BH, só havendo homônimos do interior mineiro (um deles de Ouro Preto), com edições digitalizadas do século XIX. Portanto, nada que correspondesse a qualquer edição de 1958.

Em todo caso, outras fontes disponibilizaram as declarações de Amauri Pena ao jornal, que geraram um violento escândalo contra o tio, que anos antes havia enfrentado um processo judicial movido pelos familiares de Humberto de Campos. Disse Amauri:

"Tudo o que tenho psicografado até hoje – declarou – apesar das diferenças de estilo, foi criado por minha própria imaginação, sem que precisasse de interferência de almas de outro mundo”. E explicava: “Depois de ter-me submetido a esse papel mistificador, durante anos, usando apenas conhecimentos literários, resolvi, por uma questão de consciência, contar toda a verdade. 

Sempre encontrei muita facilidade em imitar estilos. Por isso os espíritas diziam que tudo quanto saía do meu lápis eram mensagens ditadas pelos espíritos desencarnados. Revoltava-me contra essas afirmativas, porque nada ouvia e sentia de estranho, quando escrevia. Os espíritas, entretanto, procuravam convencer-me de que era médium. Levado a meu tio, um dia, assegurou-me ele, depois de ler o que eu escrevera, que deveria ser seu substituto. Isso animou bastante os espíritas. Insistiam para que fosse médium.

Passei a viver pressionado pelos adeptos da chamada terceira revelação. A situação torturava-me e, várias vezes, procurando fugir àquele inferno interior, entreguei-me a perigosas aventuras. Diversas vezes, saí de casa, fugindo à convivência de espíritas. Cansado, enfim, cedi, dando os primeiros passos no caminho da farsa constante. Teria 17 anos. Ainda assim, não me vi com forças para continuar o roteiro. Perseguido pelo remorso e atormentado pelo desespero, cometi desatinos (…) Não desmascaro meu tio como homem, mas como médium. Chico Xavier ficou famoso pelo seu livro Parnaso de além túmulo. Tenho uma obra idêntica e, para fazê-la, não recorri a nenhuma psicografia".

Com a repercussão, em vez de ser feita alguma investigação nos bastidores do "movimento espírita", o que houve foi uma reação de raiva e rancor contra Amauri. O delegado Agostinho Couto, o pai de Amauri, Jaci Pena, entre outros, passaram a definir Amauri como um "doente da alma", um "desordeiro" e um "alcoólatra inveterado" e acusado de roubos a casas.

Cerca de um mês antes da reportagem do Diário de Minas, o jornal O Globo - cujo exemplar digitalizado só está disponível para assinantes do Globo.Com - havia publicado, em 16 de julho, denúncia de Amauri de que seu tio não psicografava e era apenas um "devorador de livros".

Chico Xavier parecia "calmo" e "paciente", embora "muito triste", com as acusações do sobrinho, tendo dito as seguintes palavras, na época de tais denúncias:

"Meu sobrinho, até agora, não freqüentou reuniões espíritas ao meu lado, mas posso acrescentar que ele tem estado num grupo de espíritas muito responsáveis em Belo Horizonte, junto dos quais sempre recebeu orientação com muito mais segurança que junto a mim. 

Meu sobrinho é muito moço e, pelo que observo, é portador de um idealismo ardente, em sua sinceridade para consigo mesmo. De minha parte, peço a Jesus, com muita sinceridade, para que ele seja muito feliz no caminho que escolher.

Não recebi as palavras dele como acusação nem desafio. Tenho a felicidade de possuir muitos amigos que, em matéria religiosa, não pensam pela minha mesma convicção.

Em seguida, publicou um bilhete para o Diário de Minas, dizendo: "Se algo posso falar ou pedir, nesta hora, rogo a todos os corações caridosos uma oração a Nossa Mãe Santíssima em meu favor, a fim de que eu possa - se for a vontade da Divina Providência - continuar cumprindo honestamente o meu dever de médium espírita sem julgar ou ferir quem quer que seja".

No entanto, o "calmo" Chico Xavier escreveu uma carta indignada ao presidente da FEB na época, Antônio Wantuil de Freitas, datada de 10 de dezembro de 1958, "familiar deliberadamente vendido aos adversários implacáveis da nossa causa". Sugeriu que Amauri fosse entregue a Waldo Vieira para "curá-lo" das "doenças da alma".

POSSÍVEL QUEIMA-DE-ARQUIVO

E antes que Amauri Pena, que parecia possuir os segredos dos bastidores da FEB, sua participação na elaboração da sexta edição de Parnaso de Além-Túmulo e as pressões que recebeu dos chefes da federação, pudesse trazer maiores informações, ele foi internado num sanatório que, mais tarde, foi identificado como Sanatório "Espírita" Bezerra de Menezes.

Amauri teria sido enviado para bem longe. O sanatório fica até hoje em Espírito Santo do Pinhal, no interior paulista, no Norte de São Paulo. Estranhamente, Amauri faleceu três anos depois, antes de completar 28 anos de idade e com aparente excesso no consumo de álcool.

O falecimento foi rápido demais já que seria natural que, se fosse morrer por alcoolismo, Amauri falecesse na casa dos 40 anos. Ele não teria sido vítima de maus tratos no sanatório? Ele não teria sido induzido a beber mais? Não usou algum outro remédio? Aparentemente, ele faleceu de hepatite, embora sua tragédia misteriosa criou rumores de que ele teria sido morto por atropelamento.

Mesmo informações de que ele teria morrido no sanatório ou no seu retorno a Sabará são muito mal contados. Por outro lado, a FEB lançou rumores de que Amauri denunciou o tio porque estava apaixonado por uma jovem católica ou porque foi subornado por um padre católico.

Chico Xavier, aparentemente, perdoou o sobrinho e rogou a ele a Misericórdia Divina. Mas a FEB, por outro lado, não permitiu que Amauri fizesse algum pedido formal de desculpas, achando que outros iriam dizer que o jovem teria sido forçado a fazer essa solicitação. Mas também há dúvidas se Amauri teria se "arrependido" de tais denúncias, bastante pertinentes.

Será que Amauri não teria sido assassinado por funcionários do sanatório? A morte dele não seria uma "queima de arquivo" para os bastidores do "movimento espírita"? Ele provavelmente denunciaria não só Chico mas também os chefes e editores da FEB que estariam por trás da elaboração dos livros de Chico Xavier.

Convém recolocar o caso em investigação, de preferência com novos exames no corpo de Amauri e na busca de documentos, fotos e depoimentos. A tragédia de Amauri Xavier Pena não pode ser considerada de forma parcial, prevalecendo a visão unilateral da FEB, enquanto aspectos sombrios exigem maiores investigações.

Teria que ser uma investigação imparcial, profunda e abrangente, que não seja necessariamente a favor da FEB, ainda que seja permitido à instituição a divulgar sua versão do fato, conforme é de praxe em toda investigação que preze ouvir os diversos lados de uma questão.

No entanto, a investigação tem que ser sempre no sentido da verdade, ainda que ela possa pôr em sério risco a reputação de Chico Xavier, que em momentos como esses tanto sabia se passar por vítima e posar de "perseguido".

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